segunda-feira, 24 de novembro de 2025
Transcrição do texto:
SÃO PAULO (CS) — O ex-caçador de cangaceiros, Euclides Marques da Silva, vulgo “Manoel Velho”, que integrava a volante que liquidou Lampião e seu bando, em carta enviada ao seu advogado, ameaça suicidar-se caso seja adiado, mais uma vez, seu julgamento, marcado para a próxima segunda-feira, perante o 1.º Tribunal do Júri. Na ocasião, será julgado também seu irmão, Josafá Marques da Silva. Ambos são acusados de coautoria de duplo homicídio qualificado, o que os sujeita à pena máxima de até 60 anos de reclusão cada um.
O CRIME
Por ordem de Euclides, que pagou 30 cruzeiros novos pela empreitada, Josafá, de encomenda, por volta das 13 horas do dia 13 de junho de 1966, na rua Piratiningui, assassinou a tiros de revólver a esposa e a filha do mandante, Maria Bosco da Silva e Jovina Marques da Silva. Euclides estava se separando da esposa e mandou matar as duas mulheres por entender que elas estavam onerando o seu orçamento. Há vinte e dois anos, em Jeremoá, na Bahia, eliminara a primeira esposa a tiro de fuzil por suspeitar de sua fidelidade. Permaneceu foragido até a prescrição do delito.
QUATRO ADIAMENTOS
O julgamento dos dois irmãos já foi adiado 4 vezes, principalmente por falta de número regulamentar de jurados. Tudo indica, porém, que tal fato não voltará a se repetir agora. Na carta que enviou ao advogado Flavio Markman (que deverá requerer cisão do julgamento, a fim de que seu constituinte seja julgado separadamente), Euclides, referindo-se aos sucessivos julgamentos diz que “aos poucos já me mataram quatro vezes”.
Afirmou que “isso não é modo de tratar um homem que ajudou o povo a se ver livre dos cangaceiros. Se não for julgado desta vez, eu dou cabo da vida. Eles vão ter que arrastar meu cadáver para o tribunal”.
Adendo Lampião Aceso
domingo, 23 de novembro de 2025
MARTINS
Thiago Emanoel Martins do Nascimento,nasceu no Recife, 25 de agosto de 1990, é um cantor, intérprete e compositor brasileiro.
A trajetória musical de Martins teve inicio nas tradições folcórica, tendo influencia dos repentistas, da poesia e da viola regional. Aos dezoito anos de idade começou a tocar Rabeca. Como cantor e compositor, Martins foi uma das revelações do chamado Coletivo Reverbo, que é um grupo de cantautores e cantautoras entre 20 e 40 anos de idade, vindos das diversas microrregiões de Pernambuco.
Antes de lançar-se em carreira solo, Martins participou de bandas e grupos musicais. Atuou como rabequista na banda Sagarana. também estava como integrante da banda forrozeira Forró na Caixa, em 2015. Em 2016 fez parte do lançamento de Circular Movimento, o primeiro álbum de rock da Banda Marsa que foi realizado através da premiação obtida, em 2015, no Festival Pré-AMP, organizado pela Articulação Musical Pernambucana.
Em 2019, marca sua trajetória em carreira solo com o álbum titulo Martins, lançamento este que contou com onze faixas compostas com suas próprias músicas autorais; com o qual foi considerado uma das voz emergentes do Recife e ganhou maior visibilidade no mercado musical do país.
Em 2022, lança "Almério e Martins ao Vivo no Parque". O álbum, gravado ao vivo numa apresentação no Teatro do Parque (Recife) em 2021, conta com a participação do também pernambucano Almério, de quem Martins é amigo e com quem ele acabou desenvolvendo uma parceria que inclui apresentações em diversas cidades pelo Brasil. Tal parceria gerou inclusive uma apresentação no Rock in Rio em 2024.
Em 2023 lançou o seu segundo álbum, com o título Interessante e obsceno, e que teve um texto de apresentação assinado pela Zélia Duncan. O trabalho acabou recebendo boa aceitação da crítica musical especializada tais como Augusto Diniz e Mauro Ferreira.
A composição “Jardim da Fantasia” esteve entre as dez músicas mais tocadas em rádio no Brasil no mês de maio de 2024. Tal canção, composta por Paulinho Pedra Azul, foi regravada por Martins e inserida na trilha sonora do reboot da novela Renascer, da Rede Globo, fato este que deu maior visibilidade nacional ao trabalho de Martins, agora atuando como intérprete.[13][14] Ainda interpretaria a canção Na paz, composta por Orlando Morais.
Como compositor, Martins já teve suas composições gravadas por artistas musicais de renome, tais como Daniela Mercury, Simone ("A Gente Se Aproveita"), Margareth Menezes, e Ney Matogrosso.
sexta-feira, 21 de novembro de 2025
COCO TORÉ PANDEIRO DO MESTRE INICIA PRIMEIRA CIRCULAÇÂO NACIONAL
No ano em que celebra 25 anos de trajetória, o grupo pernambucano Coco de Toré Pandeiro do Mestre realiza, pela primeira vez, uma circulação nacional. A agenda começa hoje (19) e vai até o dia 30 de novembro com apresentações em São Paulo e Belo Horizonte. O projeto conta com incentivo do Governo de Pernambuco, da PNAB (Política Nacional Aldir Blanc), da Secretaria de Cultura de Pernambuco e do Governo Federal – Ministério da Cultura.
