domingo, 30 de novembro de 2025

LÔ BORGES
Salomão Borges Filho,nasceu no dia 10 de janeiro, ano da graça de 1952,em Belo Horizonte, mais conhecido como Lô Borges, foi um cantor e compositor. Foi um dos fundadores do Clube da Esquina, um grupo de artistas mineiros que marcou presença na música popular brasileira nas décadas de 1970 e 1980. É co-autor, junto de Milton Nascimento, do disco Clube da Esquina, de 1972, um dos álbuns mais aclamados da história da música contemporânea.
Entre suas composições mais famosas destacam-se "Clube da Esquina", "Feira Moderna"; "Um Girassol da Cor do Seu Cabelo"; "Paisagem da Janela"; "Para Lennon e McCartney"; "Clube da Esquina nº 2"; "O Trem Azul"; "Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor", "Dois Rios", entre outras. É considerado um dos compositores mais influentes da música brasileira, tendo canções gravadas por Tom Jobim, Elis Regina, Milton Nascimento, Flávio Venturini, Beto Guedes, Nenhum de Nós, Ira!, 14 Bis, Skank, Nando Reis, Os Paralamas do Sucesso, entre outros.
Nos anos 60, se reunia com outros garotos no encontro das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro Santa Tereza, para conversar, tocar, cantar, falar dos Beatles, da MPB, do jazz. Na esquina ficava a residência do casal Borges (Maricota e o jornalista Salomão Magalhães Borges) e seus 11 filhos (Marílton, Márcio, Sandra, Sônia, Sheila, Lô, Yé, Solange, Sueli, Telo e Nico), todos ligados à música. Aos 18 anos, Lô Borges já havia raspado a cabeça para servir no Exército em Belo Horizonte. Foi Milton Nascimento quem o tirou da esquina de Santa Tereza, onde tocava violão sem parar. Os dois já tinham parcerias gravadas no álbum Milton, de 1970 – quando o compositor, 10 anos mais velho, chegou para Lô, então menor de idade, para convidá-lo para morar no Rio de Janeiro e dividir um álbum. Após mudanças mensais de apartamento, arrumaram uma casa paradisíaca em Piratininga, Niterói. «"Queríamos fazer uma obra de arte", diz Lô Borges sobre "Clube da Esquina", lançado há 50 anos». GZH. 25 de maio de 2022. Consultado em 9 de junho de 2022 «Lô Borges chega aos 70 anos com a chama viva». G1. Consultado em 9 de junho de 2022 «Opinião: Leonardo Rodrigues - 'Clube da Esquina' é eleito o melhor disco brasileiro; você concorda?». www.uol.com.br. Consultado em 9 de junho A gravadora Odeon reconheceu o poderio de Lô ao ouvir as músicas que ele havia composto – "O Trem Azul", "Tudo Que Você Podia Ser" e "Um Girassol da Cor do seu Cabelo" entre elas – e não hesitou em lhe propor uma estreia solo, no mesmo ano. O famoso "disco do tênis" foi seu primeiro trabalho solo, chamado desse modo por conta da foto de um par de tênis na capa. Quando terminou o disco, saiu do Rio e abandonou momentaneamente a carreira. Foi de ônibus para Porto Alegre, onde passou dez dias, e depois de carona em caminhão para Arembepe, na Bahia. Virou hippie, ficou uns meses rodando, até voltar para Belo Horizonte.
Voltou a aparecer somente em 1978, no álbum duplo Clube da Esquina 2, já sem ser o coprotagonista, como no disco de 1972. Em 1979, Lô lançou enfim o segundo álbum solo, A Via Láctea, com músicas como "Equatorial" (Lô Borges, Beto Guedes e Márcio Borges, 1979) e "Vento de Maio" (Telo Borges e Márcio Borges, 1979). Nas décadas de 80 e 90 a produção do compositor diminuiu; foram quatro discos ao total. A mudança no ritmo veio quando ele se aproximou dos 50 anos, perto da transição de 1999 para 2000. Com o sucesso da canção "Dois Rios" em 2003, parceria com Samuel Rosa e Nando Reis lançada pelo grupo mineiro Skank, Lô começou a dar novamente as caras no mercado.Depois de um hiato de sete anos, retornou com o lançamento do álbum Um Dia e Meio. Em 2007, Lô Borges concedeu uma entrevista ao Museu da Pessoa, intitulada Mistura Musical, em que relembra da sua infância e seu primeiro contato com a música. Também conta como conheceu Milton Nascimento e sobre a criação do Clube da Esquina. Ainda em 2007, a revista Rolling Stone Brasil classificou o Clube da Esquina na 7ª posição na lista dos 100 maiores discos da música brasileira. Já em 2011, lança o álbum Horizonte Vertical, com o patrocínio da Natura, com participações vocais de Fernanda Takai, Milton Nascimento e Samuel Rosa. E também participam nas composições das faixas: Nando Reis, Márcio Borges, Ronaldo Bastos e Patrícia Maês.
o, amigo da época do Clube da Esquina e do "disco do tênis". O qual havia se afastado, em virtude de sua amizade com a ex-mulher do compositor, Joyce Moreno, porém tomou a iniciativa de se aproximarem novamente e lançaram o álbum Rio da Lua. Nesse lançamento de 2019, as letras escritas por Nelson, foram enviadas por WhatsApp e e-mail. Em 2020, lança novo álbum de inéditas chamado Dínamo, que contou com a colaboração do poeta piauiense Makely Ka, em que a faixa título, intitulada com o mesmo nome do álbum, contempla a participação de Samuel Rosa. Este álbum teve desenvolvimento análogo ao "disco do tênis", já que a produção das músicas foi extremamente dinâmica, como ressalta Lô Borges: "Fiz dez músicas em três meses. Toda semana chegavam letras, e aquelas (de) que eu gostava mais eu passava para o meu caderno, com minha caligrafia. Então, eu pegava o violão, começava a inventar acordes e melodias e em 40 minutos já estava tudo pronto. Foi muito intuitivo". Em 2021, a canção "O Trem Azul" entrou para a trilha da série Station Eleven, da então HBO Max. No mesmo ano, lança o álbum Muito Além do Fim, que retoma sua parceria com seu irmão Márcio Borges, em que sua última parceria havia sido em 2011, em Horizonte Vertical. Nessa obra, que tem a participação de Paulinho Moska, Lô reacende sua pegada rockeira. Já em 2022, lança o álbum Veleiro, com participação de Patrícia Maês, Paulinho Moska e também seus parceiros de Clube da Esquina: Milton Nascimento e Beto Guedes. Em 21 e 22 de dezembro do mesmo ano, subiu ao palco da Sala Minas Gerais, em Belo Horizonte, para fazer duas apresentações de show sinfônico com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e com o quinteto de baixistas DoContra. O concerto gerou registro audiovisual lançado gravadora Deck em 1º de dezembro de 2023, em álbum e em vídeo, denominado 50 anos de música – Ao vivo na Sala Minas Gerais. Em janeiro de 2023, lança o álbum Não Me Espere na Estação, com dez músicas inéditas, em parceria com o letrista mineiro, César Maurício. O trabalho foi indicado ao Grammy Latino 2023, na categoria Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa. Ainda em 2023, tem a trajetória documentada em filme do cineasta Rodrigo de Oliveira, o documentário Lô Borges – Toda essa água.
Em junho de 2024, participou do evento As Cores do Clube da Esquina, que reuniu grandes nomes do movimento Clube da Esquina em um grande concerto no Palácio das Artes. O show de lançamento de seu disco, Tobogã, ocorreu em 9 de novembro, também no Palácio das Artes. O álbum teve letras da poeta Manuela Costa e foi lançado no dia 23 de agosto. A faixa-título foi lançada dia 2 de agosto, com a participação de Fernanda Takai. Em agosto de 2025, o artista lançou seu último álbum em vida, Céu de Giz, em parceria com Zeca Baleiro. O trabalho, divulgado no dia 22, reuniu dez faixas inéditas compostas pelos dois músicos, que dividem os vocais em cinco delas. Antes de morrer, Lô deixou prontos quatro álbuns de músicas inéditas. Lô era pai do publicitário Luca Arroyo Borges, nascido em 1998. O artista foi casado com a escritora Patrícia Maês, que colaborou como letrista em alguns de seus álbuns. Foi internado no dia 17 de outubro de 2025 em função de uma intoxicação medicamentosa acidental, de origem não divulgada, no hospital Unimed de Belo Horizonte. Durante o período, teve constantes pioras em seu quadro, sendo encaminhado para a UTI, passando eventualmente por uma traqueostomia para emprego de ventilação mecânica e, dias depois, por uma hemodiálise. Lô morreu na noite do dia 2 de novembro de 2025 aos 73 anos, em decorrência de falência múltipla de órgãos. A família tornou pública a morte do artista apenas na manhã do dia seguinte, 3, por meio das redes sociais do mesmo. A notícia de sua morte teve repercussão internacional. No mesmo dia, centenas de fãs homenagearam o artista e deixaram flores no encontro das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro Santa Tereza, na região Leste da capital, onde surgiu o Clube da Esquina na década de 1960. O corpo de Lô foi velado no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. DISCOGRAFIA
Álbuns de estúdio 1972: Clube da Esquina 1972: Lô Borges 1979: A Via-Láctea 1980: Os Borges 1981: Nuvem Cigana 1984: Sonho Real 1996: Meu Filme 2001: Feira Moderna 2003: Um Dia e Meio 2006: Bhanda 2009: Harmonia 2011: Horizonte Vertical 2019: Rio da Lua 2020: Dínamo 2021: Muito Além do Fim 2022: Chama Viva 2023: Não Me Espere na Estação 2024: Tobogã 2025: Céu de Giz Álbuns ao vivo 1987: Solo 2008: Intimidade 2016: Samuel Rosa & Lô Borges: Ao Vivo no Cine Theatro Brasil 2018: Tênis + Clube - Ao Vivo no Circo Voador 2023: 50 Anos de Música - Ao Vivo na Sala Minas Gerais Coletâneas 2014: 2003–2013

