quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
LIRA MARQUES
Maria Lira Marques Borges, mais conhecida como Lira Marques, é uma das responsáveis pela projeção da arte do Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais para o mundo. Ela nasceu em 1945 na cidade de Araçuaí, região do médio Jequitinhonha, localizada a 678 km da capital Belo Horizonte. Lira começou a trabalhar muito cedo, seu pai era sapateiro e sua mãe lavadeira. Da mãe herdou a profissão; lavou muita roupa das famílias de Araçuaí juntamente com sua mãe. Da mãe também herdou a alma de artista. “... Minha mãe era uma artista. Ensinava a gente a declamar com gestos: ‘ó minha filha, a gente tem que fazer isso grande.’ Ela tinha muitos dons. Tinha uma voz linda, sabia alguns tons no violão, fazia muitos trabalhos manuais, ensinava a gente a se defender se uma pessoa pegasse a gente. Não conseguiu estudar, mas era uma mulher muito inteligente. Até hoje, eu fico encabulada: como uma pessoa criada sem mãe, lavadeira de roupa, tinha tantos dons artísticos?”, conta Lira. Foi observando sua mãe a mexer com o barro que Lira começou a ser a artista que é hoje. Dona Odília, como era chamada, fazia cerâmica ocasionalmente na época do natal, sobretudo presépios; fazia sucesso entre os moradores. Nos intervalos entre uma trouxa de roupa e outra, Lira também trabalhava com o barro. Com o tempo sua obra foi ganhando espaço e notoriedade entre os demais artistas da região, ao ponto de Lira conseguir fazer dele o seu oficio e dele tirar o seu sustento. “... Eu amo aquilo que eu faço. Isso é o que me dá vontade de viver...”
O início, como na maioria das vezes, foi difícil. Foi uma ceramista da região, conhecida de Lira, Dona Joana Poteira, que a orientou nas técnicas da cerâmica. Familiares lhe emprestavam livros de história e filosofia, e neles Lira se inspirava para fazer bustos de mulheres e de filósofos, sem intenção de vender. Porém, sua origem africana e indígena falou mais alto. Ainda com o auxílio de livros, Lira passou a pesquisar referencias africanas e indígenas para compor o seu trabalho. Não demorou muito para esses bustos desparecerem e no lugar surgirem trabalhos relacionados com a vida e o sofrimento do povo do Vale do Jequitinhonha. “... Nosso povo é sofrido. Foi vendo esse sofrimento que fiz minha primeira peça (Pessoas brotando da terra que dá sustento ao Cruzeiro). Porque foi isso que vi, o povo pedindo, carregando água e pedras lá para o alto. Uma penitência...”
A grande virada do trabalho de Lira se deu na década de 1970 com a chegada do Projeto Rondon (Campus Avançado da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) e da Codevale (Comissão do Desenvolvimento Vale do Jequitinhonha). Os estudantes de ciências sociais e agronomia, vindos através do Projeto Rondon, gostaram do trabalho de Lira e levaram para feiras de artesanato em Belo Horizonte. A partir daí o trabalho de Lira foi sendo conhecido além das fronteiras do Vale do Jequitinhonha. Foi também na década de 1970 que lira conhece Frei Chico (Francisco van der Poel, frei franciscano, pesquisador da cultura e religiosidade popular brasileira). Com ele ajudou a fundar o Coral Trovadores do Vale e se tornou também pesquisadora. O esforço dos dois resultou em um amplo trabalho de pesquisa sobre a cultura do Vale. “... Nós gravamos 250 fitas com cantigas de roda, cantigas de ninar, cantos de pedir esmola, cantos de beira-mar, cantos sobre a educação da criança. E não ficou só nesses cantos, mas também sobre a agricultura, como plantar, quais os tipos de milho que existem, como é que planta a mandioca, quantos tipos de mandioca têm, como é que faz uma casa, tudo sobre os remédios, as rezas, tudo, tudo o que você imaginar”, diz Lira.
Com o passar do tempo, Lira começou seu trabalho com máscaras de cerâmica. Hoje em dia, além de se dedicar a essas máscaras, Lira faz "pinturas de terra", como ela mesmo chama, que são obras de pintura de barro sobre papel, tecido ou pedras, utilizando as cores da terra para produzir suas peças. Seus trabalhos já foram mostrados em muitas exposições organizadas por galerias e instituições diversas, tanto no Brasil como no exterior.
Maria Lira Marques Borges, mais conhecida como Lira Marques, é uma das responsáveis pela projeção da arte do Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais para o mundo. Ela nasceu em 1945 na cidade de Araçuaí, região do médio Jequitinhonha, localizada a 678 km da capital Belo Horizonte. Lira começou a trabalhar muito cedo, seu pai era sapateiro e sua mãe lavadeira. Da mãe herdou a profissão; lavou muita roupa das famílias de Araçuaí juntamente com sua mãe. Da mãe também herdou a alma de artista. “... Minha mãe era uma artista. Ensinava a gente a declamar com gestos: ‘ó minha filha, a gente tem que fazer isso grande.’ Ela tinha muitos dons. Tinha uma voz linda, sabia alguns tons no violão, fazia muitos trabalhos manuais, ensinava a gente a se defender se uma pessoa pegasse a gente. Não conseguiu estudar, mas era uma mulher muito inteligente. Até hoje, eu fico encabulada: como uma pessoa criada sem mãe, lavadeira de roupa, tinha tantos dons artísticos?”, conta Lira. Foi observando sua mãe a mexer com o barro que Lira começou a ser a artista que é hoje. Dona Odília, como era chamada, fazia cerâmica ocasionalmente na época do natal, sobretudo presépios; fazia sucesso entre os moradores. Nos intervalos entre uma trouxa de roupa e outra, Lira também trabalhava com o barro. Com o tempo sua obra foi ganhando espaço e notoriedade entre os demais artistas da região, ao ponto de Lira conseguir fazer dele o seu oficio e dele tirar o seu sustento. “... Eu amo aquilo que eu faço. Isso é o que me dá vontade de viver...”
quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
O Estado de São Paulo, edições de 18 e 19 de Outubro de 1969.
Encontro histórico de ex-cangaceiros
Transcrição de Antonio Correia Sobrinho
Eis o que restou do cangaço
“Sila saiu correndo, agachada. Uma bala acertou a cabeça de outra mulher, espirrou miolo no vestido de Sila; maldade, ela só tinha 15 anos. Depois, foi muito tiroteio, finado seu Rastejador também morreu. Vi Lampião pondo sangue pela boca. Um dia, resolvemos entregar, cangaço acabou, mas só acabou mercê da traição de cangaceiros que ajudaram as Volante, contavam os pontos da gente”.
Balão ajeita a gravata, no aeroporto de Congonhas. Ele, cangaceiro do bando de Lampião, hoje batedor de estacas para fundações de prédios, está com os companheiros esperando dona Expedita, filha de Lampião, Vera, neta do cangaceiro, e mais Labareda e Saracura. Todos vão reunir-se em São Paulo para o lançamento de “As táticas de guerra dos cangaceiros”, de Christina Matta Machado.
O livro vai ser lançado dia 24, a partir das 16 horas, na Aliança Francesa, rua General Jardim, 172.
Saudade
Quando o cangaço acabou e o governo deu anistia, a Polícia separou os cangaceiros: cada um teve que ir para um lado. Faz muito tempo que vários moram em São Paulo, mas não sabiam. Só quando Christina começou a procurá-los é que eles ficaram sabendo dos velhos companheiros, puderam se reunir para relembrar os causos de então. Ontem, em Congonhas, estavam vários deles, esperando os outros. Estava Marinheiro, um ano de cangaço, hoje funcionário da Caixa Econômica Estadual; estava Pitombeira, 3 anos de bando, entrou para não ser morto pela Polícia, hoje funcionário da Prefeitura. Estava também Criança, 7 anos de lutas, a glória de enfrentar sozinho, por duas horas, a Volante, para deixar o bando escapar. Criança, hoje, vende tomate como ambulante.
Em Congonhas estava também Sila, mulher de Zé Sereno que não pode ir (está com a perna engessada) e estava Dadá, apoiada na muleta. Sua perna direita ficou no sertão, crivada de balas de metralhadora, da mesma arma que matou seu marido, Corisco, que ela atentava defender. Estava em Congonhas o Balão, acompanhado de cinco de seus 8 filhos e contando para todo mundo que até hoje é solteiro. Balão, alegria do bando, tocador de sanfona, o mais valente de todos, mostrou ontem que não mudou. Ele foi piadas o tempo todo, mesmo quando tirou os sapatos e a meia por causa de um ferimento no pé que “tá ameaçando arruinar”.
Visitas
Até o dia 24, os cangaceiros vão visitar São Paulo, conhecer coisas novas, principalmente os que vieram de longe que a Varig trouxe de Sergipe e Alagoas. Ele irão ao Ibirapuera, a cinemas, restaurantes, serão entrevistados e aguentarão as luzes fortes da televisão, e queiram ou não vão acabar entendendo que hoje eles são gente importante, que apesar dos crimes que cometeram e talvez mesmo apenas por isso, eles passaram a ser história, são uma página da vida do Brasil.
Para contar a história do cangaço, Christina viajou quase todo o Nordeste, pesquisou em 34 municípios e se tornou amiga daqueles homens. Com os dados que colheu, escreveu o livro e vai defender tese em História, sob o tema “Cangaço, aspectos socioeconômicos”.
