domingo, 1 de agosto de 2021

RAÍZES CABOCLA

Uma Aldeia Amazônica Comungando um Planeta Por Ivan Matos, em 14 de março de 2021. Eram os anos 1980. O Brasil emergia de um estado obscuro e os movimentos artísticos careciam resistirem-se de renovação. Dessa leva, da margem esquerda do Rio Solimões, na cidade de Benjamin Constant, no sudoeste amazonense, surge o Grupo Raízes Caboclas, parido pelo professor Celdo Braga e completado em gestação por mais três jovens, seus estudantes à época, em sua formação inicial: Júlio Lira, Osmar Oliveira e Kafuringa (Raimundo Angulo), que perdurou em estado de gravidez absoluta por quase 30 anos.
Sua gestação aconteceu em um momento brasileiro de profunda transformação social e política, onde o sêmen ovava dos temas ambientais e ganhava o volume de gravidez no final da década de 1980, partindo do princípio (de Leon Tolstói) de que “se quiseres ser universal, deves, pois, começar por cantar a própria Aldeia”. É exatamente como canta o cântico amazônico e universal de Celdo Braga em
COMUNHÃO DA TERRA É tempo ainda de amar sem fronteiras,do amor ser a bandeira de união do mundo inteiro. Ainda creio que essas flores separadas serão flores perfumadas em um só canteiro.É tempo ainda de ver que a esperança não é só uma dança de fumaça pelo ar. Ainda sonho que o sol da nova era, coroando a grande espera, seja a luz de um novo olhar. Eu canto forte essa canção que encerra a comunhão da terra pela soma dos quintais, mas pergunto ao Criador que fez a gente, por que assim tão diferentes para sermos iguais? (in Raizes Caboclas – Missa Amazônica, faixa 12). O mundo despontava para momentos Ecos, a 92 aconteceria no Rio de Janeiro, e muitos artistas amazônicos fizeram ecoar os sons da floresta, chamando atenção para a nobreza de conservá-la, alertados de uma preocupação simbólica com o desmatamento, o tráfico, a exploração indiscriminada da fauna e da flora e a preservação do caboclo, do índio, dos ribeirinhos e de suas formas extrativistas (e sustentáveis) de viver e conservar.
O tema permanece e continua atual! A importância do canto, do ato e da arte amazônicos significava um despertar para as belezas do lugar e para o simbolismo de despontar no momento ecológico que aflorava no mundo, notificando a dimensão de um lugar e de seu alcance planetário. E foi cantando essa (e nessa) aldeia, e foi rimando águas, florestas e gentes por dimensões à-f(l)ora, com seu jeito enraizado e com seu remo banzeirando os Rios Solimões e Javari, ao mesmo tempo fincados no chão da floresta, que o Grupo Raízes Caboclas, carregando no seu bojo influências ameríndias dos Alpes e dos Andes colombianos, peruanos, bolivianos, mas sem desprezar suas raízes indígenas, caboclas e ribeirinhas brasileiras, percorreu sua estrada sudoeste-amazônica, ou melhor, navegou por rios que beiravam sua aldeia de clima tropical chuvoso e úmido, perfazendo trechos, veredas e igarapés por quase 1700 Km, até chegar em outras plagas e alcançar longínquos rincões, com seu canto e com seu jeito peculiar, para fazer-se compreender sua linguagem e sua performance e para comungar a Terra e o clima quente de outros lugares, com outros seres planetários e universais, carregado dos seus labores e de suas forma de expressão.
Eis o Raízes Caboclas, com o som dos seus 12 álbuns autorais encantantes dessa região tão rica, tão singular e tão universal, historicamente.

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