sábado, 29 de novembro de 2025

O Maracatu Infantil de Baque Solto Sonho de Criança, criado em 1997, e que está em atividade há pelo menos 27 anos em Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte do Estado, deu início a um novo projeto anual de manutenção e salvaguarda que coloca crianças e adolescentes no centro da preservação de uma das tradições mais antigas do patrimônio cultural imaterial pernambucano. O projeto é realizado pela Coco da Mata Produções Artísticas e pela Azulyne Correntes Culturais, e conta com incentivo da Fundarpe e da Secretaria de Cultura de Governo de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura. Formado por estudantes do ensino fundamental, o grupo reúne meninos e meninas de 7 a 16 anos que ocupam lugar de protagonismo dentro da brincadeira, aprendendo na prática os saberes que estruturam o maracatu rural, como o toque dos instrumentos, o canto improvisado, a dança, os personagens e a confecção das indumentárias. O projeto vem sendo realizado na sede provisória da agremiação carnavalesca instalada dentro do Espaço Cultural Mauro Mota, equipamento público da Prefeitura, e prevê a realização de uma série de atividades ao longo de um ano, com o objetivo de fortalecer a continuidade da tradição, garantir a transmissão de saberes e estruturar ações de salvaguarda capazes de documentar, difundir e sustentar a memória do maracatu mirim. Entre as ações programadas estão uma aula-espetáculo, a formação de mestres mirins, a promoção do Sambadinha Mirim, o restauro completo das indumentárias do grupo e um cortejo no período carnavalesco, momento em que as crianças se apresentam em sua plenitude, reafirmando o elo entre a tradição e as novas gerações. A manutenção das indumentárias é uma etapa fundamental. Ao longo do ano, serão restauradas golas, chapéus, vestidos das baianas, o sombreiro da corte e o estandarte principal do maracatu. O processo envolve artesãos, bordadeiras e costureiras locais, fortalecendo também a economia criativa ligada ao maracatu rural. Cada peça recuperada carrega valor estético e simbólico, permitindo que as crianças vivenciem integralmente o ritual da brincadeira e compreendam o significado cultural de cada elemento que vestem. Vestir o maracatu é, para elas, tanto um aprendizado quanto uma forma de pertencimento. A oficina de formação de mestres possui um significado especial dentro do projeto. O responsável por conduzir as aulas é o mestre Anderson Miguel, um dos primeiros integrantes do próprio Maracatu Sonho de Criança. Ainda criança, ele recebeu sua formação de base dentro da cultura popular expressa no grupo, aprendendo canto, ritmo, improviso e condução de cortejo ao lado de mestres e brincantes mais velhos. Hoje, retorna ao maracatu mirim como formador, ministrando uma oficina de 12 horas destinada a crianças e adolescentes, na qual ensina técnicas de puxada, afinação, liderança e expressão vocal. Sua presença reforça a dimensão geracional do projeto e evidencia que a salvaguarda do patrimônio imaterial depende da continuidade desses laços entre mestres, aprendizes e comunidade. A dimensão educativa também se manifesta na realização de uma aula-espetáculo na Universidade de Pernambuco (UPE), ação que aproxima o universo do maracatu mirim de espaços formais de ensino e pesquisa. Ao apresentar seu trabalho diante de professores, estudantes e público em geral, as crianças ampliam a compreensão sobre o valor cultural da brincadeira e evidenciam a potência educativa da tradição. A iniciativa fortalece vínculos entre universidade e comunidade, estimulando pesquisas, intercâmbios e novas formas de aproximação entre saberes populares e instituições de ensino. MARACATU INFANTIL DE BAQUE SOLTO SONHO DE CRIANÇA INICIA PROJETO DE SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO IMATERIAL Iniciativa prevê a realização de uma série de atividades culturais, gratuitas, ao longo de um ano, com o objetivo de fortalecer a continuidade da tradição, feita por crianças e adolescentes, estudantes de escolas públicas e que integram a agremiação carnavalesca
Com função semelhante, o Sambadinha Mirim promove o encontro entre a comunidade e os jovens brincantes, criando um ambiente de celebração e reafirmação cultural. A atividade ocorre nas imediações do Espaço Cultural Mauro Mota e oferece aos participantes a oportunidade de transformar em performance o que aprenderam durante as oficinas. A prática reforça laços comunitários, incentiva a participação das famílias e contribui para ampliar o reconhecimento do maracatu mirim como expressão legítima e estruturante do território. O cortejo de Carnaval, programado para o dia 16 de fevereiro de 2026, no centro de Nazaré da Mata, é a culminância do projeto anual de manutenção. O desfile marca o fortalecimento do maracatu mirim como expressão comunitária e reafirma que a tradição segue viva graças ao empenho das crianças e adolescentes que a conduzem. Oficina de Formação de Mestres Mirins 27 a 30 de janeiro de 2026 – 9h às 11h30 Com o mestre Anderson Miguel Espaço Cultural Mauro Mota – Nazaré da Mata Sambadinha Mirim 31 de janeiro de 2026 – 15h Espaço Cultural Mauro Mota – Nazaré da Mata Cortejo de Carnaval 16 de fevereiro de 2026 – Centro de Nazaré da Mata Realização Coco da Mata Produções Artísticas, Maracatu Sonho de Criança e Azulyne Correntes Culturais Incentivo Funcultura, Fundarpe, Secult-PE e Governo do Estado de Pernambuco Mais informações: www.instagram.com/maracatusonhodecriança

