terça-feira, 31 de janeiro de 2017

                   
                  MESTRE JOÃO DO BOI

    Nascido em 13 de junho de 1944,João Saturno não podia ser Antonio,como o santo do dia. Mas,seu irmão mais velho,Alumínio, já tivera seu batismo. Ficou com o nome do segundo santo junino,João. Conhecido como João do Boi,o grande compositor,cantador e tocador de chulas é mestre da cultura popular do Recôncavo baiano.




Nascido na cidade de Santo Amaro da Purificação,município situado na mesoregião metropolitana de Salvador,aprendeu a arte de  " gritar " Chula e toca pandeiro com o pai,que era exímio sambador. Cantar chula e ser sambador é prá mim a maior felicidade que Deus me deu na vida, " diz emocionado João do Boi. Morador da vila de São Braz,vizinha de Santo Amaro.  João é também vaqueiro,marisqueiro e agricultor.





Criou junto com o irmão João Saturno(Alumínio- falecido em 2014) o grupo Samba Chula de São Braz e gravou o CD " Quando Dou Minha Risada Ha Ha " no ano de 2009. Pelo grupo participou de festivais e fez apresentações no Brasil e exterior. Após vinte anos do grupo anterior resolveu fundar um novo, o Samba Chula João do Boi.



Revista Pajeuzeiro lança 3ª edição no Sertão pernambucano

Publicação distribuída gratuitamente no Sertão do Pajeú conta com incentivo do Governo de Pernambuco, por meio do Funcultura


“Outro destaque desta edição é o ‘Papo de Boteco’ com a atriz Odília Nunes, de Afogados da Ingazeira. Formos ao sítio Minadouro, localizado na zona rural do município, especialmente para conhecer o seu lugar e falar sobre sua arte”, adiantou William Tenório, produtor executivo da revista. “A publicação está tendo uma aceitação bastante abrangente, reunindo pautas de diversas localidades do Sertão do Pajeú e pretendemos lançar a 4ª edição já no mês de fevereiro”, comentou William.
Entre as reportagens produzidas especialmente para o início de ano, envolvendo o artesanato do Sertão do Pajeú, a revista contempla uma conversa com as mulheres da cooperativa Art’s Barro, localizada no município de Brejinho, e seu Jonas, de Iguaraci, que trabalha talhando madeira e produzindo personagens conhecidos como retirantes.
“Na coluna ‘Vale a pena conhecer…’, o poeta e professor Genildo Santana nos apresenta o músico Moacir Santos que nasceu em Serra Talhada, foi criado em Flores e depois ganhou o mundo. Na divisa entre os municípios de Afogados da Ingazeira e Carnaíba um grupo de jovens tenta manter viva a tradição dos mais velhos, estivemos na comunidade rural do Santo Antônio II para conhecer o grupo de Reisado dos Vieras”, ressaltou William. A publicação também possui distribuição gratuita em eventos culturais realizados na região. Confira mais detalhes no site:  www.revistapajeuzeiro.com.br

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017



  
(foto: Brígida Rodrigues)


MESTRE ANANIAS

Ao pensar em Mestre Ananias, precisamos compreender que seu legado transpassa os parâmetros e doutrinas estabelecidas na Cultura da Capoeira nas últimas décadas. A estruturação da Capoeira em São Paulo foi conduzida por capoeiras baianos, porém em uma realidade sócio-cultural que segue uma trilha diferente, cheia de segredos a serem desvendados

OBRA VIVA, DURADOURA

Bahia...
Ananias Ferreira nasceu em 1924 em São Félix (BA), nesta região que vivencia a força e influência africana em solo brasileiro e que oferece a Capoeira, o Samba e o Candomblé como alicerces formadores da nossa cultura. Sua infância, portanto, foi brincar e compartilhar esse universo, uma realidade cheia de contrastes em relação ao que vivemos hoje. Em suas lembranças, Ananias fala de um senhor que tocava berimbau de imbé, ou cipó caboclo, o Mestre Juvêncio, também de seus companheiros de roda: os irmãos Toy e Roxinho, Caial, Estevão, João de Zazá, Café e Vito. Ele lembra também de Inácio do Cavaquinho (que fazia samba com seu pai) e da roda de capoeira que armavam na venda do Seu Mané da Viola em Muritiba na rua do “Caga à Toa” (hehe). 

