OS PRIMEIROS RIBEIRINHOS DO VELHO CHICO
Há informações que os piratas franceses e holandeses já tinham estado no Brasil antes do descobrimento, pois a madeira que lhe deu o nome já era conhecida na Europa, o chamado Pau Brasil, ou Pau-de-Tinta. Com certeza, por volta de 1526, aqui estiveram e na foz do São Francisco, tanto que uma pequena baia, próxima à foz, recebeu o nome de Porto dos Franceses. Nas proximidades, ocorreu um fato que aprendemos na escola primária, o naufrágio de uma nau que trazia Dom Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil, que, tendo escapado de morrer afogado, foi aprisionado e devorado pelos Índios Caetés que aí viviam. Esse episódio ocorreu em 1556. Viviam no São Francisco muitas tribos indígenas que os Tupis denominavam de Tapuias pois era assim que chamavam toda e qualquer tribo que não tivesse a mesma língua. Havia basicamente dois grupos distintos: os Tupis e os Gês.Pearson relaciona de suas pesquisas a documentos históricos, os seguintes grupos vivendo na Bacia do São Francisco:
Abaetés - nas margens do rio Abaeté Tamoios e Cataguá - próximos à foz do rio das Velhas
Shacriaba - entre os rios Paracatu e Urucuia e no rio Preto
Acroás - no rio Corrente
Aricobé - no rio Grande
Tabajaras - no rio Paramirim
Amoipirá - na calha principal, onde hoje se situa a cidade da Barra
Tupiná - entre os rios Jacaré e Salitre, hoje município de Sento-Sé
Ponta e Massacara - logo abaixo da foz do rio Salitre, município de Juazeiro-BA
Tamanquim - frente à confluência do Salitre, em Pernambuco
Caripó, Caripós ou Kiripós - na margem do São Francisco, no município de Santa Maria da Boa Vista-PE, que, aliás, já foi chamado de Caripós
Trkás,Poria e Pancararus - no município de Cabrobó
Rodelas - na margem direita, logo abaixo dos Pancararus
Tushás e Poriás - na margem direita, mais abaixo de Rodelas
Onesques - no rio Pajeú
Pancararus - outro grupo do lado de Pernambuco, próximo ao rio Moxotó
Cariris - esses estavam disseminados nas ilhas, desde Orocó até o Estado de Sergipe
Huanoi e Chocós - próximos à foz do rio Ipanema, em Alagoas
Carapató e Fulniô - também em Ipanema
Chocós e Romari - na margem do rio, no Estado de Sergipe
Aconã - juntamente com Chocós, Natu e Carapató, também em Sergipe
Caxago - perto da foz do são Francisco, na margem direita, com os Tupinambás logo adiante, já à beira-mar
Boime - ao longo do litoral de Sergipe
Caietés - também ao longo do litoral de Alagoas
Os índios foram praticamente dizimados pelo elemento colonizador, por doenças, missigenação e pelas guerras.Em 1590, Cristovão de Barros entrou pela região que hoje é o Estado de Sergipe, até o Baixo São Francisco, estabelecendo um caminho que serviu aos futuros colonizadores e para defesa contra os franceses na foz do São Francisco.Duarte Coelho Pereira, que foi governador da colônia organizou uma expedição marítima que do mar entrou pela foz do São Francisco, tendo lutado contra os franceses que encontrou ali, fazendo escambo com os indígenas, e os expulsou. Nessa oportunidade, navegou algumas léguas rio acima.