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Artur Pereira
Artur Pereira é o mais famoso escultor de Cachoeira do Brumado, distrito de Mariana, Minas Gerais, lugar em que nasceu em 1920. A localidade tem uma longa tradição artesanal ligada, sobretudo, à produção de peças em pedra sabão e de tapetes de pita. Cachoeira também é conhecida pelos vários escultores da madeira que lá vivem e que tem no mestre Artur Pereira sua principal referência. O mestre Artur Pereira começou a trabalhar desde cedo na roça, ajudava seu pai no trato da tropa de burros. Foi pedreiro, lenhador e carvoeiro. Autodidata, começou a produzir artisticamente em 1960, mas desde pequeno modelava pequenas figuras em barro, em geral presépios. Quando começou a esculpir na madeira, ele colava as partes da peça, como braços e pernas. Mais tarde, em 1968, começou a esculpir em bloco único. Suas obras eram formadas por estranhas composições de homens e animais, cujo estilo se aproximava ao dos ex-votos. Foi nessa época que começaram a surgir os grandes grupos, onças caçadas, presépios, esculpidos no miolo macio troncos de cedro, monoblocos sem emendas. Em 1971, ele ganhou um concurso de presépios realizado em Ouro Preto e sua obra começou a ter uma maior projeção. As peças de Artur Pereira começaram a ser comercializadas nas lojas de artesanato das cidades históricas mineiras, mas aos pouco foi ganhando notoriedade entre os galeristas que trataram de difundir a obra dele por todo o país. Eram peças que apresentavam um estilo próprio e que foi mantido por Artur Pereira durante toda sua vida; um estilo que foi seguido por vários outros escultores de Cachoeira do Brumado, como seu filho José Pereira, Miramar Borges e Adão de Lurdes.
A inspiração para suas obras certamente vinha do meio rural em que viveu. Ele era um homem simples, mas com uma visão muito objetiva sobre o que fazia. Transcreveu para a madeira a sua vivência na roça, o contato com a gente simples e os bichos que habitavam as matas da região e o imaginário do seu povo. Na talha da matriz de Nossa Senhora da Conceição de Cachoeira do Brumado e a forma única de suas colunas devem ter saído, de maneira bastante inconsciente, das colunas barrocas e habitadas por vários personagens desta igreja do século dezoito.
A primeira exposição do artista foi realizada em 1989 no Espaço Cultural Companhia Vale do Rio Doce, Rio de Janeiro-RJ. A partir de então sua obras fez parte de várias exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, como a exposição Brésil Arts Populaires (Paris, França, 1987), a Mostra do Redescobrimento (Fundação Bienal de São Paulo, 2000), a exposição Artur Pereira – Esculturas (Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro-RJ, 2009) e a exposição Artur Pereira – Esculturas (Centro de Arte Contemporânea e Fotografia – Palácio das Artes, Belo Horizonte-MG, 2010). Possui obras nos acervos das de várias instituições como: o Museu de Folclore Edison Carneiro, RJ; o Centro Cultural de São Francisco, PB e a Casa do Pontal, RJ. Artur Pereira faleceu em 2003 na mesma localidade onde nasceu.

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Espetáculo “Memórias de Carnaval” é encenado no Teatro Hermilo Borba Filho Montagem cênica foi inspirada nas lembranças de foliões
O espetáculo “Memórias de Carnaval” convida o público a mergulhar em uma experiência sensorial e afetiva, onde dança e memória de entrelaçam. O Carnaval é feito de passos, encontros e histórias que não se apagam. E, com inspiração nas lembranças de foliões e trabalhadores da festa, o público poderá assistir à apresentação no próximo dia 19 de novembro, quarta-feira, às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho. Entre risos e lágrimas, amores e despedidas, resistência e celebração, o espetáculo revisita as múltiplas camadas da festa popular que pulsa em cada corpo. Uma viagem coreográfica por nostalgias coletivas e íntimas, evocando a alegria, a saudade e a intensidade que só o Carnaval é capaz de revelar. Ficha técnica: Concepção, direção, produção e Intérprete : Aldeline Silva Direção e criação de movimento: Marcos Teófilo Dramaturgia e Direção de Artes: Álcio Lins Figurinos e adereços: Francis de Souza, Álcio Lins, Aldeline Silva Iluminação: Natalie Revorêdo Áudiovisual e publicidade (pode mudar se quiser): Arthur Chaves, Maju Lima Preparação física: Filipe Lopes Acompanhamento nutricional: Tales Rego Assessoria de comunicação: Talis Ribeiro Convidado: Fernando Gomes (como papangu)

