domingo, 30 de outubro de 2011


                   


                JOSÉ DE ALENCAR EM VERSOS

Guethner Wirtzbiki,este é o nome de pia do destinto que fez uma releitura em versos de cordel do romance Iracema ,de José de Alencar.Gadelha do Cordel,nome popular do artista cearense que fez adaptação do tradicional romance para a linguagem dos cordéis. Escritor do gênero desde 2004,gadelha decidiu produziro livro de 167 estrofes para homenagear a fundação do estado do ceará. A escrita fluida e fácil de Alencar facilitou a adaptação da obra a partir do original. A referência rígida do romance as vezes é traída de modo positivo,quando abandona a referencia do romance para ampliar as possibilidades de estilo ofertadas pelo gênero cordel. Iracema em cordel,é mais um titulo que  Gadelha opta por lançar em formato de livro,substituindo o popular padrão 11 x 16cm. Para o autor,apesar de o nome do cordel ter estreita relação com aforma como é publicado,o gênero é muito mais amplo, não devendo permanecer amarrado ao frágil folheto. Segundo Klévisson Viana,um dos principais nomes do cordel cearense,as adaptações de romances para os versos existiram desde os primórdios da literatura de cordel, segundo ele,uma das  primeira obras a ser publicado em cordel foi  " História de Dona Genevra",no século XIX,que é uma releitura de um episódio do Decamerão.Apenas no século XX  se instituiu uma separação relativamente rígida entre  o popular e o erudito. Antes disso ,os autores ditos  rebuscados se inspiravam nos causos populares e vice-versa. A obra de Miguel de Cervantes é um exemplo.Foi feita a partir de novelas populares e hoje se diz que é um livro "clássico."

sábado, 29 de outubro de 2011

     
  MESTRE CHICO E O BOI PAI DO CAMPO 




 Francisco das Chagas Rocha, o Mestre Chico, é morador da localidade de Faceira, em Limoeiro do Norte,microregião do baixo Jaguaribe,no vale do rio jaguaribe,no sertão do ceará.Ele nasceu em  20 de maio de 1959 e começou a brincar o Bumba-Meu-Boi aos 10 anos de idade, ao lado do pai, o Mestre Zé Nogueira, e do seu tio, o reconhecido Mestre João Caboclo. Mestre Chico conta que eles aprenderam a brincadeira com uma companhia da Bahia que passou por lá na década de 20 do século passado. Foi aí que surgiu o Boi Pai do Campo de Faceira, que já completou 80 anos de tradição. Mestre Chico assumiu o posto de seus familiares e hoje é um profundo conhecedores dessa cultura.O Boi é um  Folguedo popular, que no estado do ceará,principalmente na região  de Sobral faz parte do ciclo junino, encontrado com variantes em todo o Brasil, tendo por episódio central a morte e ressurreição do Boi."                                                   

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

                                                      

            MESTRE CACAU DO PANDEIRO

         O virtuoso músico Carlos Lázaro da Cruz(nome de batismo), respeitosamente chamado Mestre Cacau do Pandeiro,nasceu em Salvador,capital da Bahia,em 1929 no dia de São Lázaro. Ícone da musica brasileira, fez história seguindo os passos do seu pai, Aloísio Rafael, que tocava o pandeiro equilibrando um copo de cachaça na cabeça. Nascido e criado na Vila Matos, Cacau é motivo de orgulho para o bairro do Rio Vermelho, para a Bahia e para o Brasil.Com o DNA musical no sangue o grande mestre do Pandeiro, que também é compositor, encantou platéias, acompanhou importantes interpretes da Música Popular Brasileira, a exemplo de Elizete Cardoso, Ângela Maria e Jamelão. Tocou em grandes orquestras nos anos dourados e embalou multidões e ainda hoje é procurado por alunos de várias partes do mundo, interessados em conhecer a arte de tocar pandeiro. Aos 81 anos,o grande mestre segue a vida tocando seu instrumento pelas ruas do bairro do Rio Vermelho,e sempre  puxando o bloco Lero-Lero, que ajudou a fundar há 71 anos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

                                                          

         
                             Orquestra de Tambores de Alagoas

 Percutir tambores repercutindo misturas. A Orquestra de Tambores de Alagoas é uma sintonia de ritmos, cores, timbres e sentimentos. Através de uma intensa pesquisa das raízes rítmicas afro-brasileiras e das manifestações folclóricas, o grupo apresenta um verdadeiro resgate de valores da cultura do nordeste do Brasil, integrado a fragmentos da música contemporânea e efeitos sonoros experimentais.

Desde 1989, o músico, artesão e coordenador da orquestra, Wilson Santos, vem pesquisando os ritmos afro-brasileiros. Porém, nos últimos dois anos, passou a direcionar suas pesquisas para a influência destes ritmos nas manifestações folclóricas nordestinas.Dentro deste contexto, surgiu a Orquestra de Tambores de Alagoas, em novembro de 2004, a partir da união de percussionistas experientes e alunos das oficinas de percussão e confecção de instrumentos, ministradas por Wilson Santos.




domingo, 23 de outubro de 2011

                                    Divulgação
     


João Paulo e Barachinha 
Mestre Barachinha e João Paulo são primos e considerados com unanimidade como dois dos melhores mestres de maracatu rural da nova geração em atividade na zona da mata norte pernambucana.Vem desde  menino o envolvimento dos dois com as manifestações culturais,participando de Cavalo Marinho e Maracutú de baque solto.A dupla também participou de alguns banco de Cavalo Marinho(Orquestra) . A colaboração da dupla para a gravação de um CD,produzido por Siba Veloso(ex-Mestre ambrósio),numa coletanea com  os principais artistas do folguedo popular da zona canavieira, quebra um acordo mútuo de nunca se enfrentarem para não acirrar diferenças familiares com a disputa e inaugura uma postura de dupla profissional até então inédita na tradição do maracatu, que sempre prezou pela convivência em constante desafio de loas.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

 







                                           

