segunda-feira, 31 de agosto de 2015



                      ESPEDITO SELEIRO

O artesão Espedito Velozo de Carvalho, 74 anos, cresceu ouvindo uma história curiosa do pai, um vaqueiro de Inhamuns, sertão cearense, conhecido pelas selas, chapéus e gibões de couro que costurava. Certa noite, ele trabalhava sob um alpendre iluminado por uma lamparina quando um "cabra" surgiu da escuridão e disse:
- Seu Raimundo, o senhor faz umas selas tão bonitas. Se eu trouxer o modelo de uma alpercata (sandália), o senhor faz?
- Rapaz, eu não sou bom nisso não, respondeu ele, tentando fugir do pedido.

O visitante misterioso insistiu um pouco mais. Tirou do bolso um papel todo "escangalhado" e mostrou. Era o modelo de uma sandália de solado quadrado, do tipo que quando a pegada fica no chão não dá pra saber para qual lado a pessoa vai. Pediu que fosse feito no número 39 e, diante da concordância um tanto atônita de seu Raimundo, disse que voltaria depois de 29 dias para buscar o calçado.
O pai de Espedito começou, então, a trabalhar. No prazo marcado, o visitante chegou e, contente com o resultado, encomendou novas mercadorias. Antes de ir embora, perguntou se seu Raimundo sabia para quem era a sandália:
- Rapaz, é pra você mesmo. Foi você quem me pediu.
- Pois não é não. É para o coronel Virgulino.
A descoberta de que a encomenda era para Lampião, o temido rei do cangaço, deixou seu Raimundo apavorado. Tão apavorado que ele nem cobrou pelo serviço. "Meu pai foi se tremendo todo. Ficou até com vontade de fechar as portas e correr. Naquele tempo, todo mundo tinha medo de encontrar com Lampião", diverte-se Espedito.