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Transcrição do texto: SÃO PAULO (CS) — O ex-caçador de cangaceiros, Euclides Marques da Silva, vulgo “Manoel Velho”, que integrava a volante que liquidou Lampião e seu bando, em carta enviada ao seu advogado, ameaça suicidar-se caso seja adiado, mais uma vez, seu julgamento, marcado para a próxima segunda-feira, perante o 1.º Tribunal do Júri. Na ocasião, será julgado também seu irmão, Josafá Marques da Silva. Ambos são acusados de coautoria de duplo homicídio qualificado, o que os sujeita à pena máxima de até 60 anos de reclusão cada um. O CRIME Por ordem de Euclides, que pagou 30 cruzeiros novos pela empreitada, Josafá, de encomenda, por volta das 13 horas do dia 13 de junho de 1966, na rua Piratiningui, assassinou a tiros de revólver a esposa e a filha do mandante, Maria Bosco da Silva e Jovina Marques da Silva. Euclides estava se separando da esposa e mandou matar as duas mulheres por entender que elas estavam onerando o seu orçamento. Há vinte e dois anos, em Jeremoá, na Bahia, eliminara a primeira esposa a tiro de fuzil por suspeitar de sua fidelidade. Permaneceu foragido até a prescrição do delito. QUATRO ADIAMENTOS O julgamento dos dois irmãos já foi adiado 4 vezes, principalmente por falta de número regulamentar de jurados. Tudo indica, porém, que tal fato não voltará a se repetir agora. Na carta que enviou ao advogado Flavio Markman (que deverá requerer cisão do julgamento, a fim de que seu constituinte seja julgado separadamente), Euclides, referindo-se aos sucessivos julgamentos diz que “aos poucos já me mataram quatro vezes”. Afirmou que “isso não é modo de tratar um homem que ajudou o povo a se ver livre dos cangaceiros. Se não for julgado desta vez, eu dou cabo da vida. Eles vão ter que arrastar meu cadáver para o tribunal”. Adendo Lampião Aceso

domingo, 23 de novembro de 2025

MARTINS
Thiago Emanoel Martins do Nascimento,nasceu no Recife, 25 de agosto de 1990, é um cantor, intérprete e compositor brasileiro.
A trajetória musical de Martins teve inicio nas tradições folcórica, tendo influencia dos repentistas, da poesia e da viola regional. Aos dezoito anos de idade começou a tocar Rabeca. Como cantor e compositor, Martins foi uma das revelações do chamado Coletivo Reverbo, que é um grupo de cantautores e cantautoras entre 20 e 40 anos de idade, vindos das diversas microrregiões de Pernambuco. Antes de lançar-se em carreira solo, Martins participou de bandas e grupos musicais. Atuou como rabequista na banda Sagarana. também estava como integrante da banda forrozeira Forró na Caixa, em 2015. Em 2016 fez parte do lançamento de Circular Movimento, o primeiro álbum de rock da Banda Marsa que foi realizado através da premiação obtida, em 2015, no Festival Pré-AMP, organizado pela Articulação Musical Pernambucana.
Em 2019, marca sua trajetória em carreira solo com o álbum titulo Martins, lançamento este que contou com onze faixas compostas com suas próprias músicas autorais; com o qual foi considerado uma das voz emergentes do Recife e ganhou maior visibilidade no mercado musical do país. Em 2022, lança "Almério e Martins ao Vivo no Parque". O álbum, gravado ao vivo numa apresentação no Teatro do Parque (Recife) em 2021, conta com a participação do também pernambucano Almério, de quem Martins é amigo e com quem ele acabou desenvolvendo uma parceria que inclui apresentações em diversas cidades pelo Brasil. Tal parceria gerou inclusive uma apresentação no Rock in Rio em 2024. Em 2023 lançou o seu segundo álbum, com o título Interessante e obsceno, e que teve um texto de apresentação assinado pela Zélia Duncan. O trabalho acabou recebendo boa aceitação da crítica musical especializada tais como Augusto Diniz e Mauro Ferreira. A composição “Jardim da Fantasia” esteve entre as dez músicas mais tocadas em rádio no Brasil no mês de maio de 2024. Tal canção, composta por Paulinho Pedra Azul, foi regravada por Martins e inserida na trilha sonora do reboot da novela Renascer, da Rede Globo, fato este que deu maior visibilidade nacional ao trabalho de Martins, agora atuando como intérprete.[13][14] Ainda interpretaria a canção Na paz, composta por Orlando Morais. Como compositor, Martins já teve suas composições gravadas por artistas musicais de renome, tais como Daniela Mercury, Simone ("A Gente Se Aproveita"), Margareth Menezes, e Ney Matogrosso.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

COCO TORÉ PANDEIRO DO MESTRE INICIA PRIMEIRA CIRCULAÇÂO NACIONAL
No ano em que celebra 25 anos de trajetória, o grupo pernambucano Coco de Toré Pandeiro do Mestre realiza, pela primeira vez, uma circulação nacional. A agenda começa hoje (19) e vai até o dia 30 de novembro com apresentações em São Paulo e Belo Horizonte. O projeto conta com incentivo do Governo de Pernambuco, da PNAB (Política Nacional Aldir Blanc), da Secretaria de Cultura de Pernambuco e do Governo Federal – Ministério da Cultura. A circulação começa hoje na icônica Casa de Francisca, em São Paulo, às 21h30, com participações especiais da cantora e compositora Alessandra Leão e do cantor e compositor Mestre Nico Manipueira. No dia 22, o grupo se apresenta às 20h no Baticum Tendinha Cultural, um importante espaço cultural de Belo Horizonte. O circuito retorna à capital paulista em 26 de novembro, às 20h, no Ocupação Fervo, em evento que também reúne o grupo Filpo e a Feira, responsável por um repertório autoral presente nos discos Contos de Beira D’Água, Morada do Vento e Clareira, disponíveis nas plataformas de streaming. O encerramento será no Sesc Campo Limpo, em 30 de novembro, às 17h. A Circulação Nacional SP–BH 2025 é uma realização da Terno da Mata Produções (PE) e da Ticuqueira Arte e Cultura (SP), com apoio do Sesc Campo Limpo e da Humaitá Cultura (BH). A roda sagrada do tempo Criado em agosto de 2000, o Coco de Toré Pandeiro do Mestre construiu uma composição autoral influenciada pelos cantos e danças dos rituais do Toré, milenar sistema de crenças e ritualísticas dos povos indígenas do nordeste brasileiro. O primeiro álbum, “Coco de Toré” (2007), produzido por Nilton Junior e gravado por Gera Vieira no Estúdio Carranca, no Recife, tornou-se referência e contou com participações de Zé Neguinho do Coco, Grupo Bongar, Siba, Tiné e dos povos indígenas pernambucanos Fulni-ô e Pankararu. Quinze anos depois, o grupo lançou “Água da Flor da Corrente” (2022), novamente produzido por Nilton Junior, com gravação, mixagem e masterização realizadas no estúdio Mundo Novo, em Olinda, sob o comando do lendário dub master pernambucano Buguinha Dub. O trabalho recebeu participações de Renata Rosa, Maciel Salu, Mestre Anderson Miguel e do Coco dos Pretos. Para Nilton Junior, a circulação é o resultado de um processo longo e contínuo: “Essa circulação é a primeira colheita de uma semeadura realizada ao longo dos últimos quinze anos. Em idas e vindas entre Pernambuco e o eixo Sul–Sudeste, difundi nossa produção autoral por meio de aulas-espetáculo, oficinas e sambadas de coco, preparando o caminho para o Pandeiro do Mestre. Agora é o momento de saber se o plantio foi bem feito. Chego no sudeste acompanhado por esse coletivo que vive comigo, no Recife, as dinâmicas constantes de aprendizado, amadurecimento e auto identificação etno-artística.”

