quinta-feira, 31 de julho de 2014



Triunfo

Quem estiver na cidade de #Triunfo, nos próximos três dias, tem agenda garantida para aproveitar bons espetáculos de circo, dança e teatro. A programação de Artes Cênicas do Festival Pernambuco Nação Cultural (FPNC) – Sertão do Pajeú levará, de hoje (30) até sexta (1º), recentes produções do estado.

Na grade do festival, estão os espetáculos “Los Mascates excentricos” (30), “Jogo coreográfico” (31) e “Haru – A Primavera do aprendiz” (1º).

Sempre às 16h, no Cine Theatro Guarany.

quarta-feira, 30 de julho de 2014



Em Cajazeiras, PB

Lampião assustou Cristiano Cartaxo 

Por: Francisco Frassales Cartaxo




Cresci ouvindo meu pai narrar, vez por outra, o susto que passou ao ver-se frente a frente com Lampião. Cristiano Cartaxo (foto) contava sempre a mesma versão, quase com as mesmas palavras a indicar a veracidade do episódio por ele vivido. Certa ocasião, noite alta, ele se dirigiu à Farmácia Central, fundada pelo seu pai, o major Higino Rolim, para aviar uma receita, a pedido de pessoa amiga. 

Nessa época, década de 20 do século passado, a farmácia ficava na Rua Sete de Setembro, hoje Avenida Presidente João Pessoa. Cristiano entrou na botica, deixando a porta entreaberta, e foi preparar o remédio. Com pouco tempo, apareceu um desconhecido em trajes estranhos, arma de fogo e punhal. Meu pai apressou-se em procurar atendê-lo àquela hora da noite:

- O senhor deseja alguma coisa? Precisa de algum remédio?
 
Sabino Gomes em
Foto de Francisco Ribeiro
 
Disse mas não obteve resposta. O estranho esboçou apenas um leve sorriso, deu alguns passos, lentamente, parou para espiar melhor as pra- teleiras, voltou a caminhar pelo pequeno corredor até os fundos da loja, sem uma palavra, por mais que meu pai insistisse em oferecer-lhe seus serviços profissionais de farmacêutico. O visitante saiu pela porta, não sem antes fazer breve reverência de cabeça. Meu pai, sem pestanejar fechou a porta com ferrolho e voltou à sua tarefa. Claro que teve medo, sobretudo, porque isso se deu após o ataque do cangaceiro Sabino Gomes (foto) que, segundo meu pai, tinha como um dos seus objetivos ao invadir Cajazeiras “agarrar o enxu do major Higino”, numa referência ao cofre da farmácia do meu avô.

Sabino Gomes conhecia bem Cajazeiras. Fora guarda-costas de Marcolino Diniz, um cidadão que residiu em Cajazeiras, pouco depois de assassinar o bacharel Ulisses Wanderley, juiz de direito da cidade de Triunfo (PE), em 30 de dezembro de 1923. Preso em flagrante, foi solto pelos cabras de Sabino, a mando de Lampião, que era amigo e protegido do coronel Marçal Florentino Diniz, pai de Marcolino. Em Cajazeiras, Marcolino fundou e manteve, junto com o advogado Praxedes Pitanga, o jornal O Rebate, que circulou entre 1925 e 1928. Marcolino era irmão unilateral de Sabino Gomes, pois este nascera de relação sexual do coronel Marçal com sua cozinheira, em Abóboras, município de Serra Talhada (PE), perto de Princesa Isabel, terra do famoso coronel José Pereira, aliás, sogro de Marcolino Diniz. 

Sabino chegou a trabalhar nas obras de construção do açude de Boqueirão e desfilava armado pelas ruas de Cajazeiras, na qualidade de capanga de Marcolino Diniz.

