quarta-feira, 30 de outubro de 2013



                               Odalva Guimarães


 Seguindo a trajetória de muitos  nordestinos de sua época, Odalva Guimarães, parte do interior da Bahia a procura de melhores condições de vida na recém fundada capital do Brasil, Brasília.


   Baiana de Piritiba, e sempre a frente de seu tempo, Odalva, formada pela faculdade de Artes plásticas da Universidade Federal de Goiás, tem desenvolvido um elogiável processo de trabalho retratando a figura feminina, construída sobre uma estilização muito pessoal e angulosa.

   No decorrer dos intensos anos de criação, a artista mudou sem perder seu vínculo com o geometrismo de conotação cubista. Num clima tropicalista, expressou seu talento através de telas em que são trabalhadas imagens de flores, pássaros, peixes e frutos.




   Odalva Guimarães participou de 48 coletivas de Artes Plásticas. Fez 65 exposições individuais. Ministrou aulas à nível universitário. Fez conferências. Fundou a Associação de Artistas Plásticos do Espírito Santo. Ganhou o 1º prêmio de pintura, no VI Salão de Artes Plásticas das cidades satélites do DF. Tem obras publicadas nas revistas Casa e Jardim e Mbaecuab ( essa última distribuída em várias  universidades do mundo). Possui obras no Brasil, Israel, China, Japão, Estados Unidos, Colômbia , Alemanha, França, Panamá, república Dominicana, El Salvador, Argentina, Gana, Nigéria, Venezuela, Honduras, Costa Rica, Suriname e Filipinas.




   Esta é a linguagem de arte de Odalva, uma artista q já passou pelos ensinamentos de mestres, e que hoje mostra seu talento centrado na beleza de sentimentos interiores e da integração às cores e coisas da natureza.




Por  Lilia Guimaraes - Outubro 2013 - Campo Formoso - Bahia.

terça-feira, 29 de outubro de 2013


                                                            “Rabeca”


Entre o documental e o experimental, “Rabeca”, filme do artista visual Caetano Dias, mostra um jovem músico revelando mitos regionais e a riqueza cultural nordestina em uma viagem entre as cidades baianas de  Irecê e Correntina. Instrumento que o acompanha nas andanças, a rabeca, vira elemento de ligação entre os personagens. O longa integra nossa competitiva de filmes baianos e será apresentado dia 05/11, às 18h05, no Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha e dia 06/11, às 19h, na Sala Walter da Silveira

segunda-feira, 28 de outubro de 2013



                          Calango Mineiro



O calango, pouco conhecido pelo Brasil, é uma dança muito popular em Minas Gerais, cujo ritmo contagiante costuma ser apresentado como canto ou baile em diversas cidades mineiras, especialmente ao norte do Estado. Pode também significar desafio de versos cantados por um solista e repetidos pela plateia em coro. O instrumento utilizado é a sanfona, acompanhada de viola e por vezes pandeiros. Em ritmo quaternário, as danças e cantos têm como principal objetivo agradecer ao santo de devoção pela boa colheita, ou festejar e comemorar o dia do padroeiro.
Os pares, entrelaçados, bailam por toda a noite, em movimentos simples, mas sempre alegres e envolventes, que podem ou não apresentar sapateados e palmeados durante a sua execução. Não há indumentária específica para a dança, que ocorre normalmente durante bailes e se desenvolve em uma coreografia espontânea e particular.
Fonte: CÔRTES, Gustavo Pereira. Dança, Brasil!: festas e danças populares. Belo Horizonte: Leitura, 2000.

domingo, 27 de outubro de 2013

                                                                Ze Ramalho e Lula Cortes


Agreste Psicodélico

A trilha em busca das origens de Paêbirú, o disco maldito de Lula Côrtes e Zé Ramalho, hoje o vinil mais caro do Brasil