 MESTRE  ANTONIO PINTO DA RABECA

Antonio Pinto Fernandes, nascido no Sitio Cobra, Aurora em 18 de Outubro de 1922, é agricultor, carpinteiro e luthier. Reside na Cidade de Aurora, no Cariri Cearense, é casado com dona Galega, ou como é mais conhecida “Dona Galega do Carvão”, por seu trabalho de vendedora de carvão.
Homem engenhoso e criativo por necessidade e por natureza.
Seu pai José Pinto Fernandes, pedreiro e também carpinteiro, além de muitas outras artes, dominava o ofício de fazer e tocar rabeca. Possuía uma pequena forma, que servia de molde para fabricar os instrumentos. Com uma das rabecas feitas pelo pai, mestre Antonio, ainda criança, foi pro mato munido apenas de um facão (nada adequado para sua idade), e lá aprendeu a construir suas rabecas. Foi aperfeiçoando seu ofício de forma intuitiva, utilizando o que tinha nas mãos e por vezes “emprestando” as ferramentas do pai.
A Rabeca
Mestre Antônio morou por um período em Minas Gerais, e apesar de dizer que não conheceu rabequeiros por lá, suas rabecas possuem uma semelhança muito grande com as produzidas naquele Estado no que diz respeito ao tamanho e formato. Algumas peculiaridades também diferem suas rabecas das demais encontradas no Ceará, como por exemplo, o estandarte feito de chifre de boi, ou o rabicho (peça que prende o estandarte) feito de metal de maçaneta de porta.  Na região do Cariri normalmente o estandarte é feito de madeira e o rabicho de corda, arame ou couro.
Suas ferramentas são uma obra de arte a parte: ele mesmo as constrói e as reinventa, adequando às suas condições e necessidades. Um bom exemplo é de uma máquina de costura velha que ele desmontou e fez uma tico-tico (foto ao lado), trocando a agulha por uma lamina de cortar madeira; ou uma lixadeira feita a partir de uma lata cheia de furos presa à um motor de enceradeira. Ainda utiliza facas velhas e tesouras que passam a ter outras funções na sua oficina.
A madeira usada por ele é o cedo. Suas rabecas são de “cocho”, possuem alma e tem 4 cordas (de aço para violão). Pode ser considerada grande, tanto no comprimento (62 cm) quanto na largura do corpo, tendo como características um som cheio e grave. As cravelhas e o cavalete são de madeira escura e dura. A lateral é cortada com sua tico-tico, formando uma peça única; o tampo superior é cavoucado com formão até ficar com o formato abaulado; a voluta de seu instrumento é esculpida com uma pequena tesoura ou faca velha; os arcos possuem uma cravelha na parte inferior para regular a tensão da crina (utiliza a crina de cavalo).
Tem preferência pela cola de couro, mas devido à dificuldade encontrá-la, atualmente usa cola branca. O acabamento é dado com verniz sintético ou goma laca também chamado de “casca de barata”.
O Mestre já foi um exímio tocador, levantando poeira no baile até o dia amanhecer. Hoje quase não toca, mas depois de alguns pedidos ele ainda arrisca uns forrós. Ganhou o título de “Mestre da Cultura” concedido pelo Governo do Estado do Ceará.
Alguns de seus filhos moram em Juazeiro, empregados numa madeireira. Lidam diariamente com a mesma matéria prima usada por Mestre Antônio, mas nenhum deles seguiu os passos do pai.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011


EXPEDITO FERRUGEM

O advento da ferrovia nos anos secenta, trouxe esperança e prosperidade  para as  comunidade até então isoladas do Salgueiro e do sertão central de pernambuco.Porém ,bem distante do evento contemporaneo da transnordestina logistica,com sua super estrutura. O ramal:Serra Talhada/Salgueiro,que então seguiria para o cariri cearense,colocou  o sertão central na rota do desenvolvimento. Mas,quis o destino e as ordens dos homens que a então nova  ferrovia pontificasse seu trajeto e sua história,nas terras dominadas pelo então todo poderoso e progressista Coronel Veremundo Soares.E assim, a Construtora Camilo Collier deu a obra por concluida nessa terra. A locomotiva movida a diesel da Rede Ferroviária do Nordeste,começou a fumegar na rota dos sertões, fazendo o itinerário Recife/Salgueiro, e com ela veio a cadeia de serviços prestadas para o trem. Quase no final do ramal giratório,próximo aos armazens,na rua Francisco Correia ficava um dormitório,que também prestava outros serviços como restaurantes,era a "Pensão de Joaquim Raimundo",Caboclo sertanejo,magro e alto, Seu Joaquim tinha uma prole numerosa prá criar, e se virava como podia. Um dos rebentos de Joaquim Raimundo,Expedito,era um caboclo de olhos claros,boêmio convicto,e tocador de fole "pé de bode." Logo cedo encontrou pela frente uma vida de muito trabalho e sacrifício,alugando o seu automovel utilitário para transpostes de animais e outros fins.A vida não era mesmo fácil,e Expedito encontrou naquele pequeno instrumental de origem Germanica de oito baixos,o lazer que também necessitava. E ai saiu por aí tocando seus oito baixos nos "sambas matutos" nas poucas folgas que teve pela vida. Depois de muito tempo,com a idade já avançada,um programa  da Secretaria de Cultura do municipio tirou Expedito Ferrugem e outros tocadores de oito baixos do anonimato.Expedito participou de todos os festivais da sanfona de Salgueiro,como também faz parte da programação oficial das festividades juninas do municipio,tendo como alguns dos palco a Estação do Forró,no pátio de eventos da antiga estação de trem da extinta rede ferroviária.Expedito não fez de rogado e resolveu puxar o fole sertão afóra,levando para as novas gerações a arte de tocar um instrumento pequeno e complexo que apesar da origem européia,muito se identificou com o povo nordestino,trazendo a alegria tão necessária a esse povo que vive de desáfios sem fim,assim no tom e no som dos oito baixos  esse caboclo sertanejo vai fazendo a alegria do seu povo e a história do seu tempo.   

