sábado, 20 de agosto de 2016
SIMONE GUIMARÃES
Neta do maestro e compositor Antônio Guimarães. Criada em um ambiente musical, aos sete anos de idade ganhou de presente um cavaquinho. Inicialmente autodidata, começou a apresentar-se com o instrumento em eventos escolares e no palco do Teatro de Arena de sua cidade natal. Recebeu durante quatro anos aulas particulares de piano. Aos 15 anos, mudou-se para Ribeirão Preto (SP), para cursar o antigo 2º grau, matriculando-se, também, no Conservatório Carlos Gomes. Mais tarde, por intermédio do conterrâneo Chico Alencar, conheceu Milton Nascimento, que a convidou para cursar sua Escola Livre de Música, em Belo Horizonte, onde foi aluna de Juarez Moreira, que viria a ser seu parceiro. Depois de morar um ano naquela cidade, voltou para Ribeirão Preto. Ingressou na universidade, dividindo-se entre a vida acadêmica e as apresentações musicais em casas noturnas. Transitou pelos cursos de História, Jornalismo e Letras, não chegando a graduar-se por ter optado definitivamente pela carreira artística.
Em 1990, gravou um clip para a TV Globo do nordeste paulista, interpretando duas músicas de sua autoria: "Gueto à Califórnia" e "Todas as mulheres do mundo".
Dois anos depois, escreveu, em parceria com Paulo Jobim, a trilha sonora de "O canto da Piracema", programa produzido pela TV Globo, premiado com o troféu Libero Badaró. Participou também das trilhas de "Dioguinho" e do Globo Repórter "A rota do sul", da mesma emissora.
Em 1996, lançou seu primeiro CD solo, "Piracema", disco temático patrocinado pela Prefeitura de Ribeirão Preto, inserido em um projeto para a despoluição do Rio Pardo. Ainda nesse ano, gravou, com os instrumentistas Olmir Stoker (Alemão) e Zezo Ribeiro, o CD "Cordas versos cordas".
Em 1997, morando no Rio de Janeiro, lançou o CD "Cirandeiro", que recebeu duas indicações para o prêmio Sharp, nas categorias Melhor cantora e Melhor Arranjo, e teve três faixas incluídas em trilhas de novelas: "Cirandeiro", em "A Indomada" (TV Globo), além de "Brincadeira de coroar" e "Estrela do meu bem querer" (c/ Cristina Saraiva), ambas em "Serras Azuis" (TV Bandeirantes).
No ano seguinte, lançou o CD "Aguapé", que contou com arranjos e direção musical de Maurício Maestro e participação de Elba Ramalho, Ivan Lins, Danilo Caymmi e Zé Renato. Apresentou-se, também nesse ano, em shows de Ivan Lins, César Camargo Mariano, Leila Pinheiro e Boca Livre, e recebeu em seus shows artistas como Fagner, MPB-4 e Leila Pinheiro. Em uma das apresentações da cantora no Café Teatro de Arena (RJ), Milton Nascimento saiu da platéia para o palco, realizando uma participação não programada. Ainda em 1998, atuou ao lado do quarteto vocal MPB-4, no Projeto Novo Canto, no Terraço do Rio Sul (RJ).
No ano seguinte, apresentou-se nos shows "Crooner", de Milton Nascimento, e "Um novo tempo", de Ivan Lins.
Como cantora, participou da trilha sonora de Iuri Popoff para "Cuenda", peça teatral de Cristina Tolentino, e dos songbooks de Tom Jobim, interpretando com Paulo Jobim a faixa "O pato preto", e de Chico Buarque, interpretando com Hélio Delmiro a canção "Desencontro" (c/ Toquinho).
Como compositora, teve músicas gravadas por Leila Pinheiro, Ivan Lins e Marcelo Lessa.
Em 2001, lançou o CD "Virada pra lua", contendo suas composições "Virada pra lua" (c/ Sérgio Natureza), "Imensidade", "Sertão das águas" (c/ Yuri Popoff), "A fábula do riacho" (c/ Cristina Saraiva), "Night club" (c/ Kiko Continentino), "Convulsionada" e "Marilyn" (c/ Rosana Zaidan). O disco registrou, ainda, a participação especial de Milton Nacimento, na faixa "Imagem e semelhança" (Kiko Continentino, Milton Nascimento e Bena Lobo), e de Guinga, na faixa "Porto de Araújo" (Guinga e Paulo César Pinheiro), e incluiu, também, as canções "Cenários (Julio Moura e Misael da Hora), "Meu coração" (Thomas Roth), "30 anos" (Ivan Lins e Vítor Martins) e "Cumbuca" (José Marcio Castro Alves). Os arranjos foram assinados por Leandro Braga, à exceção da faixa "Porto de Araújo", que contou com arranjo de Guinga. Realizou show de lançamento do disco no Teatro Rival (RJ).
Em 2002, apresentou-se, com Juarez Moreira, no Teatro Café Pequeno (RJ), pelo projeto "MPB Prêt-a porter", e no Paço Imperial (RJ). Nesse mesmo ano, participou do projeto "Cartão Postal da MPB", dividindo o palco do CCJF (RJ) com Guinga.
Lançou, em 2012, o CD "Chão de aquarela", contendo as canções “Desafios”, “É saudade”, “Um canto de amor”, “Relento”, “Estrela da noite”, “Estrela do meu bem querer”, “Fábula do riacho”, “Na trilha do amor”, “Olhos de fogo”, “Fronteira”, “Beijo” e “Canção para um pianista 2”, todas de sua parceria com Cristina Saraiva. O disco contou com a participação de Franklin da Flauta, Julio Santin (viola), Lia Gandelman (corne inglês) e André Mehmari (piano).
Em 2013, foi indicada ao Prêmio da Música Brasileira, na categoria Melhor Cantora Regional, pelo CD “Chão de aquarela”.
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
Jotacê
Jiovaldo Chaves Araújo, mais conhecido como Jotacê, é um dos mais prestigiados artistas baianos. Ele nasceu no município de Senhor do Bonfim, Bahia, mas há mais de 20 anos mora na cidade de Lençóis, porta de entrada Chapada Diamantina. Hoje aos 77 anos, molda figuras alegóricas em cerâmica, madeira ou vidro que lembram santos, porém com características próprias. Realiza também incisões em placas de ardósia, abundantes na região, retratando a fauna e a flora locais. Jotacê trabalha há mais 50 anos com arte e incentivou os seus quatro filhos a seguir o mesmo caminho.
As obras de Jotacê já foram expostas em várias cidades brasileiras. Dentre as exposições mais importantes que participou destaca-se a Mostra do Redescobrimento, realizada em 2000 no Parque do Ibirapuera em São Paulo.
Contato com Jotacê:
Alto da Estrela, sn, Lençóis, BA.
Tel: 8838-9317, 8822-1387
Jotacê, título desconhecido, escultura em pedra ardósia. Reprodução fotográfica Galeria Brasiliana, São Paulo, SP.
Jotacê, título desconhecido, cerâmica policromada. Reprodução fotográfica Galeria Brasiliana, São Paulo, SP.
Jotacê, título desconhecido, cerâmica policromada. Reprodução fotográfica Galeria Brasiliana, São Paulo, SP.
Jotacê, título desconhecido, cerâmica policromada. Reprodução fotográfica Galeria Pontes, São Paulo, SP.
Jotacê, título desconhecido, cerâmica policromada. Reprodução fotográfica Galeria Brasiliana, São Paulo, SP.
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
Os maiores repentistas da história do Brasil
Canção
Grande é a nação dos violeiros e repentistas do nordeste, os estados de Pernambuco e Paraíba são os dois maiores celeiros de cantadores, estados que deixaram nos anais da história, nomes imortalizados, criadores dos perfeitos motes e construtores das amais perfeitas rimas.Dos nomes que conheci não esqueço de Louro do Pajeú, Dimas, tacílio, Cancão, Jó Patriota e Pinto do Monteiro. Cancão veio em 1970, trazido por meu irmão primogênito Zezé, para que ele conseguisse com Pedro Ferreira (proprietário da empresa SACOL), um patrocínio para imprimir um livro de poesias, hoje tenho guardado a sete chaves uma cópia desse livro.
A famosa tríade formada pelos irmãos Otacílio, Dimas e Louro, nessa foto estão acompanhados de um dos gigantes do improviso: Pinto do Monteiro.
Estive algumas vezes com Louro, em 1986 tomamos muitas caipirinhas no famoso CALABAR (bar na rua principal de São José do Egito).com Pinto estive três vezes em sua residência em companhia do primo João Piancó e de Pinto ganhei uma fotografia onde ele recebe um prêmio por sua trajetória de sucessos.
Louro, o Rei do Trocadilho
Louro do Pajeú, um dos mais autênticos e grandiosos artistas do improviso e na segunda foto,Louro e Jó Patriota
Otacílio (no centro da foto)
Velho Pinto do Monteiro.