por POR CRISTIANO BASTOS
No dia 29 de dezembro de 1598, os soldados liderados pelo capitão-mor da Paraíba, Feliciano Coelho de Carvalho, encalçavam índios potiguares quando, em meio à caatinga, nas fraldas da Serra da Copaoba (Planalto de Borborema), um imponente registro de ancestralidade pré-histórica se impôs à tropa. Às margens do leito seco do rio Araçoajipe, um enorme monólito revelava, aos estupefatos recrutas, estranhos desenhos esculpidos na rocha cristalina.
O painel rupestre se encontrava nas paredes internas de uma furna (formada pela sobreposição de três rochas), e exibia, em baixo-relevo, caracteres deixados por uma cultura há muito extinta. Os sinais agrupavam-se às representações de espirais, cruzes e círculos talhados, também, na plataforma inferior do abrigo rochoso.
Inquietado com a descoberta, Feliciano ordenou minuciosa medição, mandando copiar todos os caracteres. A ocorrência está descrita em Diálogos das Grandezas do Brasil, obra editada em 1618. O autor, Ambrósio Fernandes Brandão (para quem Feliciano Coelho confiou seu relato), interpretou os símbolos como "figurativos de coisas vindouras". Não se enganara. O padre francês Teodoro de Lucé descobriu, em 1678, no território paraibano, um segundo monólito, ao se dirigir em missão jesuítica para o arraial de Carnoió. Seus relatos foram registrados em Relação de uma Missão do rio São Francisco, escrito pelo frei Martinho de Nantes, em 1706.
Em 1974, quase 400 anos depois da descoberta do capitão-mor da Paraíba, os tais "símbolos de coisas vindouras" regressariam. Dessa vez, no formato e silhueta arredondada de um disco de vinil. A mais ambiciosa e fantástica incursão psicodélica da música brasileira - o LP Paêbirú: Caminho da Montanha do Sol, gravado de outubro a dezembro daquele ano por Lula Côrtes e Zé Ramalho, nos estúdios da gravadora recifense Rozemblit.
Contar a história do álbum, longe da amálgama das pessoas, vertentes sonoras e, especialmente, da chamada Pedra do Ingá que o inspirou, é impossível. Irônico é que o LP original de Paêbirú também tenha se convertido em "achado arqueológico", assim como a pedra, 33 anos depois de seu lançamento. As histórias sobre a produção do disco, como naufragou na enchente que submergiu Recife, em 1975 e, por fim, se salvara, são fascinantes.
A prensagem de Paêbirú foi única: 1.300 cópias. Mil delas, literalmente, foram por água abaixo. A calamidade levou junto a fita master do disco para que a tragédia ficasse quase completa. Milagrosamente a salvos ficaram somente 300 exemplares. Bem conservado, o vinil original dePaêbirú (o selo inglês Mr Bongo o relançou em vinil este ano) está atualmente avaliado em mais de R$ 4 mil. É o álbum mais caro da música brasileira. Desbanca, em parâmetros monetários (e sonoros: é discutível), o "inatingível" Roberto Carlos. O Rei amarga segundo lugar com Louco por Você, primeiro de sua carreira, avaliado na metade do preço do "excêntrico" Paêbirú.
A expedição no rastro dos mistérios e fábulas de Paêbirú se inicia em Olinda (Pernambuco). O artista plástico paraibano Raul Córdula me recebe em seu ateliêr. Na parede do sobrado histórico, uma cobra pictográfica serpenteia no quadro pintado por ele. A insígnia foi decalcada da mesma inscrição que, há milênios, permanece entalhada na Pedra do Ingá.
No mesmo ano de Louco por Você, 1961, o professor de geografia Leon Clerot apresentou o monumento a Córdula. O professor fizera o convite: "Me acompanhe, e verás algo que jamais se esquecerá". Uma década depois, 1972, Raul Córdula se tornou amigo de José Ramalho Neto, o jovem Zé Ramalho da Paraíba. Os conterrâneos se conheceram no bar Asa Branca, que Córdula tinha na capital, João Pessoa: "O único boteco que ficava aberto na Paraíba inteira depois das oito horas da noite, à base de 'mensalão' pago à polícia". O Zé Ramalho compositor, atesta, nascera no Asa Branca.
Córdula quis mostrar a Ramalho "algo que conhecera", e organizou uma ida ao município de Ingá do Bacamarte, localidade conhecida antigamente como Vila do Imperador, por causa da passagem de Dom Pedro II por lá. A localização de Ingá do Bacamarte é a 85 km de João Pessoa, caatinga litorânea, na zona de transição do Agreste para o Sertão. Para "fazer a viagem", Córdula também convidou o artista recifense Lula Côrtes - jovem homem que já vivera muitas aventuras. Mas aquela, proposta por Raul, ainda não.
Nenhuma surpresa foi para o guia o fato de Côrtes e Ramalho ficarem tão maravilhados com a rocha lavrada quanto os expedicionários do capitão-mor da Paraíba. A charada talhada na parede de pedra lançava-lhes o provocante desafio: como decifrariam tais arcanos - nunca compreendidos e tão majestosos - numa música que, se não codificasse, ao menos devesse tributar à remota ancestralidade brasileira? Fora essa a centelha que incendiara as idéias. Acampados na caatinga sertaneja, frente a frente com a Pedra do Ingá, Ramalho e Côrtes se decidiram pela produção de um "álbum conceitual".
O único jeito de conhecer lula Côrtes é ir visitá-lo no seu habitat: o ateliêr em Jaboatão dos Guararapes. "A Pátria Nasceu Aqui", divulga a enorme placa na divisa com a capital, Recife. O apartamento onde mora, pinta e compõe com a atual banda, Má Companhia, tem vista frontal para o Oceano Atlântico.
É no primeiro apertar de mão que Côrtes deixa patente quem é: "espírito indômito". Solta a frase para se pensar: "O mar e eu somos uma coisa só desde menino". Aos 60 anos, sua voz é profunda e roufenha. A cabeça alva, um dia revestida de pretos cabelos mouriscos. E a magra, porém resistente, compleição física remete ao obstinado homem de O Velho e o Mar. Lula tem o velho de Ernst Hemingway, entretanto, como "altruísta demais". Mais impressionado ficou com o nietzscheniano capitão Lobo Harsen, de O Lobo do Mar, romance de Jack London. Os arquétipos marítimos de London, de fato, combinam mais com ele: "Nasci à beira do mar. Ele me despertou para o cumprimento das fantasias. Nele, um dia, cacei baleias", conta, jubiloso.