Ainda muito jovem, Ananias trabalhou na lavoura de cana e nas indústrias de fumo, quando decidiu ir a Salvador em busca de melhores condições de vida. Na capital baiana, morou nos bairros do Engenho Velho de Brotas, Curuzu e Liberdade, onde é acolhido por um dos grandes mestres da Capoeira, Valdemar da Liberdade. Aí teve sua maior influência e passa a ser responsável pela bateria junto a Bugalho, Zacarias e Mucungê. Nessa época de formação da Capoeira (que se apresenta hoje) conviveu com grandes nomes como Mestres Pastinha, Nagé, Onça Preta, Noronha, Dorival (irmão de Mestre Valdemar), Traíra, Cobrinha Verde, Canjiquinha – de quem recebeu seu diploma - e tantos outros. Foi ali no Corta-Braço (assim é conhecida a região onde se localizava o Barracão do Mestre Valdemar) que os produtores Wilson e Sérgio Maia buscaram Mestre Ananias, Evaristo, Félix e algumas baianas para trabalhar na cena teatral paulistana...

São Paulo, 1953...
Junto a Plínio Marcos e Solano Trindade na cena teatral paulistana, Ananias contribuiu para dar visibilidade à riqueza do patrimônio espiritual e estético do Negro brasileiro. Sacudiu os teatros paulistanos (Municipal, Arena, São Pedro, TAIB, São Paulo Chic, entre outros) com os sambistas Geraldo Filme, Toniquinho Batuqueiro, Zeca da Casa Verde, Talismã, Jangada, Silvio Modesto, João Valente, João Sem Medo e outros batuqueiros. Atuou na peça Balbina de Iansã, em 1970, e em Jesus Homem, em 1980 (ambas de autoria de Plínio Marcos. Esteve no elenco da primeira encenação de O Pagador de Promessas (dirigida no TBC por Flávio Rangel em 1960) e teve participação na trilha sonora da filmagem deste enredo, em cartaz nos cinemas dois anos após. Também participou dos filmes Brasil do Nosso Brasil(produzido por Xangô), Fronteira do Inferno e Ravina (de Anita Castelane) e fez gravações com Jair Rodrigues, entre outros.

Pioneiro entre os capoeiristas a estabelecer residência na terra da garoa, Mestre Ananias está hoje em plena atividade e é enorme influência para gerações na tradição da Capoeira Paulistana e o representante do Samba de Roda do Recôncavo Baiano na capital. 

Neste mais de meio século, conviveu com grandes capoeiristas baianos que viveram e passaram por São Paulo, como Zé de Freitas, Limão, Valdemar (do Martinelli), Hermógenes, Gilvan, Silvestre, Paulo Gomes, Suassuna, Brasília, Joel e muitos outros. 

Ananias Ferreira é uma figura emblemática da cultura afro-brasileira, que ao longo de uma vida extensa ─ com tenacidade e carisma ─ mantém viva a mais pura ancestralidade no moderno coração da maior cidade do Brasil. 

É o representante mais significativo entre os criadores de uma instituição que se mantém há mais de meio século: a roda de capoeira dominical da Praça da República em São Paulo. Uma autêntica ágora, espaço de resistência, de confronto e diálogo dos talentos e dos estilos mais diversos, e também de aprendizagem. Poucos capoeiristas na cidade de São Paulo não conheceram de perto esta roda ou estiveram cientes da oportunidade de entrar livremente nela. Esta instituição é a emanação do carisma de uma pessoa, Mestre Ananias, cujo axé inscreve esta vitalidade coletiva num lugar altamente simbólico, compatibilizando a liberdade informal da rua com a urbanidade dos costumes. 

A AFRICANIDADE NA GESTUALIDADE E NA VOZ : A TRANSMISSÃO DA HERANÇA AFRICANA ATRAVÉS DA ARTE
Cada vez mais escassos hoje entre os expoentes reconhecidos da cultura afro-brasileira são aqueles que portam no seu corpo as marcas gestuais, as posturas, as inflexões vocais que denotam a origem cultural africana. Aquilo que se tentou resgatar através do exemplo do reconhecimento tão tardio de uma Clementina de Jesus ainda está vivo em poucos redutos do Brasil, entre os quais o manancial que irrigou musicalmente o país com o Samba de Roda – hoje Patrimônio da Humanidade na categoria de expressões orais e imateriais: o Recôncavo da Bahia, onde o Mestre nasceu e se criou. 