Morrer apanhando ou ser Cangaceiro
Embora arrependidos de terem sido cangaceiros, os cabras de Lampião dizem que não havia saída. Balão conta que a Polícia batia em todo mundo, para que contasse o paradeiro do bandido, muitas vezes, matava. Um companheiro dele teve que servir de cavalo para um soldado com esporas. Por isso, “quem não queria morrer apanhando tinha que ir para o cangaço”. Balão, entretanto, foi para o sertão por outro motivo. Engraçou-se – diz ele – com uma menina amiga de Lampião e alguns homens do bando quiseram matá-lo; ele fugiu com outro grupo e, depois, quando esse se uniu com o de Lampião, “a intriga foi esquecida”.
Pitombeira fugiu porque um irmão e um “primo carnal” foram mortos pela Polícia, que tentava fazer com que contassem onde estava Lampião. Ele ia ser morto também e fugiu.
O final
Para todos, o fim do cangaço foi a morte de Lampião, o líder que teve até 260 homens sob suas ordens. Quando ele morreu, o bando que chefiava tinha '36' e 11 ficaram “naquela jornada”. Havia muitos antigos colegas que ajudavam a Polícia e, por isso, fugiram todos para Sergipe, estado amigo, para combinar a “entregação ao governo”.
Balão conta como foi a fuga, “a volante matou Lampião, tive tempo só de pegar embornal de subsistência e de bala e quando a metralhadora engasgou passei no meio dos macacos, fugi. O Presidente tinha espalhado aviso em toda fazenda, para entregar, que ele garantia a vida. Fomos para Sergipe e resolvemos – Juriti, Criança, Marinheiro, Pitombeira, eu – arriscar olho e mandamos avisar o cabo Miguel da volante, que viesse conversar, com três soldados, fuzil de boca para baixo. Ele veio, ficamos amigos, mas 300 praças de outra polícia cercaram o bando, tivemos que fugir para a fazenda Cuiabá, onde dançamos com a volante e bebemos oito dias sem parar. O capitão Aníbal, que trazia a ordem do governo, mandou fechar os portos das Alagoas, para que a polícia que queria matar a gente não entrasse em Sergipe”.
O caminho
“Começou então o caminho da entrega. Mas era duro, tinha tropa do capitão Aníbal, amiga, garantia a vida, tinha a tropa inimiga, queria matar a gente. Fomos ao Araticum, a Porto da Folha, a Monte Belo, mas, quando cheguei no Caveira, mataram quatro cabras meus.
Foi traição dos sergipanos e tivemos que brigar ainda no Pinhão. Só conseguimos achar o capitão Aníbal em Serra Negra, para entregar as armas. Não, ninguém foi preso, a gente ficava no quartel só na hora da troca de expediente e todos entregamos por livre e espontânea vontade. Cada dia chegava mais cangaceiros. Poucos foram mortos, como Juriti, na faca, quando era guarda-freio e estava regenerado. Depois, cada um foi para um lado, ninguém viu mais ninguém. Eu, fé em Deus, sou muito feliz.”
Ideologia
É Pitombeira quem fala, muito sério: “Hoje falam de subversivo, dizem que a gente era guerrilheiro, socialista; não era não. Nós só queríamos o bem, andar longe da Polícia, só atirava quando atacado e matava muito, muito menos do que o cinema tenta contar em filme de cangaceiro. Nós não fazíamos maldade com sertanejo, tinha que viver sem ódio no coração, tinha que ser amigo de todo mundo, se não estava perdido.
É, é verdade que quando não davam o que a gente pedia, tinha que tirar à força, mas não era comum.
História de usar banha de gente para lubrificar parabelo, mentira é que é. Nunca faltou o óleo nem a lixa para tirar ferrugem. Arma também tinha muita, os fazendeiros davam, se não nós perseguíamos.
Tinha fuzil, mosquetão, rifle, parabelo, mauser, tudo calibre grande, 7 milímetros, 30, 38. A gente atirava no ombro, apertando bem para não dar tranco ou, quando a coisa apertava, apoiava no braço, mas muito raro atirar de cima do cavalo. As balas, também, não ficavam, furou meu braço aqui, a perna do Balão, o ombro do Marinheiro, mas era bala boa, de fuzil, entreva e saia do outro lado, tudo bala bonita, de aço, niquelada”.
- “Mas esse tempo passou, hoje é diferente, vivo com a família em São Paulo, faço economia, gasto muito pouco, tenho três casinhas aqui.”
Paulo Afonso, a morte do Sertão
Faz alguns anos, Pitombeira voltou ao sertão. Hoje, ele não reconhece mais aquilo, nada é como onde nasceu.
“Paulo Afonso, a usina, ela matou o sertão. Hoje, não teria mais cangaço nem guerrilha, nem nada. A Usina de Paulo Afonso devorou o sertão, está comendo a caatinga, pondo civilização; muita gente sabe ler, as fazendas são diferentes, caminhão anda por tudo, tem televisão, tem pontes, tem luz chegando a todo lugar. O meu sertão, o sertão de Lampião, do cangaço, ele não existe mais.
Não há mais precisão do cavalo para a caatinga, nem o culote, meia sobre a calça, alpercata, não existe nem mais o chapéu bom para fazer chapéu de cangaceiro. Bem que em São Paulo eu vi uns que serviam, mas não é como no cinema; a gente usava chapéu de couro, bem macio, de camurça enfeitado. Comia a carne seca, às vezes um cabrito ou o boi dos outros, matando na bala”.
Maria Bonita
Do outro lado do saguão do aeroporto, Balão está fazendo graça, dizendo que cava tão fundo para cravar estacas que algum dia acha um japonês do outro lado do mundo. Dadá, mulher de Corisco, olha para ele, comenta com uma amiga: “Piada sim, mas valente, isso é uma fera”.
Balão fala ainda. “Eu brincava com Maria Bonita, lutava com ela, derrubava, rolava no chão. Lampião ria, dizia para a gente não zangar, para não dar briga. Nem parece que faz tempo que ela morreu com Lampião, pondo sangue pela boca. E hoje, eu tenho 60 anos, não tenho mais bala no corpo, o chumbo tiraram em São Salvador.
Doença? Não, cangaceiro nunca adoece, não carecia de médico. Só agora, em São Paulo, cavando um poço de estaca na Consolação é que bebi água sem saber que tinha suco do cemitério. Passei doze dias vomitando sangue, mas, no sertão, nunca adoeci. Duro era ver companheiro ferido, sabendo que a polícia degolava, implorando me leva, e não poder”.
Mulheres
Criança também tem lembranças, fala das mulheres. “Tinha pouca mulher no bando, só dos chefões, ninguém mais queria, mas era valente, brigava junto com a gente. E tudo respeitava, respeitava mesmo, muito mais que aqui, em São Paulo”.
O avião está atrasado, os descendentes de Lampião demoram a chegar. Vera, com 14 anos, quer estudar medicina, espera que São Paulo lhe arranje um dia uma bolsa. Sua mãe mal conheceu os pais; criança ainda, foi entregue a um fazendeiro para criar. Lampião não gostava de criança no bando, ficava bravo quando um cabra apresentava sua mulher, de 13 ou 14 anos, perguntava se ia criar.
Pitombeira está falando de novo, achando difícil entender o que quer dizer o objetivo final.
Cangaceiros, sem remorsos
Os cangaceiros não dizem, mas, pela sua conversa, por suas histórias, eles não estão muito arrependidos de seus crimes. Acham que fizeram as coisas certas. Na hora de denunciar quem lhes vendeu as armas, dizem “que não se cospe no prato em que se come”. São desconfiados: na hora de dizer o nome verdadeiro, relutam muito.
Lampião era um grande líder. Representava a luta contra a opressão dos fortes, os fazendeiros da época. Essa é a opinião de Balão, Zé Sereno, Labareda, Criança, Dadá e Marinheiro. As histórias de cangaceiros são sempre iguais, só o começo é um pouco diferente. Todos se dizem injustiçados, fugidos da arbitrariedade da polícia. Acabaram na vida de crimes por consequência da situação que enfrentavam. Ninguém teve culpa. É o caso de Lampião, contado por Balão, ou Guilherme Alves. Esse cangaceiro afirma ter sido amigo e confidente do cabra Lampião:
- Lampião era comboieiro – pessoa que toca a tropa de burros de uma cidade para outra, vendendo mercadorias. Um dia, ele vortô pra casa e encontrô a famia morta. Foi uma outra famia, os Fulô. Lampião ficô revortado e entrô no grupo do padre Luiz Pereira Fagundes. Depois ele passó a liderá o grupo. Muitas vêis eu ouvi ele falá que ia se entregá pra poliça. Mais tudo mundo tirava isso da cabeça dele: se ele se entregasse, era homi morto.
Depois, Balão conta que o que estragava a moral do cangaceiro era a fama que eles tinham, quase sem culpa. Os jornais falavam mal do cangaceiro – que só queria viver, sem se sujeitar à opressão dos “coronéis de fazenda”. Para isso, é que os homens se internavam na caatinga. Geralmente, fugiam para o interior acuados pela polícia, a “volante”, por terem se insurgido contra alguma injustiça. Às vezes, eram apanhado pela “volante”, que os torturava para descobrir os cangaceiros. Eles eram obrigados a fugir e, para não morrer, matavam como cangaceiros.
E o cinema, Balão, você assistiu aos filmes de cangaceiro?
- Sisti, tudo mintira, elis qué imitá, mais num consegue.
Balão viu a morte de Lampião, viu quando o amigo tombou de costas, varado por diversas balas.
Existem algumas hipóteses segundo as quais o cangaceiro teria sido morto com veneno.
O sangue de Lampião saía, pelo nariz e pela boca. Balão fugiu do lugar. Posteriormente, ficou sabendo que os “volantes” cortaram-lhe na mesma hora a cabeça e a de Maria Bonita. Consta inclusive que ela teria sido decapitada ainda viva, pois seu ferimento não era dos piores.