Como o poeta Cristiano soube que o cangaceiro misterioso era Lampião? Meu pai o identificou numa foto que correu mundo, batida pelo fotógrafo profissional, Francisco Ribeiro, em Limoeiro do Norte, quando o bando ali estacionou, ao regressar da frustrada invasão a Mossoró. Em Limoeiro, os cangaceiros foram recebidos sem hostilidade. Ao contrário, tiveram direito a banquete, fizeram compras no comércio e até rezaram na igreja em companhia do padre.

Revejo, agora, a foto histórica, inserida no livro de Frederico Pernambucano de Mello: Guerreiros do sol - Violência e banditismo no Nordeste do Brasil -, talvez o melhor estudo acerca do fenômeno social do cangaço nordestino. Revejo com saudade do meu pai que, em 2013, completa 100 anos de formado na antiga Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro.

terça-feira, 29 de julho de 2014

quinta-feira, 24 de julho de 2014



"Carta para Ariano,


Quem te escreve agora é o Cavalo do teu Grilo. Um dos cavalos do teu Grilo. Aquele que te sente todos os dias, nas ruas, nos bares, nas casas. Toda vez que alguém, homem, mulher, criança ou velho, me acena sorrindo e nos olhos contentes me salva da morte ao me ver Grilo.


Esse que te escreve já foi cavalgado por loucos caubóis: por Jó, cavaleiro sábio que insistia na pergunta primordial. Por Trepliev, infantil édipo de talento transbordante e melancólicas desculpas. Fui domado por cavaleiros de Sheakespeare, de Nelson, de Tchekov. Fui duas vezes cavalgado por Dias Gomes. Adentrei perigosas veredas guiado por Carrière, por Büchner e Yeats. Mas de todos eles, meu favorito foi teu Grilo.
O Grilo colocou em mim rédeas de sisal, sem forçar com ferros minha boca cansada. Sentou-se sem cela e estribo, à pelo e sem chicote, no lombo dolorido de mim e nele descansou. Não corria em cavalgada. Buscava sem fim uma paragem de bom pasto, uma várzea verde entre a secura dos nossos caminhos. Me fazia sorrir tanto que eu, cavalo, não notava a aridez da caminhada. Eu era feliz e magro e desdentado e inteligente. Eu deixava o cavaleiro guiar a marcha e mal percebia a beleza da dor dele. O tamanho da dor dele. O amor que já sentia por ele, e por você, Ariano.
Depois do Grilo de você, e que é você, virei cavalo mimado, que não aceita ser domado, que encontra saídas pelas cêrcas de arame farpado, e encontra sempre uma sombra, um riachinho, um capim bom. Você Ariano, e teu João Grilo, me levaram para onde há verde gramagem eterna. Fui com vocês para a morada dos corações de toda gente daqui desse país bonito e duro.
Depois do Grilo de você, que é você também, que sou eu, fui morar lá no rancho dos arquétipos, onde tem néctar de mel, água fresca e uma sombra brasileira, com rede de chita e tudo. De lá, vê-se a pedra do reino, uns cariris secos e coloridos, uns reis e uns santos. De lá, vejo você na cadeira de balanço de palhinha, contando, todo elegante, uma mesma linda estória pra nós. Um beijo, meu melhor cavaleiro.
Teu,
Matheus Nachtergaele"

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Nota de Pesar pelo falecimento de Ariano Suassuna


“O Brasil perdeu o maior defensor de sua cultura popular. Mais que um criador de um movimento cultural, que batizou de Armorial, Ariano foi a própria síntese do que a gente chama de Cultura Brasileira, em suas mais diversas expressões: a música, o teatro, a literatura, as artes visuais, o cinema, o artesanato e arquitetura.

O seu comprometimento com a cultura genuinamente brasileira marcou sua obra e suas aulas em defesa de uma produção rica em símbolos e conceitos criados a partir das matrizes de formação do povo brasileiro.

Ariano fez sua última aula-espetáculo no Festival de Inverno de Garanhuns, na última sexta-feira (18). O mestre recordou o início de sua carreira como professor e o motivo pelo qual, mais recentemente, criou o modelo das aulas-espetáculos, dando continuidade à sua missão de transmitir conhecimentos e defender a produção artística nacional.