Tanto na roda de capoeira, na ginga e na mandinga, como na entonação e nas síncopes do canto, do pandeiro, do atabaque, nos passos inesperados do samba dançado, tudo aquilo que suscitava nas anotações de campo de Mário de Andrade julgamentos entusiastas e de admiração, está sendo transmitido pelo exemplo vivo do Mestre. Sabemos da importância do registro de vivências que se tornarão modelos clássicos para as gerações vindouras.

REGISTROS DOCUMENTAIS
Somente aos 80 anos Mestre Ananias gravou o primeiro cd de capoeira como protagonista, junto a seus discípulos formados no início da década de 90 e que vivem sua rotina diária. Aos 83 anos, lançou com o grupo Garoa do Recôncavo seu primeiro cd de Samba de Roda. Em 2009, foi um dos mestres selecionados para o registro no documentário Cantador de Chula(de Marcelo Rabello) como o único sambador convidado que não reside na região do Recôncavo.

No ano de 1979, participou da gravação do LP de Mestre Joel e também esteve presente em gravações amadoras de outros grupos de capoeira no decorrer de sua carreira.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Irene


Irene Gomes da Silva nasceu em 6 novembro de 1974 na pequena comunidade rural de Campo Alegre, distrito de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. Ela aprendeu a trabalhar com a cerâmica com sua mãe, quando tinha apenas 14 anos de idade. Nesta época modelava galinhas e outras pequenas peças de barro. 



Irene Gomes. Foto autoria desconhecida


Quando se casou, mudou-se para a vizinha comunidade de Coqueiro Campo, distrito de Minas Novas, MG; lá começou a trabalhar com a sua prima Zezinha, cujo trabalho em cerâmica de formas humanas é reconhecido em todo o Brasil. No inicio, Irene ajudava a sua prima apenas nos afazeres domésticos, mas em função da grande quantidade de pedidos, Zezinha a contratou para ajudá-la no acabamento e na decoração das peças.



 Irene modelando o barro. Reproduçao fotográfica do catálogo da exposiçao "Nos Campos do Vale - cerâmica no Alto Jequitinhonha, Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, Rio de Janeiro, 2010.



Mesmo sendo ceramista, Irene preferiu ganhar um salário fixo trabalhando com Zezinha, a qual já tinha uma boa estrutura de vendas, a ficar com suas peças encalhadas nas prateleiras das lojas. Irene trabalhou com Zezinha durante três anos e meio e com ela aperfeiçoou sua técnica. Neste período, Irene era responsável pela pintura das peças de Zezinha. As bonecas produzidas nesta época levavam a seguinte inscrição: Zezinha de Coqueiro Campo, Município de Minas Novas, Minas Gerais, pintura de Irene.

Hoje, Irene é uma artista em franca ascensão; suas bonecas “correm o mundo”. São peças que se destacam pelo requinte e pelo cuidado com os detalhes e as expressões faciais. Na maioria das vezes são noivas e noivos, vestidos com estilo tradicional, e mulheres, as quais exalam graça e calor humano. Essa jovem artista já é considerada uma das mais importantes do Vale do Jequitinhonha e, não só isso, representa, juntamente com muitas outras, a perpetuação desta importante tradição mineira.

 Irene, Noiva, cerâmica policromada. Reproduçao fotográfica Galeria Brasiliana, Sao Paulo, SP (www.galeriabrasiliana.com.br).

Irene, Menina de pé, cerâmica policromada. Reproduçao fotográfica Galeria Brasiliana, Sao Paulo, SP (www.galeriabrasiliana.com.br).

Irene, Noiva, cerâmica policromada. Coleçao pessoal.


As peças de Irene podem ser adquiridas em lojas especializadas de todo o Brasil ou diretamente com a artista, através de encomenda. Ela própria comercializa suas peças.

Contato com Irene:
Tel: (38) 9981-9026



Fonte Bibliográfica:

- Dalglish, Lalada. Noivas da Seca: Cerâmica popular do Vale do Jequitinhonha, 2a Ed. - Sao Paulo: Editora UNESP, Imprensa Oficial do Estado de Sao Paulo, 2008.


Irene, Filtro boneca, cerâmica policromada. Reproduçao fotográfica Galeria Brasiliana, Sao Paulo, SP (www.galeriabrasiliana.com.br).



