Natural de Brasília, pianista por formação, Túlio Borges compõe desde a adolescência. Em 2010, é premiado em diversos festivais nacionais e lança seu primeiro disco . O álbum Eu venho vagando no ar apresenta canções autorais e rende elogios de grande parte da crítica nacional, como Tárik de Souza e Zuza Homem de Mello, além do prêmio de melhor cantor independente pela Rádio Cultura de São Paulo e a nominação de um dos 50 melhores discos do ano pela Revista Manuscrita
Em 2014 grava seu segundo álbum, Batente de Pau de Casarão. Dedicado à cidade pernambucana de São José do Egito, conhecida com capital da poesia, o disco é repleto de parcerias com poetas nordestinos, como Climério Ferreira (PI), Jessier Quirino (PB), Afonso Gadelha (PB) e José Chagas (MA).O trabalho é escolhido como um dos 3 melhores discos brasileiro do ano,pelo site " Melhores da Música Brasileira.
Em um destes festivais conheceu a cantora carioca Vytória Rudan com quem passou a dividir o palco. No disco, ela é sua parceira tanto no sedutor samba “Paraty” (“Ela tem algo mais/ coisa que nada no mundo faz/ trazer paz pra um coração”), cevado por cuíca, tamborim e violão, quanto no fado/tango “Zorro” (“Eu quero amar você e vou/ mas tenho que aprender quem sou/ achar dentro de mim o mapa”), onde a dupla contracena no vocal de forma intensa.
Quem também divide o microfone com Túlio é D. Inácia, que o criou e trabalha com a família há 35 anos. “É na vida talvez quem mais tenha me influenciado”, analisa. “Era ela quem trazia o negro e o popular, o nordeste e as histórias para dentro de casa”, conta. Ela abre o disco com Túlio em “Pontos”, de domínio público; “músicas que eu a pegava cantando enquanto trabalhava, canções que ela nem sabia que sabia de cor, tão doces e melodiosas”.
“Eu venho vagando no ar” (título tirado de um dos pontos) aposta nesta pureza depurada pela urbanidade do talentoso Túlio. Como no abaionado “Trem”, aberto por uma percussão que imita este meio de transporte, e tem um trecho de voz projetada, versado como nas cantorias (“o fogão dos meus desejos fala/ é tão linda que a lindeza estala”). Do regional, Túlio salta ao universal na “jazzy” “Shirley”, profusão de imagens sensuais pontuadas pelo próprio violão do cantor e a guitarra de Genil Castro. Deste clima, ele salta para a não menos envolvente “Birosca”, um samba de cuíca, cavaco, clarineta, violões e o piano de Leandro Braga. “Não pode essa princesa/ da sandália e dos pés lindos demais/ da blusa tomara que caia/ repare o tamanho da saia/ e o estrago que ela faz”.
O samba, a urbanidade e o misticismo são as coisas nossas de “Altar”, pontilhada de imagens fluídas (“Tantos morros e só um Redentor”) e duetada com o compositor fluminense Fred Martins. “Há muito choro em mim/ por mil razões que eu sei/ e mais dez mil que herdei” soma “Toca aí”, etérea, no vocal sensível de Túlio, cerzida pelos violões de Rafael dos Anjos. Já a canção “Sua”, pavimentada pelas teclas do próprio autor em diálogo com as digressões do acordeon de Toninho Ferragutti, está entre as mais arrebatadoras do disco. A teia de palavras de “Cicatriz” (“que saudade me dói, devora/ as lembranças do outono outrora”) atada pelo piano de Leandro Braga, sublinha a comunhão do cantor/autor com sua arte (“as lembranças enramam raízes/ por toda parte”).
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