Incansável nessa missão de produzir novas obras, ensinar e preservar, Ariano deixa uma marca profunda e permanente na cultura do Brasil. Traduzido em vários países, também deixa seu legado para além de nossas fronteiras. A obra de Ariano deve agora ser preservada por todos e difundida para que, como fez com suas aulas, seja aprendida e discutida, sirva sempre de inspiração e desafio para as novas gerações”.

Marcelo Canuto
Secretário de Cultura de Pernambuco

Severino Pessoa
Presidente da Fundarpe
Foto: Nota de Pesar pelo falecimento de Ariano Suassuna

“O Brasil perdeu o maior defensor de sua cultura popular. Mais que um criador de um movimento cultural, que batizou de Armorial, Ariano foi a própria síntese do que a gente chama de Cultura Brasileira, em suas mais diversas expressões: a música, o teatro, a literatura, as artes visuais, o cinema, o artesanato e arquitetura.

O seu comprometimento com a cultura genuinamente brasileira marcou sua obra e suas aulas em defesa de uma produção rica em símbolos e conceitos criados a partir das matrizes de formação do povo brasileiro.

Ariano fez sua última aula-espetáculo no Festival de Inverno de Garanhuns, na última sexta-feira (18). O mestre recordou o início de sua carreira como professor e o motivo pelo qual, mais recentemente, criou o modelo das aulas-espetáculos, dando continuidade à sua missão de transmitir conhecimentos e defender a produção artística nacional.

Incansável nessa missão de produzir novas obras, ensinar e preservar, Ariano deixa uma marca profunda e permanente na cultura do Brasil. Traduzido em vários países, também deixa seu legado para além de nossas fronteiras. A obra de Ariano deve agora ser preservada por todos e difundida para que, como fez com suas aulas, seja aprendida e discutida, sirva sempre de inspiração e desafio para as novas gerações”.

Marcelo Canuto 
Secretário de Cultura de Pernambuco

Severino Pessoa
Presidente da Fundarpe



                                                                                                                                   
A ÚLTIMA FOGUEIRA

por Luce Pereira
Num tempo nem tão longo assim, Ariano Suassuna sobreviveu a dois infartos e um aneurisma. A cada internação, milhares de leitores passaram a manifestar, pelas redes sociais, esperança surpreendente na recuperação e o escritor acabou rindo dos riscos enfrentados. Brincalhão, disse, em entrevista veiculada no fim de 2013, que tinha pulado “três fogueiras”. Mas a última delas vem produzindo mobilização extraordinária, compatível com a extrema gravidade do caso. Em seis posts colocados no perfil do Diario de Pernambuco desde a noite de segunda-feira até a de ontem, os números se comportaram assim: curtidas, 45.478; compartilhamentos, 27.272; comentários, 3.844 e um total de 2.974.576 visualizações.
São sofridas as expectativas a cada boletim divulgado pelas equipes médicas, mas não para ouvir delas a melhor das notícias, de que o escritor de 87 anos conseguiu, mais uma vez, driblar as intenções da morte de abreviar o tempo dele entre nós. Não. Diante de tantos anúncios falsos veiculados, deste a tarde de ontem, sobre a morte, aguardava-se o pior a qualquer momento. Nem assim a esperança abandonou os internautas, muito provavelmente para honrar a palavra mais presente na obra e na vida do autor de O auto da compadecida – esperança.
Numa tese de mestrado defendida em 2010, na Pontifícia Universidade de São Paulo, estava a conclusão de que, de acordo com o objeto do estudo, tudo termina em perdão e esperança. Na obra como na vida de Ariano sempre foi assim, embora exista a letra do célebre frevo Madeira que cupim não roi para dizer o contrário. Ali está a mágoa, mas mágoa de carnaval prescreve.
Seja pela riqueza, diversidade e importância da obra, seja pelo carisma do autor, os pernambucanos estão abalados com mais esta “fogueira”, a maior de todas, aquela que coloca o escritor diante do mistério que povoou grande parte do seu legado artístico. A hipótese de ver encerrado para sempre o ciclo das aulas-espetáculo, onde o menino de Taperoá coloca por terra – com humor e simplicidade – até teorias como a de Charles Darwin, enche de tristeza os admiradores. Numa desses encontros, ninguém se sente diante de um intelectual, mas de um mestre feito de carne e osso, que se comporta não como o imortal que é, mas como um homem que cumpre serena e simplesmente o ciclo da vida.
Também entende-se a comoção criada com a notícia sobre a gravidade do aneurisma pelo viés da representatividade – Ariano é o último grande símbolo de uma geração de notáveis escritores. Assim será lembrado, não pela atuação como gestor de cultura, uma área marcada por injunções políticas e que não ocupa nunca o topo das prioridades de governo. Mas não é esta, afinal, a causa a que dedicou a vida e sim ao ofício de escrever: literatura, teatro, poesia, artigos … São suas reflexões como árduo defensor da cultura popular que devem ficar na memória de leitores e admiradores.
Lamentavelmente, não há tempo para finalizar o último grande desafio a que se propôs há 34 anos: reescrever toda a obra, como se ela já não trouxesse em si um valor inestimável, que está dito mesmo antes da cadeira que passou a ocupar na Academia Brasileira de Letras. A propósito, até a própria foi obrigada a desmentir, ontem, a notícia sobre o falecimento.
Como numa obra de literatura, não será possível fazer a morte estar na pele da “compadecida” ou ser, feito o título da peça, uma mulher vestida de sol. Mas, diante da agonia do autor, ao público resta o consolo da grande herança e a certeza de que ele é e sempre será lembrado. Querido pela terra que o viu nascer e pela que o adotou.