Irene, Noiva, cerâmica policromada. Reproduçao fotográfica Chácara Tropical.





Mutirão para retirada da Carteira do Artesão contempla Pernambuco

Com o documento, os profissionais podem comercializar seus produtos no Centro de Artesanato de PE, adquirir desconto no estande da Fenearte e ainda participar de feiras de artesanato em outros estados


Informações do Centro de Artesanato de Pernambuco
A partir deste mês, os artesãos pernambucanos que ainda não possuem a Carteira do Artesão poderão adquirir o documento gratuitamente em seu município. O Programa do Artesanato Brasileiro de Pernambuco (PAB/PE), em parceria com o SEBRAE, irá percorrer todas as regiões do Estado a fim de cadastrar novos artesãos no Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB) e captar mais profissionais para as duas unidades do Centro de Artesanato de Pernambuco, no Recife e em Bezerros.
O circuito do mutirão começa na próxima terça-feira (17/1), em Ouricuri, no Sertão, onde o atendimento aos artesãos acontece no auditório da Escola Estadual São Sebastião (Rua São Sebastião, 167, Centro), das 8h às 12h e das 13h às 17h. Posteriormente, a caravana segue para a cidade de Araripina, atendendo das 8h às 12h e das 13h às 17h, no auditório do SEBRAE (Rua Ver. José Bringel, 70, Centro).
Ao longo dos 12 meses, o mutirão passará pelo Sertão do Araripe (janeiro), Agreste Meridional (fevereiro), Mata Sul (março), Sertão Central, Moxotó, Pajeú e Itaparica (abril), Agreste Central (maio), Mata Norte (agosto), Região Metropolitana (novembro) e Sertão do São Francisco (dezembro). A programação, por sua vez, está sujeita a alteração. Os municípios onde serão realizados a emissão da Carteira serão informados posteriormente, conforme levantamento que analisará o maior número de artesãos em determinado local.
De acordo com o diretor de Promoção do Artesanato da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper), Thiago Angelus, a iniciativa surgiu após a dificuldade dos artesãos do interior do Estado trazerem suas obras para capital. “Nosso objetivo é ajudar estes novos artesãos fazendo com que as peças deles sejam inseridas nos nossos canais de comercialização do artesanato, como as duas lojas do Centro de Artesanato (Recife e Bezerros) e a Unidade Móvel de Artesanato”, destacou.
Como adquirir a Carteira do Artesão: Os interessados devem estar com a cópia do RG, CPF, comprovante de residência e uma foto 3×4 colorida. Além disso, também precisam levar um produto pronto e o material necessário para confecção de outro para realizarem uma prova ao vivo, a fim de mostrar que domina a técnica artesanal. A Carteira será emitida na hora e tem validade de quatro anos.
Benefícios da Carteira do Artesão: Com o documento, o artesão pode participar de feiras de artesanato locais e nacionais nos estandes do PAB, obter 20% de desconto na comercialização de um espaço na Fenearte e ainda participar de oficinas artesanais. Além disso, o profissional também pode comercializar seus produtos nas duas lojas do Centro de Artesanato de Pernambuco, em Recife e Bezerros, conforme avaliação da curadoria.



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A casa caiu, senhoritas!

Cangaceiras aprisionadas 
 Manchete de 18 de maio de 1935, no jornal “Diario de Noticias” BA

As meninas Anna e Otilia

A presença de cangaceiras aprisionadas foi uma das marcas do momento. Anna Maria da Conceição, nascida em Jeremoabo, era companheira do cangaceiro "Jurema". Caminhava com Jurema, Juremeira, Beija-Flor e Nevoeiro, quando a volante do sargento Vicente caiu sobre o subgrupo. Foi alvejada com dois tiros de fuzil, que lhe atingiram os braços, sendo capturada.

Já o seu parceiro e companheiros não tiveram a mesma sorte...


Jurema, Jureminha e Nevoeiro
Foto não compoe a matéria original
Cortesia do amigo Sergio Dantas

Otilia Teixeira Lima, de Poços, era companheira de "Mariano". Adentrou o Cangaço em 1931, depondo que constituíam o bando, naquele momento em que adentrou, Lampeão, Mariano, Zé Bahiano, Pó Corante, Gato, Bananeira, Volta Secca, Maçarico, Cajueiro, Balisa, Cabo Velho, Nevoeiro, Luis Pedro, Virgínio, Suspeita e Medalha, além de Maria Bonita e algumas mulheres que não indicou os nomes.

