quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020


A gente já explicou a diferença entra clubes de frevo, troça e clube de bonecos. Hoje, o assunto é MARACATU. E se a gente contar que, apesar da presença da alfaia em alguns grupos, muitos não são considerados maracatus? Vamos aos fatos (rs)
Maracatu de Baque Solto são os grupos compostos por orquestras, ou seja, ao invés da alfaia usam instrumentos de sopro. A dama do paço, importante figura da manifestação, carrega a calunga feita de pano. Protegendo a agremiação está o Caboclo de Lança e seu cravo na boca. Qual o motivo do cravo? Ninguém sabe, segredo fechado a sete chaves. Pra quem nunca reparou, os caboclos protegem a agremiação, sempre desfilam ao entorno do cortejo. Muito comum nos desfiles, os grupos têm o costume de enfeitar o estandarte com flores. Podem reparar.

No Maracatu de Baque Virado estão os grupos ligados ao candomblé e a jurema sagrada, assim como o baque solto. Suas cores fazem referências aos orixás regentes. No baque estão instrumentos como: alfaias e agbês. Lembra da dama do paço? pois bem, ela também está presente no Maracatu de Baque Virado, só que, neste grupo, carrega a calunga de cera e/ou madeira.
Comum no Bairro do Recife e nas ladeiras de Olinda estão os grupos percussivos. Esses, diferentemente do Maracatu de Baque Solto e Virado, não seguem fundamentos religiosos. Na sua composição estão elementos parecidos com o Maracatu de Baque Virado, já que a presença das alfaias e agbês ficam evidentes. A Dama do Paço e sua calunga não se fazem presentes nos cortejos. Agora ficou mais fácil? Pernambuco é incrível até na formação de grupos. Cada um muito bem identificado. Massa demais, diga aí?
Fotos: Jan Ribeiro/ Secult PE - Fundarpe


Mestre Chocho faz festa para celebrar seus 96 anos de vida

Patrimônio Vivo de Pernambuco, mestre comemora aniversário com chorinho entre amigos neste domingo (16), a partir das 13h, em Jaboatão dos Guararapes



Jan Ribeiro/Secult-PE
Jan Ribeiro/Secult-PE
Mestre Chocho é considerado o chorão mais idoso em atividade no Brasil
O mestre Chocho, Patrimônio Vivo de Pernambuco e mestre do choro pernambucano, completa 96 anos de vida neste próximo domingo (16). Para comemorar a data, os familiares convidam o público e amigos a homenageá-lo numa festa, regada a bastante chorinho, que será realizada no endereço Rua Zelindo Marafante, 84, em Jaboatão dos Guararapes, a partir das 13h. A festa é gratuita e já conta com a presença confirmada de vários músicos e artistas como Henrique Annes, Beto do Bandolim, Valmir Chagas, Marco César e Rubens França.
Otaviano do Monte, conhecido como Chocho do Bandolim, ou, de forma mais honrosa, como Mestre Chocho, nasceu no dia 12 de fevereiro de 1924, no Cabo de Santo Agostinho. É hoje considerado o chorão mais idoso em atividade no Brasil.
São mais de 70 dedicados à música e ao choro, ao prazer de fazer as pessoas se sentirem bem através da arte, razão pela qual, em 2017, ao lado de outros cinco nomes da cultura popular, recebeu do Governo de Pernambuco o título de Patrimônio Vivo.
A história de Chocho é um clássico da boemia que passou a reinar no Recife em meados da década de 40, com a explosão das rádios e programas de música pela capital pernambucana. Também traz muita amizade, família e referências ao bairro por onde morou e mora há décadas, o bairro de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes, onde segue vivendo até hoje. Confira aqui uma reportagem sobre o Mestre Chocho.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020



O Carnaval de Olinda já tem os seus homenageados. O anúncio foi realizado na segunda-feira (10/2), na Praça do Carmo. O balorixá Ivo de Xambá e o artista plástico Byll de Olinda (em memória), serão os grandes homenageados do Carnaval 2020 da cidade. Ivo de Xambá é o babalorixá responsável por manter os rituais e tradições religiosas da Nação Xambá, Patrimônio Vivo de Pernambuco. Ele também é uma das principais lideranças religiosas do movimento negro em Pernambuco. O artista plástico Byll de Olinda sempre retratou a cidade em suas obras, principalmente o Sítio Histórico, onde morou. A escolha dos grandes homenageados da festa foi feita através de votação popular. Homenagens muito merecidas.
Quem pensou que só homens saem de Caretas pelas ruas das cidades pernambucanas se enganou.