A circulação começa hoje na icônica Casa de Francisca, em São Paulo, às 21h30, com participações especiais da cantora e compositora Alessandra Leão e do cantor e compositor Mestre Nico Manipueira. No dia 22, o grupo se apresenta às 20h no Baticum Tendinha Cultural, um importante espaço cultural de Belo Horizonte.
O circuito retorna à capital paulista em 26 de novembro, às 20h, no Ocupação Fervo, em evento que também reúne o grupo Filpo e a Feira, responsável por um repertório autoral presente nos discos Contos de Beira D’Água, Morada do Vento e Clareira, disponíveis nas plataformas de streaming.
O encerramento será no Sesc Campo Limpo, em 30 de novembro, às 17h. A Circulação Nacional SP–BH 2025 é uma realização da Terno da Mata Produções (PE) e da Ticuqueira Arte e Cultura (SP), com apoio do Sesc Campo Limpo e da Humaitá Cultura (BH).
A roda sagrada do tempo
Criado em agosto de 2000, o Coco de Toré Pandeiro do Mestre construiu uma composição autoral influenciada pelos cantos e danças dos rituais do Toré, milenar sistema de crenças e ritualísticas dos povos indígenas do nordeste brasileiro.
O primeiro álbum, “Coco de Toré” (2007), produzido por Nilton Junior e gravado por Gera Vieira no Estúdio Carranca, no Recife, tornou-se referência e contou com participações de Zé Neguinho do Coco, Grupo Bongar, Siba, Tiné e dos povos indígenas pernambucanos Fulni-ô e Pankararu.
Quinze anos depois, o grupo lançou “Água da Flor da Corrente” (2022), novamente produzido por Nilton Junior, com gravação, mixagem e masterização realizadas no estúdio Mundo Novo, em Olinda, sob o comando do lendário dub master pernambucano Buguinha Dub. O trabalho recebeu participações de Renata Rosa, Maciel Salu, Mestre Anderson Miguel e do Coco dos Pretos.
Para Nilton Junior, a circulação é o resultado de um processo longo e contínuo: “Essa circulação é a primeira colheita de uma semeadura realizada ao longo dos últimos quinze anos. Em idas e vindas entre Pernambuco e o eixo Sul–Sudeste, difundi nossa produção autoral por meio de aulas-espetáculo, oficinas e sambadas de coco, preparando o caminho para o Pandeiro do Mestre. Agora é o momento de saber se o plantio foi bem feito. Chego no sudeste acompanhado por esse coletivo que vive comigo, no Recife, as dinâmicas constantes de aprendizado, amadurecimento e auto identificação etno-artística.”
quinta-feira, 20 de novembro de 2025
Busto de Zé Rufino é inaugurado em Jeremoabo
Patrono da Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) Caatinga, Zé Rufino, o policial militar Coronel José Osório de Farias, um dos maiores combatentes do Cangaço, recebeu uma homenagem post mortem da Câmara Municipal de Jeremoabo, na manhã de sexta-feira (1º/08).
No início do ato na Câmara houve a concessão do título de cidadão de Jeremoabo a Zé Rufino, que foi recebida pelos familiares do policial militar, e em seguida ocorreu a formatura de 21 policiais militares no Curso de Rastreamento de Combate, que tem como objetivo capacitar o efetivo para atuação, emprego e execução de ações de rastreamento de combate nas operações policiais em ambiente rural.
A solenidade contou com as presenças do subcomandante do Policiamento em Missões Especiais (CPME), tenente coronel Ibrahim Almeida, do comandante do 20º Batalhão, tenente coronel Marcos Davi, do chefe de Coordenação de Documentação e Memória da PMBA, tenente coronel Raimundo Marins, do comandante da Cipe Caatinga, major Érico de Carvalho, oficiais e praças da corporação.
Os três primeiros colocados foram premiados pelo mérito intelectual: o sargento Valni Rodrigues de Queiroz Filho (1º lugar), da Cipe Sudoeste, o capitão Wilton Panta da Silva (2° lugar), da 54ª CIPM, e o soldado Leôneo Pereira Freitas, do Bope, conquistou a 3ª colocação.
A segunda edição do Curso rastreamento de combate iniciou em 21 de julho com 21 policiais militares, sendo 20 da PMBA e um da Polícia Militar do Piauí (PMPI), que passaram por instruções, treinamentos e atividades simuladas, contabilizando 140 horas aula.
Após a conclusão da solenidade, foi realizado um cortejo que saiu da da Praça do Forró até o Cemitério Municipal de Jeremoabo, onde um busto no túmulo do Coronel José Osório de Farias, o Zé Rufino, foi inaugurado.
Neto do militar, o cabo Melquisedeque, lotado no 20º Batalhão, destacou a importância dessa lembrança para toda a família. “Me sinto muito honrado com nesta homenagem ao meu avô que foi um grande combatente contra o cangaço”, afirmou.
