terça-feira, 17 de janeiro de 2023

MESTRE CARDOSO

Raimundo Saraiva Cardoso, o mestre Cardoso, nasceu no interior do Pará em 1930 e faleceu em Icoaraci, distrito a 18 km de Belém, onde morava com a esposa Dona Inês Cardoso, no dia 10 de abril de 2006. O mestre Cardoso foi um renomado artista da cerâmica marajoara do Estado do Pará. Ele juntamente com o mestre Cabeludo foi o responsável pelo surgimento da arte marajoara contemporânea na década de 70. Segundo ele, seu fascínio pela arte marajoara começou com uma visita ao Museu Paraense Emílio Goeldi em Belém, o qual possui em seu acervo uma rica coleção de cerâmica arqueológica, especialmente a marajoara. Mestre Cardoso. Reproduçao fotográfica autoria desconhecida O contato com a cerâmica já tinha acontecido há mais tempo, dentro de sua própria casa; sua mãe era ceramista e vivia numa comunidade onde havia várias olarias. Ao se mudar para a cidade de Icoaraci e ver o que viu no Museu Goeldi, resolveu então a se dedicar ao estudo das técnicas de produção indígenas. Ele pediu permissão para ver as peças e copiá-las dentro do museu. Com a autorização dada, passou a produzir réplicas de cerâmica marajoara e a comercializá-las. Mais ainda, fez despertar nos artistas locais o interesse pelas cerâmicas amazônicas, como a marajoara1 e a tapajônica2. Até a década de 60, a produção de cerâmica em Icoaraci se resumia a telhas, tijolos e potes. Mestre Cardoso foi o responsável pelo estilo de cerâmica indígena no universo de Icoaraci. Ele atraiu a atenção dos moradores pela reação positiva dos turistas e, conseqüentemente, pelo retorno financeiro que essa produção artística dava. Nos anos 70, a comunidade deste pequeno distrito paraense viu nascer uma nova fase de grande produção de réplicas, imitando o estilo das obras pertencentes ao Museu Goeldi. Assim, para ganhar o sustento da família, até as pessoas que jamais tinham se dedicado à cerâmica passaram a produzi-las. Hoje, Icoaraci é o maior centro produtor e divulgador da cerâmica indígena amazônica. O bairro do Paracuri é onde se concentram cerca de 90% destes ceramistas.
O mestre Cardoso passou grande parte de sua vida produzindo réplicas de peças do Museu Emílio Goeldi, usando a mesma técnica rudimentar de seus antepassados, mas também criando suas próprias obras. No ateliê em Icoaraci era onde o barro era preparado, socado, peneirado, hidratado e ensacado. Na decoração das peças, usava tanto o baixo como o alto relevo, além de entalhes, aplicações, e polimentos etc. Os grafismos eram feitos com engobes de cores diversas, feitos com pigmentos extraídos de minerais locais. Depois a peças eram queimadas em forno à lenha. O mestre fez escola também dentro da sua família. Sua esposa D. Inês, que era funcionária do Museu Goeldi, também se dedicou à produção de cerâmica. Hoje os passos artísticos do mestre são seguidos pelo seu filho Levy Cardoso e, claro, pelos vários artistas que se dedicam à arte indígena amazônica no Estado do Pará, com especial menção aos de Icoaraci. A cerâmica produzida por estes artesãos é admirada e consumida em todo o Brasil e exterior e gera, pelo menos, dois mil postos de trabalho, entre diretos e indiretos (Fonte: Diário do Pará). 1. O estilo marajoara se refere à cerâmica da quarta fase arqueológica da Ilha do Marajó. Na tradição de Marajó, a cerâmica se apresenta geralmente nas cores preto, vermelho e branco, com modelagem em relevo, incisões e cortes. 2. O estilo tapajônico tem origem na cerâmica produzida pelos índios na região do Rio Tapajós até o século XVIII. É caracterizada pela produção de estatuetas, muiraquitãs, pratos e cachimbos. As peças se destacam especialmente pela excelência do tratamento plástico que apresentam. Fonte bibliográfica: SCHAAN, D. P. A ARTE DA CERÂMICA MARAJOARA: ENCONTROS ENTRE O PASSADO E O PRESENTE. Habitus, v. 5, n.1, p. 99-117, jan./jun., Goiânia, 2007.
PINTO, M; LIMA, R.G. Icoaraci: Cerâmica do Pará. Catálogo da exposição realizada em 2003 na Sala do Artista Popular do Museu de Folclore Edison Carneiro, FUNARTE – CNFCP, Rio de Janeiro, 2003.

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