É esse homem que segue narrando a mais homérica jornada de sua vida, até agora: a concepção do álbum Paêbirú. Guiados pelo parceiro mais velho, Raul Córdula, Zé Ramalho e Lula Côrtes, recém-amigos, logo de cara perceberam a fantástica mística que as inscrições da Pedra do Ingá exerciam sobre a população às cercanias do sítio arqueológico.
Foi por intermédio da arquiteta, hoje cineasta, Kátia Mesel, sua companheira na época, que Lula Côrtes veio a conhecer Zé Ramalho. Junto, o casal abriu o selo Abrakadabra, pioneiro na produção de música independente no Brasil. A "sede" do selo ficava nas dependências de um prédio pertencente ao pai de Kátia, que, nos tempos da escravatura, fora uma senzala de escravos.
Para se mergulhar na saga de produção que foi Paêbirú, é obrigatório antes se falar da simplicidade do instrumental Satwa - o álbum gerido, um ano antes, por Côrtes e o violonista Lailson de Holanda.
É o début do selo Abrakadabra. Lula faz a estréia fonográfica da sua cítara popular marroquina, o tricórdio, instrumento que trouxera da recente viagem ao Marrocos com Kátia. Em Satwa, o violão nordestino de 12 cordas de Lailson dialoga em perfeita legibilidade com o linguajar oriental do tricórdio de Lula. É, provavelmente, o encontro mais fino entre o folk e a psicodelia do qual se tem registro gravado na música brasileira.
Lailson, premiado cartunista, traduz: "Satwa é expressão do sânscrito: quer dizer 'interface e equilíbrio'". Em 2005, a norte-americana gravadora Time-Lag Records reeditou Satwa, a partir da master original. Só o nome, na realidade, foi remodelado: Satwa World Edition. Como previsto, a edição esgotou como mágica.
Após Satwa, Lula tinha aprimorado suas concepções musicais. Achava-se apto para o grande projeto que andara tramando com o parceiro Zé Ramalho desde a visita à "pedra encantada". Não perderam tempo e investiram em sérias pesquisas nas imediações. Eles caçavam a interpretação local, folclórica, mitológica sobre o admirável monólito escrito.
Nas adjacências vivia um grupo de índios cariris. Os músicos foram até eles, atrás da peculiaridade do seu tipo de música. Ouvindo, descobriram que os traços de uma cultura africana tinham se fundido à sonoridade dos indígenas.
Se fundamentado em registros arqueológicos, Zé Ramalho e Lula Côrtes concordaram que, a partir daquele ponto, haveria um caminho, que partia de São Tomé das Letras (onde existem registros da mesma escrita rupestre traçada na Pedra do Ingá) e conduzia até Machu Picchu, no Peru. A trilha que os Cariris chamavam de "Peabirú".
Chegar à mística Pedra do Ingá, hoje em dia, é fácil. Seguindo pela BR 101, no trecho Recife - Paraíba, as condições de tráfego são admissíveis, mesmo sem via duplicada. Pela estrada federal, as pequenas localidades vão se cruzando: Abreu e Lima, Goiana, Itambé, Jupiranga, Itabaiana, Mojeiro. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Pedra do Ingá (Pedra Lavrada, ou Itaticoara) é um dos sítios arqueológicos mais soberbos do mundo. O arqueólogo Vanderley de Britto, da Sociedade Paraibana de Arqueologia, já aguarda, no local, minha chegada.
Segundo ele, as inscrições são originárias de sociedades pré-históricas, nativos anteriores aos encontrados no Brasil pelos europeus. "Certamente, essas gravuras" , diz, apontando o imenso painel de rocha, "são obra de sacerdotes ou pajés. Visavam ritos mágico-religiosos que visavam sortilégios para tribo", Brito explica, com sua proficiência.
Próximo à pedra, sem ter de tocá-la, o arqueólogo continua sua explanação: "As representações registram o canto mágico solfejado pelos sacerdotes nas cerimônias", prega. A pedra, na opinião do arqueólogo, seria, para os nativos, um "meio de comunicação" com os deuses (ou deusas) da natureza. A estimativa da ciência é a de que as gravações já estejam ali por volta de três a seis mil anos. "Datação exata não é possível, porque o monólito está em meio ao riacho", esclarece o professor. Vestígios, por ventura, deixados pelos gravadores, ao cinzelar a pedra, foram arrastados no trespassar das águas do ancião Araçoajipe.
Dinossauros, o arqueólogo também confirma, habitaram a região. A probabilidade - nada prosaica - de me banhar no regato que, num dia qualquer da pré-história um tiranossauro rex sorvera metros cúbicos de água, passa agora de jornalismo a uma aventura que, com prazer, obrigo-me pôr em prática.
A água é morna. A sensação, arrepiante. "Animais de grande porte, como a preguiça e o tatu-gigante, no período mezosóico, habitaram a região: mastodontes, cavalos nativos e outros mega-animais também circulavam por aqui", ele lembra. Submerso na tepidez do plácido regato pré-histórico, um túnel do tempo dentro de minha cabeça fazia a imaginação vagar por mundos arcaicos desaparecidos na vastidão temporal.
De frente para o mar, lula Côrtes gosta de acreditar na epopéia interplanetária narrada em "Trilha de Sumé", a abertura de Paêbirú. "As gravações na Pedra do Ingá foram feitas com raio laser mesmo", afiança o artista, que cantarola a introdução da música, o alinhamento dos planetas: "Mercúrio/Vênus/Terra/Marte/Júpiter/Saturno/Urano/Netuno e Plutão". Os versos seguintes cantam a saga de Sumé, "viajante lunar que desceu num raio laser e, com a barba vermelha, desenhou no peito a Pedra do Ingá".
A cada descoberta que faziam com suas explorações, Côrtes e Ramalho notavam, na variedade de lendas, que todas eram sobre Sumé - entidade mitológica que teria transmitido conhecimentos aos índios antes da chegada dos colonizadores. "Todos os indícios levavam a Sumé. Até as palmeiras da região, por lá, são chamadas de 'sumalenses'", observa Lula.
Para "libertar" os indígenas da crença pagã, os jesuítas pontificaram Sumé como "santidade": virou São Tomé. O que explica, no Nordeste, o fato de muitos lugarejos terem sido batizados de São Tomé. "Aqui é o lugar de São Tomé!", os padres costumavam anunciar, ao chegar numa região nova.
Na Paraíba, resta uma cidade chamada Sumé. "Seja lá quem tenha sido Sumé, o que mais se sabe, no entanto, é que muito andou por essas bandas", brinca Raul Córdula. A despeito da evangelização católica, a memória do Sumé indígena segue viva em todo o Nordeste.