Nascido em 20 de fevereiro de 1906, Zé Rufino ingressou na Polícia Militar da Bahia em 1934, sendo promovido a segundo tenente em 1939 para mais tarde chegar ao posto de coronel da PMBA. Ele foi comandante da volante contra o cangaço e ficou conhecido por confrontar Corisco. Faleceu em 20 de fevereiro de 1969, exatamente no dia em que completou 63 anos.
Publicao originalmente no Site da PM/BA
Postado por Kiko Monteiro
Mostra La Ursa das Artes celebra cultura negra em São Lourenço da Mata
Música, cinema, dança, teatro e cultura popular se encontram na 2ª edição da Mostra La Ursa das Artes, que acontece nos dias 19, 21, 22 e 23 de novembro, em São Lourenço da Mata. Exaltando o Novembro Negro e criado para valorizar e fomentar as manifestações artísticas tradicionais e contemporâneas da cidade metropolitana, este ano, o projeto conta com incentivo da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), por meio da Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE), e vai passar pelos bairros Tiúma e Parque Capibaribe, além da região central, com uma programação gratuita. O público vai poder assistir a sessões de filmes, apresentações musicais, além de participar de rodas de conversa sobre patrimônio, memória e identidade.
Após o sucesso da primeira edição, realizada em 2024, o evento retorna mantendo o compromisso de valorizar a cultura popular, desta vez, com atenção especial para a produção local e patrimônio cultural imaterial. Realizado pela Pareia Cultural Produções Criativas, o evento conta com intérpretes de Libras e celebra elementos culturais negros, que nascem nas ruas, nos bairros, nos terreiros e nas tradições que atravessam gerações em São Lourenço da Mata.
Para Thays Melo, idealizadora e produtora executiva do projeto, nascida e criada na cidade, a Mostra representa o ativismo pela valorização e visibilidade das manifestações culturais do território onde cresceu e aprendeu a amar a cultura popular. “São Lourenço da Mata é um município com grande potencial artístico que precisa de mais ações de fomento e difusão dos seus bens culturais. Temos uma juventude criativa que precisa ter mais oportunidades de acessar uma formação que contribua para o seu desenvolvimento e emancipação”, comenta Thays. A mostra representa o compromisso com a manutenção da memória e os saberes do povo preto, especialmente, que formam a identidade cultural na cidade, reconhecendo expressões vivas como ponto fundamental para a construção de uma sociedade mais diversa.
O nome do evento é inspirado na figura simbólica e popular da La Ursa, brincadeira tradicional que resiste e pulsa com força em São Lourenço da Mata. Por meio de uma programação diversa, a Mostra aproxima o público de grupos e artistas que reverberam o potencial criativo da cidade e do estado. Os espetáculos e apresentações artísticas são protagonizados por performances genuinamente pernambucanas que simbolizam a diversidade do território.
Este ano, a Mostra repete a parceria com o Quintal Capibaribe, que se une à programação por meio da realização do “Parque Criativo: Circuito de Oficinas e Inovações Culturais” nos dias 22 e 23. Haverá ainda uma feirinha criativa reunindo afroempreendedores locais.
Na Escola 10 de Agosto, localizada no Centro, haverá uma atividade formativa voltada para estudantes e professores da própria instituição com o tema “Patrimônio Cultural Imaterial: memória, identidade e resistência”. O encontro também vai contar com a participação de Vando do Urso (Urso Branco do Cangaçá) e Pai Noé (Maracatu Gavião de Ouro), representantes de manifestações reconhecidas como patrimônios culturais imateriais municipais e nacionais. A mediação será feita por George Messias, historiador e pesquisador.
Confira a programação AQUI.
CINEMA
A edição deste ano contará com três sessões de cinema: Pau Brasil, Tarol e Ursinhas. Cada uma vai exibir até quatro curtas-metragens pernambucanos, além de apresentações artísticas de maracatu, roda de capoeira, orquestra, DJ, dança, teatro, entre outras. Thays Melo assina curadoria musical e da Sessão Pau Brasil.
O público mirim também tem programação especial dentro da Mostra. A programação de filmes infantis que compõem a Sessão Ursinhas é da artista multidisciplinar Iyadirê Zidanes, que atua com Cinema e Audiovisual, Música, Teatro e Poesia.
Os filmes serão exibidos no Sesc Ler São Lourenço, no bairro Tiúma, e na Sede do Quintal Capibaribe, no Parque Capibaribe. Entre os longas selecionados está “O Homem do Fraque Verde”, dirigido pelo cineasta Petrônio Lorena. O filme retrata o cortejo do “Homem da Meia-Noite”, que acontece no sítio histórico de Olinda, em Pernambuco, desde 1932, sempre à meia-noite do sábado para o domingo de carnaval. Confira a programação audiovisual AQUI.
MOSTRA LA URSA
Dias 19, 21, 22 e 23 de Novembro
Locais: Parque Capibaribe, Tima e Centro – São Lourenço da Mata (PE)
Instagram: @mostralaursa
quarta-feira, 19 de novembro de 2025
PAGODE DO DIDI – PATRIMÔNIO VIVO DE PERNAMBUCO.
