terça-feira, 27 de setembro de 2016

ACORDE - Banda de Pífanos Zé do Estado pt1


      BANDA DE PÍFANO ZÉ DO ESTADO


      Fundada nos idos de 1930,na cidade de São Bento do Una,no agreste pernambucano, fruto da realização do sonho do sanfoneiro Feliciano Rodrigues. O grupo de origem familiar ganhou este nome em homenagem feita pelos filhos e netos ao patriarca e popularmente conhecido como Zé do Estado,um funcionário público estadual. No final dos anos 70 foi de grande relevância deixar para trás suas raízes em São Bento e partir com a prole para trabalhar e orbitar na sonoridade do planeta azul de Caruaru,um verdadeiro  marco na história da família e da banda de pífano. Na capital do agreste, o grupo se integrou ao movimento cultural da cidade e tem se destacado em vários segmentos,devido aos inúmeros projetos em prática como a Casa do Pife,Associação Brasileira de Bandas e Tocadores de Pífanos e a Escola de Pífano. O estilo musical do grupo, que beira o eclético,como característica peculiar da banda, que bebe na fonte das vertentes pura das  tradícões populares das bandas de pífanos, até múltiplos gêneros da música popular brasileira.
A banda já viajou por todo o Brasil e excursionou pela Itália,Suiça,Belgica,Portugal,Inglaterra,Estados Unidos e Canadá,onde a banda gravou um vinil Intitulado " Encontro dos Sanfoneiro " levando a mais pura tradução da nossa cultura popular. A banda de pífano Zé do Estado gravou com personalidades da cena musical nordestina como Azulão, Hebert Lucena e Jacinto Silva e tem um CD gravado e produzido pelo guitarrista e produtor Caruaruense, Paulo Rafael. O grupo tenta perpetuar  o legado da banda  através de projetos  culturais e do engajamento de integrantes da nova geração familiar de músicos.

William Veras de Queiroz- Primavera 2016 D.C - Riacho do Mel/Sertão do Moxotó,PE.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016



Símbolo da resistência cultural nordestina, bandas de pífano lutam para manter viva a tradiçãoPesquisadores e músicos unem forças na batalha para tornar as bandas de pífano patrimônio imaterial e angariar verbas para manter a tradição

"Eu vi na Bíblia que esse instrumento, o pífano, é do tempo do começo do mundo, o nome era trombeta". A definição simples, porém precisa, é de José Joaquim de Araújo, o Zé do Pife, mestre pifeiro da Banda do Sítio Tigre, tradicional trio da cidade de Sertânia, no Sertão do Moxotó. Demonstra a importância de uma herança secular. Mas o pífano, ícone da cultura pernambucana, carece de resgate e valorização urgentes.
Originário da Europa medieval e com ampla adaptação em terras tupiniquins, o pife brasileiro é utilizado no Nordeste em cerimônias religiosas e festejos, principalmente os juninos. Nos últimos dois anos, o instrumento tem sido alvo de pesquisa realizada pela produtora Página 21, cujo trabalho ganha amplitude por meio de publicações impressas. O projeto faz parte do esforço colocar as bandas de pífanos na lista de patrimônios imateriais do Ministério da Cultura e do Iphan, assim como ocorreu com o frevo, samba e cavalo marinho.

Depois de Pífanos do Agreste (2015), os pesquisadores lançam Pífanos do Sertão (R$ 20, 141 páginas), com um amplo mapeamento feito em 18 municípios de três microrregiões do Sertão pernambucano, Moxotó, Pajeú e Central. Foram entrevistados 35 personagens conhecidos da cultura do pífano, sendo 29 deles integrantes de bandas e 25 ainda em atividade.

Além do livro, foi coletado um vasto material audiovisual. "Assim como a primeira etapa, abordamos todo um acervo e as lacunas deste segmento cultural de Pernambuco. Há uma necessidade de reconhecimento para que a cultura secular do pífano não morra. Sem apoio do governo estadual é difícil realizar o mapeamento", pontua o pesquisador e produtor cultural Amaro Filho, um dos responsáveis pelo levantamento.

Segundo ele, a obra se propõe a reforçar a importância de ações de salvaguarda, conjunto de medidas criadas para preservar um bem cultural. O reconhecimento como patrimônio imaterial garantiria verbas para tais ações.