A crença indígena diz que, quando o pacifista Sumé se foi embora, expulso pelos guerreiros tupinambás daquelas terras, deixou uma série de rastros talhados em pedras no meio do caminho. Os índios acreditam que Sumé teria ido de norte a sul, mata adentro, descerrando a milenar trilha "Peabirú" - em tupi-guarani, "O Caminho da Montanha do Sol".
O historiador Eduardo Bueno, que passou anos de sua vida "veraneando" na praia de Naufragados, no sul da ilha de Santa Catarina, conta que tomou conhecimento da trilha lendo a aventura de Aleixo Garcia, o qual, após um tempo vivendo naquela praia, fora informado da existência de uma "estrada indígena" que conduzia até o Peru.
Após muitos verões chuvosos contemplando o lugar de onde o bravo Garcia havia partido em sua jornada épica, Bueno decidiu acompanhá-lo - mas na mente: "Mergulhei em todas as fontes que traziam relatos de sua viagem. Ficção não era. Tais fontes, embora, eventualmente, contraditórias entre si, eram da melhor qualidade". O resumo mais interessante da história, diz, é o que define Peabirú como "um ramal da majestosa Trilha Inca, que ligava Cuzco a Quito e, por sua vez, outra corruptela - de 'Apé Biru'". Em tupi-guarani, Apé significa "caminho", ou "trilha", e Biru é o nome original do Peru. Portanto, Peabirú significaria "Caminho para o Peru".
Havia três inícios principais desse caminho: um, partindo de Cananéia (litoral sul de São Paulo) e, outro, da foz do rio Itapucu, nas proximidades da ilha de São Francisco do Sul (litoral norte de Santa Catarina). Um terceiro saia da Praça da Sé, em São Paulo, seguia pela rua Direita, dava na Praça da República, subia a Consolação, descia a Rebouças, cruzava o Rio Pinheiros e... chegava no Peru. "Fico pensando porque nos roubaram o prazer de desfrutar essa história no colégio", brinca Bueno. "Pensando bem, não foi esse o único prazer que nos roubaram, foi?"
Muitas vezes procurado, Zé Ramalho declarou que "não quer mais falar sobre o assunto Paêbirú" - para ele, encerrado. Em algumas entrevistas, no entanto, coteja Paêbirú à Tropicália. Um dos comentários é sobre o jeito artesanal, "como se costurado à mão", que o álbum foi feito.
Agendo uma "audição comentada" de Paêbirú no ateliêr de Lula Côrtes. Enquanto, pacientemente, pinta o quadro de um farol, vai me explicando como tornaram possível (e viável) a engenhosa gravação do disco. O álbum - duplo - é dividido em quatro lados, de acordo com os elementos Terra, Ar, Fogo e Água.
Em "Terra", o resultado "telúrico" foi conseguido com tambores, flautas em sol e dó, congas e sax alto. "Simulamos, com onomatopéias, 'aves do céu', 'pássaros em vôo' e adicionamos o berimbau, além do tricórdio", ele conta. Contrariando a prática dos "encartes vazios", a gama de instrumentos utilizados está descrita na ficha técnica de Paêbirú.
Efeitos de estúdio, nem pensar: "Só havia as pessoas, vozes e instrumentos", comenta o artista. Certos efeitos, como o rasgar da folha de um coqueiro, por exemplo, muitos pensaram serem eletrônicos.
No lado "Ar", além de "conversas", "risadas" e "suspiros", selecionaram-se harpas e violas sopros para músicas como "Harpa dos Hares", "Não Existe Molhado Igual ao Pranto" e "Omm". Em "Água", as músicas têm fundo sonoro de água corrente. No mesmo lado, cantos africanos, louvações à Iemanjá e a outras entidades representativas do elemento. Na mais dançante, o baião lisérgico "Pedra Templo Animal", Lula Côrtes toca "trompas marinhas". Zé Ramalho pilota o okulelê.
"Fogo", como adverte o nome, é a faceta incendiária de Paêbirú. A mais roqueira também. Entram sons trovejantes: o wha-wha distorcido do tricórdio e a psicopatia do órgão Farfisa em "Nas Paredes da Pedra Encantada". "Raga dos Raios" conserva-se, mais de 30 anos depois, como a melhor peça de guitarra fuzz gravada no rock nacional: "Guitarreira elétrica & nervosa de Dom Tronxo", diz a ficha técnica. Onde andará Dom Tronxo?
O encarte sofisticado de Paêbirú é obra de Kátia Mesel. Além de designer, ela fez a produção executiva do álbum. "São mais de 20 pessoas tocando no disco - basicamente, toda a cena pernambucana e boa parte da paraibana", a cineasta enumera.
O disco só deu certo, na opinião de Kátia, porque foi feito com a alma e a criatividade soltas. "Num estúdio de dois canais, baby? Era o playback do playback do playback! A gente se consolava: 'Se os Stones gravaram na Jamaica em dois canais, por que a gente não?' Em 'Trilha de Sumé', Alceu Valença toca pente com papel celofane. [O disco] tem desses requintes", graceja.
Foi o zelo de Kátia, na realidade, que garantiu o salvamento de 300 cópias de Paêbirú da enchente de 1975. Ela guardara parte da tiragem na Casa de Beberibe, onde o casal morava - o ambiente em que muitas canções foram, gradualmente, tomando forma. "A sorte é que eu tinha deixado os discos no andar de cima. São esses que, atualmente, valem uma fortuna mundo afora", pontua Kátia.
Naquele tempo, Ramalho praticamente morava com o casal na Casa de Beberibe. A concepção gráfica do álbum foi obtida após muitas idas do trio à Pedra do Ingá. Na verdade, um quarteto, já que o irmão de Kátia, o fotógrafo Fred Mesel, seguia junto em algumas viagens. "Eu filmava em Super 8 e Fred tirava fotos da pedra com filme infravermelho", ela conta. A técnica fotográfica explica a tonalidade azul-cítrica da capa e da parte interior de Paêbirú.
Especial atenção foi dada à ficha técnica. No encarte central, fotos de todas as pessoas que participaram das gravações. Um detalhe é que todos os títulos foram montados à mão, um a um, em letra set. A diferença é que, a essa altura, Kátia era mais experiente: além de Satwa, também produzira a arte do único álbum de Marconi Notaro, No Sub Reino dos Metazoá-rios (1973). "Para lançar Paêbirú, criamos o selo Solar", acrescenta.
As substâncias psicodélicas, obviamente, foram muito importantes durante o processo de composição. Para Lula Côrtes, no entanto, só de estar perto da Pedra do Ingá, é possível sentir o xamanismo emanando do monumento rochoso: "Comíamos cogumelos mais como 'licença poé-tica mental'", justifica o artista.