Vlademir de Souza Ferreira, mais conhecido por Didi do Pagode, nasceu em dezembro de 1943, no bairro Caxangá, no Recife. O convívio com o pai violinista e com as cantorias da mãe o fez, desde cedo, interessar-se pela música. Antes de firmar-se enquanto músico, Didi trabalhou em algumas empresas, casas de show e foi jogador de futebol, daí o apelido (diante da semelhança física com o jogador da seleção brasileira). Em 1981, abriu o Bar do Didi, que logo se tornou ponto de encontro de sambistas, e em seguida, o primeiro pagode ao ar livre do Recife, o Pagode do Didi. Com essa iniciativa, Didi participou da formação de vários músicos, compositores e grupos que iniciaram suas carreiras neste espaço.
O espaço se mantém há três décadas enquanto reduto do samba de raiz, funcionando de segunda a sexta-feira, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife. O Pagode do Didi também foi o primeiro “palco” da Terça Negra, evento criado para encontro e expressão do povo negro, que ocorre todas as terças (atualmente no Pátio de São Pedro). Membro da Ordem dos Músicos do Brasil, Didi já participou da gravação de discos e de programas televisivos, além de receber diversos convites para gravar e integrar grupos de samba.
quarta-feira, 12 de novembro de 2025
MESTRE FRANÇUI
Francisco Dias de Oliveira, Mestre Françuli, nasceu no ano da graça de 1942 no município de Potengi,no Cariri Cearense.
Desde a infância o menino da pequena cidade do Ceará era um sonhador. Construia pequenos aviões de metal com muita habilidade e criatividade, assim, após ganhar experiência, profissionalizou-se como flandeiro. Françuli começou produzir peças diversificadas, como chaminés, fornos, pás, baldes, latas, tubos de armazenar legumes, funis e caandeiros. Para ajudar seus conterrâneos, construiu um equipamento de flandes de borracha que traz do fundo do poço o equivalente a uma lata de água.
Mas o hobbie da infância nunca ficou pra traz, e em meio aos seus inventos Mestre Françuli, fabricava também suas miniaturas de aviões, que já somam em média 32 modelos.
O sonho foi mais além, construiu um museu em sua cidade e hoje suas peças são comercializadas em todo o estado do Ceará, algumas foram expostas em diversos museus, inclusive fora do estado. Foi tema de documentários, que retratavam suas obras.
Hoje, Mestre Françuli continua morando em Potengi, e vive com o dinheiro de sua aposentaria, trabalhando na agricultura de subsistência e criando peças em sua oficina de flandagem
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
MARCOS PAULO (Marcos de Sertânia)
Marcos Paulo Lau da Costa é um importante representante da escultura em madeira nascido em Sertânia, Pernambuco, em 1974. Oriundo de uma família de agricultores e artesãos, decidiu mudar a tradição de seus familiares que produziam utensílios domésticos e pequenas esculturas de boi, e passou a retratar a aflição provocada pela seca, ao extrair da madeira figuras esqueléticas carregadas de dramaticidade e melancolia. O cachorro esculpido em madeira, uma de suas obras mais emblemáticas, nos remete à Baleia, a cadela de Vidas Secas de Graciliano Ramos. “... A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pêlo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo...” [RAMOS, Graciliano. Vidas secas, 82ªed. Rio de Janeiro: Record. 2001]. “Criei um estilo mais próprio, emagreci os personagens para dar mais sofrimento. Vivi tudo isso aí que coloco no meu trabalho. Já sofri com a seca, já ajudei minha mãe a carregar água na cabeça, meu pai era vaqueiro, já vi o gado morrer de fome”, conta Marcos. Marcos Paulo hoje sustenta sua família com o seu talento e criatividade.
Marcos Paulo pertence a uma geração nova de mestres da arte popular brasileira que inova pela linguagem e pelo estilo próprio. As esculturas de Marcos, além da dramaticidade impressa, dão a impressão de estarem em constante movimento. “As pessoas lá de Sertânia achavam feio o que eu faço. Eu desproporcionalizava as coisas, mas eu gosto do desproporcional, da mesma forma como eu acho meu universo bonito. Claro que a seca é terrível, mas a caatinga é bonita. Uma vez me disseram que meu trabalho parecia com o de Portinari. Quando conheci os quadros dele vi que o que eu fazia ele também fazia”, conta Marcos Paulo. A obra de Marcos Paulo já foi comparada também com a obra do artista plástico e escultor italiano Amedeo Modigliani.
As obras de Marcos Paulo estão espalhadas em coleções particulares pelo Brasil e no exterior. Ele freqüentemente participa junto com sua obra de varias feiras e exposições pelo Brasil, como: o 6° Salão Internacional do Artesanato, realizado em Brasília-DF (2013) e a Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), realizada todos os anos no mês de julho em Recife-PE.
Contato:
Rua Ten. José Pires, 364, Alto do Rio Branco.
Sertânia, PE
Tel: (87) 99131-1423, 99957-8231
E-mail: mascosesculturasalongadas@hotmail.com
domingo, 9 de novembro de 2025
CHEGANÇA E FANDANGO, HERANÇAS IBÉRICA NO FOLCLORE ALAGOANO.
