Por Roberto Moraes Filho


Surgindo como um pequeno conjunto musical, o qual se tornou a primeira banda da cidade de Gravatá, no Agreste pernambucano, a Sociedade Musical XV de Novembro teve a sua formação artístico-cultural registrada oficialmente em 1894, quando foi fundada e passou a acompanhar o ritmo de desenvolvimento econômico e cultural do município. Marcada por acontecimentos políticos da sociedade da época, a banda teve o seu nome inspirado em ideais republicanos, que foram repercutidos com intensidade no Brasil, a partir da Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889.
No livro ‘Sociedade Musical XV de Novembro de Gravatá’ (2013), a jornalista Fernanda Tavares resgata o início da banda, originada por volta de 1857 e que teve como idealizador o fazendeiro e militante republicano Lourenço Lins de Araújo, acompanhado de seus filhos e demais integrantes. “Para falar de política e pregar sua ideologia anti-imperialista, Lourenço Lins de Araújo fazia festas para atrair amigos, vizinhos, adeptos e outros correligionários. Para animar essas festas, ele fundou uma banda de música, uma fanfarra que deu o nome de Banda do Republicano. Teria adquirido os instrumentos musicais e os distribuiu com cada um dos seus 14 filhos e algumas pessoas agregadas. Contratou professores e cada filho, e filha, passaram a ser músicos e praticar esta arte”, relatou a escritora gravataense. Posteriormente, segundo Fernanda Tavares, com a separação de parte dos integrantes dos filhos de Lourenço Lins de Araújo, a banda foi oficializada com o nome de Sociedade Musical XV de Novembro, durante o ato do segundo decreto municipal, ocorrido na posse de Antônio Avelino do Rêgo Barros, primeiro prefeito eleito do município de Gravatá.
Com o passar das décadas, diversos músicos iniciantes e também com carreiras já iniciadas, foram ingressando na banda, tendo um papel fundamental na trajetória da XV de Novembro, a exemplo de Manuel Bombardino, Adelson Pereira e Moacir Santos. Por mais de 50 anos a frente da banda, o maestro Manoel Pereira da Silva – ou maestro Manoel Bombardino, falecido em 1995 – iniciou suas atividades na banda em 1931, após sair de Pesqueira, sua cidade natal, a convite do maestro Trajano. “Em 1994, quando ele já estava idoso e decidiu se aposentar da carreira de músico, transferiu o seu cargo para mim. Então pude dar continuidade à tradição do meu pai com o mesmo estilo sinfônico que já acompanhava quando iniciante”, explicou o maestro Adelson Pereira, que integra a banda há 22 anos. “De todas as atividades que desempenho, o que mais me fascina é ser instrutor da escola de música mantida pela banda. A medida em que os alunos vão concluindo o curso, alguns deles se interessam em integrar a XV de Novembro e passam a ser meus colegas”, comentou o maestro,  atualmente o integrante mais antigo entre os demais componentes. Entre os trabalhos musicais importantes que foram compostos por Manoel Bombardino, dentro da banda, está o Hino de Gravatá, feito em parceria com a professora Maria José de Carvalho.
Já o compositor e saxofonista Moacir Santos, falecido em 2006, também fez história na XV de Novembro e posteriormente ganhou projeção internacional como jazzista nos Estados Unidos. Sua passagem pela banda foi marcada por aprendizados com o maestro Bombardino, que o abrigou em sua residência, quando Moacir saiu de São Joaquim do Monte, no Sertão, aos 11 anos, para se estabelecer e estudar música. Após iniciar a carreira artística na banda, o músico saiu de Gravatá em 1940, e foi para o Rio de Janeiro, onde passou a exercer funções como arranjador, maestro e multi-instrumentista.
Possuindo como característica principal a manutenção e a formação da música instrumental através de jovens interessados em levar a tradição adiante, a Sociedade Musical XV de Novembro está composta atualmente por 40 componentes e possui como presidente Almir de Souza Silva, desde maio de 2015. No último dia 22 de dezembro, durante cerimônia realizada no Palácio do Campo das Princesas, no Recife, a banda recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. “Para a gente, é uma importância muito grande este prêmio, não só como reconhecimento da Sociedade Musical XV de Novembro, que é uma instituição com mais de 122 anos, mas que já é um patrimônio da cidade de Gravatá, do Estado de Pernambuco e do Brasil. O incentivo financeiro do Governo do Estado possibilitará ampliar deste projeto, desenvolvendo ainda mais as ações culturais que realizamos em Gravatá, com mais crianças e adolescentes sendo atendidos pela nossa escola de música, além do nosso próximo projeto musical, que será um CD de dobrados, relembrando vários autores brasileiros. Em breve, também estaremos realizando o planejamento da gravação do nosso primeiro DVD”comentou emocionado Almir de Souza Silva.