sábado, 8 de outubro de 2011

                                            
                                                             

NÊGO D'AGUA,LENDA DO RIO SÃO FRANCISCO



Há quem afirme de viva voz que já viu aquela figurinha atarracada de cabeça grande e olho no meio da testa. O "nego d'água" que habita nos locais dos rochedos do meio do rio, como também escava suas covas na base do barranco da beira do rio, o que provoca tombamento do mesmo. Para afugentá-lo desses locais que terminava alargando o rio, os beiradeiros jogam nesse ponto cacos de vidro, que amedrontam o caboclo d'água. Apesar de viver também fora d'água ele nunca se afasta muito da beira do rio. Quando não gosta de um pescador, afugenta os peixes, tange-os para longe da rede de pesca. Como a caipora, adora fumo, costume que faz com que os pescadores atirem fumo a água para cair nas graças do negrinho que gosta desse agrado, costuma aparecer nas casas de farinha das ilhas ou dos barrancos e noite de farinhada, comumente depois que os trabalhadores se acomodam para dormir, passeando entre os que estão adormecidos, para roubar-lhes fumo ou beiju. em personagem encantada transformando-se em outro animal ou objeto. Um pescador contou que pescava a noite quando percebeu um vulto de um animal morto boiando na correnteza. Remou apressadamente em direção ao animal, percebendo ao se aproximar que se tratava de um cavalo, e aí tentou encostar a canoa para verificar a marca ou ferro, para avisar ao dono, quando o animal afundou e logo em seguida, a canoa foi sacudida, percebendo o pescador que um nego d'água agarrado à borda da embarcação tentava virá-la.Nesse instante lembrou-se o pescador que trazia um pequeno pedaço de fumo, que imediatamente atirou para o neguinho que dando cambalhotas, desapareceu no fundo das águas. Alguns dizem que existe apenas um nego d'água em todo o rio, outros dizem que são muitos. O fato é que o nego d'água, povoa a imaginação de todo menino beiradeiro, o que sossega os corações das mães, pois a noite os pequenos só se aproximavam da água acompanhados por adultos.O fato de ter ficado por longo período isolado desenvolveu, no são franciscano, suas crendices e medos dentro do seu próprio universo. Nada trazido de outras regiões. A maioria dos duendes, bons ou maus, são ligados a água, da qual fazem seu habitat.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

           
  CARRANCAS DO SÃO FRANCISCO                                               




Já não se encontram mais nas proas das embarcações são-franciscanas as célebres carrancas - uma das mais genuínas e enigmáticas manifestações da arte popular brasileira -, cuja forma predominantemente zooantropomorfa se mostra de uma originalidade sem similar na história das navegações. Mesclando detalhes humanos com os de animais, destes sobretudo a generosa cabeleira à semelhança de uma juba de leão, elas apresentam em geral uma expressão de ferocidade. São feitas de um único tronco de madeira e retratam apenas a cabeça e o pescoço de alguma figura mitológica indeterminada.  Enquanto as carrancas desaparecem das embarcações, paradoxalmente sua produção apresenta um visível crescimento, algumas esculpidas ainda por autênticos artistas primitivos, mas também grande parte delas feitas sob encomenda por imitadores com o objetivo de comercialização, destinando-se à venda aos turistas que vêm descobrindo nos passeios pelo rio São Francisco uma nova e atraente opção de lazer. Nem faltam contrafacções executadas em barro, desvinculadas, portanto, da tradição das genuínas figuras de proa. As carrancas transformaram-se, assim, em disputados objetos de decoração, fato que tem, aliás, o mérito de não deixar morrer a lembrança dessas curiosas esculturas, cujos exemplares históricos de notável valor encontram-se hoje bem longe das águas do rio, quase totalmente em mãos de colecionadores ou fazendo parte do acervo de museus brasileiros e do exterior. A presença de carrancas nas embarcações do São Francisco surgiu aproximadamente há um século, pois datam de 1888 as primeiras referências a elas, em obras de Antonio Alves Câmara e de Durval Vieira de Aguiar", delas não se encontrando a menor citação no minucioso relatório de Halfeld em 1860, mesmo quando esse autor se detém a descrever detalhadamente os diversos tipos de embarcação encontrados nos três anos em que viajou pelo rio. A origem das carrancas parece ter por base interesses eminentemente comerciais. Devido à dependência das populações ribeirinhas em relação aos suprimentos transportados pelo rio, era natural a disputa de prestígio por parte dos proprietários das embarcações, do que resultariam sem dúvida uma freguesia maior e maiores lucros. A originalidade evidente do primeiro enfeite de proa teria, assim, despertado logo a emulação dos demais proprietários, os quais viriam a estimular a confecção e o desenvolvimento de carrancas também para fazer frente à concorrência dos vapores que começavam a sulcar o grande rio. Paulo Pardal, autor da mais completa monografia sobre essa arte popular do São Francisco, perfilha a idéia de que a disputa comercial generalizou o uso das carrancas, mas não crê ser isso a razão do surgimento da primeira. No seu entender, os motivos foram apenas "os de prestígio e indicação de propriedade, por imitação de carrancas antropomorfas, vistas por algum fazendeiro do São Francisco, em navios aportados no Rio de janeiro ou em Salvador. Para que, ao longe, os ribeirinhos identificassem a barca pelo busto de seu poderoso proprietário à proa". De ornamento das barcas passou-se também a atribuir a essas curiosas figuras de proa a função mágica de afugentar maus espíritos - atribuição devida não só a uma pequena minoria de ribeirinhos, pois a maioria dos barqueiros prefere desconhecer semelhante opinião, mas também a narradores fantasiosos, que encontraram na função totêmica uma fácil explicação para a obscura origem de tal manifestação espontânea da arte popular. As carrancas do São Francisco constituem, como bem observa Paulo Pardal, "uma manifestação artística coletiva, com caracteres comuns, respeitadas as individualidades de cada artista, como não se encontra em nenhum outro local ou época. Fruto da criação de uma cultura e de uma região isoladas do resto do País e do mundo, cujos artistas populares, a partir da idéia de esculpir uma figura de proa, criaram soluções plásticas próprias, de elevado conteúdo artístico e emocional, que provocam um verdadeiro impacto. " Dos carranqueiros do São Francisco, o mais notável foi Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany, que em mais de meio século de produção esculpiu uma profusa quantidade de peças e revelou-se, em cada uma, um artista de refinada sensibilidade e criador de soluções originais. Nascido em 1884, na cidade de Santa Maria da Vitória, na Bahia, Guarany nunca deixou por longo tempo a cidade natal, tendo aí esculpido sua primeira carranca exatamente em 1901. Sua fecunda produção apresenta a característica, entre outras que não cabe considerar, de atribuir a cada peça um nome original e próprio, baseado muitas vezes em animais pré-históricos, na mitologia indígena ou apenas em sua rica imaginação: Galocéfalo, Chipam, Medostantheo, Igatoni, Capelobo, Curupema, Aratuy, Salaô, Melozán, Zezê, Caipora, Pirajá e tantos outros. Guarany, pode-se afirmar, foi o único profissional no gênero, pois, embora diversos misteres tenham-lhe tomado boa parte do tempo, a produção de carrancas permaneceu constante ao longo de sua vida.O mesmo já não acontecia com os demais, que, mesmo tendo criado peças de inegável valor artístico, nunca mantiveram maior regularidade de produção nem puderam viver exclusivamente desse trabalho. Cite-se, por exemplo, Davi Miranda, conhecido escultor de carrancas em Pirapora e autor de belíssimas, peças; carrancas, só durante as horas vagas. Em sua destinação primitiva de figuras de proa, as carrancas restringem-se a um curtíssimo período histórico - menos de um século -, constituindo, portanto, também sob esse aspecto, uma manifestação artística excepcional. 0 que resta agora são extrapolações ou variações em torno o mesmo tema - que não lhes diminui necessariamente - o valor, pois não faltarão, para essa nova idade das carrancas em que se tornou dispensável o batismo das águas do rio, soluções originais que evitem o esvaziamento de seu conteúdo artístico.






