Mestre Naninho
Naninho foi registrado com o nome de Martiniano Moreira de Carvalho, mas na comunidade de Bichinho, onde ele nasceu em 1962 e onde vive até hoje, todo mundo só o conhece pelo seu apelido. Bichinho (Vitoriano Veloso) é um povoado de aproximadamente 1000 habitantes, pertencente ao município mineiro de Prados e que fica há apenas 7 Km da famosa cidade de Tiradentes.
Quando era criança Naninho fazia seus próprios brinquedos amassando barro no quintal de sua casa. Bois, cavalos, porcos e galinhas de barro, eram seus brinquedos no tempo de criança.
O leitor pode perceber que a maioria dos artistas citados nesse blog, quando eram crianças tinham esse mesmo costume, o de brincar com o barro. Isso até então não revelava nada dos artistas que eles viriam a se tornar, era apenas uma brincadeira de criança pobre, mas que certamente eram os primeiros indícios da arte, começando a se expressar entre seus dedos.
Com Naninho foi assim, a brincadeira de criança estava longe de revelar o grande artista que ele viria a se tornar. Mas o caminho não foi simples, nem fácil. Aos 13 anos Naninho já fazia algumas pecinhas de madeira, mas teve que abandonar essa pratica porque, segundo ele, não tinham nenhum valor na região onde morava. Já adulto, começou a trabalhar como pedreiro na vizinha cidade de Tiradentes. Com o desemprego crescente, voltou para Bichinho.
Foi aí então que tudo começou. Era quase Semana Santa e a comunidade de Bichinho estava ameaçada de não poder realizar a procissão do senhor morto, porque uma igreja de Tiradentes não podia emprestar uma de suas imagens, como fazia todos os anos. Foi aí que Naninho arriscou o que nunca havia antes tentado: esculpir na madeira um Cristo para a procissão da Semana Santa. Ele conseguiu; de uma tora de madeira fez surgir um Cristo vergado pelo sofrimento. Segundo ele, tudo aconteceu sem nenhuma orientação... “fui fazendo e pronto”, diz. Segundo a família, “um milagre!”. Desde então, Naninho nunca mais parou.
Naninho em seu ateliê. FOTO: Francisco Ribeiro do Vale.
Naninho diz que aprendeu com o barro e com o Toti (Antonio Carlos Bech), artista plástico paulista que “desembarcou” em Bichinho em 1991 e fundou a Oficina de Agosto, um projeto que tinha como objetivo garantir a sustentabilidade ambiental e da comunidade, através da valorização da criatividade artística individual e do trabalho coletivo. Atualmente, são 25 oficinas espalhadas pelas ruas do povoado repletas de turistas.
Naninho esculpe diversas peças na madeira: vai desde santos católicos a personagens mineiros. Seu estilo lembra muito o incomparável Aleijadinho, mestre do barroco mineiro. Mas sua peça mais emblemática é o Divino Esplendor (uma pomba esculpida em madeira, rodeada de raios, representando o Divino Espírito Santo), que foi criada por ele há mais de uma década. Antes os Divinos só eram encontrados nas igrejas de Minas Gerais... “hoje todo mundo faz, mas se olhar bem vai notar as diferenças”, diz.
Naninho, detalhe Divino Esplendor. Madeira. Coleçao pessoal.
Naninho, Agnus Dei. Escultura com tricotomia. Foto: Bianca Aun. Reproduçao fotográfica Catálogo 40 anos do Centro de Artesanato Mineiro, Belo Horizonte: SEBRAE-MG, 2010.
Hoje, aos 48 anos, Naninho emprega toda a família em seu ateliê. Seu genro Amilton Trindade Narciso foi o que alcançou maior destaque e hoje tem sido considerado por muitos como seu sucessor natural.
Contato com Naninho:
Av. Samuel Possa, 263 – Bichinho
36320-000, Prados-MG
Tel: (32) 3353-7013
Fonte Bibliográfica:
- Lima, Beth & Lima, Valfrido. Em Nome do Autor. Proposta Edital, São Paulo-SP, 2008.
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