Deslocava-se, em 1935, junto com Mariano, Criança, Pai Velho e Pau Ferro, quando foi o subgrupo cercado pela volante do sargento Rufino. Cerrada brigada, foi cercada, não conseguindo Mariano romper o seu cerco para libertá-la. Acabou entregando-se.

“Lampeão” não quer negocios com a policia da Bahia

Dois minutos de interessante palestra com as mulheres de Mariano e “Jurema”, chegadas, hontem, presas .. .A vida, para o banditismo, “no outro lado”, está melhor... 

O DIARIO DE NOTICIAS offerece, hoje, aos seus innumeros leitores, a opprtunidade de uma entrevista com as mulheres de Mariano e “Jurema”, dois dos peores scelerados que teem palmilhado a zona escaldante e longinqua do nordéste bahiano.

São ellas Anna Maria da Conceição, com 23 annos de idade, mestiça, nascida nas Baixas, no município de Geremoabo, e Otilia Teixeira Lima, parda, de 25 annos, estatura média, procedente das caatingas de Poços, distante 15 leguas daquella cidade.

Fomos encontra–las, hontem, na delegacia Auxiliar. Momentos antes, haviam chegado do nordéste, pelo trem do horario, devidamente escoltadas por seis praças da Policia Militar.

Como foi presa a primeira

Anna foi presa nas caatingas do logar denominado São José, tendo, nessa occasião, recebido dois tiros de fuzil, que lhe perfuraram os braços. Estava ella em companhia de “Jurema”, “Beija–Flôr”, “Nevoeiro” e “Juremeira”, quando surgiu, inesperadamente, a força volante do sargento Vicente, que, de ha muito, vinha sequindo as pégadas do bando sinistro. Logo que viu os policiaes, “Jurema” rompeu cerrado tiroteio contra os mesmos, que, reagindo valentemente, puseram em fuga os cangaceiros. No embate, que durou poucos minutos, caiu ferida Anna Maria. “Jurema” quis, ainda, soccorre–la, mas, acossado pelas balas, teve que fugir, deixando a companheira nas mãos dos seus perseguidores.

A outra “descansava”...

Otilia estava com o bando de Mariano, na Fazenda “Mucambo”, junto com “Páo Ferro”, “Criança” e “Pai Velho”. Minutos após a chegada do grupo, dois cáibras fôram escalados para arranjar montadas na vizinhança. Foi quando appareceu, de surpresa, o contingente do sargento José Rufino, que, com 15 praças, vinha procurar pousada na alludida fazenda.

Reconhecendo os bandidos, a força entrou a tiroteiar contra os mesmos, pondo–os em fuga, depois de cerca de duas horas de fogo. Otilia estava descansando na casa da fazenda, quando começou a fuzilaria.
Receiosa de ser attingida pelos projectis, alli deixou–se ficar, sendo finalmente presa e conduzida para esta Capital, onde se encontra. Mariano, seu velho companheiro conseguiu, habilmente, cortar a rectaguarda da força, fugindo á chuva de balas que se despejava sobre elles.

Contando a sua vida...

– E ainda dois graças a Deus, de estar aqui! Pensei que a força me fuzilasse, no momento em que fui presa. Ha cerca de quatro annos, ingressei no bando de “Lampeão”. Por essa occasião, o “Capitão” andava lá pelo Raso da Catharina, acompanhado de José Bahiano, “Gato”, Pó Corante”, Mariano, “Bananeira”, “Volta Secca”, “Maçarico”, “Cajueiro”, “Balisa”, “Cabo Velho”, “Nevoeiro”, Luis Pedro, Virginio, “Suspeito” e “Medalha”. Viajava para Poços, com meus dois irmãos, quando deparei o bando do “Cégo”.
Mariano botou os olhos em cima de mim e me ordenou que o acompanhasse. Não tive outro jeito senão seguir. Juntei–me ás outras mulheres e comecei a andar pelo matto, sem pouso, passando fome e sêde, até o dia em que fui presa.

Como ciganos

– E como vivem os bandidos?
– Pelos mattos, dormindo hoje aqui, amanhã alli, comendo carne do sol e ás vezes, um pouco de farinha. Agua arranja–se nas raizes de umbú. Á noite, todos se deitam no chão e embrulham–se com as suas cobertas. Quem tem mulher dorme separado, debaixo de algum pé de paó... É uma vida desgraçada... – concluiu Otilia.