Reportagem dos jornalistas Luiz Alípio de Barros e José Medeiros (fotos) publicada na revista O Cruzeiro de 6 de dezembro de 1947, que contou com a orientação do professor Theo Brandão em Maceió
Publicado em 28 de março de 2019 por Ticianeli em Cultura // 2 comentários
Frei Jaçanan, da Chegança de Mestre João Marinho, da Ponta Grossa, bairro de Maceió
Cheganças e Fandangos são em Alagoas os autos ou folguedos de exclusiva origem peninsular, filiados ao ciclo dos “navegantes ou dos descobridores”.
A Chegança é a sua forma mais completa, complexa e antiga, aquela que pode ser considerada no justo termo em auto popular, com entrecho dramático em vários episódios, ora cantados, ora declamados (embaixadas) e tudo isso acompanhado de danças. É o correspondente dos folguedos da “Barca” ou “Marujada” de outros Estados.
Mestre Berto Maneta, Senhor do Fandango, morreu dias após a realização desta reportagem
O Fandango é o variante mais recente, seguramente importado de Pernambuco, pois sua existência em Alagoas vem de um tempo menos remoto. Parece, o Fandango, uma fragmentação do auto primitivo, do qual se conserva o episódio da tormenta do gajeiro com o clássico romance ou xácara da Nau Catarineta, ao qual se ajuntam, indiscriminadamente, e sem nenhuma ligação dramática que, ora fragmentos da Chegança completa, ora antigas nautas de diversa origem, época e procedência. Portanto, enquanto na Chegança existe uma sequência, os episódios se unem num “romance”, num drama, no Fandango os episódios são soltos, não possuem uma sequência dramática.
Não cabe aqui discutir nem a origem do termo Chegança (Cândido de Figueiredo em seu “Novo dicionário da língua portuguesa”, registra o vocábulo como dança lasciva do século XVIII e que era tão imodesta em coreografia que a proibiram pelos tempos de Pombal” — “As Cheganças”, in “O Estado de São Paulo”, de 6-8-39) nem a debatida questão de saber se, em Alagoas, pelo menos, houve primitivamente uma só Chegança, com todos os episódios náuticos e guerreiros, Chegança que se fragmentou na “Barca”, na Chegança de “Marujos”, na Chegança de “Mouros”, de outros Estados, ou, se ao contrário, havia primitivamente uma Chegança para cada um dos episódios principais, que em Alagoas se amalgamaram numa só Chegança.
Uma cena do Fandango da Praça 13 de Maio, de Maceió
O que há a frisar — e aqui aproveitamos uma das mais valentes observações do Dr. Théo Brandão — é que hoje, e pelo menos de há cinquenta anos para cá, a nossa Chegança é uma só, englobando os episódios principais da tormenta, da morte ou ferimento do piloto, do combate aos mouros, e os episódios iniciais ou secundários, da marcha para o navio, da entrada na nau, da despedida, do episódio de levantar ferros, dos contrabandistas, dos trabalhos náuticos, do episódio do ração e da bebedeira do piloto.
Folguedos populares, a Chegança e o Fandango são, em Alagoas, folguedos tipicamente natalinos, e seu período de ação vai do dia 24 de dezembro, véspera de Natal, até 6 de janeiro, dia de Reis. Mas, a Chegança e o Fandango não são organizados assim na hora. Já em junho começam os preparativos para as grandes jornadas, e os ensaios são levados muito a sério.
De tradição puramente náutica, a Chegança e o Fandango possuem em geral nas suas interpretações homens que têm as suas vidas ligadas ao mar. Encarnam sempre os personagens dos folguedos: velhos marinheiros, estivadores trapicheiros, catraieiros, pescadores, armadores, e os meninos, filhos destes trabalhadores do mar.
Como não há nada escrito, tudo é aprendido através dos ensinos do “mestre”, que tem todas as palavras e toda a música na cabeça. Assim a tradição dos folguedos tem chegado até hoje, através da memória de homens rudes e analfabetos mas que são os esteios do patrimônio folclórico de uma das regiões mais ricas do Brasil neste setor.
O “mestre”, que conheceu os dramas e a música dos folguedos pela boca de um “mestre”, passa a sua experiência e seus conhecimentos a um discípulo, que tornar-se-á um outro “mestre”. Dura maneira de se conservar uma tradição, mas o que possui hoje o Nordeste brasileiro no seu folclore é uma prova cabal de que os trabalhos dos seus homens rudes e analfabetos não têm sido em vão.
O Gajeiro canta alto “O vento é tanto que me faz chorar”. E canta triste, triste
Entretanto, como dizíamos acima, os ensaios para as representações de fim de ano começam cedo. E nos meados de dezembro o grupo está artisticamente preparado para exibições públicas.
Suas fardas (as fardas são copiadas dos nossos marinheiros) em ordem, as do Fandango de cor azul-marinho, as da Chegança brancas. Sobre esta questão da cor das fardas não podemos oferecer uma informação mais precisa, porque não temos base para afirmar que o azul-marinho seja a cor oficial dos Fandangos, e o branco das Cheganças. Apenas aqui afirmamos que nos autos, autos ou folguedos de origem peninsular, filiados ao ciclo dos navegantes ou dos descobridores, sejam esses folguedos as Cheganças propriamente ditas ou sejam as suas variantes, as fardas são sempre brancas ou azuis. Porém, nos folguedos que temos assistido nestes últimos anos, pelo menos em Alagoas notamos a distinção do azul-marinho para os Fandangos e do branco para as Cheganças.
