sábado, 2 de abril de 2011

                                                                 
  
LULA CÔRTES, A MORTE LEVOU O CARA MAIS OUTSIDER DO ROCK DA TERRA DOS ALTOS COQUEIROS

    "Penso nos martírios,todos os delirios loucos que vivenciamos, e vejo porquanto anos nos aventuramos querendo voar,voar prá sair de perto, de todo deserto, desses abandonos,e constatando o desengano se despedaçar..."   
  Nascido Luiz Augusto Martins Côrtes, Lula tem seu nome marcado na música popular brasileira por dois discos lançados na primeira metade da década de 1970, hoje lendas na internet pelo alto preço cobrados pelos vinis. Em 1972, ele gravou com o hoje cartunista Laílson o LP Satwa, pela Rozemblit. Em 1974, com Zé Ramalho, finalizou o álbum duplo Paêbiru - O Caminho da Montanha do Sol, disco antológico, referência máxima do experimentalismo musical nordestino dos anos 70. LP rico em investigação, onde flutuam elementos musicais infinitos (rock progressivo, psicodelia, música clássica, hard rock, e muitos ritmos e estilos nordestinos). Paêbirú é um reflexo das experiências musicais e existenciais de Zé Ramalho e Lula Côrtes no Cariri Paraibano, lugar lisérgico e místico pela sua própria natureza. Essas viagens nos legaram essa obra rara, em todos os sentidos,teve a participações dos melhores músicos da cena musical pernambucna: Lula Cortês, Zé Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Ivson Wanderley "Ivinho", Zé da Flauta, Paulo Rafael, Lailson, Israel SementeMas a gravadora pernambucana, atingida por uma grande enchente, só conseguiu salvar poucas cópias, que se tornaram raridades. Ele ainda produziu e fez o desenho da capa de No Sub Reino dos Metazoários (de Marconi Notaro).
Os três trabalhos chegaram a liderar a lista de discos mais vendidos na categoria World Music quando foram lançados em 2008 nos Estados Unidos por uma gravadora independente, a Time-Lag Records. O relançamento em CD de Paêbiru no Brasil fazia parte dos planos de Lula Côrtes, que destacou ao Diario: "Na verdade, o disco não é só meu e de Zé Ramalho, é de toda a galera do movimento underground nordestino da época. Na ficha do Paêbirú, aparecem muitos nomes, como Alceu Valença e Geraldo Azevedo", afirmou.
Côrtes ainda lançou os discos O Gosto Novo da Vida, Rosa de Sangue, A Mística do Dinheiro, O Pirata, Nordeste, Repente e Canção e Lula Cortes & Má Companhia. Somente este último teve distribuição direta em CD. Além de músico, Lula Côrtes lançou obras de prosa e poesia, como o audiobook O lobo e a lagoa e livros como Hábito ao vício, Rarucorp, Bom era meu irmão, ele morreu, eu não e Amor em preto e branco e se dedicava atualmente às artes plásticas. Em reconhecimento ao seu trabalho literário, a União Brasileira dos Escritores de Pernambuco (UBE/PE) deu-lhe a carteira de sócio efetivo, retroagindo a ano de admissão a 1972, quando o multiartista lançou o Livro das Transformações.
Da sua experiência recente como assessor de Cultura da Prefeitura de Jaboatão, Lula extraiu matéria para pintar aquarelas retratando o cotidiano dos habitantes do município, seus aspectos ecológicos, o patrimônio material e imaterial da cidade. Sua meta era chegar a 365 peças. A primeira exposição, com 35 aquarelas, intitulada Fragmentos, foi aberta em setembro do ano passado.Lula Côrtes sofria de um câncer que começou na garganta há cinco anos, mas se espalhou por outros lugares do corpo. Ele tinha feito quiomio e radioterapia, mas de acordo com amigos próximos, continuava bebendo e fumava quase três carteiras de cigarro por dia. No mês de janeiro ele teve Hepatite C e, em seguida, erisipela, o que o deixou ainda mais fragilizado.
Ainda assim, o músico continuava trabalhando. Os últimos shows foram na semana passada - quinta, sexta e sábado - no Sesc Belenzinho, em São Paulo. Ele e Zé da Flauta fizeram participações especiais no show de Alceu Valença, relembrando a década de 1970. Em um dos poemas,Procura,do amor em preto & branco,Lula Côrtes escrerveu:"Bem sei o que  procuro há tanto tempo/eu busco a morte/como um guerreiro antigo em seu cavalo".

Nenhum comentário:

Postar um comentário