ANTONIO DA MUTUCA
Bem distante,na virada da serra do cruzeiro,tem uma pequena comunidade rural,de humildes casas separadas,e moradias de taipas,algumas abandonadas,formando uma típica ribeira. A estrada serpenteia pelo chão batido,numa atmosfera ressequida e de poeira,até onde o olhar alcança, segue a estrada.Uma sensação profunda de solidão,uma música ao longe.Uma casa de terreiro bem varrido,baixo teto,porta e janelas se abrindo para uma pobre paisagem de cinza e sequidão. No centro da sala,um jovem queimado do sol do sertão,uma sanfoninha e o legado.Nenhuma placa,nenhum sinal,nenhum aviso.A vida por lá não tem pressa nem horário,as léguas sucessivas separam a cidade de Salgueiro ao Sitio Mutuca.Esse é o nome do mundo e do céu de Antonio Pedro Silva,22 anos,tocador de fole de oito baixos,ainda bem moço, declara juras de amor pelo pequeno instrumento,que aprendeu a tocar com o pai,Pedro Manú. Ele revela que foi um verdadeiro alumbramento na infância ver seu pai tocar uma velha sanfoninha pé de bode.Aos oito anos de idade ele teve o primeiro contato com o complexo instrumento de origem germânica.Mudaram as estações e quatro anos foram bastantes para ter noções e alguns domínios do instrumento. Aos doze anos ,ele não se fez de rogado,e assim,soltou os bichos no pé de bode pelos sítios da vizinhança.Passou a ser presença constante nos sambas e festividades da região do sitio mutuca. Antonio da Mutuca,é considerado um dos grandes nomes do fole de oito baixos, no Sertão Central de Pernambuco.Com uma modesta agenda,ele é festejado por onde anda.O seu trabalho teve notoriedade,quando da sua participação no 1° Festival da Sanfona do Salgueiro,evento promovido pela Secretaria de Cultura do município,que nesse intuito vem atingindo o objetivo de preservar, resgatar e promover novos talentos desse segmento artístico. Pelo segundo ano consecutivo Antonio da Mutuca e os tocadores de sanfona de oito baixos da cidade do Salgueiro,participam da noite dos oito baixos,no grande evento junino da Estação do Forró.Foi notória a evolução desse músico nos últimos doze meses, prova disso, foi o resultado no 2° Festival da Sanfona do Salgueiro,quando foi ovacionado e classificado em segundo lugar.Antonio acalenta um velho sonho de gravar um CD e DVD com convidados que só toquem pé de bode." Perdemos espaço para o forró eletrônico,mas estamos cada vez mais firmes fazendo boa música nordestina.Não é qualquer um que consegue tocar um pé de bode.É muito difícil,desafia Antonio,ressaltando que jamais trocaria sua sanfona,por um instrumento banhado a ouro." Hoje, Salgueiro,é uma das cidades do interior do estado de Pernambuco,com maior número de sanfoneiro de oito baixos em atividade.Graça a esse trabalho de resgate do poder público municipal.E Antonio da Mutuca,segue a vida,com sua sanfoninha sorridente,pelas festividades do sertão,tocando e encantando com o legado que recebeu de Pedro Manú,seu velho Pai.
William Veras de Queiroz 2010 D.C - São José de Piranhas-Paraíba.
OBS - MATÉRIA PUBLICADA EM 7 DE AGOSTO DE 2010
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