quinta-feira, 6 de outubro de 2011

                                                                                                                    

RIO  SÃO FRANCISCO 510 ANOS




Outro episódio que gravou a história do São Francisco foi a Confederação do Equador. À época, o Estado de Pernambuco se estendia até o rio Carinhanha. Sufocada a rebelião, o império castigou Pernambuco, tomando-lhe as terras desde Sobradinho até o rio Carinhanha, e entregando a Minas para administrar, quando corria o ano de 1817, que em 1827, por dificuldades administrativas, foi entregue à Bahia. Apos a Proclamação da República, quando da nova divisão territorial do País, a área foi definitivamente incorporada à Bahia.Pernambuco nunca se conformou com essa perda e até há bem pouco tempo, o Capítulo das Disposições Transitórias da Constituição do Estado, rezava que Pernambuco considerava suas as terras da antiga província do São Francisco. Após não conseguir reaver as terras, Pernambuco apelou para a criação da Província do São Francisco. Em 1830, o Deputado pernambucano Luiz Cavalcanti, tentou aprovar o Projeto de Criação da Província. Em 1850 a bancada baiana também tentou a criação da Província e contava, para isso, com apoio das bancadas de Pernambuco e Piauí. A Bahia, novamente em 1866, levantou o Projeto, mas segundo os historiadores registram, a Guerra do Paraguai, como tema mais importante, terminou por suplantar aquela iniciativa que se esvaziou.A Fala do Trono, de Maio de 1873, recomendava a criação da Província, por inspiração do Barão de Cotegipe, João Mauricio Wanderlei, e teve num ribeirinho, o Senador Fernandes da Cunha, um dos seus opositores, ajudando a derrotar a idéia do Senador.Segundo Lacerda, "o pasto invadiu tudo, e o São Francisco foi desde então o "rio dos currais". Depois do índio que ateava fogo às florestas para fazer sua pequena fogueira, veio o colonizador e ampliou os processos de destruição da mata. O regime pastoril favoreceu extraordinariamente essa destruição sistemática''. A exploração mineira "atacou fundo a terra, escarificando-a nas explorações a céu aberto; esterilizou-a com o lastro das cupiaras; feriu-a a pontaços de alvião; degradou-a, corroendo-a com as águas selvagens das torrentes; deixou, aqui e ali, em toda parte, para sempre estéreis ... as grandes catas vazias e tristonhas". Eis como se refere Euclides da Cunha ao processo de mineração. E assim se fez o São Francisco, numa ocupação desordenada, aventureiros e pobretões à busca do enriquecimento; fugitivos da justiça que ali se escondiam; escravos fugitivos em busca de liberdade, tudo isso administrado pelos senhores do rio, descendentes de fidalgos portugueses ou seus protegidos. Como já vimos, passou quase um século sem qualquer contato e, no Segundo Império, passou a ser alvo das atenções da administração central. O Imperador Pedro II encomendou ao Engenheiro Henrique Halfeld um estudo do trecho do São Francisco, da cidade de Pirapora até o Oceano Atlântico. Halfeld efetuou esse trabalho em três anos -1850 a 1852, e deixou o primeiro documento técnico sobre o São Francisco, intitulado Atlas Concernente à Exploração do Rio São Francisco desde a Cachoeira da Pirapora até o Oceano Atlântico - 1850, 1851, 1852. Desejava com esse estudo, o Imperador, possibilitar o transporte, pelo rio, intercalando com o mar, uma vez que pequenos navios poderiam, de Penedo, prosseguirem até a foz e, costeando o litoral brasileiro, abastecer as cidades litorâneas com os produtos do São Francisco, e em retorno abastecer as cidades do São Francisco e do interior nordestino com os produtos do sul, e das cidades litorâneas, principalmente manufaturados. Para transpor a Cachoeira de Paulo Afonso, mandou o Imperador construir uma Estrada de Ferro, ligando a cidade de Piranhas, em Alagoas, a Petrolândia, em Pernambuco.Posteriormente, em 1880, o Conselheiro Cansanção de Sinimbu encomendou ao engenheiro americano Robert Milnors, um estudo do São Francisco, também sobre navegação. Nessa viagem, participou o Engenheiro Teodoro Sampaio, que no retorno se desligou da comitiva, e no porto de Malhada contratou uma tropa, com guias, e percorreu todo o interior do Médio São Francisco em direção leste, transpondo a Chapada Diamantina, alcançando a cidade de Cachoeira, no recôncavo da Bahia, onde embarcou no navio que faz esse percurso, chegando a Salvador.Teodoro Sampaio nos legou, dessa viagem, um relatório onde se esmera no detalhe descrevendo a região.Além dessas ações, somente estudiosos e naturalistas marcam o interesse pelo São Francisco. Do período republicano, notadamente o primeiro período, a chamada Primeira República, que vai de 1889 a 1930, a única coisa relevante foi a instalação da navegação a vapor.Essa iniciativa colocou as cidades do Vale em uma dinâmica diferente da usual, pelo ativo comércio, feito por 42 navios a vapor, que pertenciam a três companhias, sendo duas estaduais e uma privada.A Segunda República volta-se para o São Francisco somente no final da Ditadura de Vargas, quando da Segunda Guerra Mundial, assim que descobriu a importância do São Francisco como o caminho mais seguro para o transporte de tropas. Nesse período, algumas somas foram destinadas a trabalho de desimpedimento do rio, para fluir mais facilmente a navegação. Também no final da Ditadura Vargas foi criada a CHESF, para explorar o potencial energético do rio.Após a queda de Vargas, com a redemocratização do país, a nova Constituição, promulgada em 1946, no seu capítulo das Disposições Transitórias, Art. 29, destinou 1% da receita da União para ser aplicado no São Francisco, com vistas ao seu aproveitamento integrado. Coube ao Governo Dutra sancionar a Lei, Nº 541, de 15 de Dezembro de 1948, que regulamentando o Art. 29 das Disposições Transitórias da Constituição, criava a Comissão do Vale do São Francisco, instituição que teria vida pré-determinada de 20 anos.