- Ninguém morre de um tiro só.
Quando Balão fugiu, com o seu grupo, mandou um rapaz saber se Lampião tinha sido salvo. O rapaz voltou com fotografias das cabeças do cangaceiro e sua companheira. Os volantes decapitaram-nos e colocaram as cabeças em latas com vinagre e sal. Levaram depois essas latas pelas cidades, para intimidar o povo.
Zé Sereno, ou José Ribeiro Filho, perna quebrada, bengala. Ele conta que comprava suas armas de muita gente, até de “coronéis”. Pagava 600 cruzeiros por um mosquetão e 2 cruzeiros (antigos) por uma bala.
Mas o cangaceiro não podia fazer suas compras com a mesma tranquilidade de quem entra no armazém. Ele não podia se arriscar. Por isso, utilizava os serviços de um coiteiro. Era a pessoa encarregada de fazer as compras dos cangaceiros.
Zé Sereno, você pode dizer quem lhe vendia as armas? Não moço, num mi peça isso, tem muita gente viva lá ainda, num quero cumplicá ninguém.
Dadá, a mulher de Corisco, ouve a resposta de Zé Sereno e comenta:
- Num si cospe no prato que si come.
Isso mostra que, passados muitos anos das lutas, dos crimes e de toda aquela epopeia sangrenta, eles ainda continuam acreditando no que fizeram, não achando errado. Num si cospe no prato qui come diz Dadá, que é Sérgia da Silva Chagas, a mulher de Corisco.
Criança, ou Vitor Rodrigues Lima. Outrora uma fera; ontem, de terno e gravata, passou carregando uma criança no colo. Foi gozado, disseram-lhe: ao que chegou um cangaceiro, a pajem de criança.
Labareda, ou Ângelo Roque, 65 anos, parece muito mais velho. Quase não fala. Seus companheiros falam mais do que ele. Suas palavras são difíceis de ouvir, está muito velho. Mesmo assim, ele é muito objetivo, não gosta de muitos detalhes. Até repreende seus companheiros, quando estes contam suas histórias e se perdem nas minúcias. Marinheiro não fala nada, até o nome certo não quer dizer. Finalmente diz, é Antônio Paulo dos Santos.
Postado por Kiko Monteiro às 10:49 Um comentário:
Enviar por e-mail
Postar no blog!
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no Facebook
Compartilhar com o Pinterest
Marcadores: A vida após o cangaço, Ângelo Roque " Labareda", Balão, Cangaço, Criança, Dadá, Pitombeira, Sila, Zé Sereno
quinta-feira, 5 de julho de 2018
Em meio à fuga
O Padre que casou Dulce e 'Criança' e batizou 'Balão'
Gonçalo de Souza Lima, popularmente conhecido por Padre Lima, nasceu em Porto da Folha aos 27 de julho de 1900, filho de Pedro de Souza Rito e Josefa Maria dos Prazeres. Nessa época Porto da Folha passava por significativa mudança no que se refere ao fim da escravidão à cerca de 20 anos, algo que havia deixado por lá a ferrenha marca do preconceito racial.
A primeira missa celebrada pelo Padre Lima aconteceu dia 01 de Dezembro de 1929 na terra natal. No ano seguinte foi designado a substituir o Padre Arthur Passos em Porto da Folha, permanecendo até 1931, quando foi transferido para a paróquia de Pacatuba, onde ficou até 1937, ocasião em que passou a ser o pároco de Aquidabã.
Padre Lima
O Padre Lima esteve por diversas vezes a celebrar missas, casamentos e batizados em Porto da Folha, embora sendo o pároco oficial de Aquidabã. Este compromisso espontâneo se deu pelo fato de sua terra natal haver ficado longo período sem Padre.
Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no município de Porto da Folha/SE
Após a chacina de Angico, em 28 de Julho de 1938, quando morreram Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros, chegou a Porto da Folha um grupo de 17 cangaceiros para se entregar, três deles foram à casa do Pe. Lima a procura dos sacramentos.
Entre estes, o casal Criança e Dulce e o cabra Balão.
João Alves da Silva "o Criança" e Dulce Menezes pediram para se casar e Guilherme Alves dos Santos "o Balão", para ser batizado. O Padre, então vigário de Aquidabã, encontrando-se na terra natal não se opôs ao pedido de Criança. Quanto ao pedido de Balão, disse com seu vozeirão:
“Eu não acredito que um homem na sua idade seja pagão!”
E o cangaceiro respondeu: “Eu sou”. A minha família é crente. O Capitão só me aceitou porque prometi que tão logo encontrasse um Padre, pediria pra me batizar.”
O Padre Lima retrucou: “Lampião já morreu!”
Balão justificou: “Mas eu estou devendo e quero pagar.”
O Padre achando bonito o gesto do cangaceiro, lhe disse: “Então vá procurar um padrinho”.
Ele foi direto a “seu” Manezinho Delegado, mas este recusou o convite.
O cangaceiro voltou triste e o Padre Lima perguntou: “Já tem padrinho?”
Balão: “Eu convidei seu irmão e ele não aceitou”.
O Padre mandou chamar o irmão e disse: “Aceite, que é para fazer dele um cristão”.
O casamento e o batizado foram realizados perto do meio dia, na presença de muitos curiosos, principalmente meninos, tendo por padrinhos o Sr. Manoel de Souza Lima, "Manezinho delegado" e sua esposa Dona Estefânia Poderoso a Dona Ester.
Manoel de Souza Lima, o 'Manezinho delegado'.
(1910 - 2012)
A partir deste e de outros acontecimentos marcantes, o Padre Lima foi se tornando cada vez mais conhecido no sertão de Sergipe. O religioso faleceu no dia 28/01/1980, em sua residência na capital sergipana.
Trecho da biografia composta por Joaquim Santana Neto, de acordo com informações da família em conjunto com os dados contidos no livro “Porto DA Folha, fragmentos da história e esboços biográficos” de Manoel Alves de Souza.
Pescado em http://www.joaquimsantana.net/galeria/padre-lima/
Postado por Kiko Monteiro às 10:51 Nenhum comentário:
Enviar por e-mail
Postar no blog!
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no Facebook
Compartilhar com o Pinterest
Marcadores: A vida após o cangaço, Balão, Cangaço, Criança, Dulce, Lampião, Padre Lima, Padres, Porto da Folha, Religiosidade, Sergipe
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Balão "Cabra do INPS"
Trinta anos de luta. Agora, é um trabalhador aposentado e doente.
Texto de Cláudio Bojunga para o jornal “O Estado de São Paulo” – 01/08/1973
Guilherme Alves, o ex-cangaceiro "Balão".
Foto: Josenildo Tenório
No dia 27 de outubro de 1972, o ex-cangaceiro Balão, de cabra de Corisco, Anjo Roque e Lampião, cabra macho, pai de 25 filhos, tendo o corpo fechado por um patuá secreto e inconfessável; Balão, portanto, na verdade Guilherme Alves, mas por direito Balão porque sempre teve o peito estufado, recebia nas costas cem quilos dentro de um poço desbarrancado, perdido na ocasião os dentes, fraturando as costelas, rachando os lábios, cegando os olhos, afundando o peito. A cidade de São Paulo liquidava um cabra que sobrevivera aos tiros de Mané Neto e que durante nove anos de caatinga nunca pisara em farmácia. O declarante tem algo a dizer?
- Sabia que aquele poço ia cair, mas o mestre de obras Guerino começou a me torrar. Entrei para ele ver. Só me lembro de ter enchido um balde de terra.
Aposentado.
O curioso é que, havendo lutado durante os primeiros trinta anos de sua vida e trabalhado durante os outros trinta que também viveu, nunca teve férias. Ouçam a história:
Depois de nascer em Paulo Afonso, Bahia, no ano de 1910 viu com quatro anos de idade o diabo –
“um neguinho preto botando fogo na roupa”. O bicho desapareceu lá pelo Pilãozinho.
Balão não chegou a ver seus pés de bode, mas diz que “o resto era homem de mesmo”. Foi a única vez que viu o diabo em pessoa. Depois, viu só suas obras. A seca era braba e a criação se acabava de sede. Chegou então a volante, sovou o pai em cima de um saco molhado de sal e cortou o couro cabeludo do irmão. Balão, tipo genioso, decidiu vingar. Nisso passa Corisco.
Briga
– “recebi um fuzil comprido e seiscentas e sessenta balas. Gastei tudo no primeiro dia”. Comida – “quando achávamos uma rês ninguém ia percurar o dono; passava a do coco. Mas era difícil encontra e as vêis nós abria a boca pro céu e não encontrava nem uma salivinha na ponta da língua”. Ascendência – “minha bisavó foi pegada lá pros lados de Mato Grosso. Era da aldeia Carajá". Lampião - “num queria mudá nada, morreu purque tava cansado – brigar vinte anos num é vida de homi”.
Corpo Aberto
Balão só viu o mar no dia em que se entregou. Foi em 1938, Salvador, na barra do Rio Vermelho. Caiu n’água e gostou. Só que de noite teve a primeira dor nas costas de sua vida. Andaram dizendo que aquilo lhe abrira o corpo. Balão não acreditou, mas nunca pôde tirar a prova, já que a partir daquele dia nunca mais entrou num tiroteio.
