Um modesto tocador de 8 Baixos
Seu Bilino, Antônio Felizardo Alves, de 64 anos, começou a tocar ainda era menino, em 1958, quando seu pai comprou uma sanfona de 8 Baixos pra ele. Naquela época os forrozeiros tocavam nos casamentos, nos aniversários, diz Seu Bilino. “Ele comprou uma sanfona pra eu tocar pra ganhar um dinheirinho. Era a diversão da zona rural e da mata. Nessa época o povo tocava a noite toda”, conta ele, que veio de uma família de 60 músicos.
Modesto, Bilino diz que não é tocador profissional, que sua profissão mesmo é afinar acordeon: “Meu ramo mesmo é ser afinador de acordeon, quando o fole se acaba eu também recupero”, diz ele. Mas é com maestria que ele pega o instrumento e desliza os dedos, puxando o fole. Depois ele mesmo reconhece sua sabedoria: “Tem uma música que eu fiz que eu botei o nome Avessinho, um chorinho. Esse choro que eu fiz, o povo do Rio, de São Paulo pegaram muito, eles ‘Seu Bilino, toca Avessinho pra nós’. É um forró tão bom de dançar que quando eu tou tocando ele todo mundo pega o ritmo, quer dançar. O finado Dominguinhos quando tava vivo foi tocar na rádio em São Paulo, aí um senhor me chamou pra tocar nessa rádio e eu fui tocar mais Zé Onório, que era um tocador de 8 Baixos de São Paulo. Aí ele fez assim – porque eu falei de Exu – ‘esse caba de Exu é bom’. Eu toquei Avessinho. Eu toco à direita e às avessas, à direita e às avessas. Músico nenhum tá conseguindo no país inteiro tocar esse choro porque é muito difícil, ler pra trás num é difícil? Num dá outras palavras? A música é assim também”, conta.
Bilino teve dois mestres, um foi seu pai, que lhe ensinou duas coisas, uma é que “a música é pra ser tocada com carinho e amor, bem feliz”. A outra é que tem músicas que devem ser guardadas pra momentos especiais. “Meu pai dizia ‘Num toque essa música atoa não. Toque num momento especial, que você fica feliz e eu também fico”, ensina.
O outro mestre de Bilino foi Severino Januário, irmão de Gonzagão. “Eu tocava com Severino Januário, eu considero ele meu mestre. Eu toco as músicas dele, tem gente que até chora. Hoje eu tou tocando as letras dele por causa dele. É um xote tão bom de dançar que todo mundo arrupeia os cabelos”, brinca Bilino. Ele só fica triste com a falta de reconhecimento do seu mestre “Severino dos 8 Baixos num era mostrado na televisão. Eu fiquei desgostoso, o homem tocava um 8 Baixos daquele jeito e num era mostrado. Eu fiquei meio triste, andei um tempo sem tocar”, conta o tocador que também não tem a atenção dos holofotes, apesar de seu talento merecido.
O vínculo com a família de Gonzagão começou desde cedo, Seu Bilino conta que seu pai só afinava o instrumento com Januário: “Ele trazia o 8 Baixos dele porque ele era mestre, aí quando a sanfona dele quebrava uma vozinha, ele fazia uma botando na linha. Ele vinha pra aqui”. E, Bilino, criança, vinha dentro de um caçoá, de Serrita, sua cidade, para Exu: “Eu até me lembro que ele botava nós num jumento com dois caçoá. Aí nós era dois irmão e uma menina, aí a menina ele deixava em casa. Aí ele botava eu dentro de um caçoá e o outro irmão dentro do outro. Ele colocava uma pedra pra equilibrar o peso do outro, que era maior, aí trazia nós”.
Hoje, assim como grande parte dos nordestinos, Bilino tem veneração por Mestre Lua: “Pro futuro ele vai ser nosso santo dos músicos, o santo dos sanfoneiros. Vai ser que nem o Padre Cícero, que nem Damião. Asa Branca é como se fosse um hino, como se fosse uma reza”, profetiza ele. “Ele é uma raiz do Sertão que a gente não pode abandonar”, afirma o sanfoneiro.
Ciente de que está cada vez mais raro achar pelas bandas do Araripe um tocador de 8 Baixos, “Daqui a uns 50, 100 anos quem tocar 8 Baixos vai ser chefe majoritário do mundo inteiro”, Bilino sente prazer quando consegue passar seu conhecimento a alguém “A coisa que eu acho mais feliz no mundo é eu dar aula pra uma criança, de 8 Baixos, porque de acordeon tá cheio já de tocador”.
Mesmo não tendo alcançado o sucesso profissional que merecia, Bilino toca porque é um apaixonado “Eu num posso abandonar essa carreira até o fim da minha vida”, diz com veemência. “Eu tou feliz desse jeito, porque dinheiro num é tudo na vida não. Eu sou um cara da roça, do mato, eu tenho um sitiozinho lá que eu plantei, tem 16 pés de coco. As filhas vem do meio do mundo passear. Eu acho bom estar no meio da terra aqui escutando Gonzaga tocar, chega um amigo, conversa comigo, chega outro”, conta o humilde tocador do fole típico do Sertão que hoje se tornou preciosidade.