Anna Maria assistia á conversa, com o corpo descansando sobre os calcanhares.

Uma historia de amôr...

– Vivia com a minha familia nas Baixas, cerca de onze leguas de Geremoabo. Um dia, a força do tenente Macedo appareceu por lá e, sabendo aque alli moravam os parentes de “Jurema”, queimou tudo. Até as roças de feijão! Eu era noiva de um irmão de Jurema, que estava no bando de Lampeão, e tinha o mesmo appellido. Vendo–o, a força prendeu–o. E já iam longe, quando o meu noivo, conseguindo intimidar os dois soldados que o escoltavam, fugiu. No caminho, convidou–me para fugir com elle. Aceitei. Dias depois, estávamos no meio do bando de Lampeão. Quis voltar. Não tive mais jeito. Ordem era ordem. Tinha que acompanhar obando. Assisti a innumeros combates, durante estes tres ultimos annos.

... E o peor tiroteio

O peor, porém, – continúa – foi o de Maranduba, onde morreram “Sabonete”, “Quina–Quina” e “Catingueira”. Foi um tiroteio que durou varias horas. Quase fiquei surda. Eramos seis mulheres e estavamos separadas do bando. Dois caibras ficavam de sentinella comnosco, sempre que havia um combate. Depois, com os córtes da rectaguarda, Lampeão abria caminho e assim podiamos fugir.

Lampeão luta como uma féra!

– E Lampeão vai tambem para a frente?
 Sim, senhor. Lampeão é uma féra. Não tem mêdo de nada. É o primeiro que atira e vai ba frente. Quando eu entrei no bando, Lampeão estava com duas marcas de bala. Uma, no pé, e outra no braço. Foi nessa occasião que “Gato” foi ferido tambem...

Falando sobre o “Capitão”...

– Queremos alguns informes sobre Lampeão...
– O Capitão é de estatura média, bem moreno e cabello castanho. Usa oculos amarellos, pois é cégo de um olho. Traja sempre uma roupa mescla, chapéo de couro e alpercatas. Carrega um mosquetão, uma “parabellum” e tres cartucheiras, além de varios bornaes cheios de bala. Atravessado na cintura, um grande punhal.

Não quer nada com a nossa Policia

Deixei elle agora do outro lado, com varios cáibras, pois a coisa está preta no nordéste.
 E onde é o outro lado?
– Lá, em Alagôas e Sergipe. As coisas lá não são como aqui. Vive–se mais tranquillo e mnos perseguido. Estávamos satisfeitos.

A verdade, ainda uma vez...

Effectivamente, a situação do nordéste é outra, hoje. O bandido não tem para onde se mexer. Difficilmente, desloca–se de um ponto para outro. A sua acção tornou–se quase nulla. Vive, agora, passando uma vida de miserias...

As novas directrizes traçadas pelo Cap. João Facó e executadas pelos seus auxiliares, na campanha contra o banditismo, lograram, felizmente, verdadeiro exito. Hoje, já se respira nas caatingas. Não ha mais aquelle pavor de outr’ora, quando pairava nas caatingas o espectro sinistro da morte.



Rubens Antonio (historiador baiano)

Lampião Aceso.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017




Governo do Estado divulga propostas habilitadas na Convocatória do Carnaval


Artistas, bandas, grupos de dança e agremiações culturais de todos as regiões de Pernambuco enviaram 914 propostas artísticas à Convocatória do Carnaval 2017. Por meio da Secult-PE/Fundarpe e da Seturel/Empetur, o Governo do Estado torna públicas as listas de inscrições habilitadas (832) e também inabilitadas (82) na etapa de Análise Documental.
De acordo com a Convocatória, recursos a este resultado preliminar podem ser apresentados entre os dias 23 e 25 de janeiro. É necessário preencher o formulário de recurso disponível.
Ao final desta etapa, as propostas habilitadas serão analisadas por uma Comissão de Avaliação à qual caberá definir, por exemplo, a vinculação dos artistas e grupos às expressões culturais elencadas na Convocatória. Representantes da sociedade civil interessados em compor a referida Comissão devem acessar a Resolução Conjunta e efetuar inscrição até a próxima terça-feira (24/1).