Em Serrita no ano de 1971, no terceiro domingo de agosto, o Padre João Câncio dos Santos, com apoio de Luiz Gonzaga e o violeiro repentista Pedro Bandeira realizaram a primeira Missa do Vaqueiro – dezessete anos depois da morte de Raimundo Jacó – no mesmo lugar onde encontraram o seu corpo.

O município de Serrita está situado na microrregião de Salgueiro, no alto sertão pernambucano, a 566 km da capital Recife.
A Missa tornou-se uma das maiores manifestações culturais de todo o Sertão. Em 24 de outubro de 1974 foi inaugurado o Parque Nacional do Vaqueiro, em seu interior foi construído um altar de pedra em forma de ferradura, onde o padre celebra a missa, vestindo algumas peças da indumentária do vaqueiro.
Participam os vaqueiros de todos os estados nordestinos. Homens, mulheres, jovens e velhos, montados nos seus cavalos, com o orgulho estampado no rosto e vestindo o gibão, se juntam em frente ao altar da ferradura para assistir a missa que é dividida em duas partes: Liturgia da Palavra e a Liturgia da Eucaristia.
A Liturgia da Palavra começa com a primeira leitura, feita por um leigo, depois as leituras do Novo e Velho Testamento. Em seguida o padre faz a leitura do evangelho, a homilia e a oração do credo.
A Liturgia Eucarística divide-se em: ofertório, consagração e comunhão. No momento do ofertório os vaqueiros deixam no altar, objetos do cotidiano, como o gibão, cela, chicote, arreios e instrumentos usados no pastoreio. Durante o ofertório eles aboiam, cantando a importância de cada peça. A consagração é o momento auge da Missa, seguido da comunhão.