A família, unida em uma associação com quase 30 pessoas, que formam o corpo de funcionários, produz, entre 200 e 300 pares de sandálias por mês
Ele tinha apenas oito anos quando ouvia o pai contar o relato na oficina, agora na cidade de Nova Olinda, também no Ceará, onde a família vive até hoje. Muitos anos depois, o relato voltaria de sua lembrança, marcado pela chegada de uma mudança radical na vida de toda a família.
O artesão é herdeiro de uma longa linhagem de costureiros de selas de montar iniciada pelo bisavô, que pelo trabalho ficou conhecido como Antônio Seleiro, "sobrenome" que passaria adiante para o filho, Gonçalves Seleiro, e para o neto, Raimundo Seleiro, pai de Espedito Seleiro.
Seu Raimundo morreu em 1971 e, aos 31 anos, o primogênito se viu, de uma hora para outra, responsável pelo sustento dos irmãos, todos bem mais novos, e dos próprios filhos. Naquela época, a família só fabricava as peças para os vaqueiros e, a cada ano, as vendas diminuíam, afetadas pelo fim da tradição da profissão.
Até que um dia, no início da década de 1980, Alemberg Quindins, diretor da Fundação Casagrande, uma premiada organização educativa de Nova Olinda que capacita crianças da região, entrou na oficina com um desafio. Trazia nas mãos uma sandália que foi usada por Lampião e estava em exposição, ao lado de outras peças sobre o cangaço, na Fundação. Perguntou, então, se Espedito conseguia reproduzir o modelo, mas com detalhes, um tipo de rococó nordestino que ele já fazia nos gibões e nas selas.
O artesão se lembrou, então, da história contada pelo pai e, mesmo nunca tendo feito sandálias antes, topou. "Fiz uma bem mais bonita porque sou mais caprichoso", brinca. O solado era normal, sem o formato quadrado que dificulta o andar. Alemberg gostou e Espedito viu a oportunidade de um novo negócio. Passou a produzir as sandálias de Lampião. A situação financeira melhorou, mas as vendas não decolaram porque sandálias de couro cru já existiam aos montes no mercado. "Eu chegava nas lojas e o povo dizia: "Já tenho. Só quero se for bem baratinha". Eu me obrigava a vender porque precisava, mas não compensava nada, era uma mixaria."
Desgostoso com o trabalho, mas sem querer desistir, ele resolveu que não venderia mais peças iguais as dos outros. Foi dormir pensando. Levantou às 4h do dia seguinte, começou a desenhar e decidiu que dali em diante só faria sandálias coloridas. Costurou, então, um monte de sapatos e levou para uma "loja bonita, grande", de Juazeiro do Norte, cidade vizinha a Nova Olinda. Chegou e disse:
- Seu Pedro, trouxe doze pares de sapato para você comprar.
O dono da loja nem abriu a caixa e recusou a oferta.
- Aqui tá tudo cheio de sapato. Não vou comprar, não.
Espedito insistiu:
- Mas, homem, tem um monte de sapato, mas nenhum é igual ao meu.
Seu Pedro olhou meio por cima e, com um certo descaso, disse para ele deixar a caixa num canto, que se vendesse alguma coisa daria o dinheiro para o seleiro. "Era um dia de segunda-feira. Deixei a caixa de sapato lá e peguei um, que estava no capricho mesmo, e botei na tampa. Combinei de voltar na outra segunda-feira para ver se tinha vendido e, se não, pegar os sapatos de volta. Fui embora desgostoso porque chegar em casa sem dinheiro é ruim, né?, lembra ele.
Durante a semana, continuou a produção dos pares coloridos com o que restou do couro que tinha. Até que na segunda-feira, voltou na loja.
- Pronto, seu Pedro, vim buscar meu sapato.
- Não, rapaz, pois eu vendi foi tudo. E quero mais 50 pares, respondeu o comerciante.
Com a pequena oficina, ele não conseguiu atender o pedido, mas foi vendendo para seu Pedro as que conseguia fazer. Foi nesse período que as sandálias multicoloridas de Lampião começaram a fazer sucesso. Alemberg também ajudou a promover o produto, calçando os sapatos em entrevistas para a televisão. Artistas começaram a procurar os calçados e Espedito resolveu diversificar: começou a produzir sandálias da Maria Bonita, um modelo mais delicado em homenagem à mulher do rei do cangaço, bolsas, carteiras, cintos, botas, cadeiras, molduras para espelhos e até luminárias, tudo no couro colorido vivo que virou a marca registrada do seleiro.
Eu quero ficar do jeito que eu comecei. A vida só é boa quando você se conforma com ela
A família, unida em uma associação com 22 pessoas que formam o corpo de funcionários, produz entre 200 e 300 pares de sandálias por mês.
Em 2006, ele foi convidado para fazer os calçados que a grife Cavalera usou no desfile de verão da São Paulo Fashion Week e causou burburinho no mundo da moda. Virou queridinho também entre os figurinistas de novelas e filmes, onde se tornou referência quando se retrata o cangaço. Às vezes, um ou outro artista famoso aparece de surpresa na oficina e a loja que ele abriu do outro lado da rua para organizar as vendas virou parada obrigatória dos guias turísticos da região, que trazem carros cheios, inclusive com estrangeiros.
O sucesso, no entanto, não o deslumbra. Apesar das reiteradas propostas que recebeu para montar uma fábrica de sapatos, ele não quer abandonar a manufatura. Muito menos Nova Olinda. No próximo mês de outubro, Espedito inaugurará em um anexo da oficina o Museu do Couro, que contará a história dos vaqueiros, da cultura nordestina e das peças usadas na região, incluindo a primeira sandália feita para Alemberg e a máquina de costura manual, que era do avó dele, onde o pai teria feito a peça para Lampião.
"O que eu acho bom na vida é isso aqui. É por isso que eu tenho 74 anos, mas só tenho mesmo é 18. Porque eu só faço o que eu gosto. Se der para eu ganhar 1.000 reais eu ganho. Se não der, eu ganho 100. Eu quero ficar do jeito que eu comecei. A vida só é boa quando você se conforma com ela."
Fonte: El País - 10 MAI 2014
Espedito Seleiro, o couro transformado em arte
Há varias décadas Espedito Seleiro mantém a tradição de fazer bolsas, sapatos e outros objetos. Hoje, participa de feiras pelo Brasil. A tradição passou de pai para filho e virou parada obrigatória para quem vai a Nova Olinda
FÁBIO LIMA
Tudo começou por causa de uma tradição, um costume, como se diz no sertão. Seu bisavô, seu avô e seu pai eram todos seleiros, além de vaqueiros. Quando terminava o dia no campo atrás do gado, seu avô acendia uma lamparina e naquela luz leve fazia uma sela para ele próprio ou para alguém que encomendava. Espedito Seleiro lembra que isso era motivo de orgulho. "Ele gostava muito quando saía numa sela nova para pegar o gado", afirma.
Esse costume foi passando e chegou ao jovem Espedito. Mas aconteceu um contratempo. No início da jornada de seleiro achou que seria melhor comerciante. Montou uma bodega que faliu em um ano. Resultado: voltou para a profissão de seus ancestrais.
Como seleiro manteve sua vida, sustentou a família e ajudou a criar os irmãos todos mais novos. O pai faleceu em 1971. Hoje produz mais sandálias e bolsas, que tem maior apelo comercial, mas sua tradição ainda é forte. Faz muitas selas e roupas para vaqueiros, mantendo a mesma qualidade do corte e no trabalho.
Ele tem na professora Violeta Arraes, já falecida, ex-reitora da Universidade Regional do Cariri (Urca) uma grande amiga. "Foi ela que me deixou muito conhecido, pois ela trouxe muita gente importante, muitos artistas aqui, comprava e ainda brigava comigo dizendo que eu tinha que me organizar mais".
Por causa dessa divulgação, Espedito Seleiro se tornou conhecido. Esteve na São Paulo Fashion Week e participa hoje de feiras no Ceará e em outros estados.
Para produzir um segredo: o silêncio que seu avô tinha com a lamparina acessa, ele acha melhor para trabalhar. "Quando eu trabalho aqui de noite num tem ninguém me aperreando, pedindo água, ninguém para me entrevistar, ninguém perturbando", diz sorrindo.
No silêncio da noite produz mais. "E muito bom porque a gente trabalha sossegado, produzimos várias peças e entregamos tudo como combinado, pois aqui temos muito trabalho".
Seu Espedito tem sua oficina e ao lado uma lojinha arrumada dentro do possível. Com vários produtos, como bolsas, sandálias, selas, baús, cadeiras e outras peças em couro.
A loja é movimentada e acolhe todos os dias pessoas de várias cidades do Cariri e de outros estados. Como Nova Olinda é uma cidade sempre com muito movimento, seu Espedito é endereço certo para quem quer comprar uma boa sandália, uma bolsa de couro, para si próprio ou para presentear.
O menino que aprendeu cedo a arte de fazer sela, encanta agora o Cariri, o Ceará e o mundo com uma arte que poucos sabem fazer.