quarta-feira, 5 de outubro de 2011






OS PRIMEIROS RIBEIRINHOS DO VELHO CHICO



 
Há informações que os piratas franceses e holandeses já tinham estado no Brasil antes do descobrimento, pois a madeira que lhe deu o nome já era conhecida na Europa, o chamado Pau Brasil, ou Pau-de-Tinta. Com certeza, por volta de 1526, aqui estiveram e na foz do São Francisco, tanto que uma pequena baia, próxima à foz, recebeu o nome de Porto dos Franceses. Nas proximidades, ocorreu um fato que aprendemos na escola primária, o naufrágio de uma nau que trazia Dom Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil, que, tendo escapado de morrer afogado, foi aprisionado e devorado pelos Índios Caetés que aí viviam. Esse episódio ocorreu em 1556. Viviam no São Francisco muitas tribos indígenas que os Tupis denominavam de Tapuias pois era assim que chamavam toda e qualquer tribo que não tivesse a mesma língua. Havia basicamente dois grupos distintos: os Tupis e os Gês.Pearson relaciona de suas pesquisas a documentos históricos, os seguintes grupos vivendo na Bacia do São Francisco:
Abaetés - nas margens do rio Abaeté
Tamoios e Cataguá - próximos à foz do rio das Velhas
Shacriaba - entre os rios Paracatu e Urucuia e no rio Preto
Acroás - no rio Corrente
Aricobé - no rio Grande
Tabajaras - no rio Paramirim
Amoipirá - na calha principal, onde hoje se situa a cidade da Barra
Tupiná - entre os rios Jacaré e Salitre, hoje município de Sento-Sé
Ponta e Massacara - logo abaixo da foz do rio Salitre, município de Juazeiro-BA
Tamanquim - frente à confluência do Salitre, em Pernambuco
Caripó, Caripós ou Kiripós - na margem do São Francisco, no município de Santa Maria da Boa Vista-PE, que, aliás, já foi chamado de Caripós
Trkás,Poria e Pancararus - no município de Cabrobó
Rodelas - na margem direita, logo abaixo dos Pancararus
Tushás e Poriás - na margem direita, mais abaixo de Rodelas
Onesques - no rio Pajeú
Pancararus - outro grupo do lado de Pernambuco, próximo ao rio Moxotó
Cariris - esses estavam disseminados nas ilhas, desde Orocó até o Estado de Sergipe
Huanoi e Chocós - próximos à foz do rio Ipanema, em Alagoas
Carapató e Fulniô - também em Ipanema
Chocós e Romari - na margem do rio, no Estado de Sergipe
Aconã - juntamente com Chocós, Natu e Carapató, também em Sergipe
Caxago - perto da foz do são Francisco, na margem direita, com os Tupinambás logo adiante, já à beira-mar
Boime - ao longo do litoral de Sergipe
Caietés - também ao longo do litoral de Alagoas
Os índios foram praticamente dizimados pelo elemento colonizador, por doenças, missigenação e pelas guerras.Em 1590, Cristovão de Barros entrou pela região que hoje é o Estado de Sergipe, até o Baixo São Francisco, estabelecendo um caminho que serviu aos futuros colonizadores e para defesa contra os franceses na foz do São Francisco.Duarte Coelho Pereira, que foi governador da colônia organizou uma expedição marítima que do mar entrou pela foz do São Francisco, tendo lutado contra os franceses que encontrou ali, fazendo escambo com os indígenas, e os expulsou. Nessa oportunidade, navegou algumas léguas rio acima.
Em 1560, um filho de Duarte Coelho, Duarte Coelho de Albuquerque, que foi o segundo donatário de Pernambuco, juntamente com Jorge, seu irmão, lutou cinco anos contra os caetés.Os bandeirantes estiveram também no São Francisco, contando-se principalmente Matias Cardoso, Domingos Jorge Velho, Domingos Sertão, Fernão Dias Paes, Borba Gato e Domingos Mafrense. Este último subiu alguns afluentes, chegando às nascentes do Parnaíba. Em sua homenagem, existe a Vila Mafrense, no município de Paulistana, no Piauí.No período da ocupação holandesa, o próprio Príncipe Maurício de Nassau esteve no São Francisco, tendo dominado a área alagoana, até Penedo, cidade que foi fundada em 1560.No começo do século XVIII o desbravamento do São Francisco já estava completado, por homens vindos de Salvador e Recife, tendo sido instalados alguns aldeamentos, aumentando o povoamento nas margens do rio. Para essa fixação, concorreu a descoberta de ouro em Jacobina, no Médio São Francisco, próximo à cabeceira do afluente Salitre, e pelo povoamento do Piauí, Maranhão e Ceará. Desenvolveram-se as fazendas de criação de gado. Da mesma forma, o Alto São Francisco a essa altura, estava também povoado pelas constantes rotas de penetração que se dirigiam a Goiás. Nessa rota, muitos se fixaram, ou na exploração de diamantes e ouro, ou na manutenção de fazendas de pecuária.João Leite da Silva Ortiz, auxiliar de Anhanguera, que em 1722 descobriu ouro em Goiás, terminou por parar no sítio onde hoje é a cidade de Belo Horizonte, montando uma fazenda na serra das Congonhas, sendo a sede no lugar que se chamava Cercado. Outros paulistas se fixaram no Alto São Francisco, fundando cidades que hoje trazem seus nomes.A descoberta de ouro em Goiás, por volta de 1700, provocou o povoamento do Alto São Francisco, que estava na rota entre São Paulo e essas minas.No Baixo São Francisco, segundo Pearson, o povoamento por parte dos portugueses foi dificultado pela formação de aldeamentos de escravos fugitivos da área de cana-de-açucar, que eram grandemente fortificados, enquanto o litoral era ocupado pelos holandeses (1630). O Quilombo dos Palmares foi o que mais resistência apresentou, por organização e liderança.A região do Médio, incluindo-se aí o Submédio São Francisco, que se estende desde a Cachoeira de Pirapora, em Minas Gerais, até a Cachoeira de Paulo Afonso, entre a Bahia e Alagoas, representa, de um modo geral o trecho navegável do rio, sendo que a navegação é mais ou menos franca, apenas em 1.371 km, no estirão realmente do Médio São Francisco, ou seja, desde Pirapora até Sobradinho, sendo que daí a baixo, até Paulo Afonso, ou seja, o Sub-Médio São Francisco, a navegação é dificultada pelas corredeiras constantes.A colonização dessa área foi efetuada em duas épocas distintas, tendo a primeira ocorrido quase um século antes da outra.Os primeiros estabelecimentos nesse trecho do São Francisco, iniciaram-se no extremo a jusante. Exploradores vindos de Olinda, que foi fundada em 1534, e de Salvador, em 1549, se aventuraram pelo Vale, na época, entenda-se que as dificuldades eram imensas, dado a agressividade de uma natureza virgem e a constante presença de tribos selvagens.Desses estabelecimentos, tem-se notícia de que um dos