Por João de Sousa Lima
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
MESTRE ANDRÉ DO GUERREIRO
André Joaquim dos Santos,nasceu em 29 de outubro de 1947,em São Miguel dos Campos,na Zona da Mata,do estado de Alagoas.ainda criança foi com a familia morar no sertão de Alagoas,na cidade de Olho d Água das Flores.Aos 18 anos, tendo de servir ao Exercito, vindo com seus pais morar em Palmeiras dos Indios onde conheceu o guerreiro da mestra Zefa Bispo e logo começou a dançar como figurante durante um bom tempo. Certo dia substituiu o mateu assumindo este personagem do guerreiro. No ano seguinte, depois das festas natalinas, começou os ensaios como índio Peri e posteriormente como embaixador..
Em 1969 casou-se e afastou-se por alguns anos do guerreiro devido a distancia em que morava. Vindo trabalhar em Maceió, conheceu José Tenório que acabava de criar o guerreiro Treme Terra no bairro do Jacintinho e o convidou a dançar de contra-mestre.
Em 1969 casou-se e afastou-se por alguns anos do guerreiro devido a distancia em que morava. Vindo trabalhar em Maceió, conheceu José Tenório que acabava de criar o guerreiro Treme Terra no bairro do Jacintinho e o convidou a dançar de contra-mestre.
No ano de 1978, morando no conjunto habitacional Eustáquio Gomes/Tabuleiro dos Martins, mestre Ándre, novamente com José Tenório, formou outro guerreiro – “um pouco fraco, pois faltava um bom mestre e eu estava apenas começando, sem muita experiência”.
Neste período encontrou o conhecido mestre Jorge Ferreira e pediu a ele para ser mestre do seu guerreiro, o que deu um grande impulso ao novo grupo. Porém, com a saúde bastante debilitada, mestre Jorge afastou-se deixando em seu lugar o mestre Juvenal Leonardo e seu amigo Artur Morais, como mateu.
Porém o grupo não tinha nenhuma ajuda e muitas vezes dançava sem adereços, com chapéus improvisados. Mestre Juvenal Leonardo pediu apoio ao amigo Sargento Wilsom, do bairro do Vergel do Lago que logo se prontificou a ajudá-los. Esta parceria durou seis anos e muitas foram as apresentações e viagens pelo interior do estado.
“Com o surgimento da ASFOPAL passamos a ter uma boa ajuda, pois na época recebíamos tecidos doados pela LBA. Foi um bom período e eu estava sempre presente as reuniões da Associação”.
Neste intervalo o guerreiro mudou-se para o bairro do Vergel do Lago, depois para o Jacintinho e finalmente para a Chã da Jaqueira onde recebeu o nome de Vencedor Alagoana tendo como mestre Juvenal Leonardo .
Mas as coisas não andavam bem e desgostoso fui atender a um convite da Dona Augusta, viúva do finado mestre Paulo Olegário, para continuar com o guerreiro Santa Luzia, o que não deu certo.
“Desfeito o guerreiro, fui participar do guerreiro Santa Isabel, já como mestre, coordenado pelo Pedro Lins e também dancei no guerreiro do mestre Benon e no do mestre Juvenal Domingos
Durante o período carnavalesco, Andre Joaquim sai pelas ruas do seu bairro vestido de “La Ursa”, entremeio do guerreiro.
Depois de tantas idas e vindas, mestre Andre hoje é o brilhante mestre do guerreiro Padre Cicero e formado pelo saudoso mestre Manoel Venâncio Amorim, no bairro do Tabuleiro dos Martins, onde comanda, soltando a voz e o coração:
“ Quando eu chegar pra rimar
O meu figurá que de mim tem pena
Açucena do jardim murchar
Que Andre chegou, venha vê morena”
Boa noite guerreiro que eu cheguei
De longe avistei essa luz acesa
Em Princesa eu tenho valor
Mestre Andre chegou em sua defesa”
Fonte: NOVAES, Josefina Maria Medeiros. ASFOPAL - Associação de Folguedos Populares de Alagoas - 25 Anos Brincando Sério. Maceió: Gráfica do Estado/CEPAL, 2010.
sábado, 13 de agosto de 2016
KÁTYA TEIXEIRA
Cantora. Compositora. Nascida em família de músicos, sua mãe era cantora, o pai era aboiador, o avô era seresteiro, e, ainda, tinha tios e tias cantores. Um de seus tios, Eliezer Teixeira, é folclorista. Sua família criou o grupo Bando Flôr do Mato, que gravou discos e fez inúmeros shows, atuando com nomes como Inezita Barroso, Pena Branca e Xavantinho, João Pacífico e outros. A partir dos oito anos de idade, começou a estudar violão com professor Ari Colares, na ULM - Universidade Livre de Musica de São Paulo. Mais tarde, passou a estudar rabeca. Devido à influência musical de sua família, conviveu com nomes da música regional, como Vidal França, João Bá, Doroty e Dércio Marques, e Inezita Barroso.
Iniciou a carreira artística com apenas 11 anos de idade, quando subiu ao palco pela primeira vez, num festival de colégio, interpretando composições de seu avô. Aos 13 anos, juntamente como o pai Chico Teixeira, Dinho Nascimento e Sofia Mendonça, participou do LP "Fazenda", de Vidal França. Por essa época, fez shows com Vidal França. Em 1988, aos 17 anos, participou do Festival Universitário FIMP, saindo vencedora com a música "Kararaô", de sua autoria. Em 1993, passou a atuar profissionalmente. Em 1997, gravou seu primeiro CD, intitulado "Katxerê" pelo selo CPC-UMES, com direção musical de Vidal França, que ainda tocou violão, bandolim, percussão e participou dos vocais. O CD teve como destaque as composições "Passarinheiro", de Jean Garfunkel e Pratinha; "Aluarados", de Vidal França e Karina França; "Dia de festa", de Irene Portela, e "A lua girou", de domínio público, com adaptação de Zé do Norte. Desse CD, ainda fizeram parte as músicas "Kararaô" e "Fonte motriz", de sua autoria; "Brincando de roda", com Luis Carlos Bahia; "Nas teias da renda", com Cátia de França e Luis Carlos Bahia.; "Alagoando", com Eliezer Teixeira, e "Anauê", com Vidal França, "Mãe Áurea", tema folclórico adaptado por Vidal França; "Chapada dos Guimarães", de Renato Garcia; "Marianinha", de Vidal Franã e João Bá, e "Nove luas", de Ney Couteiro e Ekton Silva.
Depois dessa experiência, participou de inúmeros CDs: "Carrancas II"; "Ação dos Bacuraus Cantantes"; "50 anos de carreira de João Bá"; "Sertão e mar", de Vidal França e Mazé; "São Sebastião do Tijuco Preto", de Oswaldinho Vianna; "Concertoria", de Ney Couteiro; "Em cantos brasileiros", de Eliezer Teixeira; "Acústico", de Adalto Bento Leal; "Conterrâneos", de Carlinhos Piauí; "Mexericos da Rabeca", de José Eduardo Gramani; "Monjolear" e "Cantos da mata Atlântica", de Dércio e Doroty Marques; "Espelho D’água", "Cantigas de abraçar" e "Folias do Brasil", de Dércio Marques; e "Vuelvo para vivir - 25 anos - do Grupo Tarancón", entre outros. Em 2004, lançou o segundo CD de sua carreira, "Lira do povo", que foi fruto de ampla pesquisa das cantigas populares e folclóricas dos sertões brasileiro.Viajou pelo interior paulista, mineiro e nordestino, pesquisando cantigas populares. Registrou cantos de congadeiros e cantadeiras de Jequitibá, MG, como Zé da Ernestina, Dona Liça, Zé Paulino, e Irmandade N.S. do Rosário, entre outras. Contou ainda com as participações especiais de artistas populares de cidades como Laranjeiras, em Sergipe; São Paulo; São Gabriel, na Bahia; Paraíba; Maranhão e Pará. Para a realização desse projeto levou cinco anos de pesquisas, entre 1998 e 2003. Esse projeto contou com o apoio cultural da Prefeitura de Paracambi, RJ; Fundação Thobias Barreto, em Sergipe; das secretarias de Cultural e Educacão da cidade de Laranjeiras, em Sergipe; do Sindicato dos químicos e plásticos de São Paulo; e do Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul, em São Paulo. Nesse trabalho destacaram-se as músicas "Canto de fé", de Celso Machado e Márcia Accioly, e "De kekeke", um canto indígena.
No mesmo ano, fez a trilha sonora para o DVD "Nas asas de Mercúrio", de Kátia Ripani . Embora componha letra e música, tem parcerias com diferentes compositores, entre os quais, Vidal França, Mazé, Cátia de França, Eliezer Teixeira, Luiz Carlos Bahia, Juh Vieira, Dércio Marques, Daniela Lasalvia, Gildes Bezerra, e Ibis Maceió. Teve ao música "Canto de rua", com Vidal França, gravada pela cantora Mazé, e a toada "Anauê", outra parceira com Vidal França, gravada pelo grupo Trem de Minas. Em 2010, entre outros shows apresentou-se no Sesc São Caetano, em São Paulo. Em 2012, lançou o CD "Feito de Corda e Cantiga", de forma independente. O disco foi um resultado de anos pesquisa e de parcerias com compositores.