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

A Festa Literária dos Inventos (FLIS) acontece no Campus Senhor do Bonfim da Univasf entre 20 e 22 de novembro de 2025. O evento conta com programação gratuita de palestras, oficinas, lançamentos de livros e shows musicais, incluindo o de Cordel do Fogo Encantado, Cicinho de Assis e João Sereno.
Busto de Zé Rufino é inaugurado em Jeremoabo Patrono da Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) Caatinga, Zé Rufino, o policial militar Coronel José Osório de Farias, um dos maiores combatentes do Cangaço, recebeu uma homenagem post mortem da Câmara Municipal de Jeremoabo, na manhã de sexta-feira (1º/08). No início do ato na Câmara houve a concessão do título de cidadão de Jeremoabo a Zé Rufino, que foi recebida pelos familiares do policial militar, e em seguida ocorreu a formatura de 21 policiais militares no Curso de Rastreamento de Combate, que tem como objetivo capacitar o efetivo para atuação, emprego e execução de ações de rastreamento de combate nas operações policiais em ambiente rural. A solenidade contou com as presenças do subcomandante do Policiamento em Missões Especiais (CPME), tenente coronel Ibrahim Almeida, do comandante do 20º Batalhão, tenente coronel Marcos Davi, do chefe de Coordenação de Documentação e Memória da PMBA, tenente coronel Raimundo Marins, do comandante da Cipe Caatinga, major Érico de Carvalho, oficiais e praças da corporação. Os três primeiros colocados foram premiados pelo mérito intelectual: o sargento Valni Rodrigues de Queiroz Filho (1º lugar), da Cipe Sudoeste, o capitão Wilton Panta da Silva (2° lugar), da 54ª CIPM, e o soldado Leôneo Pereira Freitas, do Bope, conquistou a 3ª colocação. A segunda edição do Curso rastreamento de combate iniciou em 21 de julho com 21 policiais militares, sendo 20 da PMBA e um da Polícia Militar do Piauí (PMPI), que passaram por instruções, treinamentos e atividades simuladas, contabilizando 140 horas aula. Após a conclusão da solenidade, foi realizado um cortejo que saiu da da Praça do Forró até o Cemitério Municipal de Jeremoabo, onde um busto no túmulo do Coronel José Osório de Farias, o Zé Rufino, foi inaugurado. Neto do militar, o cabo Melquisedeque, lotado no 20º Batalhão, destacou a importância dessa lembrança para toda a família. “Me sinto muito honrado com nesta homenagem ao meu avô que foi um grande combatente contra o cangaço”, afirmou. Nascido em 20 de fevereiro de 1906, Zé Rufino ingressou na Polícia Militar da Bahia em 1934, sendo promovido a segundo tenente em 1939 para mais tarde chegar ao posto de coronel da PMBA. Ele foi comandante da volante contra o cangaço e ficou conhecido por confrontar Corisco. Faleceu em 20 de fevereiro de 1969, exatamente no dia em que completou 63 anos. Publicao originalmente no Site da PM/BA Postado por Kiko Monteiro
Mostra La Ursa das Artes celebra cultura negra em São Lourenço da Mata Música, cinema, dança, teatro e cultura popular se encontram na 2ª edição da Mostra La Ursa das Artes, que acontece nos dias 19, 21, 22 e 23 de novembro, em São Lourenço da Mata. Exaltando o Novembro Negro e criado para valorizar e fomentar as manifestações artísticas tradicionais e contemporâneas da cidade metropolitana, este ano, o projeto conta com incentivo da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), por meio da Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE), e vai passar pelos bairros Tiúma e Parque Capibaribe, além da região central, com uma programação gratuita. O público vai poder assistir a sessões de filmes, apresentações musicais, além de participar de rodas de conversa sobre patrimônio, memória e identidade. Após o sucesso da primeira edição, realizada em 2024, o evento retorna mantendo o compromisso de valorizar a cultura popular, desta vez, com atenção especial para a produção local e patrimônio cultural imaterial. Realizado pela Pareia Cultural Produções Criativas, o evento conta com intérpretes de Libras e celebra elementos culturais negros, que nascem nas ruas, nos bairros, nos terreiros e nas tradições que atravessam gerações em São Lourenço da Mata. Para Thays Melo, idealizadora e produtora executiva do projeto, nascida e criada na cidade, a Mostra representa o ativismo pela valorização e visibilidade das manifestações culturais do território onde cresceu e aprendeu a amar a cultura popular. “São Lourenço da Mata é um município com grande potencial artístico que precisa de mais ações de fomento e difusão dos seus bens culturais. Temos uma juventude criativa que precisa ter mais oportunidades de acessar uma formação que contribua para o seu desenvolvimento e emancipação”, comenta Thays. A mostra representa o compromisso com a manutenção da memória e os saberes do povo preto, especialmente, que formam a identidade cultural na cidade, reconhecendo expressões vivas como ponto fundamental para a construção de uma sociedade mais diversa. O nome do evento é inspirado na figura simbólica e popular da La Ursa, brincadeira tradicional que resiste e pulsa com força em São Lourenço da Mata. Por meio de uma programação diversa, a Mostra aproxima o público de grupos e artistas que reverberam o potencial criativo da cidade e do estado. Os espetáculos e apresentações artísticas são protagonizados por performances genuinamente pernambucanas que simbolizam a diversidade do território. Este ano, a Mostra repete a parceria com o Quintal Capibaribe, que se une à programação por meio da realização do “Parque Criativo: Circuito de Oficinas e Inovações Culturais” nos dias 22 e 23. Haverá ainda uma feirinha criativa reunindo afroempreendedores locais. Na Escola 10 de Agosto, localizada no Centro, haverá uma atividade formativa voltada para estudantes e professores da própria instituição com o tema “Patrimônio Cultural Imaterial: memória, identidade e resistência”. O encontro também vai contar com a participação de Vando do Urso (Urso Branco do Cangaçá) e Pai Noé (Maracatu Gavião de Ouro), representantes de manifestações reconhecidas como patrimônios culturais imateriais municipais e nacionais. A mediação será feita por George Messias, historiador e pesquisador. Confira a programação AQUI. CINEMA A edição deste ano contará com três sessões de cinema: Pau Brasil, Tarol e Ursinhas. Cada uma vai exibir até quatro curtas-metragens pernambucanos, além de apresentações artísticas de maracatu, roda de capoeira, orquestra, DJ, dança, teatro, entre outras. Thays Melo assina curadoria musical e da Sessão Pau Brasil. O público mirim também tem programação especial dentro da Mostra. A programação de filmes infantis que compõem a Sessão Ursinhas é da artista multidisciplinar Iyadirê Zidanes, que atua com Cinema e Audiovisual, Música, Teatro e Poesia. Os filmes serão exibidos no Sesc Ler São Lourenço, no bairro Tiúma, e na Sede do Quintal Capibaribe, no Parque Capibaribe. Entre os longas selecionados está “O Homem do Fraque Verde”, dirigido pelo cineasta Petrônio Lorena. O filme retrata o cortejo do “Homem da Meia-Noite”, que acontece no sítio histórico de Olinda, em Pernambuco, desde 1932, sempre à meia-noite do sábado para o domingo de carnaval. Confira a programação audiovisual AQUI. MOSTRA LA URSA Dias 19, 21, 22 e 23 de Novembro Locais: Parque Capibaribe, Tima e Centro – São Lourenço da Mata (PE) Instagram: @mostralaursa