primeiros núcleos de colonização foi estabelecido em Bom Jesus da Lapa. Uma expedição vinda de Olinda, entre 1534 e 1550, adentrou a região, atingindo Lapa. Alguns anos depois, outra expedição, partindo de Salvador, aí esteve e, já na metade do século, um grupo de 200 homens fundou um estabelecimento e numerosas fazendas de gado.No final do século XVII a história registra a existência de uma fazenda de gado, próxima à atual cidade da Barra, que no passado foi o principal posto de abastecimento do Médio São Francisco.Um certo número de vilas cresceu ao longo dos caminhos percorridos por aqueles pequenos povoadores e pelos padres jesuítas, tendo construído pequenas igrejas e locais de culto, o que firmou a colonização. Mas essa parte do Vale não era muito favorável ao desenvolvimento rápido, devido às condições climáticas. Em cada ano a longa estação seca e a ocorrência de secas periódicas restringiam a localização dos colonos nas áreas próximas aos rios e a outros cursos d'água.Embora os novos estabelecimentos fossem fundados no século XVII, nenhum movimento efetivo de penetração ocorreu até o final do século XIX e início do século XX, mesmo hoje em dia, há locais que pouco diferem daqueles 150 anos passados. O Médio São Francisco é, portanto, o que mais permanece distante da civilização litorânea, tendo sido a menos colonizada, existindo aí, ainda, vastas áreas subdesenvolvidas.As extremidades do Médio São Francisco é que foram alvo de mais constantes presenças civilizadas.A foz, pela rota de navegação marítima, foi a primeira parte do Vale visitada pelos aventureiros portugueses, andando no rio já em 1522, apenas 22 anos após a descoberta do Brasil.Penedo, a 37 quilômetros da foz, foi o primeiro núcleo povoador das margens, fundada em 1522, por uma incursão bandeirante por aquelas paragens. Outros atribuem o surgimento do povoado a Duarte Coelho Pereira, primeiro donatário da Capitania de Pernambuco. A localização estratégica do povoado, à porta das terras interiores, mereceu também atenção dos holandeses, tanto que, mais tarde, em 1637, conseguiram nele erigir um forte, denominado Maurício, em homenagem a Nassau.A criação de gado constituiu-se na primeira atividade comercial nessa área, e muitas fazendas de gado foram estabelecidas durante os anos iniciais da colonização. Um certo número desses núcleos agrícolas transformaram-se, mais tarde, em algumas das cidades e vilas atuais.A primeira escola secundária do Vale do São Francisco foi estabelecida pelos jesuítas, no local hoje conhecido como Porto Real do Colégio em Alagoas, aproximadamente a 100 km da foz. Essa região não sofreu qualquer progresso significativo até princípios do século XIX.As principais atividades se acham associadas ao cultivo do arroz, do algodão e da pecuária.O Alto São Francisco foi colonizado a partir da descoberta do ouro, diamantes e outros minerais, ao término do século XVII e no começo do século XVIII. Apesar de percorrida no século XVII por exploradores, provavelmente vindos do Norte, não tendo porém sido fundados quaisquer estabelecimentos até o inIcio do século XVIII.Em 1698, após a descoberta do ouro, no sítio onde hoje está a cidade de Ouro Preto, essa área desenvolveu-se rapidamente. Pela metade do século XVIII numerosas cidades e vilas se desenvolveram e Ouro Preto, à época Vila Rica, apresentava o aspecto de uma cidade européia, altamente civilizada. O crescimento espalhou-se em direção ao Oeste e ao Sul, para o Estado de Goiás e para a região em que se situa a cidade de São Paulo, bem como, também, para o Norte, ao longo das cadeias de montanhas.Durante o século XVIII, as contínuas descobertas de minerais e pedras preciosas causaram o desenvolvimento de novas colonizações nas áreas montanhosas, mostrando o fundo do Vale do São Francisco poucas alterações.A cidade de Montes Claros, na bacia do rio Verde Grande, teve início no século XVIII, como uma área agrícola sendo hoje uma das cidades mais importantes do Vale.Por volta de 1800 a indústria da mineração começou a declinar, e muitas cidades iniciais e primeiros estabelecimentos diminuíram de tamanho e importância. A agricultura substituiu gradativamente a mineração e hoje em dia muitas cidades e vilas que tiveram seu início devido à mineração, vivem da agricultura.Embora a navegação fluvial no rio São Francisco tenha sido provavelmente iniciada no século XVI, com pequenas embarcações, a navegação mercante do rio São Francisco só se iniciou por volta de 1850. Os inumeráveis bancos de areia, as mudanças de correntes e as margens rasas eram alguns obstáculos que desencorajavam os bravos comandantes dos barcos. Os primeiros barcos a vapor usavam a madeira como combustível.Com o advento das viagens comerciais, apareceram ao longo do rio outras pequenas cidades. Vários estabelecimentos, bem como a progressão do sistema ferroviário (que prevaleceu até a década de sessenta) no século XIX, foram alguns dos fatores que contribuíram para o crescimento de algumas cidades e surgimento de outras. Entretanto, a estrada de ferro servia apenas a uma parte do Vale, tendo assim, inúmeras cidades e vilas que não ficaram ao alcance das linhas, permanecendo estacionárias ou com um crescimento por demais moroso.Desde o início, até 1897, Ouro Preto, um pouco além do Vale, era a capital de Minas Gerais, quando foi preterida por Belo Horizonte. A nova capital cresceu, tornando-se uma cidade moderna. Esse crescimento estimulou ainda mais o desenvolvimento através do Vale do São Francisco, continuando as partes Média e Baixa a apresentar desenvolvimento muito lento. O São Francisco foi palco de muitos movimentos libertários. Em 1736 o Padre Antonio Mendes Santiago provocou uma sedição dos habitantes do São Francisco contra a metrópole. Ficou famoso o nome de Maria da Cruz, famosa matriarca, que foi presa e conduzida à Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, enquanto que os considerados cabeças do movimento, o Capitão-Mor Antonio Siqueira e André Gonçalves, foram degredados para Angola. A revolta foi ­motivada pela Carta Régia 1701, que proibia as comunicações das gentes do São Francisco com os paulistas.Não devemos esquecer que a Inconfidência Mineira, em 1789, ocorreu no Vale do São Francisco, pois Vila Rica, ou Ouro Preto de hoje, está no Vale do São Francisco, na Bacia de seu afluente rio das Velhas.