O que
ENTENDA A NOTÍCIA
A loja de seu Espedito Seleiro já virou tradição no município de Nova Olinda, na região do Cariri. Lá, ele vende bolsas, sandálias e vários outros artigos feitos de couro. A tradição é de família, já que seu avô e seu pai também produziam selas.
FonteO Povo 

domingo, 30 de agosto de 2015

TETI





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TETI

Cantora. Em 1968, casou-se com o cantor e compositor Rodger Rogério. Integrou o grupo de artistas que nos anos 1970 ficou conhecido como "Pessoal do Ceará".

Iniciou a carreira artística no final da década de 1960, juntamente com o marido Rodger e outros, que formariam o grupo "Pessoal do Ceará". Em 1973, ao lado de  Rodger Rogério e Ednardo, participou do LP "Meu corpo minha embalagem todo gasto na viagem - Pessoal do Ceará", lançado pela Continental, com produção de Walter Silva, no qual interpretou em solo as músicas "Curta metragem", de Rodger Rogério e Dedé; "Dono dos teus olhos", de Humberto Teixeira, e "A Maia", de Rodger Rogério e Augusto Pontes, e com Rodger Rogério e Ednardo, "Cavalo ferro", de Fagner e Ricardo Bezerra.
Em 1975, gravou com Rodger Rogério o LP "Chão Sagrado", lançado pela RCA com produção de Walter Silva. Em 1979, gravou pelo selo Epic/CBS, seu primeiro disco solo, "Equatorial", no qual interpretou as músicas  "Daniela" e "Maracá", de Rodger Rogério e Clodô; "Jumento passarinho", de Rodger Rogério e Zilá Mamede; "Barco de cristal" e "Último raio de sol", de Rodger Rogério, Clodô e Fausto Nilo; "Gírias do norte", de Onildo Almeida; "Pé na terra", de Stélio Valle e Fausto Nilo; "Vento rei", de Zé Maia e Calé; "Passarás, passarás, passarás", de Petrúcio Maia e Capinam; "Espacial", de Belchior; 