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

PAGODE DO DIDI – PATRIMÔNIO VIVO DE PERNAMBUCO. Vlademir de Souza Ferreira, mais conhecido por Didi do Pagode, nasceu em dezembro de 1943, no bairro Caxangá, no Recife. O convívio com o pai violinista e com as cantorias da mãe o fez, desde cedo, interessar-se pela música. Antes de firmar-se enquanto músico, Didi trabalhou em algumas empresas, casas de show e foi jogador de futebol, daí o apelido (diante da semelhança física com o jogador da seleção brasileira). Em 1981, abriu o Bar do Didi, que logo se tornou ponto de encontro de sambistas, e em seguida, o primeiro pagode ao ar livre do Recife, o Pagode do Didi. Com essa iniciativa, Didi participou da formação de vários músicos, compositores e grupos que iniciaram suas carreiras neste espaço.
O espaço se mantém há três décadas enquanto reduto do samba de raiz, funcionando de segunda a sexta-feira, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife. O Pagode do Didi também foi o primeiro “palco” da Terça Negra, evento criado para encontro e expressão do povo negro, que ocorre todas as terças (atualmente no Pátio de São Pedro). Membro da Ordem dos Músicos do Brasil, Didi já participou da gravação de discos e de programas televisivos, além de receber diversos convites para gravar e integrar grupos de samba.

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

MESTRE FRANÇUI Francisco Dias de Oliveira, Mestre Françuli, nasceu no ano da graça de 1942 no município de Potengi,no Cariri Cearense. Desde a infância o menino da pequena cidade do Ceará era um sonhador. Construia pequenos aviões de metal com muita habilidade e criatividade, assim, após ganhar experiência, profissionalizou-se como flandeiro. Françuli começou produzir peças diversificadas, como chaminés, fornos, pás, baldes, latas, tubos de armazenar legumes, funis e caandeiros. Para ajudar seus conterrâneos, construiu um equipamento de flandes de borracha que traz do fundo do poço o equivalente a uma lata de água. Mas o hobbie da infância nunca ficou pra traz, e em meio aos seus inventos Mestre Françuli, fabricava também suas miniaturas de aviões, que já somam em média 32 modelos.
O sonho foi mais além, construiu um museu em sua cidade e hoje suas peças são comercializadas em todo o estado do Ceará, algumas foram expostas em diversos museus, inclusive fora do estado. Foi tema de documentários, que retratavam suas obras. Hoje, Mestre Françuli continua morando em Potengi, e vive com o dinheiro de sua aposentaria, trabalhando na agricultura de subsistência e criando peças em sua oficina de flandagem

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

MARCOS PAULO (Marcos de Sertânia) Marcos Paulo Lau da Costa é um importante representante da escultura em madeira nascido em Sertânia, Pernambuco, em 1974. Oriundo de uma família de agricultores e artesãos, decidiu mudar a tradição de seus familiares que produziam utensílios domésticos e pequenas esculturas de boi, e passou a retratar a aflição provocada pela seca, ao extrair da madeira figuras esqueléticas carregadas de dramaticidade e melancolia. O cachorro esculpido em madeira, uma de suas obras mais emblemáticas, nos remete à Baleia, a cadela de Vidas Secas de Graciliano Ramos. “... A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pêlo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo...” [RAMOS, Graciliano. Vidas secas, 82ªed. Rio de Janeiro: Record. 2001]. “Criei um estilo mais próprio, emagreci os personagens para dar mais sofrimento. Vivi tudo isso aí que coloco no meu trabalho. Já sofri com a seca, já ajudei minha mãe a carregar água na cabeça, meu pai era vaqueiro, já vi o gado morrer de fome”, conta Marcos. Marcos Paulo hoje sustenta sua família com o seu talento e criatividade.
Marcos Paulo pertence a uma geração nova de mestres da arte popular brasileira que inova pela linguagem e pelo estilo próprio. As esculturas de Marcos, além da dramaticidade impressa, dão a impressão de estarem em constante movimento. “As pessoas lá de Sertânia achavam feio o que eu faço. Eu desproporcionalizava as coisas, mas eu gosto do desproporcional, da mesma forma como eu acho meu universo bonito. Claro que a seca é terrível, mas a caatinga é bonita. Uma vez me disseram que meu trabalho parecia com o de Portinari. Quando conheci os quadros dele vi que o que eu fazia ele também fazia”, conta Marcos Paulo. A obra de Marcos Paulo já foi comparada também com a obra do artista plástico e escultor italiano Amedeo Modigliani.
As obras de Marcos Paulo estão espalhadas em coleções particulares pelo Brasil e no exterior. Ele freqüentemente participa junto com sua obra de varias feiras e exposições pelo Brasil, como: o 6° Salão Internacional do Artesanato, realizado em Brasília-DF (2013) e a Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), realizada todos os anos no mês de julho em Recife-PE. Contato: Rua Ten. José Pires, 364, Alto do Rio Branco. Sertânia, PE Tel: (87) 99131-1423, 99957-8231 E-mail: mascosesculturasalongadas@hotmail.com

domingo, 9 de novembro de 2025

CHEGANÇA E FANDANGO, HERANÇAS IBÉRICA NO FOLCLORE ALAGOANO.