Continuemos, porém. Prontas as fardas e terminados os ensaios, inicia-se o trabalho de construção da “barca”. E no meio da praça — nas cidades pequenas, nos vilarejos e mesmo nos bairros e arredores da Capital — é armada a “barca”, do tamanho de uma alvarenga ou veleiro de pequenas proporções.
O mastro até lá em cima, e cruzando toda a “embarcação”, no alto, os cordéis resistentes com seus enfeites de papeis coloridos. Em algumas naus, como na Catarineta do saudoso Mestre Berto Cotó, não falta nem uma incompreensível chaminé, absurda num navio a vela.
E no tombadilho estreito geme-se toda a tristeza do mar, e a barca construída de madeira e descansando sobre o chão da praça, aguenta durante 14 dias o peso dos seus “tripulantes”, homens humildes que gastam suas fracas economias anuais nos seus vistosos uniformes.
Em algumas ocasiões, no entanto, o folguedo é convidado para visitar lugares onde não existe uma “barca”. O convite é somente por uma noite, e não é possível e nem interessa mesmo a construção da embarcação. Então, a função tem que se realizar na sala da casa de quem convida, ou em algum palanque, ou em algum galpão que possa existir.
E aqui não podemos deixar de citar um detalhe interessante: em geral, as apresentações dos folguedos fora dos seus domínios são remuneradas, e o convite representa, portanto, um contrato. Nos folguedos natalinos de Alagoas (e parece que de todo o Nordeste), não somente nas Cheganças e nos Fandangos como também nos Reisados, nos Guerreiros, nos Pastoris, etc., faz-se esta espécie de negócio.
E existem mesmo grupos, principalmente no setor dos Reisados e dos Guerreiros que, organizados alguns meses antes do Natal, saem, bastante tempo antes dos festejos de fim de ano, em verdadeiras “tournées” pelos municípios vizinhos, e mais distantes, por vezes atravessando fronteiras de outros Estados.
Uma observação: em Maceió, e em alguns municípios vizinhos temos encontrado a denominação “Nau Catarineta” apenas para as “barcas” dos Fandangos; as “barcas” das Cheganças têm sido, parece que há muitos anos, batizadas com nomes principalmente de navios de guerra, como Minas Gerais, São Paulo, etc.
Enquanto o Fandango tem se conservado quase fiel às origens da velha xácara da Nau Catarineta e de outras poesias semelhantes que perpetuavam as aventuras marítimas dos portugueses, a Chegança tem se modificado algumas vezes, tanto nas letras das suas canções como no número dos seus tripulantes, que tem sofrido acréscimo, até mesmo de um moderníssimo telegrafista.
Folguedos de âmbito eminentemente popular, o Fandango e Chegança são representações de episódios dramáticos, ora cantados, ora falados, e sempre acompanhados por danças e movimentos coordenados. A música é monótona e as letras falam de fatos tristes e de tragédia. A coreografia das danças é simples e da lascívia de que nos falam Fidelino de Figueiredo e Mário de Andrade (ao estudarem a origem do termo chegança) parece que não restou nada.
Frei Remela, do Fandango da Praça 13 de Maio, benze personagem da Chegança da Ponta Grossa
E sobre o assunto temos a opinião abalizada de Antônio Osmar Gomes, que assim escreveu no seu livro A Chegança: “Trazidas para o Brasil, certamente pelos colonizadores ibéricos, as cheganças não vieram com aquelas características lascivas, que as tornaram indesejáveis na península. Foram transplantadas para cá e aqui permaneceram como cenas dramatizadas de episódios da navegação marítima dos tempos em que os lusitanos, senhores dos mares “nunca dantes navegados”, dominaram tantas outras terras e tantas outras gentes “dilatando a fé e o império”. Tornaram-se, assim, danças verdadeiramente brasileiras, mas sob motivos históricos portugueses, que aceitamos e adaptamos como se foram nossos”.
Monótonas as danças e monótonas as músicas das Cheganças e dos Fandangos. Mas bonitas, tristemente bonitas. Para o estrangeiro, para aqueles de outras latitudes, os folguedos não possuem outros interesses além da curiosidade estudiosa ou da atração pelo exótico. Para os habitantes simples do lugar, entretanto, os folguedos aparecem com uma grandeza esplêndida, porque trazem a estes habitantes a sua dose anual de alegria e falam eles de acontecimentos estranhos e atraentes.
A Chegança de Mestre João Marinho, com a sua barca “Minas Gerais”, tinha uma tripulação assim distribuída: Almirante, Vice-Almirante, Capitão de Mar e Guerra, Capitão-Patrão, Imediato, 1º Tenente, Piloto, 2º Tenente, comissário, Cirurgião, Mestre, Contra-Mestre, Dispenseiro, Telegrafista, Carpinteiro, 2 Gajeiros, 2 Calafates (encarregados de vigiar o casco da embarcação, para evitar possíveis inundações), o Ração (encarregado de distribuir a comida de bordo), o Vassoura (encarregado da limpeza e anda sempre com uma vassoura na mão), e Padre-Capelão e marujos.