Em 1975, uma mulher quebrou o reinado dos homens, ainda criança, e abriu caminho para as mulheres participarem da brincadeira. Foi uma mulher, aliás, a primeira e única mulher a fazer máscaras para os caretas, Dona Expedita. Devido ao Mal de Parkinson, suas mãos tiveram que abandonar o ofício. Sua técnica era diferente, com molde de madeira. Ela fazia as máscaras e o marido pintava. Toda a magia que vela a história dos caretas se deve à sua origem no reisado, com a figura do Mateus. As ruas de paralelepípedo de Triunfo, cercadas por casarios antigos e históricos, são a trilha de muitos caretas durante os dias de Carnaval. O chão sofre com pisadas, pulos e estalos dos relhos, mas com a folia carnavalesca e a alegria dos foliões, caretas e apreciadores desta festa genuinamente triunfense, quase não conseguem ver a pavimentação histórica que percorre a cidade.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020



Parece que a temporada de la ursas está aberta. É o que se vê pelas ruas da cidade. O improviso é inevitável. Baldes, galhos, garrafas e britas, a criatividade vai além da fantasia. A Fundaj conta que a brincadeira tem origem nos ciganos da Europa. “Eles percorriam a cidade com seus animais, presos em uma corrente e dançavam de porta em porta em troca de algumas moedas, ao som da ordem: “dança la ursa!”. A figura central da brincadeira é o urso, geralmente uma pessoa vestindo um macacão coberto de estopa, veludo ou pelúcia com uma máscara de papel-machê pintada de cores variadas, preso por uma corda na cintura, segurado pelo domador. Muita gente não sabe mas além do caçador e o urso, personagens como o italiano, conhecido como homem da maleta, e a presença da sanfona na orquestra fazem da la ursa uma brincadeira singular. Sem contar no cartaz, aquele, que todo mundo chama de ‘Estandarte’. No urso, o material confeccionado com gesso, madeira e rezina, é chamado de cartaz. Quem usa o estandarte são apenas clubes frevo, troças, maracatus e caboclinhos.

domingo, 2 de fevereiro de 2020



Mestre Assis Calixto conduz o coco do Raízes de Arcoverde e leva a missão de ensinar


PH Reinaux/Secult-PE/Fundarpe

Mestre Assis Calixto, em sua casa, no Alto do Cruzeiro, conta sua trajetória ao lado das famílias do coco de Arcoverde
Michelle de Assumpção
O calor de Sertânia é uma das primeiras memórias que surgem quando Francisco de Assis Calixto lembra de sua infância. Foi por causa da seca de sua cidade natal, e a consequente falta de emprego, que seu pai deixou a terra, junto com toda família. Era o ano de 1952. O destino foi a cidade de Arcoverde, o “Portal do Sertão”. Também quente, mas menos seca, e mais próspera. Francisco tinha sete anos, o irmão mais próximo, Luis Calixto, o Lula, tinha 8 e Damião, mais novo, cinco. O pai começou a trabalhar no imponente Hotel Magestic, às margens da BR 232. Depois trabalhou na construção do posto, logo em frente.
Os meninos foram para escola, onde Francisco estudou até o terceiro ano, quando parou porque precisava trabalhar. Foi atendente em padaria, funcionário de uma fábrica de café, de uma serralharia, e depois, ajudante de pedreiro. Especializou-se no ramo, até virar um construtor de casas. Levantou várias moradias populares no bairro do Cruzeiro, onde também passou a morar. Trabalhou como pedreiro até 2004, quando se aposentou por conta de problemas no joelho.
O trabalho dos peões da construção civil, nas áreas rurais, naqueles tempos de pouco dinheiro e tecnologia, está intimamente ligado à criação de algumas brincadeiras populares. Entre elas, o coco. Em diversas localidades no Nordeste, existe um tipo de coco nascido de dentro das casas recém construídas, da pisada dos pés dos trabalhadores que precisavam pisar o chão de barro, para que ficasse firme. Além do ritmos feito pela batida dos pés no chão, alguém aparecia com algum instrumento, geralmente um ganzá, ou pandeiro. Quem tinha mais facilidade com os versos, tirava na hora, e os encaixava nas batidas dos pés e dos poucos instrumentos. Estava formada a brincadeira.
Foi assim que Assis Calixto teve seu primeiro contato com o coco que, naquela época de sua juventude, era chamado por seus brincantes de mazurca. Depois, virou coco de trupe. No Sítio dos Coqueiros – onde hoje é a Cohab 1, em Arcoverde – foi onde conheceu os primeiros coquistas, gente que tinha vindo de Alagoas e do Maranhão. Depois, mudou-se pro Sítio Coqueiros e conheceu outro grupo, ainda maior. “Eles faziam coco nas casas de barro, para fazer o piso. Vamos para casa de fulano! Faziam uma buchada e tinha cachaça, para o povo ficar esperto. A gente aguava o chão num dia, e pilava no dia seguinte, para ficar duro. Eram mais de cinquenta pessoas, entrava e saía gente o tempo todo. Cada um tinha sua pisada, era muito bonito o coco cantado. Era muito bom”, relata Assis. Ele explica ainda que a brincadeira era chamada de “coco de entrega”, porque um coquista cantava, e passava a vez pro outro, seguindo assim até o dia amanhecer.
Construindo casas com chão de coco pisado. Essa foi portanto a escola do Mestre Assis Calixto, que nunca andou só. É da família Calixto, formada por Lula e Damião. Aprenderam com a família dos Galegos, Zé Gomes, Alfredo Sueca, João Preto, Benedito Guimarães e mais outros tantos. O mais famoso deles foi Ivo Lopes. Com pretensões políticas, Ivo criou uma caravana e levava coquistas para diferentes bairros de Arcoverde, a fim de angariar votos para eleição de vereador. Lula Calixto o acompanhava e, quando Ivo faleceu, era consenso em Arcoverde que Lula deveria ser seu natural sucessor.
Em 1992, Lula fundou então o grupo de Coco Raízes de Arcoverde, que reuniu as mais importantes famílias de coquistas da cidade: os Calixto, os Lopes e os Gomes, de Ciço Gomes. Ciço, um dos melhores cantadores da região, ficou à frente do Coco Raízes. Da parte dos Lopes, foram as irmãs de Ivo que mantiveram seu legado. O grupo ganhou fama a partir de 1996, quando rompeu os limites do Sertão e passou a se apresentar pelo Brasil e exterior. Fizeram turnês na Alemanha, Bélgica, Itália Noruega e França. Também passaram a atrair gente de todo Estado e do Brasil à pequena cidade de Arcoverde, sobretudo em dois importantes eventos: o São João, e o Festival Lula Calixto, que passou a ser feito depois da morte do principal nome da família Calixto, Lula, em 1999.
Jan Ribeiro/Secult-PE/Fundarpe