Em 1560, um filho de Duarte Coelho, Duarte Coelho de Albuquerque, que foi o segundo donatário de Pernambuco, juntamente com Jorge, seu irmão, lutou cinco anos contra os caetés.Os bandeirantes estiveram também no São Francisco, contando-se principalmente Matias Cardoso, Domingos Jorge Velho, Domingos Sertão, Fernão Dias Paes, Borba Gato e Domingos Mafrense. Este último subiu alguns afluentes, chegando às nascentes do Parnaíba. Em sua homenagem, existe a Vila Mafrense, no município de Paulistana, no Piauí.No período da ocupação holandesa, o próprio Príncipe Maurício de Nassau esteve no São Francisco, tendo dominado a área alagoana, até Penedo, cidade que foi fundada em 1560.No começo do século XVIII o desbravamento do São Francisco já estava completado, por homens vindos de Salvador e Recife, tendo sido instalados alguns aldeamentos, aumentando o povoamento nas margens do rio. Para essa fixação, concorreu a descoberta de ouro em Jacobina, no Médio São Francisco, próximo à cabeceira do afluente Salitre, e pelo povoamento do Piauí, Maranhão e Ceará. Desenvolveram-se as fazendas de criação de gado. Da mesma forma, o Alto São Francisco a essa altura, estava também povoado pelas constantes rotas de penetração que se dirigiam a Goiás. Nessa rota, muitos se fixaram, ou na exploração de diamantes e ouro, ou na manutenção de fazendas de pecuária.João Leite da Silva Ortiz, auxiliar de Anhanguera, que em 1722 descobriu ouro em Goiás, terminou por parar no sítio onde hoje é a cidade de Belo Horizonte, montando uma fazenda na serra das Congonhas, sendo a sede no lugar que se chamava Cercado. Outros paulistas se fixaram no Alto São Francisco, fundando cidades que hoje trazem seus nomes.A descoberta de ouro em Goiás, por volta de 1700, provocou o povoamento do Alto São Francisco, que estava na rota entre São Paulo e essas minas.No Baixo São Francisco, segundo Pearson, o povoamento por parte dos portugueses foi dificultado pela formação de aldeamentos de escravos fugitivos da área de cana-de-açucar, que eram grandemente fortificados, enquanto o litoral era ocupado pelos holandeses (1630). O Quilombo dos Palmares foi o que mais resistência apresentou, por organização e liderança.A região do Médio, incluindo-se aí o Submédio São Francisco, que se estende desde a Cachoeira de Pirapora, em Minas Gerais, até a Cachoeira de Paulo Afonso, entre a Bahia e Alagoas, representa, de um modo geral o trecho navegável do rio, sendo que a navegação é mais ou menos franca, apenas em 1.371 km, no estirão realmente do Médio São Francisco, ou seja, desde Pirapora até Sobradinho, sendo que daí a baixo, até Paulo Afonso, ou seja, o Sub-Médio São Francisco, a navegação é dificultada pelas corredeiras constantes.A colonização dessa área foi efetuada em duas épocas distintas, tendo a primeira ocorrido quase um século antes da outra.Os primeiros estabelecimentos nesse trecho do São Francisco, iniciaram-se no extremo a jusante. Exploradores vindos de Olinda, que foi fundada em 1534, e de Salvador, em 1549, se aventuraram pelo Vale, na época, entenda-se que as dificuldades eram imensas, dado a agressividade de uma natureza virgem e a constante presença de tribos selvagens.Desses estabelecimentos, tem-se notícia de que um dos primeiros núcleos de colonização foi estabelecido em Bom Jesus da Lapa. Uma expedição vinda de Olinda, entre 1534 e 1550, adentrou a região, atingindo Lapa. Alguns anos depois, outra expedição, partindo de Salvador, aí esteve e, já na metade do século, um grupo de 200 homens fundou um estabelecimento e numerosas fazendas de gado.No final do século XVII a história registra a existência de uma fazenda de gado, próxima à atual cidade da Barra, que no passado foi o principal posto de abastecimento do Médio São Francisco.Um certo número de vilas cresceu ao longo dos caminhos percorridos por aqueles pequenos povoadores e pelos padres jesuítas, tendo construído pequenas igrejas e locais de culto, o que firmou a colonização. Mas essa parte do Vale não era muito favorável ao desenvolvimento rápido, devido às condições climáticas. Em cada ano a longa estação seca e a ocorrência de secas periódicas restringiam a localização dos colonos nas áreas próximas aos rios e a outros cursos d'água.Embora os novos estabelecimentos fossem fundados no século XVII, nenhum movimento efetivo de penetração ocorreu até o final do século XIX e início do século XX, mesmo hoje em dia, há locais que pouco diferem daqueles 150 anos passados. O Médio São Francisco é, portanto, o que mais permanece distante da civilização litorânea, tendo sido a menos colonizada, existindo aí, ainda, vastas áreas subdesenvolvidas.As extremidades do Médio São Francisco é que foram alvo de mais constantes presenças civilizadas.A foz, pela rota de navegação marítima, foi a primeira parte do Vale visitada pelos