"Falando da vida", de Rodger Rogério e Dedé, e "Equatorial", de Calé e Fausto Nilo. Em 1983, foi convidada pela Funarte e, ao lado de Teca Calazans e Osvaldinho do Acordeom, participou do "Projeto Pixinguinha", percorrendo diversos estados do Nordeste brasileiro. Em 1985, fez uma temporada de shows na Sala Funarte, no Rio de Janeiro. Em 1997, gravou em Fortaleza, com particpação especial de Dominguinhos e Nonato Luiz, e produção e direção musical de Manassés de Sousa, o CD "Téti", no qual interpretou as músicas "Comentário a respeito de John", de Belchior e J. L. Penna; "Carruagens", de Rodger Rogério e Clodô; "Outra vez", de Beto Fae e Fausto Nilo; "Amor escondido", de Raimundo Fagner e Abel Silva; "Sol e Mariana", Chico Pio e Alano Freitas; "Castelo encantado", de Rodger Rogério e Pepe Capelo; "Amor demais", de Nonato Luiz e Olímpio Rocha; "Teu retrato", de Nelson Gonçalves e Benjamim Baptista; "Estrada de Santana", de Petrúcio Maia e Brandão; "Vá lá e faça", de Manassés e Ricardo Alcântara; "Amor de sol", de Francisco Casaverde e Caio Silvio Braz, e "Outra canção", de David Duarte. Em 2000, gravou, de forma independente, o CD "Téti do Pessoal do Ceará", que contou com as participações especiais de Dominguinhos, Nonato Luiz, Jorge Cardoso, Ocelo Mendonça, Jorge Hélder e Mingo Araújo. Em 2005, fez, ao lado de Pedro Rogério e Vavá, a direção artística da coletânea "Nós Um". 

Em 2009, ao lado de Ednardo, Rodger Rogério, Calé Alencar, Chico Pio, Lúcio Ricardo e Manassés, participou da gravação comemorativa aos 30 anos da "Massafeira Livre - som, imagem, gente, movimento" em show realizado na Praça do Ferreira em Fortaleza.

sábado, 29 de agosto de 2015


           Festival de Inverno da Várzea

No próximo sábado (29), o  Recife estará em festa com a realização da 6ª edição do Festival de Inverno da Várzea. São 33 atrações a partir das 9h, no coreto e na praça central do bairro! 


Nesta sexta feira dia 28/08, Belo Jardim viverá um dia de Literatura de Cordel.

Nesta sexta feira dia 28 na Escola Tomás Alves,em Belo Jardim,cidade do Agreste Central de Pernambuco, teremos um dia inteiro de cultura popular, com o tema “Lendo Com Prazer e Motivação” o evento é aberto ao publico, com inicio às Oito horas até o meio dia e das duas horas até às cinco da tarde.
O Evento vai contar com apresentação do poeta Wilson China, terá encenação do espetáculo, O Auto da Compadecida, Coreografia Musical da Vaca Estrela, e a participação de Zé do Cordel e Maria Xiló,, além de muitas outras atrações culturais com muito humor e diversão.
Portanto nesta sexta feira dia 28 na escola Tomás Alves venha participar de um dia inteiro de cultura pra você Inteiramente grátis.





quinta-feira, 27 de agosto de 2015


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Antonio Pajeú: O maior estrategista das guerrilhas da guarda católica de Antônio Conselheiro.

Como ficou conhecido nas lutas de Canudos, Pajeú era pernambucano do famoso vale imortalizado por Luiz Gonzaga décadas depois do massacre abominável que manchou indelevelmente a história do Brasil. Escravo liberto que rumou para Canudos apostando nas promessas do Bom Jesus Conselheiro tendo achado por lá, às margens do rio Vaza-Barris, a tão sonhada liberdade que a sociedade negou, e ainda nega de forma inadmissível e desumana, aos excluídos.