Crosby, Stills and Nash, T-Rex, Captain Beefheart, Grand Funk Railroad e The Byrds eram as bandas mais ouvidas pelo grupo na época. Em meados da década de 1970, a maquiagem do glitter rock já estava borrada e, nos Estados Unidos, a semente punk aflorava nos buracos sujos de Nova York. A disco music ensaiava os primeiros passos de dança. Psicodelia, no mundo, era coisa ultrapassada: encapsulara-se nos remotos anos 60.
Zé da Flauta tinha 18 anos quando conheceu Lula e Kátia. No auge da repressão, a Casa de Beberibe era o templo da liberdade e da contracultura. "Aprendi muito sobre arte. Lá se conversava sobre tudo, inclusive se fumava muita maconha", confirma Zé. Ele tocou sax na vigorosa "Nas Paredes da Pedra Encantada". "Jamais me esquecerei, aliás: foi a primeira vez que entrei num estúdio e gravei profissionalmente como músico."
Outro que teve "participação relâmpago" foi o paraibano Hugo Leão, o Huguinho. Ele vinha das bandas The Gentlemen e os Quatro Loucos, nas quais Zé Ramalho tocava guitarra. Ramalho o chamou para participar como tecladista do "ousado projeto". Sua atuação ficou imortalizada no disco. São dele os riffs de órgão Farfisa em "Nas Paredes..."
Para assumir a bateria, Ramalho recrutou Carmelo Guedes, outro parceiro seu nos Gentlemen. A mágica, lembra Huguinho, começou logo que entraram no estúdio. As bases foram criadas na hora, como num susto: "Cravei um tom maior: Mi! O sonho começara. Os segredos da Pedra do Ingá, finalmente, pareciam que seriam desvendados. A guinada sonora ainda ecoa pelo espaço", acredita.
Em minha jornada, sigo para a capital paraibana. Em João Pessoa, Telma Ramalho, a prima mais jovem de Zé Ramalho, diz não esquecer uma passagem da pré-adolescência: a mãe, Teresinha de Jesus Ramalho Pordeus, professora de História, conversava com o sobrinho em seu escritório: "Zé contava a ela como se desenrolavam as gravações de Paêbirú".Uma lembrança viva é ter ouvido o disco aos 12 anos: "Não entendi nada. Só lembro de 'Pedra Templo Animal' e 'Trilha de Sumé', as mais pop", diverte-se.
Outra memória é ter apresentado uma réplica da Pedra do Ingá na feira de ciências do colégio. A trilha sonora foi Paêbirú. "Levei a vitrolinha e botei para rodar." Telma faz a contundente revelação: "Tive caixas de Paêbirú em casa. Uma verdadeira fortuna cultural e financeira".
Para Cristhian Ramalho, filho de Zé Ramalho e afilhado de Lula Côrtes, Paêbirú também tem significação especial: "Meu pai me levava à Pedra do Ingá quando criança. Ele ia para achar inspiração". Sem dúvida, diz Cristhian, Paêbirú e a Pedra ainda exercem influência sobre a sua obra. "Em 1975, ele escreveu uma poesia muito bonita, que diz: 'Venho de uma dessas pedras rolantes'. Houve, por parte dele, grande misticismo envolvido na minha chegada", conta, orgulhoso, o filho.
Uma das pessoas que, na época do lançamento, compraram o álbum foi a arquiteta Terêsa Pimentel. Aos 14 anos, em 1974, ela não sabia ao certo o que procurava na sua vida. Apesar disso, sabia "o que não queria". "Ouvíamos os locais: Ave Sangria, Marconi Notaro, Flaviola & O Bando do Sol, Aristides Guimarães, o 'udigrudi' nordestino. Vendi minha bicicleta Caloi verde-água para comprar Paêbirú. Hoje, sou feliz por ter vendido a bicicleta e ter adolescido naquela atmosfera", conta. Terêsa é irmã do músico Lenine, ao qual Lula Côrtes presenteou com sua última cópia de Paêbirú, há alguns anos. "Para tirar uns samplers", diz Lula.
De Jaboatão dos Guararapes, eu e Lula seguimos para a casa de Alceu Valença, no centro histórico de Olinda. Lula bate à porta do casarão. Festa quando Valença cruza o amplo saguão para saudar Lula, velho parceiro em Molhado de Suor, um dos seus primeiros discos.
"A gente tocou em 'Danado para Catende', que depois virou 'Trem de Catende'", Alceu conta. "Até então Lula só compunha, mas não cantava. Fiz a cabeça do pessoal da Ariola: 'O cara é o máximo!' Na gravadora, ninguém tinha a menor idéia de quem era o cara, muito menos que fizera algo como Paêbirú."
Souberam, no entanto, quando o álbum Gosto Novo da Vida, de Lula Côrtes, foi premiado como "a melhor venda do ano da gravadora Ariola", em 1981. Em três meses, vendeu 32 mil cópias. Depois, teve sua reedição emperrada por causa de um processo movido pela Rozemblit, que alegava plágio em uma música.
"Foi o primeiro artista que vi fumar no palco, no Teatro João Alcântara", diz Alceu.
Ambos riem. Lula acende um cigarro.
"Participei de Paêbirú. Dei uns gritos lá", resume Alceu.
"Foi na reza de 'Não Existe Molhado Igual ao Pranto'", Lula emenda.
"O estúdio da Rozemblit tinha acústica maravilhosa. Era o ambiente mais natural possível: cheguei e fui me deitando num canto. A banda tocava. Sonolento, me espreguicei: 'Ommmmmmmm...'."
"Foi como num mantra. Quando Alceu começou, todo mundo veio atrás e não parou mais", conclui Lula.
É nessa tradição do "livre espírito" que Paêbirú foi realizado. No texto homônimo - uma raridade datilografada só encontrada no interior dos LPs sobreviventes da cheia e escrito depois da ingestão de cogumelos colhidos no meio do caminho -, Lula Côrtes nos dá uma última idéia da grande aventura que foi Paêbirú: "Nós caçávamos o passado, e os corações se encheram de esperança com aquela visão. O caminho que havíamos abandonado mais atrás era o das Pedra de Fogo, outro pequeno aglomerado quase sem nenhuma chance de vida. A água é muito escassa. Conversávamos sobre as pedras. E ao longo, no horizonte, o lombo prateado da Borborema desenha curvas leves, demonstrativas de sua imensa idade. Os nativos tinham mapas nos rostos, o sol lhes rachou os lábios como racha a terra, as pedras duras e afiadas que dificultavam a caminhada lhes endureceu o riso. A informação parecia estar correta. Achamos o regato e acompanhamos o sentido. A água era clara e bastante salgada. A irrealidade se apossava cada vez mais dos nossos corpos e mentes, e toda a lenda que nos havia enchido os ouvidos, até aquele dia, parecia florar de tudo."