No repertório, constaram gêneros como choro-boi, fandango, moda de viola, afoxé, tambor de crioula, joropó, cantiga, samba, congo capixaba e congado. No mesmo ano, foi finalista do 23o Prêmio da Música Brasileira, na categoria melhor cantora de música regional, em função do álbum lançado. Em 2013, lançou o CD "2 mares", em parceria com o cantor e compositor mineiro Luiz Salgado. No disco, arranjado por eles, interpretou composições próprias e adaptações de temas populares de Brasil e Portugal. O álbum contou com a participação especial de Lilian Fulô, André Venegas, Cássia Maria, João Arruda e Déa Trancoso, além da portuguesa Susana Travassos e da galiciana Uxia, entre outros convidados.
sexta-feira, 12 de agosto de 2016
quarta-feira, 10 de agosto de 2016
Minelvino Francisco Silva
nasceu no povoado de Palmeiral, Município de Mundo Novo (BA), em 1926. Criado em Jacobina (BA), trabalhou como garimpeiro, radicando-se posteriormente em Itabuna (BA). Seu primeiro contato com a literatura de cordel foi com o clássico Romance do pavão misterioso, de João Melquíades Ferreira da Silva (N.E.: até hoje permanece a dúvida, na verdade, sobre quem foi o real autor dessa obra, se Melquíades ou José Camelo de Melo Resende).
Começou a versejar aos vinte e dois anos de idade e sua primeira sextilha, segundo a professora Edilene Matos, foi improvisada durante o I Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros (1955) e dedicada a João Martins de Ataíde: “Até eu cheguei na hora / Como humilde trovador / Abracei ele, dizendo: / Parabéns meu Professor / Por todas as suas obras / de grandioso valor.”
Tradição oral
Poeta popular e xilógrafo dos mais talentosos na poesia e no talhe, compôs, basicamente, em sextilhas e setilhas. Viveu intensamente o universo do cordel, passando por todas as modalidades e deixando a marca da qualidade e do rigor em tudo o que escreveu.
Percorreu uma variedade de temas, como contos de encantamento (trazendo para o folheto popular a tradição oral dos contos de fadas), de amor, de animais e fatos políticos e do cotidiano, dentre outros. Publicou o primeiro folheto em 1949 – A enchente de Miguel Calmon e o desastre do trem de Água Baixa -, editado pelo amigo e companheiro de lutas em prol da causa dos poetas populares, Rodolfo Coelho Cavalcante.
Em 1980, venceu o concurso Prêmio Literatura de Cordel, promovido pelo Núcleo de Pesquisa e Cultura da Literatura de Cordel como parte das comemorações do centenário de João Martins de Ataíde, com o folheto Vida, profissão e morte, de João Martins de Ataíde.
Arte da impressão
Fascinado pela arte da composição e da impressão tipográfica, adquiriu uma impressora manual, onde confeccionava seus folhetos, inclusive as capas, conforme mostra nos versos: “Eu mesmo escrevo a estória / eu mesmo faço o clichê / eu mesmo faço a impressão / Eu mesmo vou vender / e canto na praça pública / para todo mundo ver”.
Seu interesse o fez mudar para uma impressora elétrica, mas em 1979 sofreu um acidente, perdendo três dedos. Este fato não o impediu de continuar no ofício, pelo contrário, sua técnica foi aperfeiçoada, referindo-se ao episódio nos versos: “No dia dez de outubro / Compus uma oração / Botei na máquina impressora / Para fazer a impressão / Em vez de imprimir o papel / Errei e imprimi a mão”.
Editou em várias tipografias e editoras como a Tipografia São Francisco, em Juazeiro do Norte (CE), a Luzeiro e aPrelúdio, em São Paulo (SP). Faleceu no dia do seu aniversário, a 29 de novembro de 1999, na mesma rua em que viveu, em Itabuana (BA).
terça-feira, 9 de agosto de 2016
Triunfo receberá mais uma edição fo FESTIVAL DE CINEMA DE TRIUNFO 2016.A programação completa já foi anunciada e contará com 33 longas-metragens e curtas em um dos patrimônios do estado, o Cine Theatro Guarany, que também é um dos mais bem equipados e mais bonitos.
Entre as novidades da sua 9ª edição, o evento resolveu descentralizar a programação e também irá apresentar produções em Afogados da Ingazeira e Serra Talhada.
Além das tradicionais produções que fazem parte da programação, o Festival de Cinema de Triunfo também deve oferecer discussões de temas como representação de gênero na cadeia produtiva e cotas.
Outro tema que também será abordado durante o festival é a requalificação dos Cinemas de Rua, e por este motivo o público também poderá contar com uma programação especial.
Os homenageados da vez são Maeve Jinkings, atriz que já realizou parcerias com o cinema do estado resultando em mais de 10 longas como Boa Sorte Meu Amor (2013), Aquarius (2016), O Som ao Redor (2013) e Boi Neon (2016), e o ator Germano Haiut, que nasceu na cidade do Recife, tem mais de 50 anos de carreira, 20 peças realizadas e já atuou em alguns curtas e longas como Quincas Berro D’Água, Clandestina Felicidade e País do Desejo.
A entrada do festival é gratuita.
Programação Festival de Cinema de Triunfo 2016
Confira a programação completa do Festival de Cinema de Triunfo em 2016:
PROGRAMAÇÃO GERALLocal: Cine Theatro Guarany – Entrada Gratuita08 de agosto19:00 – Cerimônia de AberturaMostra Competitiva de Curta-metragem Nacional – Classificação: 14 anosCumieira (Documentário, 13 minutos, 2015, PB), de Diego Benevides
E o galo cantou (Ficção, 23 minutos, 2016, GO), de Daniel Calil
Em defesa da família (Documentário, 24 minutos, 2016, DF), de Daniella Cronemberger
Retrato de Dora (Documentário, 15 minutos, 2014, SP), de Bruna CallegariMostra Competitiva de Longa-metragem Nacional – Classificação: Livre
Danado de Bom (Documentário, 74 minutos, 2015, PE), de Deby Brennand09 de agosto10:00 – Mostra Especial Festival Stopmotion – Classificação: Livre14:00 – Mostra Especial Festival de Cinema de Belo Jardim – Classificação: Livre19:00 – Mostra Competitiva de Curta-metragem Nacional – Classificação: 16 anosAbissal (Documentário, 17 minutos, 2016, CE), de Arthur Leite
Sobre Nós (Ficção, 15, 2016, RJ), de Miguel Moura
Quem matou Eloá? (Documentário, 24 minutos, 2015, SP), de Lívia Perez
Cuscuz Peitinho (Ficção, 20 minutos, 2016, RN), de Rodrigo SenaMostra Competitiva de Longa-metragem Nacional – Classificação: 16 anos
Clarisse ou alguma coisa sobre nós dois (Ficção, 80 minutos, 2015, CE), de Petrus Cariry10 de agosto10:00 – Mostra Especial Dia da Animação – Classificação: Livre14:00 – Mostra Especial Criancine – Classificação: Livre19:00 – Mostra Competitiva de Curta-metragem Pernambucano – Classificação: 14 anosBlack Out (Documentário, 13 minutos, 2016), de Felipe Peres, Adalmir da Silva, Francisco Mendes, Jocicleide Oliveira, Sérgio Santos e Paulo Sano.