Quando da desastrosa campanha comandada pelo famigerado Coronel Moreira César, Pajeú se destacou pela impecável forma como conduziu a guerrilha da guarda católica do Conselheiro.Dizem que foi ele quem pôs fim à arrogância de Moreira César, acertando certeiro tiro de bacamarte boca-de-sino, municiado com chifre de novilho, no sanguinário corta-cabeças. Não obstante usar colete de aço, Moreira César foi milimetricamente varado pelo disparo em local desprotegido.
Batalhao Patriotico Moreira Cesar-Corta-cabecas


O oficial responsável pela substituição do Coronel Moreira César no comando da tropa também não agüentou as táticas de guerrilha implementada por Pajeú. Uma ordem do Coronel Tamarindo ficou famosa: “Em tempo de murici, cada um cuida de si”. O que restou da tropa de Moreira César foi fustigada pelos guerrilheiros comandados por Pajeú. Verdadeira carnificina foi feita pelos bravos combatentes para pagar a profanação do arraial sagrado do belo Monte, pois inadvertidamente Moreira César desprezou todas instruções do regimento do Exército Brasileiro e ordenou ataque de cavalaria a Canudos, cuja característica era a topografia extremamente íngreme, impossível de ter sucesso por parte de Moreira César através de investida com esse tipo de estratégia militar.

Para tentar coibir e amedrontar outras expedições que vieram em direção a Canudos, Pajeú ordenou que os cadáveres dos soldados e oficiais ficassem insepultos, pendurados em árvores como exposição macabra do ódio devotado pelos conselheiristas às tropas do governo federal.

 38º Batalhão



Quando a quarta expedição foi enviada para destruir canudos, cujo comando ficou a cargo do General Arthur Oscar de Andrade Guimarães, foi com terror e suspense que a soldadesca encontrou o aviso dos guerrilheiros da guarda católica, na forma de corpos ressequidos pelo sol esturricante do sertão nordestino. Com certeza, aumentou o ódio do corpo militar do Exército Brasileiro contra os membros da comunidade mística de Antônio Conselheiro.


Pajeú foi responsável pelas mais significativas baixas contra as tropas federais. Acostumados a caçar para sobreviver, os guerrilheiros usaram a experiência adquirida e se tornaram franco-atiradores, pois quando algum soldado desavisado, principalmente em noite sem lua, acendia um cigarro, certeiro tiro o prostrava imediatamente. Usavam os “presentes” que Moreira César lhes deixou, ou seja, fuzis mausers de fabricação alemã do Exército Brasileiro.


Não obstante terem conseguido canhões e metralhadoras, esses não foram usados, pois os guerrilheiros do Conselheiro não souberam como manusear as mortíferas armas tomadas da expedição de Moreira César, destroçada pela genialidade incontestável das táticas do maior guerrilheiro de Canudos. Quando a guerra de Canudos tornou-se insustentável, com sucessivas baixas e derrotas das tropas federais, o governo enviou verdadeiras máquinas de matar. Entre essas estava um canhão Withworth 32, a famosa “matadeira”, como ficou conhecido entre os habitantes de Canudos. Foi a única forma que conseguiram para pôr a baixo as torres da igreja nova do belo Monte.

Cada tiro da “matadeira” era verdadeiro massacre que a mesma proporcionava. O famoso canhão tornou-se o terror dos canudenses, razão pela qual Pajeú organizou grupo de assalto intuindo destruir a máquina destrutiva. Onze guerrilheiros chegaram de surpresa a bem guardada arma. Nesse ataque, o bravo comandante conselheirista perdeu a vida, bem como nove companheiros, sendo que apenas um conseguiu escapar.

Conselheiro Morto



Com a morte de Pajeú, a guarda católica do Conselheiro ficou desfalcada do principal estrategista, abalando sensivelmente a estrutura das estratégias da guerra de guerrilha que até então vinha obtendo sucesso indiscutível. Pajeú, o famoso negro ex-escravo que marcou de forma impressionante a guerra de guerrilhas nas batalhas em canudos, foi imortalizado por Euclides da Cunha, que não obstante racismo e estereótipos, dedicou-lhe páginas de reconhecido mérito pela bravura indômita em “Os Sertões: Campanha de Canudos”.


Por Romero Cardoso.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professo-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.