terça-feira, 4 de outubro de 2011

foto do rio São francisco
                                                    

SALVE OS 510 ANOS DO RIO SÃO FRANCISCO
                          (PARTE 1)

No dia 04 de Outubro de 1501, uma expedição de reconhecimento descia acompanhando a costa brasileira, comandada por André Gonçalves e Américo Vespúcio; vindo desde o cabo de São Roque, chegou à foz do São Francisco. Habitada a região pelos índios, que a chamavam de Opara, os portugueses deram o nome de São Francisco àquele rio, em homenagem ao santo que é comemorado naquele dia.
Outra expedição, em 1503, chegou à foz do São Francisco - a frota de Gonçalo Coelho, também acompanhado de Américo Vespúcio. O São Francisco foi bastante visitado, próximo à foz, pois a mata, a caatinga pouco conhecida e tribos ferozes, eram impedimentos para que os brancos ousassem ir muito distante. A cobiça, entretanto, aliada a vontade de encontrar ouro e pedras preciosas, acabou fazendo com que dentro de algum tempo se aventurassem sertão a dentro. Corria, de boca em boca, no litoral, informações fantásticas de tribos que se ornamentavam com ouro puro e pedras verdes, além de cristalinos diamantes. Foi assim que, por ordem do rei D. João III, o Governador Geral Tomé de Souza determinou a exploração do rio, em 1553, a Bruza Espinosa, que formou a primeira companhia de penetração, o qual solicitou a presença de um sacerdote no empreendimento, tendo sido escolhido o Padre Aspilcueta Navarro. O roteiro dessa viagem e uma carta do Padre Navarro são os primeiros documentos descritivos do São Francisco.Em 1561, o São Francisco é visitado pela expedição de Vasco Rodrigues de Souza e, em 1575, a penetração que foi denominada de "Mata-Negro". Marco de Azevedo viaja ao interior com um grupo, em 1577. Sabe-se, também, que em 1583 João Coelho de Souza também penetra o sertão e chega ao São Francisco. Em 1587, o governador Luis de Brito determina a exploração do rio São Francisco e entrega essa responsabilidade a Sebastião Álvares, porém foi fracassada essa iniciativa. Gaspar Dias de Ataíde e Francisco Caldas têm sua expedição dizimada em 1588.Em 1595 o descendente de Caramuru, Melchior Dias Moreira, de acordo com carta escrita ao Conde Sabugosa, ultrapassou o São Francisco.A ocupação realmente ocorreu, entretanto, através das sesmarias, tendo sido o São Francisco ocupado parte pela Casa da Torre de Garcia D'Ávila e parte pela Casa da Ponte, de Antonio Guedes de Brito. O primeiro, Garcia D'Ávila, apossa-se das terras em 1573, sendo mais de 70 léguas entre o rio São Francisco e o Parnaíba no Piauí. Alguns ditam que, residindo na Praia do Forte, próximo a Salvador, e possuindo uma Carta de Sesmaria, pois era fidalgo, o Senhor Garcia D'Ávila avançou em direção ao São Francisco, construindo a determinadas distâncias um curral e uma choupana, e aí deixava 20 novilhas e um reprodutor e, para cuidar do rebanho, um casal de escravos. Dessa forma, tornou-se o primeiro latifundiário do São Francisco. Apossou-se das terras de forma irregular, já que o capítulo 26 do Regimento trazido por Roque da Costa Barreto, determinava que, nas sesmarias não se desse a pessoa alguma tanta quantidade de terra, que a não pudesse cultivar e tirando-as a quem assim não o cumprisse. Ora, a forma como Garcia D'Ávila ocupou o sertão foi portanto abusiva.A Casa da Ponte, entretanto, recebeu como indenização pelos serviços prestados e gêneros fornecidos para as guerras, novecentos e sessenta quilômetros de rio, começando no Morro do Chapéu, no município de Jacaraci, na Bahia, estendendo-se até as nascentes do rio das Velhas, em Minas Gerais. Tornou-se notável o Senhor Manoel Nunes Viana, que se tornou a maior fortuna do São Francisco, através de uma procuração que lhe passou a viúva do senhor da Casa da Ponte, Antonio Guedes de Brito, para administrar as terras de herança e cobrar o fôro sobre aquela sesmaria. E um pobretão, o Manoel Nunes, se tornou um