Clave dos Pregões (Documentário, 15 minutos, 2015), de Pablo Nóbrega
Ainda me sobra eu (Documentário, 15 minutos, 2016), de Taciano Valério
Domingos (Ficção, 11 minutos, 2015), de Jota BoscoMostra Competitiva de Longa-metragem Nacional – Classificação: 10 anos
Para minha amada morta (Ficção, 113 minutos, 2015, PR), de Aly Muritiba11 de agosto
10:00 – Mostra Especial Sesc – Classificação: Livre
O Menino e o mundo (Animação, 2013, 79 minutos, DF), De Alê Abreu14:00 – Mostra Especial Sesc – Classificação: Livre
As férias do pequeno Nicolau (Ficção, 2014, 117 minutos , França), de Laurent Tirard19:00 – Mostra Competitiva de Curta-metragem Pernambucano – Classificação: 14 anos
Exília (Documentário, 24 minutos, 2015), de Renata Claus
Um Brinde (Ficção, 16 minutos, 2016), de João Vigo
Tarja Preta (Documentário, 24 minutos, 2015), de Márcio Farias
Elogio do tremor (Ficção, 17 minutos, 2016), de André ValençaMostra Competitiva de Longa-metragem Nacional – Classificação: 16 anos
Todas as Cores da Noite (Ficção, 70 minutos, 2015, PE), de Pedro Severien12 de agosto
14:00 – Mostra Competitiva de Curta-metragem Infanto-Juvenil – Classificação: 12 anosAna e a Borboleta (Animação, 8 minutos, 2015, GO), de Isabela Veiga
A culpa é do Neymar (Ficção, 11 minutos, 2015, RJ), de João Ademir
DaliVinCasso (Animação, 11 minutos, 2014, SP), de Marcelo Castro e Marlon Tenório
Ilha das crianças (Documentário, 12 minutos, 2016, RJ), de Zeca Ferreira
Coração Azul (Ficção, 25 minutos, 2015, PR), de Wellington Sari
Dente por Dente (Ficção, 8 minutos, 2015, SP), de Nildo Ferreira e Kauê Nunes19:00 – Mostra Competitiva de Curta-metragem dos Sertões – Classificação: 16 anos
Praça de Guerra (Documentário, 19 minuto, 2015, PB), de Ed. Júnior
Descaminhos (Ficção, 8 minutos, 2015, PE), Coletivo Cinema no Interior
Catimbau (Documentário, 23 minutos, 2015, PE), de Lucas Caminha
Joaquim Bralhador (Ficção, 20 minutos, 2014, CE), de Márcio Câmara
Aroeira (Ficção, 20 minutos, 2016, PB), de Ramon Batista
O Forasteiro (Ficção, 25 minutos, 2014, BH), de Diogo CronembergerMostra Competitiva de Longa-metragem Nacional – Classificação: Livre
Umbigo (Documentário, 70 minutos, 2016, BA), de Cauê SantanaHomenagem ao ator Germano Haiut13 de agosto14:00 – Exibição Especial
Bom dia, Poeta (Documentário, 52 minutos, 2016, PE), de Alexandre Alencar
Classificação: Livre16:00 – Exibição Especial
Big Jato (Ficção, 90 minutos, 2015, PE), de Cláudio Assis
Classificação: 16 anos20:00 – Cerimônia de Premiação do Festival
Homenagem à atriz Maeve Jinkings– ENCONTROS DE CINEMADebates com os realizadores do FestivalTodos os dias, sempre às 10h
Com mediação de Tiago Montenegro, jornalista e editor do portal Cultura.PE
Local: Pousada Alpes (Triunfo)11 de agosto – Seminário: Diálogos da ABPA – a importância dos arquivos regionais
Organizado pela Fundação Joaquim Nabuco
Participantes: Carlos Roberto de Souza – Presidente da Associação Nacional de Preservação Audiovisual (ABPA)
Fabricio Felice – Profissional de Preservação Audiovisual
Fernando Weller – Cineasta e professor da UFPE.
Geraldo Pinho – Gestor do Mispe e Programador do Cinema São Luiz
Mediação: Albertina Lacerda Malta – Historiadora da Fundação Joaquim Nabuco
Horário: 15:30 – Local: Salão Nobre da Prefeitura de Triunfo. – Cidade: Triunfo12 de agosto – Reunião do Grupo de Trabalho Cinema de Rua com gestores municipais e o especialista Osvaldo Emery, da Representação Regional do MinC/RJ
Horário: 9h às 12h
GT: Kate Saraiva, Luiz Joaquim, Geraldo Pinho, Janaína Guedes e Silvana Meireles.
Cinemas de Arcoverde, Goiana, Afogados da Ingazeira, Jaboatão dos Guararapes , Olinda, Recife, Triunfo.
Local: Salão Nobre da Prefeitura de Triunfo – Cidade: Triunfo12 de agosto – Cine Educador: A utilização do cinema em sala de aula
Participantes: Andréa Mota, Gilvan Noblat e Silvana Marpoara
Horário: 8h às 12h – Local: CEU das Artes (Bairro Caxixola) – Cidade: Serra Talhada/PE.12 de agosto – Seminário: A Inclusão no Audiovisual
Parceria com a ABD/PE e a FEPEC.
Participantes: Anna Andrade, Gabriel Muniz, Igor Travassos, Iris Regina Gomes, Juliana Lima, Natália Lopes, Raquel Santana.
Mediação: Milena Evangelista – Secult/PE
Horário: 15h30 – Local: Salão Nobre da Prefeitura de Triunfo. – Cidade: Triunfo13 de agosto – Master Class – Cinemas de Rua na Era Digital: Desafios e Perspectivas
Realização conjunta SECULT/Fundarpe e Fundaj
Osvaldo Emery – Arquiteto, mestre em Conforto Ambiental e especialista em Acústica Arquitetônica e Audiovisual consultor em projetos voltados à exibição cinematográfica. Vinculado à Representação Regional do MINC/RJ.
Horário: 15h30 – Local: Salão Nobre da Prefeitura de Triunfo. – Cidade: TriunfoExibições Itinerantes
Afogados da Ingazeira
Data: 11 e 12 de agosto – Local: Cinema São José – Horário: 20hSerra Talhada
Data: 09 a 12 de agosto – Local: CEU das Arte
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
Cortejo do Aldeia do Velho Chico leva arte pelas ruas do Centro de Petrolina
Ocortejo “Abre Alas Pro Velho Chico", que integra a programação do Aldeia do Velho Chico 2016aconteceu na tarde desta sexta-feira (5) pelas ruas do Centro de Petrolina, no Sertão pernambucano. Ele saiu do Sesc, por volta das 17h. À frente, estava a Fanfarra da Escola Eduardo Coelho.
Dividos em blocos, grupos culturais como reizado, quadrilhas juninas e capoeira, também ganharam as ruas. A movimentação cultural chamou a atenção de quem passava pelos locais. Os artistas também fantasiaram-se e alegraram os olhares curiosos dos moradores.
De acordo com a atriz, Sara Pinheiro, o evento dá destaque para a cultura local. “Muita alegria refletida, multiplicada. É o Aldeia saudando todo lado cultural”, ressaltou Sara.
Após percorrer as principais ruas do centro da cidade, o cortejo foi finalizado na Orla da cidade. “Afoxé Filhos de Zaze”, “Capoeira Brasil e Vivência de Angola”, Baque Opará, Reisado da Comunidade do Lambedor, “Samba de Veio” e “Samba de Coco Trupé” animaram o final da festa. “A energia não acaba nunca. É muito bom, muito legal”, disse a estudante, Maria Cleicione Pereira da Paz.
“Quem quiser participar deve procurar a programação do Sesc. A maioria das apresentações é gratuita e o evento vai até o dia 20 de agosto”, lembrou o gerente do Sesc de Petrolina, Hednilson Bezerra.
quarta-feira, 3 de agosto de 2016
Quem foi João Suassuna, como se deu a sua morte e como este fato influenciou a vida e obra do seu filho
Por Rostand Medeiros – Escritor e pesquisador
Diante da recente morte do escritor Ariano Suassuna, muito de sua vida foi trazida ao conhecimento de milhares de brasileiros. Entre os muitos aspectos da biografia deste paraibano que marcou a história do Nordeste, um dos principais pontos abordados foi a importância da figura de seu pai, João Suassuna, em sua vida.
Em inúmeros textos foi comentado, normalmente de maneira bem básica, que João Suassuna havia sido governador da Paraíba e que ele foi assassinado no ano de 1930, em meio às repercussões ocasionadas pela morte de João Pessoa e os acontecimentos políticos daquele período tumultuado da história do Brasil. Mas ao observamos com mais detalhes a figura do pai do grande escritor, que morreu quando Ariano tinha apenas três anos de idade, descobrimos uma história muito intensa, interessante e trágica!
O BACHAREL SERTANEJO
Há dez anos, com a ajuda do amigo Sérgio Dantas, autor de três maravilhosos livros sobre o cangaço, eu dei início a uma inacabada pesquisa por quatro estados nordestinos sobre a vida e morte do cangaceiro paraibano Chico Pereira. Esta motivação vinha do fato de ser imputado a este cangaceiro e seu bando, em fevereiro de 1927, o assalto a fazenda Rajada, em Acari, na região do Seridó Potiguar. Na época esta fazenda pertencia a Joaquim Paulino de Medeiros, meu bisavô e durante grande parte da minha juventude escutei inúmeras vezes os relatos deste episódio através de vários parentes queridos.
No desenrolar das pesquisas vi que a história de Francisco Pereira Dantas, o verdadeiro nome de Chico Pereira, possuía ligações com a trajetória política de João Suassuna. Até mesmo a sua morte, ocorrida em 1928 na zona rural de Currais Novos, em um rumoroso caso de violência estatal, que manchou a biografia do então governador potiguar Juvenal Lamartine de Farias, também possui ligações com o pai de Ariano.
Mas de maneira totalmente independente do fato de João Suassuna ser pai do autor de “Auto da Compadecida”, busquei conhecer mais sobre sua vida.
Nascido João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna, veio ao mundo em Catolé do Rocha, Paraíba, no dia 16 de janeiro de 1886. Anos depois estudou na conceituada e tradicional Faculdade de Direito de Recife, onde se bacharelou em 1909. O início de sua carreira como advogado foi em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Depois João Suassuna assumiu o posto de juiz nas cidades de Umbuzeiro e Campina Grande, ambas na Paraíba. Na sequência foi Procurador da Fazenda Nacional no seu estado natal.
Em 1 de dezembro de 1913, quando tinha 27 anos, casou com Rita de Cássia Vilar Suassuna, então com 17 anos, a quem chamava carinhosamente de Ritinha. Quando Castro Pinto esteve a frente do executivo paraibano (1912-1915), João Suassuna assumiu cargos de importância na máquina governamental.