Ficou um ano no quartel, foi bem tratado pelo capitão Aníbal e depois deu no pé a fim de procurar seu destino. Para quem nunca havia trabalhado aquele seu primeiro emprego na estrada de ferro, de trena e baliza na mão, foi até manso. Puxou com os “ingenhero” uma linha de Contendas a Monte Azul; tomou conta de noite do barracão de lentezinhas, acabou arranjando um caso com o "dotô" que lhe cortejou a namorada. Não bateu nele, não – deu só uns tiros numa porta – o "dotô" pulou uma janela e um abaixo-assinado removeu-o do local. Fugiu correndo para o Sul sem documento. Corpo agora definitivamente aberto.
Passou por um investigador da polícia em Pederneiras, passou por Tupã, encarou uma pensão portuguesa em Marília. Era o tempo da Guerra e do gasogênio, os carros corriam com um caldeirão atrás. Balão plantou um pouco de algodão, mas trabalho mais duro era um suplício – o homem que só tinha empunhado o fuzil criou 17 calos na mão no dia em que cortou sua primeira lenha. Sua época mais feliz foi logo depois, quando arrumou um barzinho à beira da estrada em troca de cem votos municipais. Depois inventaram um negócio de imposto e Balão veio para São Paulo – 30 de outubro de 1960. Foi dando logo uma entrada para comprar a casinha. Itaquaquecetuba. Por ali, perto de São Miguel Paulista, Balão descobria mais gente do que na cidade de Belém, por exemplo. Milhares de nordestinos. Isso aliás nunca o espantou – Balão disse que não se espanta com “panorama”, aliás não se espanta com nada.
E foi aí que começou o inferno. Começava sua carreira como poceiro – poços de 10 a 15 metros, sem ajudantes a não ser seus filhos “de menor” que trabalhavam de graça e não conseguiam alçá-lo do fundo da terra. Os peitos e as costas rebentadas de noite. Recebeu seu primeiro cheque sem fundo no dia 25 de outubro de 1963 – ele se lembra de que era o banco Auxiliar de São Paulo, emitido por dois larápios, o Norberto Tedesco e um outro pilantra vestido com uma falsa farda da Aeronáutica.
À procura dos direitos
Num gesto de absoluta ingenuidade, Balão devolveu não só o primeiro mas o segundo e o terceiro. Depois assinou promissórias que ficaram sem resposta. Quando o prazo esgotou Norberto pediu a Balão que “desse o fora” e fosse procurar seu direito. Que voltasse quando conseguisse encontra-lo. Balão saiu desesperado com a desfaçatez. Nem pegou o elevador: desceu a escada a pé e foi comprar uma garrucha e 25 balas na rua Joaquim Nabuco. Mas “se os maiores estavam criados, os de menor não tinham parentes ou aderentes – estariam perdidos com um pai na cadeia”. Saiu procurando seus direitos – trocou a garrucha por um rádio de pilhas.
Depois vendeu a sanfona de oitenta baixos, fez galeria na rua Santo Antônio (“o mestre de obras era ruim, quase meto a picareta no gogó dele”) trabalhou no ar comprimido para a Sobraf – nunca tinha visto aquilo –, o português jogou-o lá dentro até o dia em que o médico disse que ele não tinha mais idade para aquele trabalho, bateu estaca na rua Veridiana. Sempre à procura de seus direitos, mas com um ditado à mão: “boi muito amassado dentro do curral se num soltar fica ruim”.
E foi indo até o dia em que o Guerino, o maldito Guerino, resolveu desafiá-lo a entrar naquele poço evidentemente apodrecido. Sabia que ia desabar. Mas ele torrou, e Balão cavou um balde – o último balde bem cavado de sua vida: dentes, costelas, olhos, peito – e a dor na virilha, a sinusite crônica, a urina avermelhada de sangue. E os direitos?
Balão nunca se separa das muitas carteirinhas ensebadas mas em ordem, dentro do bolso da camisa. Depois de tantos anos de vida sem lei, é quase uma obsessão a lei. Afinal, a cidade grande e o mundo industrial é que são os civilizados. Carteira profissional n° 2502, chapa 1180 da Sobraf, etc... A carteira está presa na Delegacia do Trabalho na rua Martins Fontes, pois Balão finalmente resolveu fazer um processo. Está liquidado, soterrado, o corpo mais que aberto e não recebe o devido. No bolso, cartõezinhos de advogado:
“Na forma combinada apresento-lhe o senhor Guilherme Alves, vítima daquele acidente em que ficou soterrado num poço de fundação”.
Bônus!!!
Balão, em registro de Antônio Amaury
(Obs. Foto não compõe a matéria original)
Um boi amassado dentro de um curral.
Está devendo duzentas pratas na venda, ainda não acabou de pagar a casa. - Se num soltá fica ruim. Ultimamente deixou novamente seus cabelos crescerem.
Encheu os dedos de anéis. Quem sabe, num arranja um papel em filme de cangaceiro. Está procurando seus direitos.
A última filha de Balão tem dez dias. Quem vai dizer a Balão que Corisco fez bem em não se entregar?
Créditos para Antônio Correa Sobrinho
terça-feira, 28 de dezembro de 2021
Cepe promove lançamento de três obras de poetas nordestinos
Na próxima quinta-feira, dia 30, a Cepe Editora lançará no município de Itapetim, Sertão de Pernambuco, três títulos que evidenciam a produção poética nordestina. Dois deles saem pela Coleção Pajeú e remetem a nomes referenciais do repente, cujos centenários de nascimento são comemorados em 2021: Pedro Amorim (“O Poeta dos Vaqueiros”) e Dimas Batista (“Obras Poéticas”). O terceiro livro, “O Aventureiro e o Boêmio”, tem coautoria do professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcos Nunes e do escritor e advogado Raimundo Patriota, filho de Louro do Pajeú. O lançamento acontece às 19h, na Praça Rogaciano Leite, dentro das comemorações do aniversário da cidade, que completa 68 anos, no dia 29.
Poeta dos Vaqueiros - O amor, o vaqueiro aboiador, a vida no Sertão, a saudade dos pais falecidos e a tristeza pela morte prematura de uma filha serviram de mote para Pedro Amorim escrever as poesias e os sonetos que compõem “O Poeta dos Vaqueiros”, agora relançado pela Cepe Editora. Nascido em Desterro (PB), em 18 de setembro de 1921, Pedro Vieira de Amorim migrou para Itapetim (PE) ainda criança, onde faleceu em 2011. Tinha na agricultura sua atividade principal, mas era famoso pelas poesias, cantorias e o bom humor.
Com 116 páginas, o livro está dividido em duas partes: a primeira tem 18 poesias e a segunda, 12 sonetos. “O Poeta dos Vaqueiros”, publicado originalmente em 1988, ganha nova impressão com acréscimos de versos que Pedro Amorim fez depois, muitos ainda sob o impacto da perda da filha Cléfira. “Meu pai tinha como sonho a reedição deste livro”, informa Bartira Amorim, em nota de agradecimento na abertura do título.
“O Poeta dos Vaqueiros é a revelação criadora do seu mundo sertanejo, vaqueiro e poeta. Seus versos têm a sonoridade do aboio dos vaqueiros e a virilidade da voz do Sertão”, destaca o advogado José Rabelo de Vasconcelos, no prefácio.
Obras Poéticas - Vindo de uma tradicional família de cantadores, irmão de dois outros nomes estelares da poética sertaneja (Lourival/Louro do Pajeú e Otacílio), Dimas Batista é homenageado pela Coleção Pajeú com a coletânea Obras Poéticas. Cantador, violeiro e repentista admirado por artistas e intelectuais, como Alceu Valença e Ariano Suassuna, foi considerado um metrificador de raro talento e o mais erudito entre os poetas populares.
“Atrevo-me a reputá-lo como o poeta mais caprichoso que Itapetim ofereceu ao mundo até a atualidade. Seu verso era lapidado, feito sob uma medida ímpar, farto em rima e rico em oração, tal era seu capricho na escultura da estrofe”, destaca no prefácio o advogado, poeta e pesquisador itapetinense Saulo Passos.
Dimas Batista nasceu no povoado das Umburanas, hoje Itapetim, em 21 de julho de 1921. Começou na cantoria aos 15 anos de idade, por mais de 15 anos ganhou o mundo e fez fama com sua arte, sendo vencedor em todas as contendas que participou. Conviveu, fazendo duplas, com nomes fundamentais da chamada “Era de Ouro” da poesia popular nordestina. Grande mestre, tinha predileção por alguns gêneros poéticos, como o martelo, o galope à beira-mar e o quadrão trocado, considerado um dos mais difíceis, além de grande glosador.
Aos 50 anos de idade, formou-se em Letras, cursou ainda Direito e Pedagogia. Falava com fluência inglês, francês e espanhol. Abandonou a viola e se tornou professor de literatura e língua portuguesa. Com 265 páginas, o livro “Obras Poéticas”, Dimas Batista reúne mais de 40 textos, entre poesias, sonetos, versos e trechos de livros publicados ainda em vida. Dimas Batista faleceu aos 65 anos, em Fortaleza, vítima de um acidente vascular cerebral, e foi sepultado em Tabuleiro do Norte (CE), onde residia com a família.
O Aventureiro e o Boêmio - O livro tem como principal objetivo registrar a genialidade de dois grandes nomes da poesia popular, Pinto do Monteiro e Louro do Pajeú, que cantaram juntos por mais de meio século. O valor documental do livro é inestimável. Fica guardada na memória a peleja em que os poetas se enfrentavam fazendo ou respondendo a insultos e provocações. “Esses dois poetas não só estão presentes na cultura popular nordestina, mas já foram tema de estudos acadêmicos em grandes universidades, não só no Brasil, mas até no exterior”, diz o professor e escritor Marcos Nunes.