                Cineclube Amoeda Digital

Os curtas ‘NOW!’ e ‘Pela Primeira Vez’, abriram a noite de debate do cineclube nesta quarta (26), em torno do documentário ‘Pernamcubanos, O Caribe que Nos Une’ (foto). As sessões do cineclube são gratuitas e acontecem no Bar Teatro Mamulengo, ‪#‎RecifeAntigo‬, a partir das 19h30, 




Este livro vem de uma longa pesquisa realizada nos jornais baianos, na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, em Salvador, capital da Bahia, distante 470 km da minha atual residência, em Paulo Afonso, no nordeste baiano. Buscava saber tudo que foi publicado sobre o cangaço, especialmente sobre Lampião nos jornais daquela época. Daquele trabalho mais abrangente, fiz um recorte que apresento agora, tratando especificamente do fim do cangaço, através das entregas dos grupos cangaceiros, mostrando tudo que o jornal A Tarde, Diário de Notícias,Diário da Bahia, Estado da Bahia, O Imparcial, A Noite, Correio da Manhã, Diário da Noite, Jornal de Alagoas, Gazeta de Alagoas e O Globo, publicaram sobre o assunto.
 

Com o fim do rei do cangaço na grota de Angico em Sergipe, em 28 de julho de 1938, os cangaceiros remanescentes passaram por certo isolamento, pela falta de um líder como Lampião. Seria uma decorrência natural Corisco assumir a chefia dos bandos, mas, dois meses após a morte de Lampião, em outubro de 1938, iniciou-se o processo das rendições por parte do grupo de Zé Sereno. O fim do cangaço se aproximava.
 

Esse trabalho é dividido em quatro partes. A primeira mostra as entregas dos cangaceiros liderados por Zé Sereno, Ângelo Roque e o grupo do cangaceiro Pancada. Os primeiros se entregaram na Bahia, e o último em Poço Redondo estado de Sergipe, para as polícias alagoanas e sergipanas.
A outra parte deste trabalho foi realizada no Quartel dos Aflitos, atual QG da Polícia Militar, também em Salvador. São os documentos oficiais dos Boletins da Polícia Militar da Bahia sobre o combate ao banditismo, obtidos graças à gentileza do amigo, na época tenente Marins, que me deu total acesso aos arquivos da Polícia Militar da Bahia do período de 1928 a 1940.
Na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, localizada no bairro dos Barris em Salvador, fiz o levantamento dos jornais locais a partir da morte de Lampião em julho de 1938, mostrando o que a imprensa baiana publicou sobre as entregas dos cangaceiros à Polícia Militar da Bahia, com menor destaque ao grupo de Zé Sereno, ao contrário do grande destaque dado a rendição do grupo de Ângelo Roque, com fotografias e páginas inteiras sobre o fato.
As entregas à Polícia alagoana obtive o material da imprensa Caetés, como troca de documentos com o pesquisador David Bandeira e Marcos Edilson. Também de pesquisa feita por Ana Paula Arruda, por mim contratada para essa missão em Aracaju, onde foram pesquisados os jornais tanto sergipanos quanto alagoanos.
 

A morte de Corisco e a sua perseguição estão descritas de duas formas, a primeira pela imprensa baiana, através de enviados ao local da morte de Corisco e ferimento de Dadá. Outra parte é descrita nos boletins oficiais da Polícia Militar da Bahia, narrada pelos próprios protagonistas dos acontecimentos e de oficiais ligados ao comando da perseguição aos fugitivos, Dadá, Corisco, a menina Zefinha, e o cangaceiro Rio Branco com sua companheira.
Nas matérias publicadas pela imprensa, quando foi presa e depois operada para amputação da perna, Dadá revela uma versão para sua entrada no cangaço, conforme vemos nos jornais da época, que é diferente da versão dada tempos depois, de que foi raptada e seduzida à força por Corisco, publicada em livros, revistas e jornais.
 

Um fato curioso que apresento são os relatos das negociações de prazo com a Polícia Militar para sua entrega e agiotagem por parte de Corisco que vemos nos boletins oficiais da polícia. Outra curiosidade é quando ele joga dinheiro, quando da tentativa de fuga dele em 25 de maio de 1940 na fazenda Pacheco, publicado nos jornais.
 