sábado, 26 de outubro de 2013



                Povos tradicionais


Com o intuito de estimular a produção e a difusão audiovisual entre os indígenas, foi realizada na quinta-feira (24/10), dentro do Encontro de Artes e Culturas Indígenas, aqui no Entre Serras Pankararu, a oficina “Povos tradicionais e audiovisual: pensando a política pública”.

“A gente vai ficar muito feliz no dia em que todos os povos tradicionais tiverem seu cineclube, produzirem seus vídeos. Se a gente tiver um cineclube em cada lugar desse país, não vai ter pra ninguém, a gente é muito criativo”, diz, entusiasmada, a coordenadora de Audiovisual da Secult-PE/Fundarpe, Carla Francine.

Além da oficina de audiovisual, os indígenas participarão, nos três dias de encontro, de rodas de debate sobre a educação indígena, de uma oficina de teatro e de trocas dos artesanatos de seus povos. O encontro, que começou na quinta-feira (24/10) e vai até hoje, sábado (26/10), reúne oito etnias indígenas para trocas culturais e debates sobre as políticas públicas de cultura.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013


Pernambuco perde mais um de seus grandes mestres. Arlindo dos Oito Baixos se foi, mas seu legado é como o de Luiz Gonzaga, de Dominguinhos: eterno. Homem simples, trabalhador de origem na cana-de-açúcar, Arlindo deu grandes saltos na vida e tornou-se um artista cujo talento foi reconhecido por diversas gerações de músicos e apreciadores da música, em todo o país.

Arlindo nos deixa como herança, além de um cancioneiro diversificado (onde cabem forrós, marchinhas, valsas e até frevo), a luta pela manutenção das tradições: da música que criou e tocou, do instrumento que elevou (a sanfona sempre foi mais valorizada que os oito baixos, mas Arlindo explorou toda a capacidade deste instrumento), das festas que promovia no seu famoso quintal e atraíam gente de todos os lugares. Arlindo vai, mas sua história fica para fortalecer a cultura pelas próximas gerações.

Foi Arlindo que fortaleceu essa tradição, como tocador, compositor de gêneros variados da música popular, um mestre da sua arte. Esse legado nunca vai morrer. Enquanto. O Governo de Pernambuco,  sentindo  sua enorme importância, agraciou com o título de Patrimônio Vivo, agora, in memorian." 



                     Maria Rosário Pinto



Pesquisadora e documentalista da área de cultura popular, dedicada, especialmente à literatura de cordel, exercendo suas funções profissionais na Biblioteca Amadeu Amaral CNFCP IPHAN, tem alguns textos publicados em livros, folhetos, catálogos e na Antologia da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, publicada pela ABLC, no site da Fundação Casa de Rui Barbosa, no espaço de biografias de poetas de cordel. Membro da ABLC, desde 2001, cadeira nº 18, do poeta e editor José Bernardo da Silva. Responsável pelo bolg Rosário Pinto e divide com Dalinha Catunda o blog Cordel de Saia.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013




De 23 a 27 de outubro, será realizada no País de Gales a World Music Expo (WOMEX), um dos eventos internacionais mais importantes para o mercado musical. O Coordenador de Música da FUNESC, Arthur Pessoa, estará no evento representando a Paraíba e divulgando o CD "Music From Paraíba", coletânea que conta com a participação de 20 artistas e grupos do estado, selecionados através de edital.

A ação é uma atividade conjunta entre FUNESC e SECULT-PB, através da Coordenação de Música e da Gerência de Música das instituições, com vistas a divulgação internacional da rica produção paraibana.

A ilustração é assinada pelo artista visual Shiko, paraibano de Patos, cuja obra transita dos quadrinhos ao graffiti e hoje conquista reconhecimento internacional pelo seu trabalho. A arte foi produzida por Shiko especialmente para o projeto.

Confira a lista dos artistas selecionados:

01 – BAIÃO DE TRÊS
02 – NECTAR DO GROOVE
03 – PAULO RÓ
04 – CLÃ BRASIL
05 – FURMIGA DUB
06 – SOCORRO LIRA
07 – SANDRA BELÊ
08 – BETO BRITO
09 – BETO PREAH PARAHYBA
10 – OS GONZAGAS
11 – SEX ON THE BEACH
12 – BRASIS
13 – SONORA SAMBA GROOVE
14 – BURRO MORTO
15 – SEU PEREIRA E COLETIVO 401
16 – ARMAZÉM DA MELODIA INCOMPLETA
17 – HAZAMAT
18 – LA GAMBIAJA
19 – RIEG
20 – GRANDPHONE VANCOUVER

quarta-feira, 23 de outubro de 2013



Encontro de Artes e Culturas Indígenas

Das 12 etnias indígenas existentes em Pernambuco, sete se concentram no Sertão de Itaparica. É lá onde vai acontecer, entre os dias 24 e 26 de outubro, o Encontro de Artes e Culturas Indígenas.