Em 1917, após este período de governo, voltou a ser juiz, desta vez na cidade de Monteiro (PB). Foi nesta época que João Suassuna adquiriu uma propriedade chamada “Malhada da onça”, pra onde seguia ocasionalmente. A fazenda ficava em Desterro, local de nascimento de sua mulher, na época uma comunidade pertencente à cidade paraibana de Teixeira. Em 1919 deixou a magistratura e foi trabalhar no antigo Instituto Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS e nesta época adquiriu a Fazenda Acauã, na época localizada na zona rural de cidade de Sousa[1].
No começo da década de 1920, João Suassuna foi convidado pelo então governador Sólon de Lucena para assumir a Inspetoria do Tesouro do Estado, depois foi eleito deputado federal. Estava no exercício do mandato parlamentar no Rio de Janeiro, então Capital Federal, quando foi eleito “Presidente da Parahyba”, o que corresponde hoje ao cargo de governador.
O mandato de João Suassuna se caracterizou em grande parte por uma valorização das ações desenvolvidas pelos grandes latifundiários de terras do interior, possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo do algodão e na pecuária. Estes “coronéis” atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se valia entre outras coisas do mandonismo, da utilização de grupo de jagunços armados, da conivência com grupos de cangaceiros e outras ações.
Foi nesta época, no palácio do governo da Paraíba, que servia de residência oficial do chefe do executivo daquele estado, mais precisamente no dia 16 de junho de 1927, que nasceu um dos nove filhos do casal João e Rita. Foi batizado como Ariano.
João Suassuna entregou o cargo em 22 de outubro de 1928 a João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque e assumiu novamente uma das vagas de deputado federal pela Paraíba.
PROBLEMAS À VISTA!
João Pessoa discordava da forma como o grupo político que o elegera conduzia a política do seu estado e logo surgiram sérias divergências com os latifundiários. Um dos maiores embates estava na cobrança de taxas de exportação do algodão. Por esta época os coronéis exportavam o produto principalmente através do porto de Recife, provocando enormes perdas de divisas tributárias para a Paraíba. Procurando evitar esta sangria financeira e efetivamente cobrar os coronéis, João Pessoa implantou diversos postos de fiscalização nas fronteiras da Paraíba, irritando de tal forma estes caudilhos, que pejorativamente passaram a chamar o governador de “João Cancela”.
Os embates políticos entre o governador e os coronéis foram crescendo. A maior liderança entre estes poderosos foi sem dúvida o coronel José Pereira Lima. Verdadeiro imperador da região oeste da Paraíba, na área da fronteira com Pernambuco, tendo como base, a cidade de Princesa e este discordava com veemência das ações de João Pessoa. Do embate entre estes dois homens, resultou um dos maiores conflitos armados do Brasil Republicano.
A contenda teve início em 28 de fevereiro de 1930, quando ocorreu a invasão da cidade de Teixeira por parte da polícia paraibana, com o aprisionamento dos membros da conceituada família Dantas, ligada por profundos laços de parentescos e interesses ao coronel José Pereira. Apesar de governador João Pessoa não contar com o apoio do Palácio do Catete, onde o titular, Washington Luís não viabilizou uma efetiva ajuda às forças policiais paraibanas, o governador paraibano foi à luta.
Em meio aos conflitos da chamada “Guerra de Princesa”, no dia 26 de julho de 1930, um sábado, João Pessoa estava na Confeitaria Glória, em Recife, quando foi atingido por dois disparos desfechados pelo advogado paraibano João Duarte Dantas.
Da mesma família Dantas da região de Teixeira, consta que após realizar uma viagem João Dantas encontrou seu escritório na capital paraibana violado. Entre os objetos roubados estavam cartas e poemas eróticos, além de fotografias sensuais, trocados com a sua amante, a poetisa Anayde Beiriz. Estes materiais teriam sido roubados por membros da polícia paraibana, sob as ordens de João Pessoa, sendo publicados e colocados em locais públicos. Diante dessa exibição João Dantas foi à confeitaria vingar a sua privacidade violada[2].
Após o crime, João Pessoa se tornou um grande herói para o povo paraibano e seu assassinato foi o estopim da conhecida Revolução de 1930. Neste meio tempo cresceu descontroladamente o radicalismo na Paraíba e muito sangue correu[3].
A PARTIDA
Por ser João Suassuna casado com uma prima de João Dantas, ter sido eleito deputado federal com o apoio dos Dantas da cidade de Teixeira e do coronel José Pereira, o pai de Ariano ficou na mira dos familiares, amigos e correligionários do falecido João Pessoa.
No dia da morte do então governador paraibano na Confeitaria Gloria, João Suassuna se encontrava no Recife. Já sua família, inclusive o menino Ariano de três anos, estava na capital paraibana, em uma casa alugada ao Dr. Mariano Falcão, na Rua das Trincheiras. Diante do aumento da tensão na capital, Rita Suassuna e seus nove filhos vão se refugiar no 22º Batalhão de Caçadores, ou 22º BC, atual 15º Batalhão de Infantaria Motorizada. Em pouco tempo João Suassuna conseguiu apoio do rico empresário Frederico João Lundgren e consegue apoio do Exército para trazer sua família para uma casa mobiliada, pertencente a este empresário e localizada na cidade pernambucana de Paulista. Um dado interessante foi que a escolta da família Suassuna era comandada pelo tenente Agildo Barata[4].
O deputado João Suassuna recebeu a comunicação que havia sido denunciado como cúmplice no assassinato de João Pessoa e teria que ir ao Rio de Janeiro para se defender na Câmara dos Deputados. No Porto do Recife ele embarcou no paquete “Zelândia” e lá estava toda a sua família para as despedidas. Mesmo tendo naquela ocasião apenas três anos de idade, Ariano Vilar Suassuna sempre relatou ao longo de sua vida que jamais esqueceu a partida do seu pai para a Capital Federal, pois aquela foi a última ocasião que o viu com vida.
João Suassuna chegou a Capital Federal no dia 22 de outubro de 1930, se apresentou a Câmara Federal. Lá soube que tramitava na comissão de constituição e justiça um pedido do deputado estadual pernambucano João Paes de Carvalho Barros, para que fosse concedida uma licença para abrir uma investigação sobre a participação de Suassuna como cúmplice no assassinato de João Pessoa. Logo o pedido foi indeferido pelo presidente da casa, o deputado federal João Santos[5].
TEMPO DE REVOLTA
Não tarda e a convulsão política eclode. A conhecida Revolução de 1930 teve seu início em 03 de outubro de 1930, uma sexta feira, com movimentos sincronizados que foram levados a efeito no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Paraíba.
Mesmo diante desta situação, o deputado João Suassuna se coloca ao lado do presidente Washington Luís, junto com mais de uma centena de políticos. Todos se encontraram na tarde do dia 4 de outubro no Palácio da Guanabara, atual sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro, onde morava o mandatário que em breve seria deposto[6].
Os dias seguiam com mais notícias preocupantes vindas da Paraíba e de Pernambuco. Na capital paraibana, na madrugada do dia 4 de outubro, poucas horas após o movimento ter-se iniciado, os revolucionários atacaram o 22º BC e ali morreu o general legalista Alberto Lavenère Wanderley, comandante da 7ª Região Militar. Já o 23º BC da cidade de Sousa, opôs resistência aos revolucionários. Logo em seguida sublevaram-se o 25º BC de Teresina, o 24º BC de São Luís e o 29º BC de Natal.
Em Recife o movimento encontrou uma resistência maior por parte das forças legalistas, que haviam se colocado de prontidão ao surgirem notícias da revolução. A vitória dos revolucionários, contudo, foi garantida pelo apoio popular à insurreição, tendo ocorrido, inclusive, distribuição de armas aos populares. Já na manhã do dia 5 de outubro, o movimento havia triunfado em Pernambuco, antes mesmo que os reforços provenientes da Paraíba chegassem a Recife. No dia seguinte a posição dos revoltosos se consolidou quando o presidente do estado, Estácio Coimbra, abandonou o governo[7].
TIRO MORTAL
Enquanto as notícias das sublevações e lutas pelo Brasil afora preocupavam os cariocas e o governo Washington Luís seguia para seus últimos dias, João Suassuna se dividia entre saber notícias de sua família e a atividade parlamentar.
Nesta época o deputado paraibano morava no quarto 63, do Novo Hotel Belo Horizonte, localizado na Rua Riachuelo, 130, no bairro de Botafogo.
Suassuna tinha o hábito de sempre descer ao “hall” principal para ler os jornais ainda pela manhã. Naquela quinta feira, 9 de outubro de 1930, ele estava nesta atividade quando apareceu uma visita. Era o farmacêutico paraibano Caio Gusmão, que há quatro meses residia no Rio. Eram cerca de oito e quarenta da manhã, quando o deputado decidiu seguir junto com seu visitante para o Palácio Tiradentes, sede da Câmara Federal. Estava vestido de paletó de casimira cinza e sapatos pretos[8].