Quando a Missa termina é que começa outro ritual, a confraternização com queijo, rapadura, farinha de mandioca e carne seca. Alimento que segura o dia-a-dia do vaqueiro na caatinga.
Em torno da tradição religiosa, os festejos profanos com festas, pegas-de-bois e vaquejadas antecipam a missa.
Todo terceiro domingo do mês de agosto, os anjos cantam no vento quente, que afina entrecortando a mata do sertão, anunciando mais uma festividade sertaneja. E no romper do dia o vaqueiro se apronta e cavalga aboiando, pelas estradas do sertão em direção à célebre Missa do Vaqueiro.
Os cânticos da Missa foram criados por Janduhy Finizola, em 1976 e intitulados de Rezas do Sol para a Missa do Vaqueiro, gravado pelo Quinteto Violado, tornou-se um espetáculo que percorreu o Brasil e chegou até à Europa. Dr. Janduhy, um dos grandes parceiros do Rei do Baião é um potiguar de Jardim do Seridó, que há muitos anos mora em Caruaru, onde exerce a medicina e transpira seus poemas através da música. Os cânticos são divididos em: Cântico de EntradaKirie EleisonaGlóriaCredoOfertórioSanctus, Sanctus;Pai NossoComunhão Canto da Despedida.


terça-feira, 22 de julho de 2014


Mestre Fida

Valfrido de Oliveira Cezar, mais conhecido como Mestre Fida, nasceu em 1957 na comunidade Quilombola do Timbó, localizado no distrito Iratama, município de Garanhuns, Pernambuco. Ele faz esculturas em madeira, entre as quais a mais famosa e a que mais caracteriza sua obra é o homem-cata-vento, uma escultura articulada com braços grandes e pás sensíveis à ação do vento. Além de seus famosos cata-ventos, o artista esculpe ex-votos e utilitários de madeira e cestaria de cipó. Mestre Fida é ainda construtor e em sua comunidade faz barbas, corta cabelos, dá conselhos e é o centro avante do "Barcelona do Timbó".

 Mestre Fida. Reprodução fotográfica Babel das Artes (www.babeldasartes.com.br)

O primeiro contato do mestre com a principal temática de sua obra ocorreu quando ele ainda era criança. Seu pai tinha um amigo que fazia cata-ventos e dava pra ele. O artista conta que “cresceu com isso na cabeça”. No meu canto, fiz um. Primeiro só no pau, sem rosto, Depois coloquei rosto. Rapaz, a gente não nasce aprendido, não! A gente faz, o outro olha e faz também. As coisas são assim, por isso você tem que fazer bem feito. Mestre Fida é herdeiro dos tradicionais saberes materiais do povo do povo Quilombola do Timbó e de antigos mestres como o contador de histórias Ciço de Rosinha, marco fundamental de sua formação artística.

 Homem Cata-vento, madeira. Reprodução fotográfica Galeria Pontes, São paulo, SP.

 Mestre Fida, Sem título, madeira. Reprodução fotográfica Galeria Estação, São paulo, SP.

A marca de seu trabalho está presente nas principais coleções de arte popular do estado de Pernambuco, do Brasil e de diversas partes do mundo. Presença constante todos os anos no Salão de Arte Popular de Pernambuco e na Praça dos Mestres na Fenearte (Feira Internacional de Arte, Recife), o Mestre Fida é considerado um dos principais nomes da genuína arte brasileira contemporânea. Suas obras já fizeram parte de diversas exposições pelo Brasil, dentre elas a Mostra do Redescobrimento, ocorrida em São Paulo no ano 2000 em comemoração aos 500 anos de descobrimento do Brasil.

Contato com Mestre Fida:
Iumas do Timbó, Quilombo Timbó - Distrito Iratama- Garanhuns, CEP: 52290-000
Fone: (87) 9103-8273

  Ex-voto, madeira. Reprodução fotográfica Galeria Pontes, São paulo, SP
Mestre FidaHomens Cata-vento, madeira. Acervo do Museu Théo Brandão, Maceió, AL. FOTO: Joana Vieira.

 Homens Cata-vento, madeira. Reprodução fotográfica Galeria Estação, São paulo, SP.

Ex-votos, madeira. Reprodução fotográfica Babel das Artes (www.babeldasartes.com.br)

 Mestre Fida trabalhando. FOTO: Jurandir Lima





Santo é Santo dos Santos
Deus verdadeiro
Vaqueiro é gente da gente
Bom companheiro
Senhor de bênçãos e glórias
Lá nas alturas
Que desça sobre o vaqueiro
E o sertão inteiro.


