terça-feira, 11 de fevereiro de 2014



CAPOEIRA



Tudo leva a crer que a capoeira, um misto de dança e luta, tenha sido criada e desenvolvida no Brasil pelos escravos e seus descendentes, como meio de defesa, com base em tradições africanas, pois as referências populares e de estudiosos sempre mencionam as capoeiras de Angola e Regional.

O expoente máximo da primeira foi Mestre Pastinha; e da segunda Mestre Bimba que, além de nela introduzir variações sutis, criou os golpes “ligados” e “cinturados”, que não existem na capoeira de Angola, forma original da luta/dança. Segundo Mestre Pastinha, “capoeira é ginga, é malícia”. Ambos têm milhares de seguidores, em todo o mundo.

Em seu desenvolvimento, a capoeira tomou uma forma de revide, em resposta às ameaças e agressões físicas sofridas pelos escravos. Como arma de combate, ela utiliza os braços, as pernas, as mãos, os pés, a cabeça, os cotovelos, os joelhos e os ombros. Dos grupos de capoeira participam lutadores, com golpes de ataque e defesa, e instrumentistas.

Os instrumentos utilizados na capoeira são: berimbau de barriga, caxixi, atabaque, pandeiro e reco-reco. O berimbau é o mais importante deles, pela sua originalidade e por dirigir o ritmo da luta. Existem vários toques, cada um com sua finalidade.
Destreza, malícia, a dança guerreira.Luta de escravos em busca da liberdade; luta, dissimulada na elegância de gestos quase sagrados, na descontração alegre e galhofeira do espetáculo. Espetáculo sublime, quando estão em harmonia o toque do berimbau, os demais instrumentos, a voz do mestre, o coro polifônico, a dança dos dois guerreiros e a emoção do perigo real, sempre à espreita, à espera do momento certo, o bote fatal.Jogo, dança, luta.Axé.
O Jogo de Capoeira nasceu sob o signo da Libertação. Nunca nos devemos esquecer disto. É um jogo complexo, que funde a música e a movimentação corporal num todo harmônico. É dança, é canto, é jogo de habilidade e destreza corporal, mas também é luta, e das mais terríveis.“a capoeira baiana é um processo dinâmico, coreográfico, desenvolvido por dois parceiros, caracterizado pela associação de movimentos rituais, executados em sintonia com o ritmo ijexá, regido pelo toque do berimbau, simulando intenções de ataque, defesa e esquiva, ao tempo em que exibe habilidade, força e autoconfiança, em colaboração com o parceiro do jogo, pretendendo cada qual demonstrar sua superioridade sobre o companheiro. O complexo coreográfico se desenvolve a partir de um movimento básico denominado gingado, do qual surgem os demais num desenrolar aparentemente espontâneo e natural, porém com um objetivo dissimulado de obrigar o seu parceiro a admitir a própria inferioridade”.
"Todos os movimentos possíveis do corpo humano são admissíveis no jogo da capoeira, desde que realizados a partir do gingado, em concordância com o toque do berimbau, enquadrados no ritual e não acarretem riscos de lesões ou prejuízo moral ao parceiro, aos demais participantes e/ou aos assistentes."
O berimbau é considerado um instrumento sagrado, e é ele que comanda e dirige a roda: os outros instrumentos não podem encobrir-lhe o som; é ele que determina o ritmo ou andamento do jogo – mais lento ou mais rápido; também é ele que determina o tipo de jogo que se deve jogar (jogo de dentro, de fora, de floreio, de combate, de demonstração de habilidades, de desarme etc.). Geralmente, é o mestre quem segura e toca o berimbau, que ocupa a posição central na bateria. Esta, além do berimbau, compõe-se de pandeiro, atabaque e  agogô.O JOGO:
Sentados ou de pé, os tocadores de berimbau, pandeiro, atabaque (às vezes), e agogô (às vezes). 
O coro e os capoeiristas postam-se em volta da roda; dois capoeiristas agacham-se à frente dos tocadores, ao pé do berimbau, e escutam com atenção a ladainha (veja exemplos em Músicas), que geralmente é a louvação dos feitos e qualidades de capoeiristas lendários, mas pode ainda conter um elogio ou provocação irônica ao parceiro, uma louvação aos presentes, um agradecimento à hospitalidade dos donos da casa ou o relato e comentário de algum acontecido. As ladainhas geralmente contêm lições de vida e transmitem a filosofia da capoeira, servindo de inspiração para o jogo.


