Isabel Mendes da Cunha
Izabel Mendes da Cunha nasceu na Fazenda Córrego Novo, município mineiro de Itinga, no dia 3 de agosto de 1924. Mudou-se ainda jovem para Santana do Araçuaí, hoje munícipio de Ponto dos Volantes, Vale do Jequitinhonha-MG, onde mora com sua filha.
Desde a infância, dona Izabel já criava pequenas figuras de barro, imitanto sua mae que era louceira (paneleira, como é chamado na regiao do Vale do Jequitinhonha) e se dedicava à produçao de cerâmica utilitária. Quando adulta, seguiu os passos de sua mae e começou também a fazer peças utilitárias com o barro, as quais vendia nas feiras da regiao. Dona Isabel ficou viúva, e desde entao, para ajudar no sustento dos filhos, começou a modelar outros tipos de peças, como animais e bonecas de barro. No início suas figuras consistia de cavaleiros, bois, aves e pequenos presépios, todos feitos com barro vermelho e pintados com barro branco.
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No início da década de 70, a artesa iniciou a produçao de bonecas grandes, algumas com cerca de um metro de altura. Eram, em sua grande maioria, casais de noivos, com o homem vestido de terno e a mulher vestida de branco, grinalda e buquê de flores nas maos, uma marca registrada da sua obra. Outra peça que ficou muito famosa, e que começou a ser modelada ainda nesta época, foi a boneca representando uma mae amamentando.
Izabel Mendes da Cunha, Casal de Noivos, cerâmica policromada, reproduçao fotográfica Noivas da Seca: cerâmica popular do Vale do Jequitinhonha, Editora UNESP, 2008.
Com a procura por suas peças, dona Isabel passou a produzir bonecas com detalhes mais elaborados e caracteristicas próprias. Na época, uma das suas inovaçoes foi a forma de fazer os olhos das bonecas. Antes os olhos eram apenas pintados, como ainda fazerm muitas outras artesas do Vale; dona Isabel passou a esculpir os olhos de sua bonecas em alto relevo. Outra inovaçao foi a utilizaçao do barro colorido para pintura das bonecas, técnica ainda utilizada por ela e por várias artesas do Vale do Jequitinhonha.
Izabel Mendes da Cunha, Boneca, cerâmica policromada, reproduçao fotográfica Noivas da Seca: cerâmica popular do Vale do Jequitinhonha, Editora UNESP, 2008.
As peças de dona Izabel logo ganharam fama nas feiras da regiao. Com o trabalho de divulgaçao/ comercializaçao realizado pela CODEVALE (Comissão do Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha) no final da década de 70, tornaram-se muito valorizadas também em feiras nacionais e internacionais. Com a notoriedade alcançada, a artesa deixou de lado a cerâmica utilitária e passou a se dedicar apenas às suas bonecas. Casal de noivos, mulheres amamentando, rituais de batizado sao algumas das peças mais famosas feitas por dona Isabel. Todas essas bonecas eram vestidas com roupas de festa, feitas com capricho e com grande riqueza de detalhes, características presentes até hoje em suas peças.
Dona Izabel teve quatro filhos: Amadeu, Rita de Cássia, Maria Madalena e Gloria. Com o aumento da demanda por suas peças, toda a família se incorporou ao trabalho com o barro. Dos quatro filhos, apenas Rita de Cássia nao trabalha na arte do barro. A filha Glória e seus marido Joao Pereira de Andrade sao ceramistas renomados atualmente e já iniciram suas filhas na arte de modelar o barro. Maria Madalena mora ainda hoje com sua mae e a ajuda na produçao de suas peças.
A escola de cerâmica iniciada por dona Isabel, inclui, além de sua família, vários outras artesas de Santana do Araçuaí. Entretanto, o principal seguidor desta escola é seu genro, Joao Pereira de Andrade, que se tornou seu sucessor natural. A Associaçao dos Artesaos de Santana do Araçuaí mantém uma loja onde sao expostas as peças de todas as artesas da regiao. Na sua maioria sao bonecas, galinhas, vasos e flores de cerâmica.
Atualmente as bonecas de dona Izabel sao peças altamente valorizadas no mercado da arte. Entre as artesas do Vale do Jequitinhonha , ela é a que cobra mais caro pelas sua peças e mesmo assim existe uma longa fila de espera. Com o dinheiro adquirido ao longo dos anos, ela conta que sua família melhorou muito de vida. Hoje eles moram em terras próprias, nas quais foi construída uma casa ampla para dona Isabel morar com sua filha Maria Madalena. Porém, a artesa continua a usando o velho ateliê, onde estao os velhos fornos de cerâmica que a acompanham desde longa data.
Dona Izabel ao lado de seus fornos, Santana do Araçuaí-MG, reproduçao fotográfica Noivas da Seca: cerâmica popular do Vale do Jequitinhonha, Editora UNESP, 2008.
Entre os prêmios recebidos por dona Izabel destacam-se: o Prêmio Unesco de Artesanato para a América Latina (2004), a Ordem do Mérito Cultural(Ministério da Cultura do Brasil, 2005) e o Prêmio Culturas Populares(Ministério da Cultura do Brasil, 2009). Recetemente Dona Isabel foi homenageada pela presidenta Dilma Rousseff durante a abertura da exposiçao "Mulheres artistas e brasileiras" no Palácio do Planalto em Brasília.
Boneca - Mulher moringa com pássaro, cerâmica policromada. Acervo do Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro, RJ.
Boneca, cerâmica policromada, reproduçao fotográfica Noivas da Seca: cerâmica popular do Vale do Jequitinhonha, Editora UNESP, 2008.
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