Os dois caminharam um bom trecho pela Rua Riachuelo, quando Suassuna olhou para o céu e comentou…
- Parece que vai chover e vou buscar minha capa no hotel!
Deu meia volta, avançou alguns passos, mas nesse momento foi atingido por um disparo de arma de fogo. Suassuna tentou sacar um revólver “Colt” que conduzia, mas caiu no chão já morto por apenas aquele único tiro. O fato ocorreu na altura do número 111, próximo a esquina com a Rua dos Inválidos[9].
Caio Gusmão nada pode fazer, o corpo ficou em decúbito dorsal, com o revólver do falecido ao lado e a sua mão manchada de sangue[10].
Logo encheu de gente. Rapidinho se espalhou a notícia sobre quem havia sofrido aquele atentado e o espanto dos transeuntes foi geral. Populares chamaram a “Assistência”, o SAMU da época, que logo chegou, mas nada puderam fazer em favor de João Suassuna.
Em pouco tempo o delegado do 12º Distrito Policial, o Dr. Eunápio Hardman Castello Branco, em companhia do comissário Antônio Pizarro de Morais, chegou ao local e depois vieram várias outras autoridades policiais. Das primeiras investigações descobriram que o assassino fugiu pela Rua Paula Matos, em direção ao Morro de Santa Tereza. Foi comentado aos policiais que o atirador possuía estatura mediana, vestia paletó branco, usava boné de casimira negra e calçava “tennis”[11].
Desde os primeiros momentos que os jornais cariocas apontavam que a razão do assassinato de João Suassuna era vingança pela morte de Joao Pessoa e mesmo com revoltas pipocando no país, os revolucionários de 1930 ainda não tinham conquistado a Capital Federal. Começou então a caçada ao assassino.
Inicialmente em uma vila, um policial encontrou um revólver de grosso calibre do tipo “buldogue” e uma pistola modelo “Liberty”. Além de toda a roupa utilizada pelo pistoleiro na hora do crime. Logo os investigadores perceberam pelas pistas deixadas que um cúmplice estava dando apoio ao matador.
Fosse pela importância de João Suassuna, ou por eficiência (ou uma soma destes dois fatores), o certo é que ás onze e meia da noite do dia 9 de outubro, policiais da 2ª Delegacia Auxiliar capturaram o assassino.
Este se chamava Miguel Alves de Souza e havia sido preso no grande sobrado que pertencia ao engenheiro Joaquim de Souza Leão, localizado na Rua São Clemente, 261, bairro de Botafogo, a poucos metros da tradicional Igreja e Colégio Santo Inácio. Assim foi preso Miguel Alves confessou o crime[12].
Este era paraibano de Alagoa Grande, tinha 30 anos, havia chegado ao Rio pelo vapor “Itapuy” no dia 18 de julho de 1929, trabalhava como tratador de cavalos de cavalos e depois se tornou empregado do engenheiro Joaquim de Souza Leão.
Em uma entrevista concedida ao jornalista Ricardo Farias, publicada no caderno especial do jornal paraibano “A União”, edição de 12 de fevereiro de 2013, página 3, Ariano Suassuna comentou que o assassino de seu pai foi preso na casa do concunhado de João Pessoa[13].
Provavelmente os algozes de João Suassuna tinham a ideia que a polícia carioca jamais concluiria que na casa de gente tão graúda, como a Dr. Joaquim de Souza Leão, encontrariam um elemento que havia matado covardemente um homem pelas costas.
TRAMA ASSASSINA
No dia 10 de outubro, enquanto as autoridades “apertavam” Miguel para ele dar conta do assassinato, no Senado Federal, para onde seguiu o corpo de João Suassuna, ocorreram várias homenagens.
O ex-governador potiguar, então senador, José Augusto Bezerra de Medeiros, proferiu um interessante discurso sobre a vida do falecido político paraibano. Houve uma missa de corpo presente, várias autoridades estiveram no velório e foram colocadas muitas coroas de flores. João Suassuna foi enterrado no tumulo número 611, no cemitério São João Batista, em Botafogo. Mas nem sua mulher e nenhum de seus nove filhos estiveram presentes!
Enquanto isso na delegacia, Miguel Alves de Souza confessou que recebeu o apoio de outro paraibano chamado Antônio Granjeiro. Este era carteiro dos Correios e Telégrafos no Rio, lhe forneceu as armas e apoiou na sua fuga. Granjeiro foi logo preso[14].
Os dois comparsas entregaram então Otcacílio de Lucena Montenegro, um funcionário do Tribunal de Contas, como a pessoa que procurou Granjeiro, lhe deu o dinheiro para a compra das armas do crime e a ordem para procurar alguém disposto a apertar o gatilho.
E quem era Octacílio de Lucena Montenegro?
Na mesma entrevista concedida ao jornalista Ricardo Farias, do jornal paraibano “A União”, em fevereiro de 2013, Ariano Suassuna comentou que foi Octacílio quem intermediou junto a Granjeiro o assassinato de seu pai e que Octacílio era sobrinho do então coronel do Exército Aristarco Pessoa, irmão de João Pessoa[15].
Demorou mais alguns dias para prenderem Octacílio, mas ele foi finalmente detido na Tijuca. Para dirimir dúvidas, o investigador Silvio Terra fez uma acareação na 2ª Delegacia Auxiliar entre Octacílio, Granjeiro e Miguel Alves e para o policial ficou patente a participação de Octacílio. Mas este negou peremptoriamente sua participação.
Para os policiais Antônio Granjeiro, homem pobre e com numerosa família (tinha onze filhos), era considerado “doentio e muito sugestionável” e as preleções de Octacílio, que entre outras coisas dizia
“-Será que não existe um paraibano que seja capaz de vingar a morte de João Pessoa?” surtiram efeito desejado. Granjeiro foi atrás de Miguel e o crime ocorreu.
Entre outras acusações Granjeiro foi apontado como o homem que seguiu João Suassuna, conheceu sua rotina, comprou as duas armas usadas no crime e chegou a enviá-las para um armeiro quando foram detectadas defeitos nelas. Foi ele quem adquiriu a munição e no dia 7 de outubro, dois dias antes do crime, foi com Miguel Alves praticar tiro ao alvo nas margens da hoje superpovoada lagoa Rodrigo de Freitas, próximo ao Jóquei Clube do Rio.
Os três acusados, entre estes um carteiro e um tratador de animais, foram defendidos pelo ninguém menos que advogado Clóvis Dunshee de Abranches, considerado um dos maiores criminalistas do Brasil na época e famoso pelo rumoroso caso Sylvia Seraphin Thibau[16].
Mas nesta época nem foi tão necessário a participação de um jurista tão renomado para defender estes homens, pois logo os revolucionários chegaram ao Rio de Janeiro, depuseram o presidente e assumiram o poder. No vácuo institucional, em meio às alegrias da vitória, os três homens responsáveis pela morte de João Suassuna foram soltos[17].
EM BUSCA DE JUSTIÇA
Foi Rita Suassuna que não deixou a morte de seu marido cair no esquecimento.
Tempos depois ela enviou uma carta extremamente intensa e emocionada ao então Presidente Getúlio Vargas e este mandou reabrir o caso. Em pouco tempo a morte de João Suassuna voltou às páginas dos periódicos cariocas.
Foram decretadas as prisões de Antônio Granjeiro e Miguel Alves. O primeiro foi preso em casa, no Rio. O segundo foi capturado na Paraíba e recambiado de navio para a Capital Federal[18].
Já os autos do processo simplesmente haviam sumido. Para completar o quadro os jornais noticiaram que novos depoimentos alteraram a situação de Octacílio de Lucena Montenegro e ele sequer prestou mais algum depoimento[19].
O promotor Francisco Belizário Velloso Rabello se preparou para o julgamento acusando os réus de “assassinato premeditado e sem direito a defesa”. Apoiando a promotoria, a pedido de Rita Suassuna, estava o advogado e ex-senador paraibano José Gaudêncio[20].
Já o advogado Clóvis Dunshee de Abranches apresentou em favor dos réus a alegação que o crime por eles cometido “ocorreu em um período de intensa perturbação política devido à morte de João Pessoa” e isso gerou nos assassinos de João Suassuna “uma forte perturbação dos sentidos e da inteligência”[21].
Visando reforçar a defesa, o advogado Dunshee de Abranches conseguiu do “Centro Paraybano” no Rio de Janeiro, entidade de apoio aos paraibanos que viviam na Capital Federal, mas também servia de local de encontros políticos, uma carta em defesa dos réus. Produzida por Arthur Victor, presidente da instituição, a carta é uma longa peça acusatória contra João Suassuna, que mostra bem os processos da política radical daqueles tempos.
Entre outras coisas está descrito que Irineu José do Nascimento, padrasto de Miguel Alves, e um 1º sargento reformado da polícia paraibana, havia sido fuzilado “por ordem de João Suassuna”, deixando sua mãe e três irmãos no desamparo. Sua família foi obrigada a fugir para Pernambuco, onde sofreram “sérias perseguições” por parte de Estácio Coimbra, então governador daquele estado.