Procurados pelos pesquisadores e repórteres na vida após o cangaço, os ex cangaceiros foram tirados do anonimato. Alguns ficaram à vontade com a exposição, a exemplo do cangaceiro Volta Seca, que não perdia oportunidade tanto na época em que ficou preso, como após sua libertação pelo indulto de Getúlio Vargas. Outros, contudo, se reservaram e só foram descobertos quase no fim de suas vidas.
Já Dadá era uma figura bastante procurada pela imprensa, não só por ter sido esposa de Corisco, mas também por ter sido uma hábil cangaceira, e uma excelente costureira, introduzindo uma nova estética na vestimenta dos cangaceiros pela sua arte nos bordados.
 

Apresento neste trabalho uma série de fotografias, entre outras, mostrando aspectos urbanísticos de algumas das cidades que tiveram alguns fatos ligados às visitas dos cangaceiros, na área de atuação dos grupos que andavam com Lampião no cangaço.
Quero deixar registradas minhas homenagens à imprensa alagoana e baiana pelos seus profissionais anônimos e os que estão identificados neste trabalho.

       LENDA DA SERPENTE ENCANTADA

No Estado do Maranhao, diz a lenda da serpente encantada, que nas galerias subterrâneas que percorrem o Centro Histórico de São Luís, mora a serpente encantada de tamanho descomunal que cresce sem parar. O gigantesco animal crescerá sem parar até o dia que sua cabeça e sua calda se encontrarem levando para o fundo do mar a Ilha, provocando seu completo desaparecimento.

Segundo os antigos, a serpente vive nas galerias desde o início do século XV, e ela nasceu nas imediações do Forte de São Luís.
A cauda do animal estaria na igreja de São Pantaleão, a barriga na igreja do Carmo e a cabeça na secular Fonte do Ribeirão. Os que já passaram por seus túneis dizem que é possível até ver, através da grade de uma das entradas da fonte, a cabeça do monstro, com seus terríveis olhos vermelhos, com boca aberta e uma língua muito comprida e vermelha saindo do meio dos dentes, como descreve Josué Montello em seu romance “Os degraus do paraíso”.


                      Reunião pública

Petrolina recebe nesta quarta-feira (26), reunião pública do projeto, destinada para artistas, produtores culturais e gestores municipais da região. O encontro, que acontece Gerência Regional de Educação, a partir das 19h, visa apresentar o projeto e articular os interessados para as próximas edições deste ano.

terça-feira, 25 de agosto de 2015


Convidamos a todos(as) para a grande festa do Coco de Roda no Quilombo do Ipiranga no próximo dia 29.08, onde estaremos inaugurando o novo Bombo e caixa! Contaremos também com a presença dos mestres Zeca Do Rolete e o coco de Mestre Benedito (Cabedelo). A quizumba vai ser grande. Até lá!


Soneto para Luís da Câmara Cascudo


No Dia Internacional do Folclore, 22 de Agosto, nossa reverência e gratidão ao mestre maior dos estudos etnográficos no Brasil:

Quando o povo esquecer suas raízes,
Desprezar o mais rico cabedal
Ou fizer do supérfluo essencial,

Vamos ser a nação dos infelizes.

Cada vez que olvidamos os matizes,
Nossa fé, canto, gesto e ritual,
Ajudando a cevar um grande mal,
Que em nós vai deixar fundas cicatrizes.

Há, no entanto, alguns anjos que nos velam
E de formas diversas se revelam,
Como o homem que soube quase tudo:

Cavaleiro nutrido pelo Sol,
Da cultura do povo foi farol
Imortal mestre Câmara Cascudo.

Chegança Potiguar

Batalhas navais entre mouros e cristãos travadas no início do milênio passado ainda são encenadas no Rio Grande do Norte. A época das Cruzadas originadas na Península Ibérica é revivida em canto e enredo. E não provém da recriação pontual baseada em pesquisas históricas de algum grupo teatral ou mesmo da voz aguda da maior romanceira do Brasil, a potiguar Dona Militana Salustino. Vem da Chegança – auto natalino; manifestação espontânea repassada entre gerações durante mais de mil anos até estes dias contemporâneos. O grupo reside hoje em Barra do Cunhaú, município de Canguaretama. Naquele pedaço do agreste potiguar, a Chegança resiste ao tempo e ao descaso como o mais genuíno do Brasil e o segundo grupo contemplado pelo benefício da bolsa vitalícia de R$ 1,5 mil, concedida pela Lei do Patrimônio Vivo.