O levantamento social, econômico e cultural da presença do pífano no Sertão pernambucano mostra diferentes aspectos, a começar pela própria veia artística. No Agreste, conta Amaro, ser pifeiro é uma atividade plena, ao passo que, no Sertão, observa-se uma preocupante inatividade da cultura.

"No Sertão, há uma característica bastante peculiar ligada às novenas, uma espécie de continuidade fiel às origens religiosas, inclusive com a presença de grupos em comunidades quilombolas, nas novenas em latim. No Agreste, percebemos que existe um elo com referência mais profana, baseada nas festividades. Há uma distância maior no Sertão, com muitos grupos em locais distantes até 100 quilômetros de grandes áreas urbanas", diz Amaro.

A pesquisa detecta, ainda, como ocorre a inserção dos pifeiros na cultura. Para Amaro Filho, atualmente, o cenário não é favorável a quem sonha em fazer parte do universo pifeiro. "As bandas se apresentam no chão, com cachês miseráveis. No Sertão, a situação é ainda pior". O próximo passo do projeto é lançar uma terceira publicação, desta vez com olhar para as regiões do São Francisco, Itaparica e Araripe.

Raio-x do pífano

Instrumento
Conhecido por pife, é flauta transversal de material cilíndrico com sete furos (um para soprar e seis para dedilhar). Feito de bambu, pode ser construído em PVC, metal, galho de mamoeiro, osso ou barro. Há pifes de três tamanhos: “meia régua” (mais agudo, de 32 centímetros), “três quartos” (o mais popular, de 36 centimentros) e “régua inteira” (usado em ocasiões informais, de 38 a 40 centímetros).

Mestre pifeiro
Para ser mestre, não basta tocar bem os instrumentos. É preciso dominar as técnicas do fabrico. Em geral é autodidata, sabe as músicas de ouvido. Raramente usa partituras. É de família de pifeiros ou aprendeu a tocar na comunidade. Na foto, Seu Alexandre (esq.), de Betânia, um dos mais velhos já encontrados, morto aos 90 anos.

Junto e misturado
De acordo com o historiador Amaro Filho, há bandas de ritmos distintos lutando pelo memória do pífano. Exemplo do uso do instrumento em outros ritmos é o recém-lançado DVD da banda O Rappa, gravado na Oficina Brennand. Participam os caruaruenses João do Pife, 72, e Marcos do Pífano,55, referências no instrumento.

Pouco dinheiro

Grupos em geral são formados por profissionais de áreas como construção, marcenaria, agricultura. “Não se vive de banda de pife, a gente toca pela tradição. O povo me procura, e acho feio recusar”, diz Luiz Gonçalo, da Banda de Pífanos do Leitão da Carapuça.

Fala, pifeiro


"Muitos querem tocar o pife, mas não é fácil, não. Tem que ter tudo na memória"

Luiz Gonçalo, Banda do Pife dos Gonçalo, Custódia-PE

A coisa ficou de um jeito que só quem venera a banda de pife são os mais velhos”

Manoel Sebastião, Bandinha de Pife de Betânia, Betânia-PE

"Cada dia eu vejo que é uma tradição que vai se acabando, que está diminuindo. Mas eu prometi para o meu pai que enquanto eu tiver fôlego, eu toco"

Edvaldo Raimundo dos Santos, Banda de Pífanos da Umburanas Nossa Senhora da Conceição, Sertânia-PE"Uma novena sem uma banda de pífanos é quase um velório"

José Cesário, Banda de Pífanos Frei Damião, Tabira-PE

"Hoje, o que temos na comunidade foi feito com nossa arte. Criei meus filhos com o pife" 

José Alfredo, Banda Raízes Travessão do Caroá, Carnaíba-PE

"Vamos encerrar a nossa carreira - estamos ficando velhos e fazemos um apelo para os jovens manterem a tradição" 

Gabriel Joé de Brito, Banda de Pífanos Nossa Senhora de Lourdes, Solidão-PE

"No Sertão, há uma característica bastante peculiar ligada às novenas, uma espécie de continuidade fiel às origens religiosas, inclusive com a presença de grupos quilombolas"

Amaro Filho, historiador e um dos responsáveis pelo livro Pífanos do Sertão



quarta-feira, 14 de setembro de 2016

       
   
              BOI JUVENTUDE DO PIRAMBÚ

 Acreditando que a atitude artística e cultural envolvendo crianças,jovens e adultos e idosos  num processo de resgate das tradições e ancestralidade da comunidade num processo de produção intelectual,colaboração grupal e envolvimento coletivo é extremamente saudável e promissor,o grupo folclórico,Boi Juventude,do Piranbú,(bairro mais populoso e antigo de Fortaleza) traz o projeto:" Boi  Juventude,resgatando a cultura viva".