A Chegança começa ainda na rua ou no meio da praça. A barca imponente e enfeitada espera tranquila, e embaixo, em volta dela, menos no local onde fica a escada, o povo escuta atencioso o começo da função. Os tripulantes formados e nas suas fardas brancas, orgulhosos e entregues de corpo e alma aos seus papeis, marcham.
O Mestre canta:
Entramos nesta nau de guerra
Com muita veneração.
Lôvores vinhemos dar
A Virgem da Conceição.
E o coro responde:
Entramos com gosto
Com muita alegria.
Vinhemos festeja
A Virgem Maria.
Depois da entrada na barca, há uma série de embaixadas (pequenas declamações com ênfase) onde tomam parte vários personagens, embaixadas como esta do Almirante:
[Não publicada no original]
Personagens do Fandango
São os primeiros preparativos de bordo para a viagem; e uma série de embaixadas e também de marchas cantadas em solo e com resposta de coro, apresentam as ordens dos oficiais: olhar as velas, os ferros, os mantimentos, a situação do casco da embarcação, tudo. Depois, o Almirante manda levantar ferros, e Patrão e coro cantam:
Contra-Mestre puxa os ferros
Piloto vai manobra
Que o vento está suleno (solene)
Lá no alto mar.
A marcha continua, com outras estrofes e em seguida há outra embaixada do Almirante, e logo outra marcha cantada pelo Patrão e coro:
Nós que samos marinheiros
Dentro dessa nau de guerra
Olhe que estamos puxando os ferros
E ao depois arvorá uma grande vela.
E somente o Patrão:
Choram belas alagoanas
Nesse embarque arrigoroso
Militá e os marinheiros
Que são homens caprichoso
A marcha se estende em outras quadras, e seguem-se outras embaixadas e diálogos.
Não sopra o vento, fala-se muito nas velas e o Piloto informa que há nuvens escuras pela proa, nuvens que prometem tormenta; e nasce uma rusga entre o Piloto e o Contra-mestre, e a discussão continua, mas agora entre o Piloto e o Patrão e termina com uma embaixada do Almirante que ameaça castigar os dois. E depois de toda essa confusão, a embarcação começa a se movimentar para a grande viagem e o Patrão acompanhado do coro canta a marcha Adeus que eu me vou.
E em seguida, ainda o Patrão, geme acompanhado pelo coro, o conhecidíssimo
Na saída de Lisboa
Quando nós puxemos os ferros
Alembrei-me das meninas
Dos meus amores lá em terra.
A viagem continua, e o Piloto não está muito bem com o rumo, pois havia bebido muito, e é advertido pelo Mestre-Patrão e nova rusga nasce entre os dois.
Nau Catarineta armada para o fandango da Praça 13 de Maio em Maceió em dezembro de 1947
Logo após vem o episódio do contrabando de “fazendas bem fina, para vende no Brasil”; os contrabandistas, dois guardas-marinha, são colocados no porão por ordem do Almirante, onde apanham e pedem ao Mestre-Patrão, por Nossa Senhora, que interceda em favor deles junto ao Almirante, que manda soltá-los. Mas se aproxima a tormenta, o Almirante manda dar o alarme, e o Contra-Mestre, com medo da morte, fala do seu arrependimento em não ter ouvido os conselhos da mãe, canta acompanhado pelo coro, o famoso e belíssimo
Minha mãe bem me dizia
Que eu não fosse me embarcá
Que este nau se perderia
E eu me lançaria ao mar.
E o Mestre, temendo morrer sem a assistência de Deus, pede ao padre capelão, numa voz fanhosa e triste:
Senhor padre capelão
Me bote sua benção
Eu me vou lançar ao mar
Vou morrer sem confissão.
E em seguida reclamam em coro os marinheiros dizendo que estavam com fome, e não tinham recebido comida alguma. Este é um dos episódios mais interessantes do folguedo, e aqui vamos transcrevê-lo, iniciando a transcrição pelo pitoresco diálogo entre o Piloto e os marinheiros. O Piloto pergunta e os marinheiros respondem:
— Marinheiro?
— Senhor!
— Já comeram?
— Não senhor!
— Já beberam?
— Não senhor!
— E qual a razão?
— Porque nos falta a ração!
— Que faz Mestre-Patrão, dentro desta embarcação?
— Não sei!
Entrada dos Mouros no barco
E o Ração, querendo remediar o sucedido:
Tomem marinheiros
Essa fatia de pão
Amanhã, se Deus quiser
O dinheiro e a ração.
Então o Patrão intervém na história, e pergunta aos marinheiros se eles já haviam comido e bebido, e eles respondem que sim. Então o Patrão quer saber por que eles tinham dito que não ao Piloto, e os marinheiros respondem:
— É a nossa obrigação.
Volta o Piloto e repete as mesmas perguntas aos marinheiros, e estes respondem que não tinham recebido a ração. O Patrão toma a atitude do Piloto como um insulto, e depois de rápida discussão, puxam das espadas e simulam uma luta, o Patrão leva a espada até a barriga do Piloto e esse se joga sobre uma cadeira e com voz rouca canta, acompanhado pelo coro, outra quadra muito conhecida da Chegança:
Oh, que punhalada
Que me deu Mestre-Patrão
Com aquele punhal de prata
Trespassou meu coração.