A Chegança de Barra de Cunhaú é liderada há 30 anos pelo pescador Waldemir Marques dos Santos, 73 anos. Ao contrário do Fandango de Canguaretama, a Chegança foi originada fora do município. Foi o tio de mestre Waldemir, João Marques quem trouxe de Natal. João também era pescador. Por coincidência morava na Rua da Chegança, no bairro das Rocas. Foi lá onde recebeu visita ilustre de um tal folclorista e um dos expoentes da arte moderna brasileira. A visita de Mário de Andrade ao Rio Grande do Norte, nos idos de 1928, foi muito além do famoso encontro com o coquista Chico Antônio. O paulista também visitou grupos folclóricos do Estado. E um deles foi a Chegança comandada por João Marques, nas Rocas.
Foi Mário de Andrade quem afirmou: a Chegança nada tem, a rigor, de caráter nacional. Como afirma o presidente da Comissão Estadual de Folclore, Severino Vicente, o auto chegou em formas portuguesas e incorporaram características particulares que a diferenciaram de outros autos marítimos. A Chegança simula lutas entre mouros e cristãos pela posse da Península Ibérica. É uma versão brasileira, em especial, nordestina, originada das mouriscadas da Península Ibérica e Danças Mouriscas da Europa. “É quase todo cantado e bailado. Em rápidos intervalos de uma jornada para outra declamam e encenam uma luta entre as partes: uma representando os cristãos e outra os mouros infiéis. O acompanhamento é feito com instrumentos de percussão. Tarol, Caixa e bombo”, completa Severino Vicente.
A Chegança já foi das manifestações indispensáveis às comemorações do ciclo natalino. Usam uma barca e vestem fardas da Marinha Mercante brasileira. É um auto dramatizado. O enredo é ordenado em seqüência de cantigas náuticas de diversas épocas e origens. Algumas, de origem portuguesa. Retratam duelos de espada obrigando os infiéis a se renderem e invocarem o nome da Virgem Maria. Os figurantes recebem patentes e postos, entre os quais se destaca o Ração ou Despenseiro, dois Gajeiros, o Embaixador e o Rei Mouro. Iniciam o espetáculo entoando várias marchas, sendo esta uma das mais tradicionais:
Alerta, alerta quem dorme,
Olha a moça na janela;
Venha ver o mau tirano
Quando vai largando a vela.
Ô meu Deus, que terra é aquela,
Terra de tanta alegria?
É o campo do rosário
Assim como o Fandango, a Chegança carece de incentivos. Falta indumentária e, principalmente, interesse dos membros na continuidade do folguedo. Dos 40 componentes necessários à formação do auto, restam 25. “Faz mais de seis meses estamos parados. Tem quem queira brincar, outros desistiram. Antigamente se tinha mais gosto pra brincar. Hoje, preferem um agarradinho no salão”, lamentou mestre Waldermir durante visita de Severino Vicente e do folclorista Deífilo Gurgel, acompanhados pelo Diário de Natal, semana passada. Deífilo Gurgel sugeriu ao mestre encurtar as três horas de apresentação para tornar a encenação mais atrativa aos turistas e mais viável em eventos. “Quem quiser escutar ou ver as jornadas inteiras eu tenho tudo gravado, devidamente registrado”, argumenta o folclorista.
Severino Vicente alerta: “Sobretudo países emergentes são mais visados pela cultura massificada. É o momento de valorizar a identidade cultural. O folclore, a cultura popular deve estar na escola, na comunidade. Quanto mais alienação mais fácil a manipulação pelos grupos do mercado de ilusões, da cultura do entretenimento, vazia”. Severino recorda tempos mais compromissados com a cultura popular no Estado, quando o próprio Deífilo estava à frente do Centro de Promoções Culturais da Fundação José Augusto, na gestão do escritor Valério Mesquita. “Dei preferência à cultura popular sem esquecer a erudita. Documentei durante anos o que vi in loco”, lembra Deífilo. E completa: “Como dizia Cascudo, a cultura popular é a mais importante das culturas”.
Por Sergio Vilar