Pinto Velho do Monteiro nasceu em 1895, a 21 de novembro, na então Vila do Monteiro, na Paraíba. Exerceu várias profissões, em diversas regiões. Foi vaqueiro, soldado de polícia, guarda do serviço contra a malária no Norte do país, auxiliar de enfermagem e vendedor de cuscuz no Recife, antes de se fixar na viola.
Já Lourival Batista Patriota, o Louro do Pajeú, nasceu em 1915, a 6 de janeiro, na Vila de Umburanas, hoje Itapetim. No prefácio, o poeta Joselito Nunes descreve os companheiros de tantas pelejas: “Sempre que eu encontrava Louro em São José do Egito era de sandálias japonesas, camisa aberta ao peito, um cigarro pendente num canto da boca, uma bengala pendurada num dos braços, um pacote de pão num sovaco e um livro no outro. Já de Pinto ficou uma imagem que publiquei no livro e que chama a atenção pelo inusitado. Ele deitado na cama, onde passaria seus últimos dias, tendo ao lado uma mesinha de cabeceira, sem nenhum frasco ou caixa de remédio, mas sim com uma bisnaga de óleo singer. Alguma coisa alusiva a uma possível máquina de fazer versos que ali repousava”.
Os primeiros títulos da Coleção Pajeú, criada pela Cepe para dar mais visibilidade à produção poética sertaneja, foram lançados em junho de 2021: “Meu Eu Sertanejo”, antologia que reúne 40 poemas do compositor e repentista de Serra Talhada Henrique Brandão; “Redes de poesia”, primeiro livro do poeta Andrade Lima, com cerca de 170 poemas de temáticas diversas; e Mesas da 1ª Feira de Poesia Popular, que registra as poesias declamadas por 19 poetas que participaram das três mesas de glosa realizadas na feira promovida pela Cepe, em São José do Egito, em 2019.
Serviço
“O Poeta dos Vaqueiros” (Coleção Pajeú): R$ 30
“Obras Poéticas” (Coleção Pajeú): R$ 45
“O Aventureiro e o Boêmio”: R$ 40
segunda-feira, 27 de dezembro de 2021
19ª Cena Brasil será marcado por encontros de afoxés, maracatus nação e oficinas
Com uma programação inteiramente virtual, que inclui encontros de afoxés, maracatus nação e oficinas culturais, o 19º Festival Cena Brasil começa nesta segunda-feira (27) e segue até o dia 9 de janeiro de 2022 (domingo). As transmissões são gratuitas e acontecem por meio do canal do festival no YouTube (www.youtube.com/CenaBrasilOlinda).
O público vai acompanhar uma vasta programação cultural. Destaque para 13 apresentações artísticas de música e dança, sendo sete grupos de afoxés e seis de maracatus de baque virado. Os shows virtuais serão transmitidos sempre a partir das 19h.
Além das apresentações musicais, ainda está prevista para acontecer uma roda de diálogo online nas páginas oficiais do projeto, que tem como tema: “As Nações Africanas e sua Influência na Formação Cultural Pernambucana“. O encontro contará com tradução em libras, democratizando e ampliando o acesso à informação.
Durante o festival, os artistas Téo Armando e Valério Bizunga, dois talentosos artistas grafiteiros, ensinarão o passo a passo do processo criativo da arte da grafitagem, através da criação de quatro peças artísticas, as estantes/geladeiras. Ao final, as peças serão doadas à administração do Parque 13 de Maio, no Recife. A formação será realizada por meio da internet. Mais informações: Instagram: @cenabrasilolinda | Fan page: facebook.com/FestivalCenaBrasil.
Serviço
19º Festival Cena Brasil Olinda
Quando: 27 de dezembro de 2021 (segunda-feira) a 9 de janeiro de 20222 (domingo)
Transmissão pelo canal: www.youtube.com/CenaBrasilOlinda
CulturaPE
quinta-feira, 23 de dezembro de 2021
CULTURA CARIRI
Atualmente, o Cariri e a Chapada do Araripe, na confluência dos sertões do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Piauí, são densamente habitados, apresentando uma heterogeneidade cultural e social bastante diversificada. O Cariri é tido como uma das regiões de maior originalidade cultural do Brasil, com destaque para as suas manifestações populares (festas, folclores) e seu artesanato. Algo que o torna um dos principais alvos para estudos antropológicos e históricos do Nordeste.
A pluralidade cultural do Cariri é resultado da miscigenação de diversos povos, que trouxeram consigo o artesanato, a música e a gastronomia, e conservaram manifestações da cultura popular como: produção de cordéis (literatura popular), artesanato, principalmente em madeira, couro e argila, Festas de Pau de Bandeira e várias expressões das festas juninas, além de penitências religiosas.
Destacam-se também as bandas de pífano, originadas da tradição indígena e os reisados (reis de couro e folhas de reis ou congadas). As tradições populares musicais incluem ainda o baião, o forró pé de serra, a cantoria, o coco, o repente e a embolada, dentre outros.
A figura do Padre Cícero e as romarias de Juazeiro do Norte fazem do Cariri um dos principais palcos de devoção católica na América Latina.
A cada ano, a região atrai fotógrafos e pesquisadores de todo mundo para a documentação dessas manifestações. O Cariri já foi palco para diversos filmes. Um dos temas prediletos é o Cangaço, episódio de banditismo rural, geralmente romantizado, da primeira metade do século XX.
Outra importante figura, que vem ganhando destaque nacional a partir de romarias promovidas no município de Santana do Cariri, é a da Menina Benigna. Segundo a tradição oral, Benigna Cardoso da Silva foi uma jovem morta por um rapaz, que queria forçá-la a ficar com ele. Como não foi correspondido, ele a matou com golpes de facão. Após esse triste episódio, muitos alegam que ela intercede por pessoas vítimas de violência, além de muitos milagres serem atribuídos a ela. Por isso, faz-se romarias em sua memória sempre por volta da época do seu aniversário de vida e de morte.
Além das manifestações culturais de tradição, mais recentemente, a região do Araripe Geoparque Mundial da UNESCO, em decorrência de seu acelerado desenvolvimento econômico e territorial, tem atraído pessoas de diversas regiões do Brasil e do mundo. Dentre essas pessoas, vê-se a instalação de muitos comércios, cujos proprietários são orientais (chineses, coreanos e japoneses). Concomitante a este fato, a popularização da internet propiciou a expansão da cultura oriental, através de inúmeras crianças, jovens e adultos que se envolveram com o gosto pelos animes, jogos de RPG e eventos para cosplayers. Sendo assim, essa vertente cultural já integra o mapa das manifestações do Cariri Cearense.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
Apresentações natalinas poderão ser vistas em vários pontos do Recife
Na semana do Natal, o Recife será palco para mais 14 apresentações culturais por toda a cidade. A programação, preparada pela Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, para celebrar o Natal Esperança, vai levar, pela terceira semana seguida, tradições natalinas da cultura popular em pequenas e descentralizadas atividades, oferecidas gratuitamente e a céu aberto, para parques e espaços públicos, chegando até nos postos de vacinação, para espalhar encantamento, festa e fé no porvir.
Nesta terça-feira (21), em duas sessões, às 11h e às 15h, oito pastoris desfilam sua alegria azul e encarnada pelos postos de vacinação localizados no Parque da Macaxeira, no Geraldão, na Universidade Federal Rural de Pernambuco e no Compaz Ariano Suassuna.
Na quarta e na quinta-feira (22 e 23), o Pátio de São Pedro, que protagonizou os festejos natalinos deste ano, recebendo, ao todo, sete dias de programação, colocará no palco mais seis atrações, entre pastoris e cavalo marinho. A programação do Pátio começa a partir das 18h.
APOIO - No dia 23, outras duas estreias natalinas convidam o público do Recife ao encantamento, com apoio da Prefeitura do Recife. A partir das 19h, o espetáculo Natal para sempre estará de volta ao Parque da Macaxeira. Haverá uma segunda sessão no dia 25, no mesmo horário. Os interessados em assistir à apresentação precisarão se inscrever pelo app Conecta Recife, disponível para iOS e Android, ou pelo site: conectarecife.recife.pe.gov.br. Serão oferecidas 1.900 vagas ao público. O enredo traz a história da menina que encontra um livro mágico e, ao folheá-lo, dá vida a seres fantásticos.
Também no dia 23, acontece a primeira exibição do espetáculo Baile do Menino Deus, em formato de filme, a partir das 20h. A transmissão é gratuita e tem classificação livre. Poderá ser acompanhada nos links: www.youtube.com.br/bailedomeninodeus ou www.bailedomeninodeus.com.br. Com produção da Relicário, de Carla Valença, criação e direção geral de Ronaldo Correia de Brito, direção para o cinema da pernambucana Tuca Siqueira, direção de fotografia de Beto Martins, assistência de Amanda Menelau e Tomás Brandão, o Baile se torna filme, tendo o Recife como cenário e personagem. A câmera percorre pontos históricos, revelando a poesia e o encantamento da cidade. O filme também ganhou novos solistas, como a rainha da ciranda Lia de Itamaracá e o paraibano Chico César, para cantar e contar a história mais famosa do mundo com o sotaque, o colorido e a poética nordestina.
