quarta-feira, 18 de maio de 2011



JOAQUIM  MULATO, O PENITENTE

Joaquim Mulato é um homem calmo,de pele fina,queimada pelo sol ,com marcas do vitiligo nas mãos,espirituoso,de voz baixa,mas forte.Decurião da Ordem dos Penitentes em Barbalha, munícipio da região do Cariri, sul do estado do Ceará. O posto significa ser líder da Ordem e conduzir, com a cruz na mão, cerca de 15 homens no acoite, na purgação da carne pelas lâminas de ferro do cacho, instrumento de suplício. A autoflagelação é feita sob a entoação de benditos cantados por Joaquim e Severino, segundo na hierarquia da Ordem, com trechos respondidos pelos que estão se penitenciando. Nasceu no sítio Cabaceiras, Barbalha, dia 3 de março de 1920. O pai, o agricultor Pedro Mulato de Souza, “remediado”, casou com uma mulher mais velha que ele, Maria Velosa da Conceição, e tiveram dezesseis filhos (...)
onta a crônica que a religiosidade sertaneja foi marcada pelos missionários capuchinhos, que aqui estiveram no século XVIII. A Tônica era a ameaça do fogo do inferno. Daí se reforçou esse maniqueísmo que tem origens mais fundas, e, mesmo nas escrituras, “a invenção do demônio,” é posterior ao Gênesis. A Penitência, no dizer de Joaquim Mulato, foi introduzida pelo Padre Ibiapina, sobralense, homem da elites, bacharel em direito, que abriu mão de tudo para cuidar dos pobres, criar casas de caridade no sertão. De onde saíram beatas, e disseminar um catolicismo triunfante. Moldado pela Contra-Reforma, com base na “ Missão Abreviada”, e que teria trazido os benditos, ainda hoje entoados pelos penitentes do sitio Cabaceiras(...) Contam que Rosemberg Cariry, quando fazia imagens do grupo, nos anos 80, teria sugerido a utilização de umas tochas para iluminar o ritual. A flagelação à noite teria pouco impacto. E as tochas embebidas em gasolina davam um tom dramático que combinava com a severidade da cerimônia (...)
O Juazeiro tem um mistério que... não sei não.Não tem opinião muito favorável sobre o beato José Lourenço, repetindo o senso comum de que ele “botava os bestas pra trabalhar de graça” e a acusação do assédio sexual, repetida, inclusive, por Câmara Cascudo, em plena euforia do Estado Novo de Vargas.
Já com Conselheiro é mais tolerante: “era monarca, contra a República”.
O Silêncio é entrecortado pelos carros que passam em alta velocidade. Sobre as laterais do oratório, imagens inconclusas, que um dia serão cortadas com canivetes, ferros, a madeira ferida, como é ferido seu corpo de penitente, lavado com sal para purgar a Humanidade inteira.                                                  

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