O evento que visa continuar no resgate da cultura do Bumba Meu Boi, naquele bairro,dar infra estrutura e manutenção ao Boi Juventude,renovar a auto-estima e promover o auto conhecimento da comunidade,incentivar a cultura de não violência e o afastamento dos jovens dos grupos de risco social,fortalecer as relações humanas na construção coletiva do projeto,divulgar o folguedo popular na costa oeste de Fortaleza,bem como a imagem positiva das comunidades da grande Pirambú.

terça-feira, 13 de setembro de 2016


Cangaço, disputas políticas e lutas inter familiares no sul do Ceará Por:Romero Cardoso

Coronel Izaias Arruda

O sul do Ceará é considerado um verdadeiro oásis no sertão, convergência de migrantes fugidos das secas há tempos imemoriais e palco de lutas sangrentas entre facções políticas e disputas inter familiares no século passado. As intermináveis lutas interpartidárias que explodiram nesta região sertaneja firmaram a repulsa entre os clãs Arruda e Paulino, nucleados, respectivamente, nos municípios de Aurora e Missão Velha, ambos localizados no Estado do Ceará. O cenário das contendas não se diferenciava dos anos que antecederam a restituição da oligarquia Accyoli, o qual firmou a arraigada disputa pelo poder entre os “coronéis” do cariri cearense.

Um pacto firmado entre os mandatários caririenses na então vila de Joazeiro, elevada à categoria de cidade no ensejo desse bizarro acordo, tentava selar a paz entre os estamentos superiores da sociedade sertaneja agro-pastoril da área de exceção correspondente ao cariri cearense. Discórdias políticas denotaram a instabilidade entre os dois clãs, resultando em desarmonias envolvendo o “coronel” Izaías Arruda, famoso coiteiro de Lampião, inclusive responsável pela trama que redundou na tentativa de ataque a Mossoró, e o “coronel” Manuel Ribeiro Dantas, a quem os Paulino eram ligados.


O Pacto dos Coronéis em tela de Assunção Gonçalves 

A beligerância teve seu ápice no ano de 1925, quando “em meio a uma áspera disputa política que já durava meses, ferem-se vários tiroteios em Missão Velha entre os “coronéis” Izaías Arruda (dos mais fortes coiteiros que Lampião possuía no Ceará) e Manoel Ribeiro Dantas, o Sinhô Dantas, este último, chefe político municipal” (MELLO, 1985, p.100). Durantes meses a questão política se desenrolou de forma mais ou menos inconstante, resultando em violento tiroteio nas ruas de Missão Velha, ocasionando ferimento à bala em um dos filhos do “coronel” Manoel Ribeiro Dantas. No entanto, o mais encarniçado ataque desferido pelo “coronel” Izaías Arruda se concentrou ao sítio Barreiro, reduto de seu desafeto. Entre os defensores encontrava-se um sertanejo valente e destemido de nome João Paulino, membro de uma família guerreira, tarimbada na luta armada sertaneja dos séculos XIX e XX.

Prestigiado pelos governos Federal e Estadual, o resultado lógico para a política de época foi a ascensão do “coronel” Izaías Arruda à política regional. O encaminhamento “natural” dos fatos redundou na sua dominação efetiva, chegando a ocupar o cargo máximo do poder executivo em sua área de influência. Os dissabores, contudo evidenciariam a essência da complexa relação inter-social existente no sertão. Em maio de 1926, João Paulino investiu contra um correligionário de Izaías Arruda, de nome Jose Gonçalves. Novamente Missão Velha estava em pé-de-guerra, denotando o insustentável grau de ebulição entre os clãs em luta armada, agora concentrado entre Arruda e Paulino. O desafio custaria caro, principalmente ao mais exaltado de todos.