Coco Raízes de Arcoverde tem três CDs lançados, um DVD, e algumas turnês internacionais
Quando deixou a seca Sertânia e chegou em Arcoverde, Lula Calixto tinha contraído a doença de chagas. Muito provavelmente infectado pelo barbeiro, já que a família morava numa casa de taipa, habitação favorável à proliferação do mosquito. Foi essa doença que o levou, precocemente, aos 57 anos. Lula, que havia dado seguimento ao trabalho de Ivo Lopes, abriu espaço para o irmão, Assis, dar continuidade ao seu trabalho.
PH Reinaux/Secult-PE/Fundarpe

Além do coco, Mestre Assis Calixto também é artesão
“Ele vive aqui comigo. Tudo que eu tenho hoje foi através dele. A gente já conversava sobre morte. Se morresse um, era para continuar. A nossa reunião sempre se falava assim, não pode deixar acabar”, conta Assis, que hoje mora com sua família no Alto do Cruzeiro, perto da sede do Coco Raízes, maior atração cultural de Arcoverde, e um dos grupos mais festejados de Pernambuco e do Brasil, quando o assunto é cultura popular. Assis, além de ter assumido as loas do coco, também passou a fazer artesanato. A primeira boneca de madeira, casca de coco, e material reciclado surgiu junto com uma das músicas mais famosas de sua autoria,Andrelina. Assis contabiliza hoje mais de 100 composições.
PATRIMÔNIO VIVO –  Quando Lula era vivo, a função de Assis no grupo era mais responder aos cocos. Depois, as famílias deixaram o grupo. As Irmãs Lopes fizeram seu próprio grupo. Ivo Lopes seguiu o mesmo caminho e se separou. Assis Calixto então se preocupou com o futuro, com as novas músicas, a continuidade. “As músicas eram de Lula, quando ele tava vivo eu só fiz uma música (“No balanço da Canoa”). Eu já tinha cinquenta anos quando comecei a compor. Eu senti a pressão dentro do grupo. Não dava só para viver a música dos outros. Hoje graças a Deus tenho muitas músicas que estão ganhando espaço”, conta Mestre Assis.
O primeiro CD do Coco Raízes, homônimo, é de 2002. O segundo, Godê Pavão, foi lançado em 2004. Foram contemplados com o prêmio Culturas Populares, em 2009, promovido pelo Ministério da Cultura. Em 2011, foi lançado o terceiro disco de trabalho, A Caravana não morreu. Em 2016, lançaram uma coletânea com as principais músicas.
Em 2019, em reconhecimento a todo trabalho de retomada do coco de trupe de Arcoverde, mas também ao repasse dos saberes desta cultura para as novas gerações, Mestre Assis Calixto foi titulado Patrimônio Vivo de Pernambuco. Um dos deveres de um “Patrimônio Vivo” é repassar seus ensinamentos, seus saberes, fazeres, para que contribua com a continuidade da tradição popular que representa. Com Mestre Assis o dever é hoje uma missão de vida, uma tarefa que cumpre cotidianamente. No dia em que a equipe da Secult-PE/Fundarpe esteve em sua casa, para entrevista-lo e fazer as fotos, Mestre Assis Calixto voltava de uma escola do bairro. Tão logo a entrevista começou, chegou em sua casa mais um grupo, de professora e alunos, que queriam confirmar sua participação numa feira de conhecimentos da instituição. O coquista pretende ainda circular bastante com o coco, gravar mais discos, lançar DVDs e continuar atraindo milhares de pessoas para Arcoverde, nos dias de festa. Mas tem ciência de sua principal missão enquanto artista. “Gosto de repassar o que eu aprendi. A vida todinha da gente foi isso”, ensina o mestre.