terça-feira, 29 de março de 2016

                                                   Lunildes

Lunildes de Oliveira Abreu nasceu no município de Pirenópolis-GO no dia 12 de dezembro de 1953. O despertar pela arte veio ainda na infância, quando recolhia telhas velhas para pintar. Já adulta conheceu o trabalho de Maria de Beni (1919-1984), uma importante artista goiana, que se dedicava a reproduzir em cerâmica os personagens da cavalhada de mouros e cristãos, encenada todos os anos na Festa do Divino de Pirenópolis. Maria de Beni deixou vários seguidores, dentre eles a mais conhecida, Lunildes de Oliveira Abreu

Lunildes trabalha com arte há muitos anos. É profunda conhecedora da cultura e das tradições de Pirenópolis, onde encontra inspiração para produzir suas peças. Além dos mouros e cristãos da cavalhada da Festa do Divino, produz caras de boi de vários tamanhos, enfeitadas de flores de cerâmica, estandartes e pombas do Divino. A arte de Lunildes é conhecida internacionalmente e seu trabalho já foi exposto em importantes galerias de arte e em museus, como o Museu Casa do Pontal (Rio Janeiro, RJ).


Lunildes, cavaleiros mascarados, cerâmica policromada. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

Lunildes, cavaleiro mouro, cerâmica policromada. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

Lunildes, cavaleiro (detalhe), cerâmica policromada. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.

Lunildes, cavaleiros mascarados, cerâmica policromada. Foto: Sergio Araújo.

Lunildes, cavaleiros mascarados (detalhe), cerâmica policromada. Foto: Rômulo r,Propos

segunda-feira, 21 de março de 2016


Mote dos Poetas : Valdir Teles & Fenelon Dantas 
Glos
a: Nivaldo CruzCredo
O sol nasce mais bonito
Lá por cima da caatinga,
O orvalho que respinga
Gotas com seu gabarito,
O voar do periquito
Pelo céu na amplidão,
O verão é mais verão,
É beleza de todo lado,
Quer Ver Um Reino Encantado,
Passe Um dia No Sertão!
Meio dia lá no lajedo,
Corre calango e lagartixa,
O bode velho de barbicha,
Debuia o seu segredo,
Pula e berra de dar medo
Parece ter parte com cão
Mas é só mesmo impressão,
Quer botar ordem no cercado,
Quer Ver Um Reino Encantado,
Passe Um dia No Sertão!
O gado lá na pastagem
Come e berra de dá gosto,
Já na seca é o oposto,
Sem achar se quer ramagem
Perdem mesmo a coragem
O berro é só lamentação
Que se tranforma em oração,
Aí a chuva cai um bucado,
Quer Ver Um Reino Encantado,
Passe Um dia No Sertão!
De noite é rasga mortalha,
Que ritmeia toda a terra,
Menino de medo berra,
Puxa da mesa a toalha,
No chão tudo se espalha,
Quase quebra o lampião,
A mãe dá logo um carão,
Ele fica mais assombrado,
Quer Ver Um Reino Encantado,
Passe Um dia No Sertão!
Xilogravura “Amanhecer no Sertão” autor desconhecido. 