Kydelmir Dantas, Mucio Procópio, Manoel Severo, Romero Cardoso e Antonio Vilela

A revanche aconteceu a 11 de junho de 1926. Jose Gonçalves e inúmeros jagunços fornecidos por Izaías Arruda desalojaram os inimigos entrincheirados na povoação conhecida por Ingazeira. Os vencidos buscaram refúgio em Aurora, recebendo a proteção do “coronel” Cândido Ribeiro Campos, parente dos Paulino. Formou-se um contingente considerável de capangas, visto que a ameaça de um ataque era iminente. Este não se concretizou graças à oportuna intervenção do “coronel” Antônio Luís Alves Pequeno, chefe político do município do Crato, definindo normas para amainar os ânimos exaltados. Dentro do acordo firmado, houve a transferência dos Paulino para o extremo oeste do Estado da Paraíba. Estacionam na cidade de Cajazeiras do Padre Rolim, em um sítio conhecido por Lagoa do Arroz, propriedade de um sertanejo de nome João de Brito.

Cerca de quarenta e oito camaradas de armas, incluindo familiares, acompanharam João Paulino neste êxodo forçado pela violência da política caririense. Durante várias oportunidades, forças volantes cearenses adentraram o território paraibano à caça dos desafetos do todo poderoso “coronel” Isaías Arruda. O alvo principal era João Paulino. Violência extrema era a característica maior dessas tropas formadas por policiais e jagunços, ambos pouco diferenciados no modus operandi. Novamente é firmado um acordo de convivência salutar, embora fosse parte da trama arquitetada pelo imperdoável Arruda. Achando que tudo havia se normalizado em sua região de origem, resolveu João Paulino seguir viagem à localidade das Antas, município de Aurora, intuindo recuperar algumas cabeças de gado de sua propriedade que haviam ficado por lá quando da retirada forçada.

Homens de Jose Gonçalves e Izaias Arruda

A esposa de João Paulino, que atendia pelo nome de Tapuia, verificou quando da partida do esposo que o patuá de rezas fortes, ostentado por cangaceiros e homens que se envolviam em questões, havia sido esquecido, como prenúncio da tragédia que estava preparada por Arruda. João Paulino, conforme nos contou a Sra. Ângela de Brito Lira, filha do proprietário do sítio Lagoa do Arroz, fazia uso de um rosário de quinze mistérios e cento e cinqüenta Ave-Marias com um saquinho repleto de orações fortes e mandingas. Segundo se propalava, o objetivo era “fechar” o corpo contra balas e armas brancas.

Corria o mês de setembro de 1926. O regresso ao Ceará foi feito na companhia de um irmão, de nome José Paulino, e um cunhado conhecido por Bidoza. A tocaia armada pelo “coronel” Izaías Arruda fora preparada no lugar Serrota. João Paulino foi alvejado por mortífera descarga, atingindo em cheio a veia femural. O requinte de crueldade da traição foi completado quando seus algozes obrigaram seu cunhado a terminar de matá-lo. Após o martírio de João Paulino, Izaias Arruda ainda figurou destacadamente nas crônicas da violência regional. 

Exercendo influência sobre o cangaceiro Massilon “Benevides” Leite, instigou e organizou o ataque do bando de Lampião a Mossoró, em 13 de junho de 1927. O resultado foi o fracasso vergonhoso diante da decisão da população mossoroense em cerrar fileiras com o prefeito Rodolfo Fernandes na defesa da cidade ameaçada.

Sousa Neto, Manoel Severo, Bosco Andre e Jose Cicero na Estacão da RVC em Aurora, palco do assassinato de Izaias Arruda

Quando da retirada vexatória dos cangaceiros em direção ao cariri cearense, confiantes na “neutralidade” do Estado onde se localizava a “Meca sagrada” dos sertanejos, apressa-se em por em prática suas táticas de traição, tentando envenenar o “rei dos cangaceiros”. Em 1928, embora desfrutando prestígio efetivo em dois municípios – Missão Velha e Aurora – Arruda tombou morto no trem, quando transitava pelo município de Aurora (MELLO, 1985, p. 101). Os autores, Francisco e Antônio Paulino, agiam movidos pelo desejo de vingança. Cangaço e política se articulavam em uma só expressão da realidade forjada conforme os parâmetros definidos pela inflexível moral sertaneja que marcou o tempo das contendas entre os chefes políticos de outrora.

