Arquiteto, como Fausto Nilo, o piauiense Antônio Brandão, que assina suas obras apenas como Brandão, poeta e letrista, deu contribuições decisivas para a consolidação estética e musical do Pessoal do Ceará. A escritura de algumas das mais emblemáticas letras de canções do grupo passou por seu caderno tais como: "Beco dos Baleiros", "Estrada de Santana", "Pé de Sonho", "Além do Cansaço", "Frio da Serra" (para músicas de Petrúcio Maia); "Esquecimento", "Beleza", "Dois Querer" (para músicas de Raimundo Fagner); "Vaila", "Classificaram", "Amor de Estalo", "Duas Velas", "É Cara de Pau" (para músicas de Ednardo), entre tantas outras. "Beleza", a letra acima é a quarta faixa do álbum homônimo de Fagner e uma peça de rara mestria no universo lírico da MPB. Entre outras por amalgamar um tema universal e abstrato com uma referência tão expressamente local (e bela) como a lamparina.
Vagar sem remissão é também parte da questão: Brandão
[s/i/c]
Beleza
Beleza só se tem
quando se acende a lamparina,
iluminando a alma
se entende a própria sina.
E quando se vê o arame
que amarra toda gente
pendendo das estacas
sob um sol indiferente.
Beleza, só depois
de uma sangria desatada,
aberta na ferida
dos perigos do amor.
E quando se afasta
a sombra triste do remorso
que faz olhar pra dentro
para enfrentar a dor.
Repara este silêncio
que se estende da janela,
repassa o teu passado
e come o lixo que ele encerra.
Vagar sem remissão
é também parte da questão,
juntar estas migalhas
para refazer o pão.
Não é da natureza
que ele surge confeitado,
mas é desta tristeza,
deste adubo de rancor.
Beleza é o temporal
que suja e corta uma visão,
esmaga qualquer sonho
com um grito de pavor.
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