Já Antônio Granjeiro nasceu em 1888, chegou ao Rio em 1912, entrou nos Correios e Telégrafos e foi transferido para Diamantina (MG). Depois de retornar para o Rio começou a participar das atividades do “Centro Paraybano” e na época que iniciou os movimentos políticos contra o governo Washington Luís, o destemido Granjeiro era uma espécie de segurança e forte entusiasta pela causa liberal.
A carta do presidente do “Centro Paraybano” menciona um episódio envolvendo Granjeiro, na época que o corpo de João Pessoa chegou para ser enterrado ao Rio de Janeiro. Quando da passagem do féretro por uma grande avenida, em meio à multidão, o carteiro gritou a pleno pulmões um “De joelhos!” e docilmente se ajoelhou diante do caixão do governador assassinado e seu gesto seguido por muitos presentes. Aparentemente isso o tornou uma figura de destaque do “Centro Paraybano”[22].
O julgamento começou ao meio dia de uma quarta feira, 18 de novembro de 1931, sob a presidência do juiz Nelson Hungria. O corpo de jurados era formado por sete homens e, apesar da atenção que aquele júri despertava entre os cariocas, tudo ocorreu de forma rápida e os dois réus foram absolvidos por 5 a 2 e a promotoria recorreu[23].
NOVO JULGAMENTO
Em 8 de janeiro de 1933 houve um novo julgamento, desta vez sendo presidido pelo juiz Antônio Eugênio Magarinos Torres, tendo como promotor Rufino de Loy e novamente a frente da defesa o competente Clóvis Dunshee de Abranches. Percebemos que, tal como o julgamento ocorrido em 1931, este segundo embate jurídico atraiu a atenção dos cariocas, sendo francamente noticiado na imprensa local.
O promotor Rufino fez uma longa acusação. Já o advogado de defesa, com enorme desenvoltura, busca destruir todos os argumentos da promotoria. Mostrou com extrema eloquência a sofrida história de vida dos réus, apontando-os como “nordestinos pobres”. Trás para o tribunal o clima de revolta e instabilidade política de outubro de 1930, torna a ler a carta do “Centro Paraybano” e coloca os réus fora da classe dos “criminosos vulgares”. Cita vários juristas, psiquiatras e médicos para explicar como as emoções políticas tinha haver com o assassinato de João Suassuna. Ele relembrou a epopeia dos “18 do Forte”, fazendo uma relação deste caso para justificar o clima emocional dos réus diante da morte de João Pessoa[24].
Dunshee de Abranches fez até mesmo considerações para o crime de regicídio. Em determinada hora, como era praxe no tribunal no Rio, houve a parada para o “chá”[25].
Depois do retorno e finalização dos debates, os jurados se recolheram para decidir o futuro dos réus. Em 30 minutos trouxeram para o juiz Magarinos Torres o “Veredictum”, condenando Miguel Aves de Souza há seis anos e Antônio Granjeiro a quatro anos de detenção[26].
O julgamento teve outros desdobramentos. A família Pessoa, através do filho de João Pessoa, o jornalista Epitácio Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, abriu fogo com suas baterias jurídicas, processando o promotor Rufino de Loy. Entre outras coisas consideradas um acinte pela família e ditas pelo promotor na tribuna, estava que os réus “eram conhecidos da família Pessoa”. Não sei o resultado deste processo.
A TROCA
Evidentemente que para Rita Suassuna o resultado do julgamento foi decepcionante, uma verdadeira lástima. Mas o pior foi a viúva de João Suassuna saber que Antônio Granjeiro passou pouco mais de um ano na cadeia e ainda conseguiu que os seus “serviços” pela causa liberal fossem “plenamente recompensados” com a sua liberdade. Mesmo condenado no tribunal, este verdadeiro “alpinista político”, que queria ascensão com o sangue alheio, foi reincorporado aos Correios e Telégrafos em junho de 1934 e voltou a sua primitiva função de carteiro no Rio de Janeiro.
Já o assassino Miguel Alves de Souza se perdeu no “oco do mundo”!
Na época a família Pessoa foi muito eficaz em criar em torno da morte de João Pessoa, toda uma condição de perpetuação da memória desta família na Paraíba. Começa que a atual denominação da capital paraibana é “João Pessoa”, fato único entre as capitais estaduais brasileiras. Depois basta fazer uma pequena pesquisa no Google e se percebe o alto número de ruas e logradouros com nomes e sobrenomes ligados a família do governador morto na Confeitaria Glória.
Já Rita Suassuna, depois de várias mudanças e provações, levou seus filhos para a cidade de Taperoá, no sertão paraibano. Ali, em uma região onde isso era a praxe, lutou para que seus cinco filhos homens jamais partissem para vingar a morte do pai. Entretanto a família de João Suassuna sempre perpetuou a memória de João Suassuna e isso se incorporou no jovem Ariano, mesmo com tão pouca idade na ocasião da morte de seu pai.
Mesmo sem saber mensurar o quanto o peso da morte de João Suassuna contribuiu para moldar o Ariano Suassuna escritor, eu creio que de certa maneira ele realizou a sua “vingança” através dos seus escritos.
Se a família Pessoa buscou se perpetuar em nomes de ruas e logradouros na Paraíba, certamente Ariano se imortalizou na mente e nos corações de milhões de paraibanos, nordestinos e brasileiros com as suas obras. O autor deste trabalho acredita que por muitas décadas e séculos no futuro, o nome e as obras de Ariano Suassuna serão obrigatórias para o entendimento do Nordeste.
Contudo, eu tenho certeza que ele, Ariano Vilar Suassuna, trocaria tudo o que conseguiu com as letras para ter tido a oportunidade de ter visto seu pai conhecer seus filhos, ter acompanhado a sua vida e estar ao lado de João Suassuna no dia de sua morte.
NOTAS
[1] Em 1945 o antigo IFOCS passou a se chamar Departamento Nacional de Obras Contras as Secas – DNOCS. A Fazenda Acauã é um importante patrimônio histórico rural paraibano. Com 300 anos de história, é a mais antiga fazenda de gado e algodão do Sertão da Paraíba. Está localizado a 409 quilômetros da capital, atualmente se localiza na zona rural da cidade de Aparecida. Ariano Suassuna morou no casarão, durante parte de sua infância, e se inspirou em Acauã para escrever suas obras. Ver http://sednemmendes.blogspot.com.br/2013/05/visitando-o-sitio-historico-da-fazenda.html
[2] Segundo material existente no site www.http//pb1.com.br , o vereador Fernando Milanez, sobrinho-neto de João Pessoa, afirmou que a versão de que o assassinato teria sido um crime passional é um “absurdo”, porque, segundo ele, João Pessoa nem conhecia João Duarte Dantas. Para a família de João Pessoa, o ex-presidente foi vítima de ambição e mentira, e a causa do assassinato teria sido política. Independente do motivo, João Dantas, junto ao seu cunhado, Augusto Caldas, que não havia participado do crime, foram presos na Casa de Detenção do Recife. Em 6 de outubro de 1930, nos primeiros dias da Revolução de 1930, os dois teriam sido assassinados. A versão oficial indicou suicídio. Ver – http://pb1.com.br/noticias_dentro.php?pt1=898
[3] No início de 1929 ainda estava em vigência a conhecida “política do café com leite”, em que políticos de Minas Gerais e de São Paulo se alternavam na presidência da república. O então Presidente Washington Luís, indicou o governador São Paulo, Júlio Prestes, como seu sucessor. Apenas três estados negaram o apoio a Prestes: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Os três se uniram a políticos de oposição de diversos estados e formaram, em agosto de 1929, um grupo de oposição denominado Aliança Liberal. No dia 20 de setembro do mesmo ano foram anunciados os candidatos oposicionistas às eleições presidenciais. Getúlio Vargas seria candidato a Presidente do Brasil e João Pessoa seria o candidato a vice-presidente. Após perder as eleições, que foram realizadas em março de 1930, a Aliança Liberal alegou que a vitória de Prestes era decorrente de fraudes. Ver – http://pb1.com.br/noticias_dentro.php?pt1=898
[4] O empresário pernambucano Frederico João Lundgren (1879-1946) foi uma espécie de desbravador em seu tempo. Tratado como coronel, gerou 22 filhos, teve várias mulheres e se tornou uma espécie de lenda do comércio ao levar tecidos e outras mercadorias a dezenas de pequenas cidades do interior do país. Herdeiro de uma tecelagem, Lundgren teve, em 1908, a ideia de criar uma cadeia de varejo pela qual pudesse vender seus produtos. Era o começo das conhecidas Casas Pernambucanas. Ver – http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0726/noticias/a-sobrevivente-m0053283 ehttp://tokdehistoria.com.br/2014/05/12/oxente-hitler-arquivos-e-documentos-mostram-que-os-nazistas-estiveram-na-paraiba/
[5] Ver jornal “O Paiz”, Rio de Janeiro, edição de 4 de outubro de 1930, página 4.