PROGRAMAÇÃO DO “RECIFE, NATAL ESPERANÇA”
DIA 21/12
PARQUE DA MACAXEIRA
Posto de vacinação
11h – Pastoril Lindas Ciganas
15h – Pastoril Estrela Dourada
GERALDÃO
Posto de vacinação
11h – Reisado Imperial
15h – Pastoril Sonho de uma Adolescente
UFRPE
Posto de vacinação
11h – Pastoril Estrela Guia do Cabo
15h – Pastoril Evolução
COMPAZ ARIANO SUASSUNA
Posto de vacinação
11h – Pastoril Angel de Brasília Teimosa
15h – Encantos do Natal no Jordão
DIA 22/12
PÁTIO DE SÃO PEDRO
18h – Pastoril Giselly Andrade
18h40 – Cavalo Marinho Boi Pintado
19h30 – O Pastoril do Velho Cafuné
DIA 23/12
PÁTIO DE SÃO PEDRO
Jornadas para Celebrar
18h – Pastoril Estrela Dourada
18h40 – Campinas Alegres
19h30 – Perigosas Pastoras
PARQUE DA MACAXEIRA
19h – Natal para Sempre
DIA 25/12
PARQUE DA MACAXEIRA
19h – Natal para Sempre
quinta-feira, 9 de dezembro de 2021
Tonlin Cheng apresenta a performance “Trabalho” na Casa Balea, em Olinda
A dança é o lugar de labor do corpo; escapa ao raciocínio da lógica trabalhista. Guiado por reflexões como essa, o artista Tonlin Cheng lança a videoperformance “TRABALHO”, fruto de um projeto homônimo de pesquisa e criação na área, que contou com incentivo do Funcultura. Serão duas exibições, uma presencial e outra on-line, nos dias 9 e 10 de dezembro, respectivamente. A primeira será na Casa Balea, em Olinda, às 19h, com entrada livre. A on-line, pelo aplicativo Zoom (o acesso já pode ser garantido via Sympla), será às 20h e contará com interpretação em Libras.
Além de Tonlin, que assina direção, roteiro e edição da videoperformance, a equipe da produção é formada por Iara Sales (produção, figurino e performance), Gabi Holanda (figurino e performance), Wallace Nogueira (direção de fotografia), Thaís Lima (assistência de fotografia e still), Charles Belt e Thiago Neves (captação de som).
“Mas você trabalha com quê?”
Talvez essa seja a pergunta mais ouvida por quem se reconhece artista. Mas quando a arte é o próprio corpo? Corpo que se desgasta e gera energia, sendo suporte direto para a arte? Essas e outras provocações deram norte ao projeto, que conta com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, pelo Edital Funcultura Geral, e apoio do Acervo RecorDança, Casa Balea, Centro Cultural Mercado Eufrásio Barbosa e Galeria Janete Costa. Os eventos têm classificação indicativa de 16 anos.
Bienvenidos Carnaval
Durante a ação na Casa Balea, no dia 9, também será exibido o documentário em curta-metragem Bienvenidos Carnaval, fruto da circulação do espetáculo PEBA pela América Latina, em 2019, passando pelas cidades do Rio de Janeiro, Montevidéu (Uruguai), Cali (Colômbia), La Plata e Buenos Aires (Argentina), também com incentivo do Funcultura.
Serviço
Lançamento da videoperformance “TRABALHO”
Dia 9 de dezembro, às 19h, entrada gratuita
na Casa Balea (Rua Treze de Maio, 99, Carmo – Olinda)
e, online, 10 de dezembro, às 20h
via Zoom (ingressos gratuitos no Sympla), com interpretação em Libras
www.sympla.com.br/trabalho–lancamento-virtual__1432587
CulturaPE
“Baile do Menino Deus” ganha versão audiovisual, dirigida pela cineasta Tuca Siqueira
O espetáculo “Baile do Menino Deus”, que é encenado todos os anos no Marco Zero, ganha um novo formato para a edição de 2021. Com produção da Relicário, de Carla Valença, criação e direção geral de Ronaldo Correia de Brito, direção para o cinema da pernambucana Tuca Siqueira, direção de fotografia de Beto Martins, assistência de Amanda Menelau e Tomás Brandão, a montagem se torna filme, tendo o Recife como cenário e personagem. A câmera percorre pontos históricos, revelando a poesia e o encantamento da cidade. O filme também ganhou novos solistas, como a rainha da ciranda Lia de Itamaracá e o cantor paraibano Chico César. A transmissão será para todo o Brasil, no site (www.bailedomeninodeus.com.br/2021) e canal do YouTube do “Baile do Menino Deus (www.youtube.com.br/bailedomeninodeus), a partir do dia 23 de dezembro (quinta-feira), às 20h. A transmissão é gratuita e a classificação é livre.
Vendedores ambulantes, uma cigana por Gabi da Pele Preta, Romã Romã por Silvério Pessoa, o Jaraguá pelo músico mineiro Maurício Tizumba, o Anjo por Lucas dos Prazeres, o Boi pelo famoso forrozeiro Flávio Leandro e por Carlos Filho são alguns dos personagens que compõem o auto que terá novos arranjos e nova orquestra, dirigida por Rafael Marques.
A dramaturgia também foi reescrita e traz elementos contemporâneos como o hip hop de Okado do Canal, que com a sua trupe de 16 dançarinos chegam ao Teatro Santa Isabel à procura do Menino que acaba de nascer, junto com crianças e dois Mateus, interpretados por Arilson Lopes e Sóstenes Vidal.
“Em 2021, o Baile se expande em cenário real reforçando o teatro enquanto território do sonho”, pontua a cineasta Tuca Siqueira. “A celebração do nascimento de uma criança poderia acontecer em qualquer lugar, mas o Recife é palco para essa festa narrada pelo espetáculo há 17 anos então, essa transição de retomada após isolamento pandêmico percorre algumas ruas do centro. Acho que o Recife escolheu o Baile e numa caminhada com parte da equipe projetamos as cenas imaginadas sentindo a pulsação dos lugares escolhidos por nós. Foi assim que definimos as locações do filme e que se construiu o cenário dessa história”, avalia Tuca.
Criado há 40 anos, o texto do Baile faz parte da Trilogia das Festas Brasileiras, série de peças que retratam as manifestações populares brasileiras, sobretudo do Nordeste, em que se incluem Bandeira de São João e Arlequim de Carnaval. O telefilme longa metragem da ópera popular nordestina, que conta a história mais famosa do mundo – o nascimento de Jesus Cristo – resgata o sotaque, a forma de fazer, dançar e cantar do brasileiro, pautando-se nas tradições de festas e representações teatrais do ciclo natalino, incorporadas às diversas culturas do Brasil.
ROTEIRO - Neste ano, José será Marcio Fecher e Maria a atriz e cantora Isadora Melo. Maria mora na cidade de Nazaré, que não fica na Galileia palestina, mas na zona canavieira da Mata Norte de Pernambuco. Ela sonha cursar faculdade. José trabalha como carpinteiro em uma das muitas fábricas de móveis da região, que fabricam os conhecidos “móveis de Gravatá”. Casados, Maria está grávida e vem com José ao Recife comprar enxoval para o bebê. Descem do ônibus em um terminal na rua do Sol, que olha para o Capibaribe e a rua da Aurora. O casal vai ao Mercado de São José, anda pelas ruas das Calçadas, Direita e São José do Ribamar. Já é noite quando eles atravessam uma das muitas pontes do Recife, avistam músicos tocando, uma solista cantando e um dançarino brincando com uma Burrinha de Cavalo Marinho. Maria sente as dores do parto e é amparada por José. Em contraponto, dois Mateus e cinco crianças procuram a casa onde irá nascer um Menino Deus. Encontram brincantes, olham prédios em volta, imaginam lugares onde o Menino e seus pais possam estar, mas nada. Já é noite, quando eles finalmente avistam a casa sonhada, onde uma estrela brilha. Sem saber que se trata de um teatro, esbarram em sua porta fechada e tentam abri-la através de rezas e sortilégios.
“Nesta edição Maria teve o seu filho e junto com o marido José se encontra em situação de rua, ao abrigo do alpendre da casa de espetáculos. Quando, depois de rezas e peripécias, os Mateus e as crianças conseguem abrir a porta da casa/teatro, José, Maria e o Menino, que antes estavam “invisíveis”, se revelam. Imaginados pelos Mateus e as crianças como os donos da casa, mas sem atinar com o significado que lhes é atribuído, o casal e a criança participam de um jogo em que são levados ao palco do teatro por seres encantados, comuns à tradição dos índios Pancararus. A narrativa ganha força quando a cena teatral se revela o lugar de encontro e acolhimento, de magia e sagrado. A história retoma um começo que findará num Baile e numa Despedida”, explica Ronaldo Correia de Brito.
“Neste ano de 2021, em meio às dúvidas das restrições do convívio social por conta da pandemia, resolvemos ousar ainda mais, trazendo algo novo para o público. Tivemos que nos desconstruir para abrir caminho a uma nova possibilidade, já que não seria possível ainda encenar o espetáculo presencialmente na Praça do Marco Zero. Como resultado desta dúvida, conseguimos o feito de fazer um filme inédito e surpreendente, a partir do encontro potente do teatro e do audiovisual, que chegou com uma força criativa grandiosa, revelando uma narrativa diferente de todos os outros anos, tendo como cenário lugares do Recife e um elenco primoroso”, fala Carla Valença, diretora de produção.
“A narrativa está bem realista, completamente diferente de tudo que já foi feito até hoje, inclusive totalmente diferente da filmagem feita no ano passado. O teatro entra como uma parte lúdica do cenário e o filme traz uma narrativa muito mais de um cotidiano, de uma cidade. Tudo que usamos como referência de cenário para o Marco Zero, a gente este ano está filmando na realidade”, revela Sephora Silva, que assina a cenografia do Baile.
Todos os elementos arquitetônicos que inspiraram o cenário do Marco Zero, como as diferentes épocas de arquitetura que o Recife tem, como os bairros mais antigos, o próprio Teatro de Santa Isabel, a Praça da República e o Mercado de São José, foram pontos de locação no filme. “Mas quando o filme chega no Teatro de Santa Isabel é o momento que o filme transforma a história do real para o lúdico. A cenografia do Santa Isabel remete a do Marco Zero, mas bastante minimalista, com a ideia de um cenário que começou a ser montado e não foi acabado, uma ideia de suspensão, que foi algo que a pandemia trouxe pra gente e pro Teatro, que ficou parado e sem espetáculos”, reforça Sephora.