Modesto, Bilino diz que não é tocador profissional, que sua profissão mesmo é afinar acordeon: “Meu ramo mesmo é ser afinador de acordeon, quando o fole se acaba eu também recupero”, diz ele. Mas é com maestria que ele pega o instrumento e desliza os dedos, puxando o fole. Depois ele mesmo reconhece sua sabedoria: “Tem uma música que eu fiz que eu botei o nome Avessinho, um chorinho. Esse choro que eu fiz, o povo do Rio, de São Paulo pegaram muito, eles ‘Seu Bilino, toca Avessinho pra nós’. É um forró tão bom de dançar que quando eu tou tocando ele todo mundo pega o ritmo, quer dançar. O finado Dominguinhos quando tava vivo foi tocar na rádio em São Paulo, aí um senhor me chamou pra tocar nessa rádio e eu fui tocar mais Zé Onório, que era um tocador de 8 Baixos de São Paulo. Aí ele fez assim – porque eu falei de Exu – ‘esse caba de Exu é bom’. Eu toquei Avessinho. Eu toco à direita e às avessas, à direita e às avessas. Músico nenhum tá conseguindo no país inteiro tocar esse choro porque é muito difícil, ler pra trás num é difícil? Num dá outras palavras? A música é assim também”, conta.
Bilino teve dois mestres, um foi seu pai, que lhe ensinou duas coisas, uma é que “a música é pra ser tocada com carinho e amor, bem feliz”. A outra é que tem músicas que devem ser guardadas pra momentos especiais. “Meu pai dizia ‘Num toque essa música atoa não. Toque num momento especial, que você fica feliz e eu também fico”, ensina.
O outro mestre de Bilino foi Severino Januário, irmão de Gonzagão. “Eu tocava com Severino Januário, eu considero ele meu mestre. Eu toco as músicas dele, tem gente que até chora. Hoje eu tou tocando as letras dele por causa dele. É um xote tão bom de dançar que todo mundo arrupeia os cabelos”, brinca Bilino. Ele só fica triste com a falta de reconhecimento do seu mestre “Severino dos 8 Baixos num era mostrado na televisão. Eu fiquei desgostoso, o homem tocava um 8 Baixos daquele jeito e num era mostrado. Eu fiquei meio triste, andei um tempo sem tocar”, conta o tocador que também não tem a atenção dos holofotes, apesar de seu talento merecido.
O vínculo com a família de Gonzagão começou desde cedo, Seu Bilino conta que seu pai só afinava o instrumento com Januário: “Ele trazia o 8 Baixos dele porque ele era mestre, aí quando a sanfona dele quebrava uma vozinha, ele fazia uma botando na linha. Ele vinha pra aqui”. E, Bilino, criança, vinha dentro de um caçoá, de Serrita, sua cidade, para Exu: “Eu até me lembro que ele botava nós num jumento com dois caçoá. Aí nós era dois irmão e uma menina, aí a menina ele deixava em casa. Aí ele botava eu dentro de um caçoá e o outro irmão dentro do outro. Ele colocava uma pedra pra equilibrar o peso do outro, que era maior, aí trazia nós”.
Hoje, assim como grande parte dos nordestinos, Bilino tem veneração por Mestre Lua: “Pro futuro ele vai ser nosso santo dos músicos, o santo dos sanfoneiros. Vai ser que nem o Padre Cícero, que nem Damião. Asa Branca é como se fosse um hino, como se fosse uma reza”, profetiza ele. “Ele é uma raiz do Sertão que a gente não pode abandonar”, afirma o sanfoneiro.
Ciente de que está cada vez mais raro achar pelas bandas do Araripe um tocador de 8 Baixos, “Daqui a uns 50, 100 anos quem tocar 8 Baixos vai ser chefe majoritário do mundo inteiro”, Bilino sente prazer quando consegue passar seu conhecimento a alguém “A coisa que eu acho mais feliz no mundo é eu dar aula pra uma criança, de 8 Baixos, porque de acordeon tá cheio já de tocador”.
Mesmo não tendo alcançado o sucesso profissional que merecia, Bilino toca porque é um apaixonado “Eu num posso abandonar essa carreira até o fim da minha vida”, diz com veemência. “Eu tou feliz desse jeito, porque dinheiro num é tudo na vida não. Eu sou um cara da roça, do mato, eu tenho um sitiozinho lá que eu plantei, tem 16 pés de coco. As filhas vem do meio do mundo passear. Eu acho bom estar no meio da terra aqui escutando Gonzaga tocar, chega um amigo, conversa comigo, chega outro”, conta o humilde tocador do fole típico do Sertão que hoje se tornou preciosidade.
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