Jose Romero Cardoso

Pesquisador, Escritor - Mossoro, RN

domingo, 4 de setembro de 2016

Baile Muderno - Chico Correia & Electronic Band


  CHICO CORREA & ELECTRONIC BAND

De João Pessoa, na Paraíba, Mestre Esmeraldo comanda o projeto musical  Chico Correa & Electronic Band, aponta uma trilha saliente na paisagem sônica brasileira e funde referências sertânico-agrestes a aspirações globo-locais. O trabalho da banda impressiona pela liberdade com que  seus músicos encontram parentescos entre gêneros tão diversos quanto rock, funk, bossa nova, baião, samba de coco, jazz, jungle, trip hop, dub e outros.

A banda ganhou visibilidade em 2003, no Festival Abril Pro Rock (Recife/PE) e no TIM Festival (Rio de Janeiro/RJ). Desde 2002, teve diversas formações, capitaneada por Chico Correa (guitarra, programação eletrônica, efeitos digitais) e consolidada a partir de 2004, com Ed (contrabaixo), Larissa Montenegro (vocais), J. Cassiano (percussão), Vitor Ramalho (bateria e percussão) e Stephan Suíço (sax).

Chico Correa narra os primórdios:

"A idéia era simples, eu e computador, só loop e groove, só love. Depois da entrada dos músicos e da cantora, acabou mudando prum lance ambient-regional. Eu gravava em MD: dava play e tocávamos por cima. Hoje usamos samples, groove-box e metrônomo pro baterista, há mais possibilidades de combinar e recriar ao vivo."

No disco a ser lançado ainda no segundo semestre de 2005, as duas tendências se equilibram. Os ritmos vão do berimbau-jungle cru e instigado de "Afrotech" ao agrestewek cangaço-gangsta de "Côco de elevador" e o baião-de-viola sincopado de "Esperando o dia passar". O eletrofunk é a praia em que transita "Eu pisei na pedra", enquanto "Mangangá" junta rock e maracatu, mas com uma fórmula diferente da usada pelo mangue-beat. Outras pistas: "Bossinha", "Baião lo-fi"... A fauna humana local é representada por "Lelê" (toada de saudade interestelar), "Zabé" (tecno-embolada) e "Odete" (drum'n'roots).

Ao vivo, o grupo atua como um live-PA: Chico manipula a parafernália eletrônica e conduz a guitarra, a graciosa voz de Larrisa dispara glissandos mouriscos e o quarteto de jazzistas galopa faixas de áudio que sincronizam o tradicional samba-de-coco-de-engenho paraibano com células de step-funked breakbeat.

Parece noite de drumba-meu-boi: arrasta-scratches, schottische-scratches e xaxado remixado sacudindo retro-retirantes e alto-falantes induzindo à dança o homem-gabiru, genuinamente ao "som do demônio", no sentido de uma mistura de música de black magic com demonstration tape, xangô de batuque e gene de drum machine.

No meio dessa encruzilhada de ruídos, versos de domínio público:

"Olê, olá, o coquista está aqui."

Ou:

"Serena, serená,
serená do amor,
nos braços de quem me ama
morro, mas num sinto a dor."

Ou:

"Eu pisei na pedra,
a pedra tremeu,
a água tem veneno,
oi morena,
quem bebeu, morreu."

Chico desde 1999 produz esse sons. Ele foi pesquisador do Laboratório de Estudos da Oralidade (Universidade Federal da Paraíba) e colabora no grupo paraibano Jaguaribe Carne ("Vem no vento", 2003) e na comunidade transregional Re:combo (www.recombo.art.br). "Toquei com Eleonora Falcone durante um ano, eletrônica sutil com tango, MPB, bossa e coco, fiz shows com Lado 2 Estereo e Gilberto Monte (da banda baiana Tara Code)", martela o músico. Em 2005, Chico Correa &  Electronic Band se apresentou várias vezes em São Paulo e passou também por Salvador/BA, Belém/PA e Brasília/DF.

Que venham mais shows, e que a eles venham caranguejos, caipiras, caiçaras, sertanejos, cangaceiros urbanos, ciber-sacizeiros, clubbers caboclos. Chico Correa & Electronic Band é a música nômade nordestina desta década, a "viver de porta em porta, com a mochila na mão".