Reportagem dos jornalistas Luiz Alípio de Barros e José Medeiros (fotos) publicada na revista O Cruzeiro de 6 de dezembro de 1947, que contou com a orientação do professor Theo Brandão em Maceió Publicado em 28 de março de 2019 por Ticianeli em Cultura // 2 comentários
Frei Jaçanan, da Chegança de Mestre João Marinho, da Ponta Grossa, bairro de Maceió Cheganças e Fandangos são em Alagoas os autos ou folguedos de exclusiva origem peninsular, filiados ao ciclo dos “navegantes ou dos descobridores”. A Chegança é a sua forma mais completa, complexa e antiga, aquela que pode ser considerada no justo termo em auto popular, com entrecho dramático em vários episódios, ora cantados, ora declamados (embaixadas) e tudo isso acompanhado de danças. É o correspondente dos folguedos da “Barca” ou “Marujada” de outros Estados.
Mestre Berto Maneta, Senhor do Fandango, morreu dias após a realização desta reportagem O Fandango é o variante mais recente, seguramente importado de Pernambuco, pois sua existência em Alagoas vem de um tempo menos remoto. Parece, o Fandango, uma fragmentação do auto primitivo, do qual se conserva o episódio da tormenta do gajeiro com o clássico romance ou xácara da Nau Catarineta, ao qual se ajuntam, indiscriminadamente, e sem nenhuma ligação dramática que, ora fragmentos da Chegança completa, ora antigas nautas de diversa origem, época e procedência. Portanto, enquanto na Chegança existe uma sequência, os episódios se unem num “romance”, num drama, no Fandango os episódios são soltos, não possuem uma sequência dramática. Não cabe aqui discutir nem a origem do termo Chegança (Cândido de Figueiredo em seu “Novo dicionário da língua portuguesa”, registra o vocábulo como dança lasciva do século XVIII e que era tão imodesta em coreografia que a proibiram pelos tempos de Pombal” — “As Cheganças”, in “O Estado de São Paulo”, de 6-8-39) nem a debatida questão de saber se, em Alagoas, pelo menos, houve primitivamente uma só Chegança, com todos os episódios náuticos e guerreiros, Chegança que se fragmentou na “Barca”, na Chegança de “Marujos”, na Chegança de “Mouros”, de outros Estados, ou, se ao contrário, havia primitivamente uma Chegança para cada um dos episódios principais, que em Alagoas se amalgamaram numa só Chegança.
Uma cena do Fandango da Praça 13 de Maio, de Maceió O que há a frisar — e aqui aproveitamos uma das mais valentes observações do Dr. Théo Brandão — é que hoje, e pelo menos de há cinquenta anos para cá, a nossa Chegança é uma só, englobando os episódios principais da tormenta, da morte ou ferimento do piloto, do combate aos mouros, e os episódios iniciais ou secundários, da marcha para o navio, da entrada na nau, da despedida, do episódio de levantar ferros, dos contrabandistas, dos trabalhos náuticos, do episódio do ração e da bebedeira do piloto. Folguedos populares, a Chegança e o Fandango são, em Alagoas, folguedos tipicamente natalinos, e seu período de ação vai do dia 24 de dezembro, véspera de Natal, até 6 de janeiro, dia de Reis. Mas, a Chegança e o Fandango não são organizados assim na hora. Já em junho começam os preparativos para as grandes jornadas, e os ensaios são levados muito a sério. De tradição puramente náutica, a Chegança e o Fandango possuem em geral nas suas interpretações homens que têm as suas vidas ligadas ao mar. Encarnam sempre os personagens dos folguedos: velhos marinheiros, estivadores trapicheiros, catraieiros, pescadores, armadores, e os meninos, filhos destes trabalhadores do mar. Como não há nada escrito, tudo é aprendido através dos ensinos do “mestre”, que tem todas as palavras e toda a música na cabeça. Assim a tradição dos folguedos tem chegado até hoje, através da memória de homens rudes e analfabetos mas que são os esteios do patrimônio folclórico de uma das regiões mais ricas do Brasil neste setor. O “mestre”, que conheceu os dramas e a música dos folguedos pela boca de um “mestre”, passa a sua experiência e seus conhecimentos a um discípulo, que tornar-se-á um outro “mestre”. Dura maneira de se conservar uma tradição, mas o que possui hoje o Nordeste brasileiro no seu folclore é uma prova cabal de que os trabalhos dos seus homens rudes e analfabetos não têm sido em vão.
O Gajeiro canta alto “O vento é tanto que me faz chorar”. E canta triste, triste Entretanto, como dizíamos acima, os ensaios para as representações de fim de ano começam cedo. E nos meados de dezembro o grupo está artisticamente preparado para exibições públicas. Suas fardas (as fardas são copiadas dos nossos marinheiros) em ordem, as do Fandango de cor azul-marinho, as da Chegança brancas. Sobre esta questão da cor das fardas não podemos oferecer uma informação mais precisa, porque não temos base para afirmar que o azul-marinho seja a cor oficial dos Fandangos, e o branco das Cheganças. Apenas aqui afirmamos que nos autos, autos ou folguedos de origem peninsular, filiados ao ciclo dos navegantes ou dos descobridores, sejam esses folguedos as Cheganças propriamente ditas ou sejam as suas variantes, as fardas são sempre brancas ou azuis. Porém, nos folguedos que temos assistido nestes últimos anos, pelo menos em Alagoas notamos a distinção do azul-marinho para os Fandangos e do branco para as Cheganças. Continuemos, porém. Prontas as fardas e terminados os ensaios, inicia-se o trabalho de construção da “barca”. E no meio da praça — nas cidades pequenas, nos vilarejos e mesmo nos bairros e arredores da Capital — é armada a “barca”, do tamanho de uma alvarenga ou veleiro de pequenas proporções. O mastro até lá em cima, e cruzando toda a “embarcação”, no alto, os cordéis resistentes com seus enfeites de papeis coloridos. Em algumas naus, como na Catarineta do saudoso Mestre Berto Cotó, não falta nem uma incompreensível chaminé, absurda num navio a vela. E no tombadilho estreito geme-se toda a tristeza do mar, e a barca construída de madeira e descansando sobre o chão da praça, aguenta durante 14 dias o peso dos seus “tripulantes”, homens humildes que gastam suas fracas economias anuais nos seus vistosos uniformes. Em algumas ocasiões, no entanto, o folguedo é convidado para visitar lugares onde não existe uma “barca”. O convite é somente por uma noite, e não é possível e nem interessa mesmo a construção da embarcação. Então, a função tem que se realizar na sala da casa de quem convida, ou em algum palanque, ou em algum galpão que possa existir. E aqui não podemos deixar de citar um detalhe interessante: em geral, as apresentações dos folguedos fora dos seus domínios são remuneradas, e o convite representa, portanto, um contrato. Nos folguedos natalinos de Alagoas (e parece que de todo o Nordeste), não somente nas Cheganças e nos Fandangos como também nos Reisados, nos Guerreiros, nos Pastoris, etc., faz-se esta espécie de negócio. E existem mesmo grupos, principalmente