Credo



Creio em Deus Pai
pai tão generoso
pai tão generoso
caridoso Pai,
crio na minha gente
na terra e na semente
no amor que a gente sente
no amor que a gente dá.
Creio, creio
na luz da madrugada
nas chuvas, trovoadas
no céu bonito a prometer
creio, creio
no passo da boiada
que em meio a caminhada
descansa em meu viver.
Creio na esperança
nas minhas lembranças
vaqueiro e criança
o tempo a passar
creio na paisagem
de pobre pastagem
que ensina coragem
e como espera.
Creio na partida
amanhecida
nos campos a vida
a terra a chamar
creio nas enchentes
nos rios valentes
que faz do presente
sertão se alegrar.

domingo, 20 de julho de 2014



                                              Abdias Melo Filho


Nascido em Teresina Piaui, mas morando em Fortaleza desde pequeno, Abdias Melo Filho se interessou pela música  muito jovem, quando se dedicou a estudá-la.  Primeiro a percussão, mas em seguida a paixão pelo violão que tornou-se seu instrumento predileto.  A poesia estava no DNA da família, já que Abdias é parente do poeta e dramaturgo Abdias Neves.  Junte-se a isso as emoções da adolescência, a descoberta do amor e da vida e só podia dar mesmo em composições.

Com os anos 60 e a época dos conjuntos de rock, Abdias era solista de um deles, mas a MPB e a música regional nordestina eram o seu forte.  Como viver exclusivamente de música nunca foi uma tarefa fácil, nosso compositor e violonista deixou um pouco de lado sua paixão musical para ter uma vida profissional mais estável e segura para sua família.

Mesmo não tendo seguido a carreira musical, as composições sempre estiveram presentes e recentemente, encorajado pela filha, Abdias Melo Filho decidiu gravar o CD Paixão, registrando suas composições e parcerias.

Não foi à toa que o cenário bucólico do Passeio Público de Fortaleza - com seu baobá centenário-  foi escolhido para compor as fotos da capa e encarte do disco.  Há uma atmosfera de serestas que nos remete a um passado romântico e onde a calmaria dominava.  Porém o CD PAIXÃO traz outros estilos como  samba, frevo e até uma marchinha carnavalesca.  Temos também faixas (“Ascos” e “ Já me leva a vida”) que refletem as emoções de quem viveu os anos de chumbo e, provavelmente, teve a influência de Geraldo Vandré, mas a atmosfera geral do disco é de esperança ( a cor verde escolhida para o encarte também tem tudo a ver).  A certeza de que no fundo tudo se ajeita e de que a vida sempre vale a pena.

A produção do disco foi do próprio Abdias Melo Filho e a direção musical e os arranjos do competente Tarcísio Sardinha.  Músicos que participam do disco:
Abdias Melo Filho (voz em todas as faixas), Tarcísio Sardinha (violão de 6, 7 e 12 cordas, cavaco e bandolim), Elis Mário (flauta e saxofone), Gabriel Silva (violino), Hoto Jr. (percussão), Luziane Félix (vocalize e coral), Marcus Rocha (coral).

sábado, 19 de julho de 2014


Escritor e educador Rubem Alves morre em Campinas aos 80 anos

Escritor e educador Rubem Alves morre em Campinas aos 80 anos
O escritor Rubem Alves, de 80 anos, morreu no fim da manhã deste sábado (19) em decorrência de falência múltipla de órgãos, segundo o Centro Médico de Campinas (SP). O educador deu entrada no hospital com quadro de insuficiência respiratória devido a uma pneumonia e estava internado desde o dia 10 de julho na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O óbito ocorreu às 11h50.
Na manhã deste sábado, o hospital havia enviado um boletim médico para informar que o paciente teve um agravamento da condição circulatória, e que caminhava para a falência múltipla de órgãos. Nos dias anteriores, Alves havia apresentado piora nas funções renais e pulmonar.