[6] Ver jornal “O Paiz”, Rio de Janeiro, edição de 5 de outubro de 1930, na 1ª página. Apesar do Palácio do Catete ser a antiga residência dos Presidentes da República, quando tomou posse Washington Luís decidiu residir no Palácio da Guanabara.
[7] Ver – http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_1930
[8] Este hotel não existe mais, entretanto a estrutura ainda existe, está conservada e o local ainda é utilizado como hotel. Trata-se do Hotel Monte Alegre e fica localizado na mesma Rua Riachuelo, esquina com a Rua Monte Alegre.
[9] Este local fica bem próximo a atual sede da renomada Editora Folha Dirigida.
[10] Os jornais listam que além de sua aliança, de 200 mil réis em dinheiro, um relógio e abotoaduras de ouro, João Suassuna levava a licença para portar sua arma e alguns papéis. Entre estes uma carta fechada para a esposa.
[11] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de 9 de outubro de 1930, 1ª página e o jornal “O Paiz”, Rio de Janeiro, edição de 10 de outubro de 1930, página 2. Desde os primeiros momentos as investigações ficaram a cargo do investigador Silvio Terra, figura lendária da polícia investigativa carioca, cujo nome atualmente batiza a Academia de Polícia Civil do Rio de Janeiro.
[12] Joaquim Souza Leão era um puro exemplo de um membro oriundo da mais alta elite agrária açucareira pernambucana. Era sobrinho de desembargador, de senador do Império, do Visconde de Campo Alegre e filho de Antônio de Souza Leão, rico fazendeiro pernambucano da região de Moreno e que havia recebido do Imperador Pedro II o título de Barão de Morenos. Um de seus filhos foi embaixador. Ver – http://morenoengenho.blogspot.com.br/
[13] Ver – http://issuu.com/auniao/docs/caderno_especial_parte_1
[14] Ver o jornal “O Paiz”, Rio de Janeiro, edição de 11 de outubro de 1930, página 2 e o jornal “Diário carioca”, Rio de Janeiro, edição de 7 de janeiro de 1933, 1ª página.
[15] Segundo Ariano Suassuna, na década de 1950, quando ele entrou na Faculdade de Direito de Recife, conheceu o filho do Joaquim Pessoa Cavalcante de Albuquerque, irmão de João Pessoa, que isentou o pai da morte de João Suassuna. Mas não o tio Aristarco Pessoa e nem a participação de Octacílio de Lucena Montenegro no crime. Ver –http://issuu.com/auniao/docs/caderno_especial_parte_1
[16] Sylvia Seraphin Thibau era uma jornalista, escritora e poetisa, era casada com o médico João Thibau Júnior e mãe de dois filhos. Sylvia foi acusada pelo jornal carioca “A Crítica” de ter traído o marido, mantendo um caso com o também médico Manuel Dias de Abreu, mais tarde inventor da abreugrafia. Irritada, ela foi à redação do jornal armada, para matar o editor, Mario Rodrigues, no dia 26 de novembro de 1929. Como Mário não estava no jornal, Sylvia acabou atirando no filho dele, o também jornalista Roberto. No local, assistindo ao crime, estava o irmão da vítima, Nelson Rodrigues, então com 17 anos. O processo criminal foi acompanhado por uma feroz campanha promovida pelo jornal, que chamava a ré de “literata do Mangue” e “cadela das pernas felpudas”. Seu julgamento foi o primeiro no Brasil a ser transmitido ao vivo pelo rádio. O advogado Clovis Dunshee de Abranches alegou que Sylvia havia se descontrolado por ter sido caluniada e conseguiu a sua absolvição. Ela suicidou-se em 1936, depois de abandonada por um tenente-aviador por quem havia se apaixonado. Verhttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADlvia_Serafim_Thibau
[17] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de 4 de novembro de 1930, página 9. Neste jornal temos uma longa declaração de Silvio Terra, se defendendo de acusações feitas por Octacílio de Lucena Montenegro através dos jornais. As acusações de Octávio apontam que este havia sido torturado pelos policiais para confessar sua participação na morte de Ariano Suassuna. Não encontrei a edição de jornal com a publicação de Octávio contra Silvio Terra. Mas encontrei a carta de defesa do investigador aos seus superiores e publicada nos jornais do Rio. Este investigador é muito claro, direto e contundente em suas afirmativas, além de negar veementemente o uso de tortura contra os detidos. O então coronel Bertoldo Klinger, líder revolucionário, elogiou o posicionamento do policial. Ver também “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de 11 de julho de 1931, página 3.
[18] Miguel Alves estava incluso no crime previsto no Artigo 294, parágrafo 1º, com agravantes do Artigo 39, parágrafos 2º, 7º, 8º e 13º. Já Granjeiro era acusado nos mesmos artigos, acrescentando o artigo 18, parágrafo 3º. Lembrar que estas acusações faziam parte Código Penal anterior ao que atualmente está em vigência. Ver jornal “Diário de Notícias”, Rio de Janeiro, edição de 7 de janeiro de 1933, 1ª página.
[19] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de 11 de julho de 1931, página 3. Os jornais da época não informam quem, quando e onde ocorreram estes depoimentos que livraram Octacílio de Lucena Montenegro deste processo. Nem comentam nada mais sobre o sumiço dos autos e sequer é mais comentado por qualquer razão o nome do Joaquim de Souza Leão como presumidamente envolvido no crime. Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de 11 de julho de 1931, página 3.
[20] Ver jornal “A Esquerda”, Rio de Janeiro, edição de 21 de setembro de 1931, página 4.
[21] Ver jornal “Diário de Notícias”, Rio de Janeiro, edição de 19 de agosto de 1931, página 2.
[22] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de 11 de setembro de 1931, página 3. Por mais estranha que esta história de ficar de joelhos diante do caixão de João Pessoa possa parecer, naquela época, naquelas circunstâncias, isso aconteceu de verdade. Na capital paraibana o nível de fanatismo em 1930 era tal, que se alguém tocasse em um local público uma certa música criada para homenagear o morto ilustre, e alguém gritasse um sonoro “De joelhos!”, aí de quem não cumprisse a ordem. Ou era surrado, ou preso! Em outros estados também ocorreram muitas manifestações radicais. No Rio Grande do Norte, como consequência direta das mudanças da mudanças políticas da Revolução de 1930, a campanha estadual de 1934 foi uma das mais violentas da história política potiguar, com vários mortos em meio a inúmeras arbitrariedades.
[23] Ver jornal “Diário Carioca”, Rio de Janeiro, edição de 19 de novembro de 1931, página 3. É interessante comentar sobre o juiz Nelson Hungria Hoffbauer. Este nasceu em Além Paraíba, Minas Gerais, em 1891, iniciou sua vida pública como promotor de Rio Pomba, em seu estado natal. Nomeado juiz em 1924, foi magistrado por 46 anos, tendo sido nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal em 1951, do qual chegou à presidência e se aposentou em 1961. Hungria é tido como um dos luminares de nossa cultura jurídico-penal, onde deixou escrito 17 obras e 150 monografias. Foi considerado o líder intelectual da redação do Código Penal de 1940, além de ter participado da elaboração do Código de Processo Penal, da Lei de Contravenções Penais e ainda da Lei de Economia Popular. Seus Comentários ao Código Penal (8 volumes) influenciaram gerações de juristas brasileiros e constituíram referência obrigatória para a compreensão de nosso sistema jurídico penal. Ver – http://www.memorial.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=114
[24] A Revolta dos 18 do Forte de Copacabana foi uma revolta tenentista ocorrida na cidade do Rio de Janeiro em 5 de julho de 1922. Foi a primeira revolta tenentista da República Velha. Teve a participação de 17 militares e um civil. Suas causas principais estão no descontentamento dos tenentes com o monopólio político do poder no Brasil por parte das oligarquias (principalmente ricos fazendeiros) de Minas Gerais e São Paulo. Embora o movimento tivesse sido planejado em várias unidades militares, somente o Forte de Copacabana e a Escola Militar se levantaram no dia 5 de julho de 1922. O forte foi bombardeado e a rendição dos rebeldes foi exigida. O tenente Siqueira Campos e um grupo de militares rebeldes pegaram armas e marcharam pelas ruas em direção ao Palácio do Catete (sede do governo federal na época). Durante a marcha alguns militares desistiram, ficando apenas 17 que receberam o apoio na rua de um civil, totalizando 18. Os rebeldes foram cercados pela tropa do Governo Federal. Após forte tiroteio em frente ao posto 3 da praia de Copacabana, somente Siqueira Campos e Eduardo Gomes sobreviveram e foram presos. Os outros dezesseis integrantes do movimento foram mortos no combate.
[25] Regicídio é o assassinato de um rei, seu consorte, de um príncipe herdeiro ou de outras formas de regentes, como presidentes e primeiro ministros. Verhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Regic%C3%ADdio
[26] Ver o periódico “Diário de Notícias”, Rio de Janeiro, nas edições de 7 e 8 de janeiro de 1933, sempre nas 1ª páginas. Igualmente ver o jornal “Diário Carioca”, Rio de Janeiro, edição de 7 de janeiro de 1933, 1ª e 5º páginas.
Pescado no essencial Tok de História
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