O evento é uma realização do Governo do Estado, através da Secult-PE e Fundarpe, em parceria com as comunidades tradicionais da região e as prefeituras de Jatobá, Petrolândia e Tacaratu. Além de promover a troca cultural entre as aldeias, o encontro propõe também o diálogo sobre a construção de políticas de cultura específicas para o segmento. 

terça-feira, 22 de outubro de 2013





Nesta segunda-feira (21/10), 23º Festival de Teatro do Agreste (Feteag) deu início às mostras Estudantil e Local em sua programação. O evento é realizado em Caruaru e tem incentivo do Funcultura, do Governo do Estado. O clássico “Auto das Sete Luas de Barro” é um dos destaques do festival. O musical do Grupo Feira de Teatro Popular aborda a trajetória do Mestre Vitalino, ceramista aclamado por seus bonecos de barro, mas que que morreu na miséria. O texto e a direção são de Vital Santos, falecido na última sexta-feira (18/10) após parada cardíaca. A apresentação será realizada, às 20h, no Teatro João Lyra Filho. A entrada é franca.

domingo, 20 de outubro de 2013






                                                     Antônio Luiz de Souza

Filho de Luiz Gonzaga de Souza e Neuza Francisca de Souza, nasceu em Potengi,municipio situado na Chapada do Araripe,no sul do estado do Ceara,no dia  21 de setembro do ano de 1957.Filho de agricultores,Antonio dedicou toda sua vida as trabalhos no campo,na atividade da pecuaria e agricultura.  Antonio Luiz como é conhecido no Sítio Assaré, se tornou brincante do Reisado de Caretas, em nos primeiros dias do ano 1980,durante as festividades de reis,em Potengi. O reisado de caretas do Sítio Assaré estava em vias de acabar quando Antonio, preocupado, passou a organizar o Reisado. Hoje o Reisado de Caretas de Potengi é referência para a região do Cariri e no estado do Ceara.

                                                   Chico César

Nascido Francisco César Gonçalves em 26 de janeiro de 1964, no município de Catolé do Rocha, interior da Paraíba, aos dezesseis anos Chico César foi para a capital João Pessoa, onde se formou em jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba, ao mesmo tempo em que participava do grupo Jaguaribe Carne, que fazia poesia de vanguarda.

Pouco depois, aos 21 anos, mudou-se para São Paulo. Trabalhando como jornalista e revisor de textos, aperfeiçoou-se em violão, multiplicou suas composições e começou a formar o seu público. Sua carreira artística tem repercussão internacional. A maioria de suas canções são poesias de alto poder de encanto lingüístico.
Em 1991, foi convidado para fazer uma turnê pela Alemanha, e o sucesso o animou a deixar o jornalismo para dedicar-se somente à música. Formou a banda Cuscuz Clã (que seria o nome de seu segundo álbum), e passou então a se apresentar na casa noturna paulistana Blen Blen Club.
Em 1995 lançava o primeiro CD "Aos Vivos" (Velas), acústico e ao vivo, com participações de Lenine e o lendário Lany Gordin. Em 1996 veio o sucesso nacional e internacional através do segundo álbum, "Cuscuz Clã" (MZA/PolyGram), produzido por Marco Mazzola. No terceiro CD, "Beleza Mano", mergulhou na cultura negra com participações do zairense Lokua Kanza, coral negro da Família Alcântara, os rappers Thaíde e DJ Hum, Paulo Moura, entre outros. "Mama Mundi", de 2000, mostra sua qualidade de intérprete num trabalho repleto de canções e referências ao som que se faz, tanto no interior do Brasil como em diversas partes do mundo.

Em junho de 2002 seu quinto CD, o "Respeitem Meus Cabelos, Brancos" (isso mesmo, com vírgula!), que ele define como um trabalho nômade. Com produção assinada pelo inglês Will Mowat, o álbum começou a ser pré-produzido em Londres, onde registrou participações especialíssimas de Nina Miranda e Chris Franck, integrantes da banda Smoke City (hype na Europa que difunde por lá a New Bossa, versão mais moderna na velha e boa Bossa Nova). De lá, Chico e Mowatt foram a Recife registrar o suingue de Naná Vasconcelos. Foram a Salvador buscando a marcação de Carlinhos Brown. Em João Pessoa, eles registraram o som da Metalúrgica Filipéia e do Quinteto Brassil. Até que, finalmente chegaram a São Paulo, onde o CD foi inteiramente concluído.

Em novembro de 2005, o sexto CD de sua carreira, ”De uns tempos pra cá”, pela gravadora Biscoito Fino.Com 12 faixas, traz canções autorais compostas por Chico desde a década de 80, num formato camerístico com o Quinteto da Paraíba: dois violinos (Yerko Tabilo e Ronedilk Dantas), uma viola (Samuel Spinoza), um violoncelo (Raiff Dantas) e um baixo acústico (Xisto Medeiros). Um ano depois o DVD, Cantos e Encontros de uns tempos pra cá, gravado durante show no Auditório do Ibirapuera.
Em 2008 surge “Francisco Forró y Frevo”, um mergulho do artista no espírito das duas principais festas populares nordestinas (o Carnaval e os festejos juninos), para criar um disco alegre em que o foco se encontra na força dos ritmos que animam essas festas: o frevo e o forró. E ainda no diálogo que esses ritmos têm naturalmente com “beats” universais. Por exemplo: o xote com o reggae, o frevo e o arrasta-pé com o ska... No que se refere especificamente ao frevo, uma novidade: a junção da linguagem das orquestras de metais de Pernambuco com a guitarra baiana dos trios elétricos da Salvador dos anos 70, em que a folia estava sob o comando da clássica dupla Dodô e Osmar.
Neste ano de 2012 uma celebração: sai o dvd aos vivos agora. com ele uma nova versão do cd e também o vinil. É só aguardar.
LIVROS