Antes de iniciar o jogo os praticantes apertam as mãos, demonstrando amizade e respeito, reafirmando que o que ali ocorrerá será apenas um jogo e não uma luta real.
Em geral, entram na roda com um "AÚ" (movimento semelhante à "estrela" da ginástica olímpica) e começam o jogo.
O jogo de capoeira desenvolve-se a partir da ginga (ou gingado), que consiste em movimentação contínua do corpo de um lado para o outro, visando a confundir o adversário e evitar que este possa aplicar um golpe com eficiência. Ao mesmo tempo, gingando, procura-se um melhor posicionamento para a aplicação dos próprios golpes. Através destes movimentos, sempre ritmados pelo som do berimbau, o capoeirista envolve seu parceiro, procurando nunca confrontar diretamente seus ataques, mas esquivar-se deles e aplicar seus contra-ataques, se possível em movimentos sincronizados com os movimentos do companheiro. Os golpes são executados sem desviar-se de seu objetivo, ou seja, com a intenção de atingir o adversário, mas sempre controlando o tempo dos movimentos, possibilitando tempo para uma resposta adequada, o que garante a continuidade do jogo.


Como costuma dizer Mestre Decânio, "quando há algum choque traumático durante o jogo, é erro dos dois jogadores: um, porque não soube parar o pé na hora exata, e o outro, porque não soube esquivar-se a tempo".
Dá-se ênfase aos movimentos desequilibrantes, como rasteiras, tesouras e cabeçadas, entre outros, movimentos que podem ser aplicados em alunos com algum grau de aprendizado, quando já aprenderam a cair, sem acarretar qualquer lesão. Quando um capoeirista cai em decorrência de um destes movimentos é incentivado a se levantar e continuar o seu jogo.


Dois capoeiristas se benzam e entrem na roda, iniciando o jogo propriamente dito, que é difícil e requer muita atenção, pois pode ser perigoso. O capoeirista tem de ser o mais leve possível, ter grande flexibilidade no corpo e gingar o tempo todo durante o jogo. A ginga é elemento fundamental. Dela é que saem os golpes de defesa e de ataque, não só golpes conhecidos e comuns a todos os capoeiristas, como também os pessoais e os improvisados na hora.
Cumpre observar, de acordo com os grandes mestres, que a eficiência e beleza do jogo de capoeira reside no fato de os capoeiras lutarem próximos um do outro, executando com precisão as seqüências de golpes, contragolpes, negaças e saltos felinos que compõem a luta, em perfeita sincronia de movimentos, sem que se toquem, a não ser nos golpes desequilibrantes ou nos balões da cintura desprezada (exclusivos da capoeira Regional, estes últimos também chamados de golpes ligados ou cinturados), e seguindo rigorosamente a cadência marcada pelo toque do berimbau. Os capoeiristas só tocam o chão com as mãos e os pés (e, às vezes, com a cabeça, nos piões ou aús-de-cabeça). 
Têm os capoeiras como elementos principais de sua luta a cabeça, as mãos e os pés, utilizados com surpresa tática e agilidade felina. No passado, porém, não raro portavam alguma arma contundente, cortante ou perfurocortante. A navalha, naqueles tempos, atemorizava. Em Pernambuco, os capoeiras costumavam usar o quiri – pedaço de madeira rija trabalhada em forma de porrete encastoado. Com os capoeiras do Rio de Janeiro, celebrizou-se o petrópolis, nada mais que um porrete ou bengala um tanto grotesca fabricada na cidade fluminense de que recebeu o nome. “A maior confiança à hora da defesa ou do ataque, entretanto, o capoeira depositava nas próprias pernas. A mesma navalha, de fácil ocultação no cós da calça, ia às vezes no embaraçado pixaim dalguma crioula, de onde a retirava imprevistamente o lutador no instante supremo do entrevero. Na Bahia, usavam ainda certa arma de poderes mágicos, contra corpo fechado: a faca-de-ticum”, ou "tucum", que, segundo a lenda, foi a arma que matou Besouro Mangangá. O tucunzeiro é uma planta palmácea cujo cerne possui resistência igual à do ferro.

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