aventureiros portugueses, andando no rio já em 1522, apenas 22 anos após a descoberta do Brasil.Penedo, a 37 quilômetros da foz, foi o primeiro núcleo povoador das margens, fundada em 1522, por uma incursão bandeirante por aquelas paragens. Outros atribuem o surgimento do povoado a Duarte Coelho Pereira, primeiro donatário da Capitania de Pernambuco. A localização estratégica do povoado, à porta das terras interiores, mereceu também atenção dos holandeses, tanto que, mais tarde, em 1637, conseguiram nele erigir um forte, denominado Maurício, em homenagem a Nassau.A criação de gado constituiu-se na primeira atividade comercial nessa área, e muitas fazendas de gado foram estabelecidas durante os anos iniciais da colonização. Um certo número desses núcleos agrícolas transformaram-se, mais tarde, em algumas das cidades e vilas atuais.A primeira escola secundária do Vale do São Francisco foi estabelecida pelos jesuítas, no local hoje conhecido como Porto Real do Colégio em Alagoas, aproximadamente a 100 km da foz. Essa região não sofreu qualquer progresso significativo até princípios do século XIX.As principais atividades se acham associadas ao cultivo do arroz, do algodão e da pecuária.O Alto São Francisco foi colonizado a partir da descoberta do ouro, diamantes e outros minerais, ao término do século XVII e no começo do século XVIII. Apesar de percorrida no século XVII por exploradores, provavelmente vindos do Norte, não tendo porém sido fundados quaisquer estabelecimentos até o inIcio do século XVIII.Em 1698, após a descoberta do ouro, no sítio onde hoje está a cidade de Ouro Preto, essa área desenvolveu-se rapidamente. Pela metade do século XVIII numerosas cidades e vilas se desenvolveram e Ouro Preto, à época Vila Rica, apresentava o aspecto de uma cidade européia, altamente civilizada. O crescimento espalhou-se em direção ao Oeste e ao Sul, para o Estado de Goiás e para a região em que se situa a cidade de São Paulo, bem como, também, para o Norte, ao longo das cadeias de montanhas.Durante o século XVIII, as contínuas descobertas de minerais e pedras preciosas causaram o desenvolvimento de novas colonizações nas áreas montanhosas, mostrando o fundo do Vale do São Francisco poucas alterações.A cidade de Montes Claros, na bacia do rio Verde Grande, teve início no século XVIII, como uma área agrícola sendo hoje uma das cidades mais importantes do Vale.Por volta de 1800 a indústria da mineração começou a declinar, e muitas cidades iniciais e primeiros estabelecimentos diminuíram de tamanho e importância. A agricultura substituiu gradativamente a mineração e hoje em dia muitas cidades e vilas que tiveram seu início devido à mineração, vivem da agricultura.Embora a navegação fluvial no rio São Francisco tenha sido provavelmente iniciada no século XVI, com pequenas embarcações, a navegação mercante do rio São Francisco só se iniciou por volta de 1850. Os inumeráveis bancos de areia, as mudanças de correntes e as margens rasas eram alguns obstáculos que desencorajavam os bravos comandantes dos barcos. Os primeiros barcos a vapor usavam a madeira como combustível.Com o advento das viagens comerciais, apareceram ao longo do rio outras pequenas cidades. Vários estabelecimentos, bem como a progressão do sistema ferroviário (que prevaleceu até a década de sessenta) no século XIX, foram alguns dos fatores que contribuíram para o crescimento de algumas cidades e surgimento de outras. Entretanto, a estrada de ferro servia apenas a uma parte do Vale, tendo assim, inúmeras cidades e vilas que não ficaram ao alcance das linhas, permanecendo estacionárias ou com um crescimento por demais moroso.Desde o início, até 1897, Ouro Preto, um pouco além do Vale, era a capital de Minas Gerais, quando foi preterida por Belo Horizonte. A nova capital cresceu, tornando-se uma cidade moderna. Esse crescimento estimulou ainda mais o desenvolvimento através do Vale do São Francisco, continuando as partes Média e Baixa a apresentar desenvolvimento muito lento. O São Francisco foi palco de muitos movimentos libertários. Em 1736 o Padre Antonio Mendes Santiago provocou uma sedição dos habitantes do São Francisco contra a metrópole. Ficou famoso o nome de Maria da Cruz, famosa matriarca, que foi presa e conduzida à Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, enquanto que os considerados cabeças do movimento, o Capitão-Mor Antonio Siqueira e André Gonçalves, foram degredados para Angola. A revolta foi motivada pela Carta Régia 1701, que proibia as comunicações das gentes do São Francisco com os paulistas.Não devemos esquecer que a Inconfidência Mineira, em 1789, ocorreu no Vale do São Francisco, pois Vila Rica, ou Ouro Preto de hoje, está no Vale do São Francisco, na Bacia de seu afluente rio das Velhas.
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