“Baile do Menino Deus” recupera formas de celebrar o Natal, que sobreviveram e se guardaram sobretudo no Nordeste, à exemplo de reisado, lapinha, pastoril, cavalo marinho, guerreiro, chegança, boi de reis, brincadeiras e tradições que fogem ao monotemático “Natal Congelado” com neve de isopor, pinheiros, renas, trenós e Papai Noel. O Baile é uma saga que recorre a sortilégios, brincadeiras, invocação de criaturas fantásticas – como a Burrinha Zabilin, o Jaraguá e o Boi – e muita música e dança.
PARCEIROS - O Baile conta com a Lei de Incentivo à Cultura, apresentado pela Fundação de Cultura do Recife, Secretaria de Cultura, Prefeitura do Recife, Fundarpe, Secretaria de Cultura, Governo de Pernambuco, com patrocínio da Toyolex, Copergás, Sherwin Williams, Porto de Suape e Tramontina, Co-patrocínio da Rede, Apoio do Itaú Cultural, Globo, STN, InBetta e realização da Relicário Produções Culturais, Secretaria Especial da Cultura e Ministério do Turismo.
A produção do Telefilme Baile do Menino Deus é assinada pela REC, produtora recifense com o pensamento voltado para a criação e produção de conteúdo audiovisual, dos sócios Chico Ribeiro e Ofir Figueiredo. Entre as suas principais produções estão Para Quando o Carnaval Chegar, de Marcelo Gomes, Tatuagem, de Hilton Lacerda, Viajo porque Preciso, Volto Porque Te Amo, de Karim Ainouz e Marcelo Gomes, Para Ter Onde Ir, de Jorane Castro e diversos outros longas.
Em 2020, o Baile que costuma reunir em sua edição presencial cerca de 70.000 pessoas, se abriu para a primeira experiência cinematográfica sendo exibido em plataformas digitais e TV aberta, com exibição que foi vista por mais de 3 milhões de pessoas, só nos primeiros dias.
Serviço
Filme “Baile do Menino Deus – Uma Brincadeira de Natal”
Estreia no dia 23 de dezembro de 2021 (quinta-feira), às 20h
Transmissão gratuita: www.youtube.com.br/bailedomeninodeus | www.bailedomeninodeus.com.br/2021
Exibição no dia 25 de dezembro, às 14h10, pela TV Globo PE e Globoplay
TAGS:BAILE DO MENINO DEUS
Festival Varilux de Cinema Francês ocupa as salas de cinema de Pernambuco
Os cinemas do estado vão receber o Festival Varilux de Cinema Francês, que chega a sua 12ª edição em 2021. Depois de um ano com programação virtual por conta da pandemia, o evento volta a ser presencial. A programação inclui a exibição de dois clássicos e 17 longas-metragens inéditos e recentes, entre premiados e participantes de festivais internacionais, de 6 a 8 de dezembro, parte dessa programação ocuparão as salas do Cine São José, em Afogados da Ingazeira e Theatro Cinema Guarany, em Triunfo, este gerenciado pela Secult-PE/Fundarpe, além das salas do cinema MovieMax (Rosa e Silva), Cinemark (Shopping RioMar) e no Cinema da Fundação que receberão a programação completa.
Depois de um ano sem atividades, e uma grande baixa de movimentação de público e renda nos cinemas do Estado, o Varilux chega gerando grandes expectativas de retornar as atividades dos cinemas com conteúdo de qualidade, atraindo um bom número de visitantes durante esse período, acolhendo esta edição, dispostos a enfrentar com entusiasmo o desafio de voltar às salas de cinema conservando o respeito às normas sanitárias.
Para além de estimular a cooperação internacional, um dos objetivos é levar para essas salas do interior, filmes de um festival que acontece nacionalmente. “Entendemos que é muito importante levar festivais e possibilitar o acesso da população a uma diversidade de filmes, assim, cinemas de rua da capital e do interior recebem uma programação cultural e democratizamos o acesso ao evento no estado. Em anos anteriores, reabrimos algumas salas de cinema que estavam fechadas há muito tempo, com as sessões democráticas do Varilux. Realizamos uma parte da programação do Festival Varilux, em anos anteriores (2017, 2018 e 2019), em alguns municípios, tais como: Triunfo, Arcoverde, Afogados da Ingazeira, Caruaru e Palmares. Tal ação aconteceu em virtude da parceria estabelecida entre o Consulado da França em Recife e a Secult, por meio do Programa Cine de Rua. Neste ano em Afogados da Ingazeira fizemos parceria com a prefeitura municipal e com a Fundação Cultural Senhor Bom Jesus dos Remédios, responsável pelo cinema.” Comentou Janaína Guedes, coordenadora executiva do programa Cine de Rua.
Fundarpe inicia registro da Festa do Morro da Conceição como Patrimônio Cultural Imaterial
A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) concluiu, neste mês de dezembro, a análise técnica preliminar que fundamentou a decisão da Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) pelo deferimento e abertura do Processos de Registro da Festa do Morro da Conceição como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Pernambuco. O pedido de registro foi apresentado em 2020, pela Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe.
Com a oficialização da abertura do Processo de Registro, a Fundarpe dará início à produção do Inventário com pesquisas sobre o universo cultural da Festa do Morro. Além disso, irá elaborará o dossiê a ser entregue ao Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC/PE) para a deliberação final sobre o Registro da Festa do Morro da Conceição nos respectivos Livros de Registro do Patrimônio Cultural Imaterial do Estado.
A iniciativa teve início ainda em 2018 com a proposição do reconhecimento da Festa do Morro como projeto de Lei, e que precisou ser adequada à nova tramitação em razão da publicação da Lei nº 16.426, de 27 de setembro de 2018 que instituiu o Sistema Estadual de Registro e Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial em Pernambuco.
“Para além de uma celebração católica, a Festa do Morro da Conceição mantém a tradição devocional, mas cumpre igualmente o papel de agregar a comunidade. Os encontros em torno dela servem para construir e preservar as relações entre os sujeitos envolvidos, incluindo aqui a transmissão dos saberes, valores e práticas. Afinal, a celebração não abarca apenas os rituais e cerimônias religiosas, mas envolve também outras dinâmicas culturais” afirma Marcelo Canuto, presidente da Fundarpe.
“Dada a sua diversidade, o santuário da Imaculada Conceição e o próprio Morro da Conceição emergem no cenário cultural do Estado como um lugar de referência para as práticas e saberes tradicionais ligados à devoção popular e também a outras práticas quanto à comercialização de imagens sacras, de velas, doces populares e comidas de rua, entre outros. No território da festa é possível identificar as singularidades das tradições preservadas e das remodelações necessárias em razão da passagem do tempo”, destaca Gilberto Freyre Neto, secretário Estadual de Cultura de Pernambuco.
HISTÓRIA – No Recife, as celebrações em homenagem à Nossa Senhora da Conceição, no Morro da Conceição, acontecem há 117 anos, e tem origem nas comemorações do cinquentenário do dogma da Imaculada Conceição no Brasil. A ocasião também marcou a construção da capela em estilo gótico e a instalação de uma réplica, em ferro, da imagem da Virgem da Conceição, de 5,5 metros de altura com 1.806 kg, vinda de Portugal, inaugurada no dia 8 de dezembro de 1904 no antigo Outeiro da Bela Vista, situado na Zona Norte do Recife, atual bairro do Morro da Conceição.
A festa, que está na sua 117ª edição em 2021, apresenta características próprias da dinâmica das festas religiosas e também das festas populares em contextos urbanos atraindo pessoas de diferentes regiões do Estado, seja para as missas durante a pré-festa, tríduo pré-festa, hasteamento da bandeira, novenário, procissões, ou para os shows, parques de diversões, bares e festas de rua que acontecem no entorno do Morro da Conceição.
A celebração religiosa está intimamente ligada às festas populares no entorno do bairro e ainda às práticas religiosas afro-brasileiras, especialmente no culto à orixá Iemanjá, cujas celebrações, em Pernambuco, também costumam acontecer no mesmo mês.
As casas religiosas dos cultos afro-brasileiros, principalmente Candomblé, Umbanda e Jurema Sagrada, realizam rituais litúrgicos privados e públicos em celebração à divindade, preparando os tradicionais “presentes”, sendo alguns deles levados primeiro ao Morro da Conceição e depois aos locais de entrega, como as praias. Outros religiosos celebram de forma individual a fé em Maria e em Iemanjá, renovando os votos e consagrando seus próprios amuletos e elementos sagrados.
portalculturape
sábado, 4 de dezembro de 2021
Ana Araújo lança o fotolivro “PANKARARU – Identidade, Memória e Resistência”
A fotojornalista tacaratuense Ana Araújo promove o lançamento do seu novo fotolivro “PANKARARU – Identidade, Memória e Resistência”, no próximo sábado (4), às 16h, no Pátio da Igreja de S. Antônio (Aldeia Brejo dos Padres – Terra Indígena Pankararu). A obra, apresentada de forma cronológica, é resultado de um mapeamento etnográfico realizado durante 34 anos pela autora, de 1996 a 2020, e conta a história dos indígenas Pankararu, habitantes originários do sertão de Pernambuco, através de imagens inéditas em três capítulos: do seu território, do seu povo e dos seus rituais ancestrais e sincréticos. A publicação conta com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura. Por conta da pandemia, será obrigatório o uso de máscaras durante o evento de lançamento.