Chico César lançou em 2005 o livro Cantáteis (Cantos Elegíacos de Amozade) e em 2007 um áudiolivro com o mesmo nome. No CD, o cantor declama os versos do livro em que situa, na forma de poesia, as tênues fronteiras entre os sentimentos de amor e amizade. O autor estruturou os versos com o rigor formal dos cordéis. Cantáteis reúne 141 estrofes com 11 versos de sete sílabas. Para pontuar a declamação, o compositor criou uma base eletrônica inspirada na mistura das sonoridades do berimbau e da rudimentar cítara nordestina.
para comprar o audiolivro acesse:http://www.livrofalante.com.br/loja/product_info.php?products_id=73
para comprar o livro:http://www.garamond.com.br/produtos_descricao.asp?lang=pt_BR&codigo_produto=93

Em 2012, um novo livro, "rio sou francisco" que Beatriz Bajo* descreve assim:

rio sou francisco foi o livro inspirador à criação da Rubra Cartoneira Editorial, que institui o fenômeno “cartoneirismo” no estado do Paraná. cartonerismo é um termo advindo da iniciativa de algumas editoras utilizarem papelão para a confecção das capas de livros, nascido em consequência da crise argentina de 2002, que culminou com a criação da Eloisa Cartonera e outras editoras, espalhando-se pela América Latina e atingindo alguns países da Europa, como Espanha e Alemanha. rio sou francisco, então, inaugura o selo com outros autores eleitos pelo amor.
depois de ler Cantáteis: cantos elegíacos de amozade, fiquei assombrada com o talento poético de Chico César. seu primeiro livro merece ser lido e relido, haja vista que o poeta constrói uma rapsódia em cordel com versos enfeitiçados e desdobrados em belíssimas imagens.
sete anos depois, seus poemas tornam-se cordas feitas com tendões inflamados pelo arco tensionado a cada flechacesa disparada nos olhos bem abertos do leitor. lira rica que compõe laços, enrosca-se em nós, acorda cidades e embala casas no colo silencioso de cada poema constelado no “céu de solua”.
Chico fabrica uma poesia atrevida, vigorosa, em que as palavras dançam no ritmo endiabrado de seu resfôlego...mas conhecem o momento de estancar e permanecem no seio encantado da cara literatura.
com a língua rara da poesia, o autor lambe versos que vão aguando os botões floridos das palavras aladas, desabotoando escuridões...e, assim, bebemos a água doce do rio que é o Chico.
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*Beatriz Bajo é poeta, editora-geral da Rubra Cartoneira Editorial,

Para adquirir o livro é preciso selecionar o número do exemplar (apenas os que estão com bolinhas verdes no blogue - http://rubra-c-editorial.blogspot.com.br/ ) e entrar em contato para saber o valor do exemplar - pois o preço varia de acordo com a capa -, em seguida, caso haja interesse, depositar o valor na conta corrente da editora...que o livro será enviado imediatamente.
CARREIRA INTERNACIONAL

Chico César realizou, desde 1997, inúmeras turnês no mundo inteiro, apresentando-se em praticamente todos os países da Europa, Estados Unidos e Japão, além de lugares fora do circuito normal de shows como Cabo Verde, Finlândia e Turquia. Foi capa e matéria de diversas páginas de revistas internacionais como "Rhythm Magazine"(EUA) e "Jazzthetik"(Alemanha).

Como resultado destas viagens para fora do Brasil, surgiram parcerias e projetos especiais com artistas como os africanos Lokua Kanza e Ray Lema, o espanhol Pedro Guerra (com quem participou da gravação ao vivo de um DVD), e a portuguesa Né Ladeiras (que lançou em 2001 o CD "Minha Voz" com oito músicas do paraibano). Em 2003 foi lançado o CD "Drop the Debt", em prol do cancelamento da dívida externa dos países do terceiro mundo. Chico faz parte deste projeto e gravou a faixa "Devo não Nego". Suas músicas foram gravadas em vários idiomas e países. A canção "À Primeira Vista", recebeu versões em castelhano, italiano e japonês; "Clandestino" em grego e "Mama África" em espanhol.

Chico César foi Revelação do Prêmio Sharp/1995, Melhor Compositor pela APCA/1996, Prêmio MTV Music Awards como Melhor VideoClip de MPB/1996, para "Mama África". "À Primeira Vista" ganhou prêmio de Melhor Música/1997 pelo Troféu Imprensa do SBT. A trilha que ele fez para o espetáculo infantil "Amídalas" recebeu o Prêmio Panamco (ex-Coca Cola) de Teatro Jovem, como melhor trilha/2000.
A música "Soberana Rosa" (em inglês "She Walks this Earth") que compôs juntamente com Ivan Lins e Victor Martins deu a Sting o Grammy 2001 de Melhor Performance Vocal Pop Masculina. Neste ano de 2012 Chico está indicado ao Prêmio Femsa por melhor trilha sonora da peça "As Feiosas".

GESTOR
Chico César foi convidado no início de 2011 pelo governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, para ser o primeiro secretário de cultura do estado. Seus desafios são estruturar a nova secretaria, criar uma política de cultura e incentivar a implementação do Sistema Nacional de Cultura.

O primeiro convite para ser gestor surgiu através do mesmo Ricardo Coutinho, na época prefeito de João Pessoa, em 11 de maio de 2009. Chico assumiu a presidência da Funjope, Fundação Cultural de João Pessoa, entidade de direito público subordinada à Secretaria de Educação e Cultura do Município. Neste novo desafio, Chico se propôs a cumprir os objetivos da entidade: promover, incentivar, difundir e valorizar a cultura e as artes na cidade de João Pessoa; ser uma instituição de referência na execução de políticas públicas e fomentar e democratizar a participação e o acesso à cultura na sua diversidade, propiciando a formação cidadã através da inclusão social e do desenvolvimento do potencial criativo.

Uma das ações mais importantes foi a realização da Conferencia Municipal de Cultura, no mês de outubro de 2009 com o tema "Cultura e Diversidade, cidadania e desenvolvimento", uma oportunidade da sociedade civil debater com o poder público políticas públicas, que devem formar um plano municipal de cultura para João Pessoa.
Chico César foi eleito delegado e participou da II Conferência Nacional de Cultura realizada em março deste ano em Brasília.