quarta-feira, 19 de outubro de 2016


         CLARINDO BATISTA DE ARAÚJO


Poeta, trovador e compositor de grande inspiração. Nasceu em Jardim de Piranhas/RN, no dia 12 de agosto de 1929 e faleceu no dia 9 de janeiro de 2010, na cidade de Natal, onde residia há muitos anos. Pertencia à Academia de Trovas do Rio Grande do Norte, ao Clube dos Trovadores do Seridó e à União Brasileira de Trovadores, seção de Natal. Publicou na década de oitenta um livro de trovas e poemas variados intitulado POEMAS DE UM MENESTREL. No cenário da trova, foi o poeta mais premiado do Rio Grande do Norte, depois de Luíz Rabelo. Sabia o caminho das pedras, como poucos, em trovas líricas e filosóficas, e dispunha de um humor fino e irresistível que lhe permitiu fazer trovas de alto nível nesse campo. Nos últimos meses de vida escreveu um bonito poema autobiográfico, impresso em forma de cordel pelo nosso companheiro Marcos Antônio Medeiros.
Com a morte de Clarindo a Academia de Trovas do Rio Grande do Norte perdeu um de seus pilares mais robustos na sustentação da boa poesia de nossa terra. Eis algumas trovas de Clarindo:
Sê como os cedros e os sândalos
que perfumam quem os fere!...
Evita, pois, os escândalos
que uma vingança sugere!


A vida é uma caminhada
na qual se tem pela frente,
em cada curva da estrada,
uma emoção diferente.

Eu suponho que a riqueza
que sobra dos poucos nobres
seja o que falta na mesa
dos muitos que vivem pobres.

Removo pedras e espinhos,
desde a minha meninice,
para aplanar os caminhos
que vou trilhar na velhice.

Quanto mais bebo cachaça
pra esquecer quem não me quer,
mais eu vejo em cada taça
o vulto dessa mulher!...

Cada dia mais tristonho
carrego o peso das eras,
vendo afogar-se meu sonho
num dilúvio de quimeras!

Ninguém se julgue mais sério
nem melhor do que os demais...
Na porta do cemitério,
todos nós somos iguais!

Educar uma criança
com um trabalho eficaz
é ter plena confiança
de não punir o rapaz!

Já sopra um vento enfadonho
sobre o senil trovador,
mas, em nada afeta o sonho
nem tampouco o sonhador!

Meu verso é um cego que vê...
É um mudo que fala e canta
trovas de amor pra você,
jovem mulher que me encanta!

Esse teu corpo de misse
me deixa o coração tenso.
Imagina se eu te visse
daquele jeito que eu penso!

Existe menina feia
que é como lagarta preta:
quando metamorfoseia
vira linda borboleta.

Sinto a presença divina
em tudo que me rodeia:
na vibração matutina,
num sabiá que gorjeia.

Se todos fossem honestos
ninguém veria, na praça,
mendigos comendo restos
do pão que a miséria amassa.

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