O objetivo do livro é dar visibilidade à cosmologia do povo Pankararu, que tem cerca de 11.366 indígenas, vivendo em área demarcada de 8.377 hectares, entre os municípios de Tacaratu, Jatobá e Petrolândia, na região do submédio São Francisco, no sertão de Itaparica. Esse evento, que marca o primeiro lançamento do fotolivro, tem o apoio da Casa de Memória – Associação Tronco Velho Pankararu, e da Secretaria de Assuntos Indígenas, da Prefeitura Municipal de Tacaratu. Na ocasião, serão entregues os 400 exemplares destinados à doação aos representantes das escolas, bibliotecas, entidades, lideranças e aos indígenas ou seus familiares retratados no livro. Também haverá a apresentação do grupo Nação Cultural Pankararu, com a “Dança do Búzio”.
Além da presença de intérpretes de Libras para a inclusão de pessoas com deficiência auditiva nos lançamentos, o livro está disponível às pessoas com deficiência visual e baixa visão, e ao público em geral, através de QR Code, na contracapa, que dá acesso ao canal do foolivro Pankararu, no YouTube. Esse conteúdo com a audiodescrição de Liliana Tavares e Sílvia Albuquerque, da Com Acessibilidade, pode ser ouvido por meio do link: youtu.be/e7OuJAVE5D4.
PUBLICAÇÃO - O livro apresenta um conteúdo atualizado para pesquisas de professores e alunos, tendo a memória e a resistência como componentes de construção e de fortalecimento da identidade cultural Pankararu. Um dos campos de estudo é o da fotografia, pela linguagem e pelo importante registro histórico, feito durante a transição dos séculos 20 e 21, quando houve a revolução tecnológica do sistema analógico para o digital. A antropologia visual também é contemplada, por apresentar uma potente documentação etnográfica dos rituais Pankararu.
A obra tem 124 páginas, em papel couchê, capa dura, com 107 fotos coloridas e em preto e branco, sendo 32 feitas com câmeras analógicas e 75 com as atuais digitais. Os textos em português, com tradução de Sarah Bailey para o inglês, são de autoria de Ana Araújo – que também redigiu as legendas e fez a coordenação editorial – da linguista e primeira indígena brasileira com doutorado, Maria das Dores de Oliveira Pankararu, do primeiro advogado indígena do Brasil, Paulo Celso de Oliveira Pankararu, da historiadora Bartira Ferraz Barbosa, docente da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco, e do professor de Fotografia da UFPE que assina a coedição das fotos, José Afonso Jr. O design e a produção gráfica são de Tácio Ferraz e Isabela Faria, a produção executiva de Bianca Pimentel, o tratamento de imagens de Robson Lemos, a revisão de textos de Tatiana Portela.
RECIFE - No próximo dia 17 de dezembro (sexta-feira), às 19h, haverá o lançamento do livro “PANKARARU – Identidade, Memória e Resistência”, na Torre Malakoff, localizada no Recife Antigo. O evento é aberto ao público. Mais informações pelo perfil do Instagram da autora: @fotoanaaraujo.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2021
Casa da Cultura segue com programação junto ao Som na Rural nesta sexta-feira (3)
A Casa da Cultura, equipamento cultural gerido pela Fundarpe, recebe, nesta sexta-feira (3), mais uma rodada de apresentações de artistas da cultura pernambucana no projeto Retoma Cultura. A partir das 15h, o palco Som na Rural, instalado anfiteatro na área externa do espaço, recebe apresentações do Pastoril Giselly Andrade, Muniz do Arrastapé, Nailson Vieira e Mazinho de Arcoverde. A programação é gratuita.
O Retoma Cultura tem o objetivo de fazer com que os espaços, artistas e grupos da cultura popular pernambucana possam voltar às atividades, dentro das recomendações e protocolos de segurança. “Nesta sexta-feira (3), o público local e os turistas vão encontrar na Casa da Cultura um retrato do que é a cultura pernambucana, com artistas de várias regiões do Estado e de diversos gêneros, como grupos de coco, forró e pastoril”, destaca Marcelo Canuto, presidente da Fundarpe.
Em toda a programação nos equipamentos culturais, participam da iniciativa mestres e mestras da cultura popular, grupos de coco, pastoris, afoxés, orquestras de frevo, forró, samba, blocos líricos, bois e cavalos-marinhos, entre outros artistas locais. Ao público, será exigido o uso de máscaras nos locais, bem como o comprovante de vacinação completo, respeitando os protocolos de segurança sanitária contra a Covid-19.
Serviço:
Retorno da programação dos equipamentos culturais da Fundarpe
Sexta-feira (3/12)
Casa da Cultura (Cais da Detenção, s/n, Santo Antônio – Recife)
Gratuito
Programação no Som na Rural:
15h – Pastoril Giselly Andrade
16h – Muniz do Arrastapé
17h – Nailson Vieira
18h – Mazinho de Arcoverde
TAGS:
Afogados da Ingazeira sedia a Mostra Mulher de Cinema
A Mostra Mulher de Cinema, que acontecerá de 1º a 3 de dezembro, chega à Afogados da Ingazeira para ampliar o calendário cinematográfico no Sertão do Pajeú. Durante o evento, que conta com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura, serão exibidos filmes dirigidos por mulheres, com o objetivo de fortalecer a visibilidade e o debate sobre a participação das mulheres no cinema nacional.
Serão 13 filmes nacionais, realizados por mulheres de diversos lugares do país e com temáticas e abordagens super importantes. Entre os filmes que integram a programação teremos filmes do interior de Pernambuco e o longa Carro Rei, da realizadora pernambucana Renata Pinheiro, premiado no Festival de Cinema de Gramado. A curadoria foi feita por Bruna Tavares, da Pajeú Filmes.
As exibições acontecem a partir desta quarta-feira (1º), na Praça do Conjunto Habitacional Miguel Arraes, no Bairro Padre Pedro Pereira, com um bate papo especial sobre a produção de filmes na cidade. Na quinta (2) e sexta-feira (3), as exibições acontecem no Cine São José, sempre seguindo os protocolos de convivência vigentes, como uso da máscara, álcool gel e distanciamento. Além das exibições, estão programados bate-papos com a realizadora Uilma Maíra e Lílian de Alcântara, que acontecerão on-line, no YouTube da Pajeú Filmes.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
MESTRE CORNÉLIO
José Cornélio de Abreu, o mestre Cornélio, é um dos principais expoentes da arte popular do Estado do Piauí. Ele nasceu no município piauiense de Campo Maior em 1956. Filho de carpinteiro e marceneiro começou a trabalhar na madeira muito cedo; transformou-se em escultor por necessidade, mas acabou se apaixonando pela arte. A família era muito pobre, mas foi com o trabalho que conseguiu vencer as dificuldades. Ele diz que na igreja em que freqüentava sempre escutava o padre falar que tínhamos é que trabalhar.
Mestre Cornélio. Reproduçao fotográfica Em nome do autor, Proposta Editorial, Sao Paulo, 2008.
Mestre Cornélio, oratório, madeira. Reproduçao fotográfica Lordello e GiobbiLeiloes.
Mestre Cornélio trabalhando. Reproduçao fotográfica Governo do Piauí.
O trabalho artístico do mestre Cornélio começou em 1973 em Teresina-PI. O pai foi chamado para a construção do teto de uma igreja e ele foi contratado como ajudante. Certo dia o pároco se dirigiu a ele e disse que ele faria o Cristo para a igreja. Você tem talento, disse o padre. Com a ajuda do escultor cearense Carlos Barroso que chegara à cidade, esculpiu o Cristo. Segundo ele, a escultura ficou com um braço torto, porque o galho do cajueiro que usou era torto. Mestre Cornélio conta que Carlos Barroso o ajudou muito na carreira de escultor.
Mestre Cornélio, anjo, madeira. Reproduçao fotográfica Em nome do autor, Proposta Editorial, Sao Paulo, 2008.
A primeira peça comercializada do mestre Cornélio foi uma carranca com cara de jumento, esculpida num tronco de flamboiã. Ele a levou para ser vendida no Centro de Artesanato de Teresina, mas lá acharam a peça horrorosa. Dias depois foi vendida a um turista por 300 cruzeiros, um valor alto para a época. Depois disso nunca mais parou. As mãos habilidosas do mestre são capazes de esculpir esculturas detalhadas em madeira que chamam a atenção pelos detalhes entalhados com batidas precisas. As imagens reproduzidas são geralmente esculturas que reproduzem símbolos locais e figuras humanas. Apesar de seguir uma importante tradição dos mestres escultores do Estado do Piauí, a arte santeira, os totens se tornaram sua marca registrada.
Mestre Cornélio, madeira. Reproduçao fotográfica autoria desconhecida.
Mestre Cornélio, com sua capacidade criativa, conquistou vários prêmios e tem inúmeras participações em exposições no Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, São Paulo e mostras internacionais na Argentina e na Itália.
Mestre Cornélio, madeira. Reproduçao fotográfica Em nome do autor, Proposta Editorial, Sao Paulo, 2008.
Com a morte de Mestre Dezinho, Mestre Expedito e Mestre Cornélio são os mais velhos nessa tradição de santeiros e entalhadores do Piauí.
Contato com o mestre Cornélio:
Rua Bem-te-vi, 1370, Bairro Angelim
64034-100 Teresina-PI
Tel: 3227-0448
Fonte: Lima, Beth & Lima, Valfrido. Em Nome do Autor. Proposta Edital, São Paulo-SP, 2008.
Mestre Cornélio, S. Francisco, madeira. Reproduçao fotográfica Em nome do autor, Proposta Editorial, Sao Paulo, 2008.