sábado, 19 de março de 2016

sexta-feira, 18 de março de 2016


                       Manoel Xudu Sobrinho

, Manoel Xudu, conforme Zé Marcolino, um cantador de versos fáceis, nasceu na cidade paraibana de São José do Pilar, aos 15 de março de 1932. Foi uma pessoa humilde, tratável e considerava todo cantador maior do que ele.
A análise descritiva da poesia Xuduziana é tão profunda, que nos surpreendemos sempre com a riqueza de detalhes dos seus versos. Parece que estamos vendo os quadros poéticos pintados pela genialidade de Xudu. Admirado pelos colegas de viola e por todos os amantes da arte do improviso, tinha como marca registrada a humildade, que o tornou maior ainda, tanto como poeta, quanto como homem honrado que era.
Da Antologia Ilustrada dos Cantadores colhemos as seguintes sextilhas:
Xudu cantava com determinado companheiro sobre as coisas sertanejas. O colega falando do comportamento do touro diante do perigo:
O touro fica de guarda
Só rodeando a malhada.
Xudu:
Uma novilha amojada
Ao se apartar do rebanho,
Quando volta, é com uma cria
Que é quase do seu tamanho;
Ela é quem lambe o bezerro,
Por não saber lhe dar banho.
Prosseguindo, o parceiro fala do porte avantajado dos animais de sua terra:
Não exagero o tamanho
Dos bichos do meu sertão:
Existe, lá, cada bode
Maior do que um caminhão,
Que o chifre encosta nas nuvens
E a barba arrasta no chão.
Xudu foi mais realista, exaltando os animais que sua terra cria:
Carneiro do meu sertão,
Na hora em que a orelha esquenta,
Dá marrada em baraúna
Que a casca fica cinzenta
E sente um gosto de sangue
Chegar à ponta da venta.
Estrofe de Xudu, que me foi passada pelo poeta Luís Homero, filho de Zé de Cazuza:
Vê-se o sertanejo moço
Com três meses de casado;
Antes de ir pro roçado,
Da mulher, beija o pescoço.
Ela lhe traz, no almoço,
Uma bandeja de angu,
A titela de um nhambu,
Depois lhe abraça e suspira.
O sertanejo admira
As manhãs do Pajeú.
Do livro Poetas Encantadores, de Zé de Cazuza, retiramos os seguintes versos do mestre Mané Xudu:
Na deixa de um parceiro de cantoria:
Eu gosto da claridade
Do olho do pirilampo
Xudu improvisou:
O meu amor pelo campo,
Cada vez mais, continua.
Eu não troco a claridade
Embaraçada, da lua
Pelas lâmpadas de mercúrio
Que clareiam aquela rua.
Outra deixa:
Pra tão longe a ave voa,
De volta, não erra o ninho.
Xudu arremata:
A arte do passarinho
Nos causa admiração:
Prepara o ninho no feno,
No meio, bota algodão
Para os filhotes implumes
Não levarem um arranhão.
O genial Manoel Filó fala de sua admiração pelo repentista:
Com vate do teu tamanho,
Eu nunca tinha cantado.
Xudu retribui o sincero elogio:
Com você canto apertado
Que só cobra de cipó.
Que, com três dias de fome,
Tenta engolir um mocó,
De tanto forçar a boca,
Finda estourando o gogó.
Com Furiba, que lhe dá a deixa:
Cisca o pinto, no terreiro,
Numa manhã que serena.
Xudu:
Uma galinha pequena
Faz coisa que eu me comovo:
Fica na ponta das asas,
Para beliscar o ovo,
Quando vê que vem, sem força,
O bico do pinto novo.
Com Job Patriota cantando numa cidade do sertão, este referiu-se à diferença entre o povo sertanejo e o brejeiro:
Do sertanejo, o costume
Difere daquele povo.
Xudu:
Lá, brigam até por um ovo
Que acham na camarinha,
Já aqui, uma raposa,
Quando pega uma galinha,
Leva pra dentro da toca,
Cria a ninhada todinha.
Discorrendo sobre a natureza, o repentista nos brinda com mais esta obra-prima:
Tem coisa na natureza
Que olho e fico surpreso:
Uma nuvem carregada,