A luta entre Mouros e Cristãos
Em seguida pede para mandar chamar um doutor, pois acha que o ferimento é mortal. Chega o doutor e receita:
Vem cá Laurindo
Vá depressa na butica
Vá ver a medicina
Daquela que mais se aplica.
O doutor resolve, e o Piloto dizendo que vai morrer, pede a presença do padre-capelão, pois deseja se confessar. E o almirante manda prender o Mestre-Patrão, mas o gajeiro intercede em defesa do Mestre-Patrão e o almirante manda soltá-lo, terminando assim a parte do Piloto.
O último episódio da Chegança vem então. É o episódio dos Mouros. O grupo canta uma marcha, onde se pergunta que navio é aquele que aparece ao longe. O gajeiro sobe pelo mastro e ele informa ao Almirante que o navio tem três bandeiras de guerra.
Neste momento aparecem, embaixo, no meio da assistência, os mouros, vestidos com calções vermelhos ligados nos joelhos a meias de mulheres, uma blusa também vermelha, um papelão com incrustações douradas cobrindo o peito, e na cabeça segura por uma coroa também de papelão com incrustações de estrelas douradas, duas longas tranças louras, descendo até os joelhos.
Os mouros chegam até bem perto do navio, e pedem licença ao almirante par subir, pois têm uma embaixada mandada por “um senhor de muita valia, Senhor dos Mouros, Rei da Turquia”. O Almirante manda que eles subam. Há um diálogo violento entre os mouros e o Patrão, e é declarada a guerra. Há cruzamentos de espadas entre os mouros e tripulantes da barca e cantam-se várias marchas, enquanto se luta. Até que os mouros são vencidos, e obrigados a abraçar a religião cristã. Aparece o Capelão, que batiza os mouros:
Eu te batizo mouro
Mouro, infiel pagão
A o depois de batizado
Mouro, sois filho cristão.
Mouros vencidos, aceitam a religião cristã
Terminado o episódio dos mouros — e último — canta-se a marcha da retirada, e o Patrão geme o
Minha gente adeus, adeus,
Mina Gerá vai imbora
Cumpri com o dever no mar
Que já está chegada a hora.
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O Fandango do Mestre Berto Cotó foi um dos mais bem ensaiados que vimos nestes últimos tempos, possuindo um rico material poético e musical (letras e músicas dos episódios e partes). A coreografia do Fandango é a mesma da Chegança, a distribuição dos personagens quase idêntica tendo como exceção frisante os mouros, que não existem no Fandango, e o número de tripulantes, que em geral é maior na Chegança, e mesmo em episódios, como no da Tormenta, o desenvolvimento dramático é igual, apesar das letras apresentarem certas diferenças. Na tormenta da Chegança de Ponta Grossa, não encontramos os belos e clássicos versos que fomos ouvir no Fandango de Mestre Berto:
O, lá da proa (bis)
Meu Mestre Piloto
E continua o gajeiro:
Venha que eu canto ao mar
Que o vento é tanto que me faz chorar,
Que o vento é tanto que me faz cair ao mar.
Gajeiros da Chegança da Ponta Grossa
E o desespero do Contra-Mestre e do Piloto:
Caiu-me um gajeiro ao mar
Valha-me Nossa Senhora.
E ainda no Fandango deparamos com uma quadra clássica, que ouvimos na Chegança da Ponta Grossa:
A 25 de março
Saímos nós de Lisboa
Feito uns corsários da Índia
Para chegarmos a Goa.
Na Nau Catarineta da Praça 13 de Maio, o Fandango de Mestre Berto fez sucesso, com seus episódios e quadros soltos, sem sequência, nos quadros e episódios da Tormenta, da Clara Estrela do Norte, na Barca Nova, etc.
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E antes de finalizarmos estas simples notas, queremos ressaltar um dos mais pitorescos personagens das Cheganças e dos Fandangos, justamente personagens sobre os quais não nos detemos em considerações nas linhas anteriores da reportagem: os padres, os capelães das Cheganças e dos Fandangos.
Fandango do Mestre Berto
Personagens que representa o único detalhe cômico dos folguedos, é, por isso mesmo, o mais querido não só pela gurizada, que não o larga nunca e se movimenta para onde vai o padre, como em geral por toda a assistência masculina; as mulheres nordestinas, muito católicas, não podem admitir aquela imoralidade, aquela profanação dos sagrados dogmas da Igreja por um sujeito fantasiado de vestes talares e em geral com a cabeça cheia de álcool que anda distribuindo chistes pesados e às vezes até obscenidades. Mas esse sacrilégio é mais fruto da ignorância do que de maldade, como tão bem frisou Antônio Osmar Gomes, no seu volume As Cheganças.
Os padres da Chegança de Mestre João Marinho e do Fandango de Mestre Berto possuíam de fato alguma graça. Frei Remela, o capelão do Fandango de Mestre Berto, pareceu-nos muito mais vivo e oportuno do que Frei Jaçanan, o comprido frade da Chegança de Ponta Grossa. E a melhor piada de Frei Remela era o seu livro “sacro”: uma velha Geografia e História do Brasil elementaríssima e dessas que até parecem que não se usam mais.



