potentado em gado e terras, durante o ciclo do couro, no vale.Outro fator importante de ocupação foi as missões, que se tem registro e iniciaram nesta região a partir de 1641. Foram os capuchinhos bretões que instalaram os primeiros aldeamentos. O frade Martim de Nantes deixou um relatório onde se pode perceber o comportamento atrabiliário da família de Garcia D'Ávila, em constantes desentendimentos com os frades franciscanos.Sabe-se, através desses escritos, que os frades reclamavam da constante interrupção das missões, normalmente ocupando as ilhas, por serem áreas mais férteis; os vaqueiros da Casa da Torre, no período da seca, empurravam os rebanhos para comer a lavoura dos índios, obrigando-os a buscar a caça, dispersando-se na caatinga e interrompendo, assim, o trabalho catequético. Os atritos entre os missionários e os herdeiros de Garcia D'Ávila estão registrados em várias correspondências dos sacerdotes para os seus superiores.Esses atritos culminaram com a reprovação à ação dos barbadinhos bretões, por parte das viúvas da Casa da Torre.Por último, ocorreu a proibição oficial da comunicação da região com a do sul do Pais. É o que rezava a carta régia de 1701: "quaisquer comunicações daquela parte dos sertões baianos com as minas dos paulistas nos sertões mineiros", segundo Lacerda, culminando severas penas aos infratores que continuarem a inflingir a ordenação da carta régia, acentuando o comércio de gentes e de produtos ao longo do São Francisco, naquela limiar do próprio século XVIII (Vicente Licínio Cardoso).Esse isolamento, se por um lado foi prejudicial, estagnando a região, por falta de contato com comunidades mais cultas, "Atravessa a região o século XIX em melancólico torpor, apenas sacudida pela curiosidade de alguns naturalistas botânicos e geógrafos que a visitaram, e pelo estrelejar das brigas de bandos adversos, facções medievais, como guelfos e gibelinos de gibão encourado, perpetuando rixas familiares, generalizando, com encontros intermitentes, as questões domésticas dos senhores do rio (Lacerda); por outro lado, serviu para gerar uma sociedade própria do São Francisco, com suas lendas, seus mitos, seus folguedos, seus medos, suas crenças e, até, seu próprio vocabulário.

sábado, 1 de outubro de 2011

                                                              Divulgação

JOÃO LIMOEIRO E A CIRANDA BRASILEIRA

   João Limoeiro é um dos mais conhecidos poetas da Zona da Mata Norte pernambucana. Cirandeiro, é contemporâneo do Mestre Baracho, e viveu o auge da ciranda, nos anos 70, no Pátio de São Pedro,no Recife. Foi um dos primeiros cirandeiros a abandonar o ritmo da ciranda um tipo de dança e música de Pernambuco. A ciranda é originada na região Nordeste mais precisamente em Itamaracá,pelas mulheres de pescadores que cantavam e dançavam esperando eles chegarem do mar. Caracteriza-se pela formação de uma grande roda, geralmente nas praias ou praças, onde os integrantes dançam ao som de ritmo lento e repetido.O ritmo, quaternário composto, lento, com o compasso bem marcado por um toque forte do zabumba (ou bumbo), e acompanhado pelo tarol, o ganzá, o maracá, é coreografado pelo movimento dos cirandeiros. São utilizados basicamente instrumentos de percussão.Na marcação do zabumba, os cirandeiros pisam forte com o pé esquerdo à frente. Num andamento para a direita na roda de ciranda, os dançarinos dão dois passos para trás e dois passos para a frente, sempre marcando o compasso com o pé esquerdo à frente. Os passos podem ser simples ou coreografados.  As coreografias, quando há, são individuais. O dançarino pode aumentar o número de passos e fazer coreografias com as mãos e o corpo, sempre mantendo a marcação com o pé esquerdo à frente. A letra da ciranda pode ser improvisada ou já conhecida. De melodia simples e normalmente com estribilho, para facilitar o acompanhamento, é entoada pelo mestre cirandeiro, acompanhada pelos tocadores e pelos dançarinos.