Bárbara de Alencar: uma mulher na Revolução de 1817
Ousadia, sonho e luta marcaram trajetória da revolucionária que nasceu em Exu, Sertão de Pernambuco, mas fez a revolta no Crato (CE)
Bárbara de Alencar foi uma das primeiras presas políticas do País
Editoria de Artes JC
Marcela Balbino
Feminismo e empoderamento da mulher são termos contemporâneos e que não estavam no radar dos pensadores iluministas do século XIX. No entanto, a Revolução de 1817 traz em sua história a participação de uma sertaneja de Exu que lutou para livrar a província da opressão da Coroa Portuguesa. Apesar da origem pernambucana, Bárbara Pereira de Alencar (1760-1832) fez a trajetória política no Crato, Ceará, onde ajudou a firmar os ideais republicanos.
Avó do escritor José de Alencar, ela era matriarca de uma família de revolucionários. Isso num Nordeste marcado pelo patriarcado.
Três dos seus cinco filhos participaram do movimento. Sete anos depois ela também esteve no front da Confederação do Equador e foi perseguida até sua morte por causa da luta. Bárbara é considerada uma das primeiras presas políticas da história do Brasil e teve papel fundamental nas lutas pela Independência.
“Diria que ela era uma mulher de coragem, possuidora de um destemor pouco comum entre as mulheres da época, educadas no padrão patriarcal de gerar mulheres dóceis e acorrentadas no espectro da brandura e do recato como valores intrínsecos à formação feminina do período”, grifa o historiador Erick Assis de Araújo, professor do mestrado em História da Universidade Estadual do Ceará.
Pouco a pouco, a historiografia vem descortinando a participação feminina nas revoltas e tem jogado luz sobre o o papel das mulheres como protagonistas do processo histórico. “O papel que ela ocupa enquanto liderança feminina ainda é historicamente diluída, falta-lhe um reconhecimento mais agudo no que tange seu papel como mulher na política e não unicamente por pertencer a uma herança familiar de destaque, acho que esse mérito está por se construir”, avalia Araújo.
VEJA ROTEIRO DA REVOLUÇÃO DE 1817 NO INSTITUTO ARQUEOLÓGICO, HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE PERNAMBUCO
Em 1817, Bárbara já era viúva de um comerciante português e seus filhos - José Martiniano e Carlos José dos Santos - estudaram no Seminário de Olinda, centro difusor de conhecimento à época. Após a derrocada do movimento, primeiro foram presos os filhos de Bárbara em seguida ela é aprisionada e levada ao calabouço do forte, em Fortaleza.
“A Corte não perdoou a ousadia de Bárbara. Durante cerca de quatro anos, ela, bem como os filhos, andou presa, algemada, constantemente transferida de uma capital para outra, do Ceará à Bahia”, conta a pesquisadora Heloisa Buarque de Hollanda, em seus ensaios sobre Rachel de Queiroz, que era descendente de Bárbara. O legado da guerrilheira inspirou poetas, cancioneiros e romancistas, que a colocam no papel de heroína, após anos relegada à figura de inimiga da Corte.
MANUSCRITOS
Na pesquisa sobre 1817, a bibliotecária Fernanda Ivo Neves, membro do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco (IAHGP), encontrou quatro manuscritos com a lista dos prisioneiros da Revolução. Dos mais de 300 nomes, haviam apenas três femininos, entre eles o de Bárbara de Alencar. As outras duas mulheres eram "Joana de Tal" e Maria de Tal" - a primeira era uma índia de 6 anos e a segunda, escrava de um dono de engenho que participou do movimento. Ainda não há pesquisas sobre a participação delas.
ESCOLA
A agenda da rede municipal do Recife será dedicada este ano a Bárbara de Alencar. A ilustração da capa traz a imagem da guerrilheira e foi concebida pela artista pernambucana Dani Acioli. O material será lançado na sexta-feira (10) pela Prefeitura do Recife e é um projeto desenvolvido pela secretaria da Mulher.
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