Rubem Alves
Alves nasceu no dia 15 de setembro de 1933 em Dores da Boa Esperança, no Sul de Minas Gerais, e morava em Campinas há décadas. Um dos intelectuais mais respeitados do Brasil, Alves publicou diversos textos em jornais e revistas do país e atuou como cronista, pedagogo, poeta, filósofo, contador de histórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros infantis e até psicanalista, de acordo com sua página oficial na internet.
                                                                           
Educado em família protestante, estudou teologia no seminário Presbiteriano do Sul. Tornou-se pastor de uma comunidade presbiteriana no interior de Minas e casou com Lídia Nopper, com quem teve três filhos, Sérgio, Marcos e Raquel. O autor afirmava que descobriu que podia escrever para crianças ao inventar histórias para a filha.
Em 1963, viajou para Nova York para fazer uma pós-graduação. Retornou à paróquia em Lavras (MG), no período da ditadura militar, e foi listado entre pastores procurados pelos militares. Saiu com a família do Brasil e foi estudar em Princeton, também nos Estados Unidos, onde escreveu a tese de doutorado, que foi publicada em 1969 por uma editora católica com o título de 'A Theology of Human Hope' (Teologia da Esperança Humana).
Retornou ao Brasil em 1968 e demitiu-se da Igreja Presbiteriana. No ano seguinte foi indicado para uma vaga de professor de filosofia na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro (Fafi), atual Unesp, onde permaneceu até 1974.
No mesmo ano ingressou no Instituto de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde fez a maior parte da sua carreira acadêmica até se aposentar no início da década de 1990. Em 1984 iniciou o curso para formação em psicanálise e teve uma clínica até 2004.
Escritor
O escritor dizia que com a literatura e a poesia começou a realizar meu sonho fracassado de ser músico. Citava como referências Nietzsche, T. S. Eliot, Kierkegaard, Camus, Lutero, Agostinho, Angelus Silésius, Guimarães Rosa, Saramago, Tao Te Ching, o livro de Eclesiastes, Bachelard, Octávio Paz, Borges, Barthes, Michael Ende, Fernando Pessoa, Adélia Prado e Manoel de Barros.
Entre as obras infantis dele estão "A volta do pássaro encantado" e "A pipa e a flor". Alves escreveu também sobre teologia, filosofia, educação, além de crônicas. É autor de "Tempus fugit", "O quarto do mistério", "A alegria de ensinar", "Por uma educação romântica" e "Filosofia da ciência", e diversos outros. Em 2009 ficou em 2º lugar do Prêmio Jabuti na categoria Contos e Crônicas, com o livro "Ostra Feliz Não Faz Pérola".
Educador
Sobre a paixão pela educação, escreveu: "Educar não é ensinar matemática, física, química, geografia, português. Essas coisas podem ser aprendidas nos livros e nos computadores. Dispensam a presença do educador. Educar é outra coisa. [...] A primeira tarefa da educação é ensinar a ver. [...] Quem vê bem nunca fica entediado com a vida. O educador aponta e sorri - e contempla os olhos do discípulo. Quando seus olhos sorriem, ele se sente feliz. Estão vendo a mesma coisa. Quando digo que minha paixão é a educação estou dizendo que desejo ter a alegria de ver os olhos dos meus discípulos, especialmente os olhos das crianças".
Em entrevista à Globo News em agosto de 2012, Rubem Alves defendeu que a educação no Brasil deveria passar por mudanças. "Na educação a coisa mais deletéria na relação do professor com o aluno é dar a resposta. Ele tem que provocar a curiosidade e a pesquisa", disse.
A prova do vestibular também foi alvo de críticas à época. "Se os reitores das universidades fizessem o vestibular, seriam reprovados, assim como os professores de cursinho. Então, por que os adolescentes têm que passar?", indagou.
Medo de morrer
Em um texto biográfico no site oficial, o educador escreveu trechos sobre a morte. "Eu achava que religião não era para garantir o céu, depois da morte, mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos vivos."