Se sustentar com o peso,
De dentro de um bolo d’água,
Saltar um corisco aceso.
Glosando nos motes:
Chapéu de couro, o retrato
Do vaqueiro do sertão.
É uma bola de ouro
Pra todo humilde vaqueiro,
Que ganha do fazendeiro,
Um belo chapéu de couro.
Conduz aquele tesouro
À noite, para o colchão;
Para, na escuridão,
Não ser roído do rato.
Chapéu de couro, o retrato
Do vaqueiro do sertão.
Salta fogo das nuvens de momento,
Cai a chuva na terra, o trovão zoa.
Quando Deus, que é juiz pra todo jugo,
Molha as terras sedentas e vermelhas,
O corisco por cima abala as telhas,
Cai a água, me molho e me enxugo.
Vê-se um sapo escanchado num sabugo,
Como um cabra remando uma canoa...
Sai cortando as maretas da lagoa,
Chega os braços parecem um cata-vento.
Salta fogo das nuvens de momento,
Cai a chuva na terra, o trovão zoa.
É, bonito, é saudoso, é natural
O cenário do campo sertanejo.
No sertão, todo dia, bem cedinho
Vê-se um galo descendo do poleiro,
Um cabrito berrando no chiqueiro,
No terreiro, fuçando, um bacorinho.
Um preá sai torcendo o seu focinho,
Como um cego tocando realejo;
Na cozinha, uma velha espreme o queijo,
Um bezerro pulando no curral.
O retrato do corpo natural
É a veste do homem sertanejo.
Um bueiro, mal feito, fumegando,
Representa o sertão de antigamente.
Um ferreiro suado numa tenda,
Agarrado no cabo da marreta,
Consertando algum dente da carreta
Que quebrou e precisa duma emenda;
Um crioulo no pé duma moenda,
Já um pouco queimado de aguardente;
O bagaço espirrando pela frente
E uma bica de caldo derramando,
Um bueiro, mal feito, fumegando,
Representa o sertão de antigamente.
De acordo com o livro Mané Xudu – O Imortal do Repente (Halley S.A.Gráfica e Editora,1996 – Teresina/PI), do poeta e escritor Pedro Ribeiro, seguem as seguintes estrofes do gênio:
O extraordinário repentista assim externa sua própria maneira de versejar:
O meu verso é como a foice
De um brejeiro cortar cana.
Sendo de cima pra baixo,
Tanto corta, como abana,
Sendo de baixo pra cima,
Voa do cabo e se dana.
Xudu e Diniz Vitorino pelejavam, quando este lhe dá a deixa:
Ponho sebo no cocão
Para o carro não cantar.
Remexendo nas cavernas do juízo, Xudu dispara:
E o boi tristonho a puxar
O carro pela rodagem,
De tanta fome e de sede,
Chega a lhe faltar coragem,
Se vendo a listra de lágrimas
Correr na cara selvagem.
Numa cantoria com Sebastião da Silva, em Timbaúba/PE, o grande repentista observa um detalhe somente conhecido pelo sertanejo:
Botei espora nos pés,
Pulei em cima do bicho,
Entrei na mata fechada
Coberta de carrapicho,
Dando manobra na sela,
Chega rangia o rabicho.
Notável observador da natureza, onde suas estrofes são retratos da paisagística sertaneja, Xudu refere-se à vaca leiteira:
São quatro peitos roliços
Que, unidos, fazem cama.
Todos quatro são furados
E o leite não se derrama,
Mas sai com facilidade
Depois que o bezerro mama.
Outras estrofes extraordinárias desse repentista admirável:
O ligeiro mangangá
Passa, nos ares, zumbindo;
As abelhas do cortiço
Estão entrando e saindo,
Que, de perto, a gente pensa
Que o pau está se bolindo.
A raposa arrepiada
Se aproxima do poleiro,
Espera que as galinhas
Pulem no meio do terreiro;
A que primeiro descer,
É a que morre primeiro.
Feliz está o vaqueiro
Ordenhando a vacaria;
Já bebeu o leite quente,
Comeu da coalhada fria
E quando sai para o campo,
Canta, aboia e assovia.
O ‘imortal do repente’ faleceu no ano de 1985, em Salgado de São Félix, onde residia




terça-feira, 15 de março de 2016