no setor dos Reisados e dos Guerreiros que, organizados alguns meses antes do Natal, saem, bastante tempo antes dos festejos de fim de ano, em verdadeiras “tournées” pelos municípios vizinhos, e mais distantes, por vezes atravessando fronteiras de outros Estados. Uma observação: em Maceió, e em alguns municípios vizinhos temos encontrado a denominação “Nau Catarineta” apenas para as “barcas” dos Fandangos; as “barcas” das Cheganças têm sido, parece que há muitos anos, batizadas com nomes principalmente de navios de guerra, como Minas Gerais, São Paulo, etc. Enquanto o Fandango tem se conservado quase fiel às origens da velha xácara da Nau Catarineta e de outras poesias semelhantes que perpetuavam as aventuras marítimas dos portugueses, a Chegança tem se modificado algumas vezes, tanto nas letras das suas canções como no número dos seus tripulantes, que tem sofrido acréscimo, até mesmo de um moderníssimo telegrafista. Folguedos de âmbito eminentemente popular, o Fandango e Chegança são representações de episódios dramáticos, ora cantados, ora falados, e sempre acompanhados por danças e movimentos coordenados. A música é monótona e as letras falam de fatos tristes e de tragédia. A coreografia das danças é simples e da lascívia de que nos falam Fidelino de Figueiredo e Mário de Andrade (ao estudarem a origem do termo chegança) parece que não restou nada.
Frei Remela, do Fandango da Praça 13 de Maio, benze personagem da Chegança da Ponta Grossa E sobre o assunto temos a opinião abalizada de Antônio Osmar Gomes, que assim escreveu no seu livro A Chegança: “Trazidas para o Brasil, certamente pelos colonizadores ibéricos, as cheganças não vieram com aquelas características lascivas, que as tornaram indesejáveis na península. Foram transplantadas para cá e aqui permaneceram como cenas dramatizadas de episódios da navegação marítima dos tempos em que os lusitanos, senhores dos mares “nunca dantes navegados”, dominaram tantas outras terras e tantas outras gentes “dilatando a fé e o império”. Tornaram-se, assim, danças verdadeiramente brasileiras, mas sob motivos históricos portugueses, que aceitamos e adaptamos como se foram nossos”. Monótonas as danças e monótonas as músicas das Cheganças e dos Fandangos. Mas bonitas, tristemente bonitas. Para o estrangeiro, para aqueles de outras latitudes, os folguedos não possuem outros interesses além da curiosidade estudiosa ou da atração pelo exótico. Para os habitantes simples do lugar, entretanto, os folguedos aparecem com uma grandeza esplêndida, porque trazem a estes habitantes a sua dose anual de alegria e falam eles de acontecimentos estranhos e atraentes. A Chegança de Mestre João Marinho, com a sua barca “Minas Gerais”, tinha uma tripulação assim distribuída: Almirante, Vice-Almirante, Capitão de Mar e Guerra, Capitão-Patrão, Imediato, 1º Tenente, Piloto, 2º Tenente, comissário, Cirurgião, Mestre, Contra-Mestre, Dispenseiro, Telegrafista, Carpinteiro, 2 Gajeiros, 2 Calafates (encarregados de vigiar o casco da embarcação, para evitar possíveis inundações), o Ração (encarregado de distribuir a comida de bordo), o Vassoura (encarregado da limpeza e anda sempre com uma vassoura na mão), e Padre-Capelão e marujos. A Chegança começa ainda na rua ou no meio da praça. A barca imponente e enfeitada espera tranquila, e embaixo, em volta dela, menos no local onde fica a escada, o povo escuta atencioso o começo da função. Os tripulantes formados e nas suas fardas brancas, orgulhosos e entregues de corpo e alma aos seus papeis, marcham. O Mestre canta: Entramos nesta nau de guerra Com muita veneração. Lôvores vinhemos dar A Virgem da Conceição. E o coro responde: Entramos com gosto Com muita alegria. Vinhemos festeja A Virgem Maria. Depois da entrada na barca, há uma série de embaixadas (pequenas declamações com ênfase) onde tomam parte vários personagens, embaixadas como esta do Almirante: [Não publicada no original]
Personagens do Fandango São os primeiros preparativos de bordo para a viagem; e uma série de embaixadas e também de marchas cantadas em solo e com resposta de coro, apresentam as ordens dos oficiais: olhar as velas, os ferros, os mantimentos, a situação do casco da embarcação, tudo. Depois, o Almirante manda levantar ferros, e Patrão e coro cantam: Contra-Mestre puxa os ferros Piloto vai manobra Que o vento está suleno (solene) Lá no alto mar. A marcha continua, com outras estrofes e em seguida há outra embaixada do Almirante, e logo outra marcha cantada pelo Patrão e coro: Nós que samos marinheiros Dentro dessa nau de guerra Olhe que estamos puxando os ferros E ao depois arvorá uma grande vela. E somente o Patrão: Choram belas alagoanas Nesse embarque arrigoroso Militá e os marinheiros Que são homens caprichoso A marcha se estende em outras quadras, e seguem-se outras embaixadas e diálogos. Não sopra o vento, fala-se muito nas velas e o Piloto informa que há nuvens escuras pela proa, nuvens que prometem tormenta; e nasce uma rusga entre o Piloto e o Contra-mestre, e a discussão continua, mas agora entre o Piloto e o Patrão e termina com uma embaixada do Almirante que ameaça castigar os dois. E depois de toda essa confusão, a embarcação começa a se movimentar para a grande viagem e o Patrão acompanhado do coro canta a marcha Adeus que eu me vou. E em seguida, ainda o Patrão, geme acompanhado pelo coro, o conhecidíssimo Na saída de Lisboa Quando nós puxemos os ferros Alembrei-me das meninas Dos meus amores lá em terra. A viagem continua, e o Piloto não está muito bem com o rumo, pois havia bebido muito, e é advertido pelo Mestre-Patrão e nova rusga nasce entre os dois.
Nau Catarineta armada para o fandango da Praça 13 de Maio em Maceió em dezembro de 1947 Logo após vem o episódio do contrabando de “fazendas bem fina, para vende no Brasil”; os contrabandistas, dois guardas-marinha, são colocados no porão por ordem do Almirante, onde apanham e pedem ao Mestre-Patrão, por Nossa Senhora, que interceda em favor deles junto ao Almirante, que manda soltá-los. Mas se aproxima a tormenta, o Almirante manda dar o alarme, e o Contra-Mestre, com medo da morte, fala do seu arrependimento em não ter ouvido os conselhos da mãe, canta acompanhado pelo coro, o famoso e belíssimo Minha mãe bem me dizia Que eu não fosse me embarcá Que este nau se perderia E eu me lançaria ao mar. E o Mestre, temendo morrer sem a assistência de Deus, pede ao padre capelão, numa voz fanhosa e triste: Senhor padre capelão Me bote sua benção Eu me vou lançar ao mar Vou morrer sem confissão. E em seguida reclamam em coro os marinheiros dizendo que estavam com fome, e não tinham recebido comida alguma. Este é um dos episódios mais interessantes do folguedo, e aqui vamos transcrevê-lo, iniciando a transcrição pelo pitoresco diálogo entre o Piloto e os marinheiros. O Piloto pergunta e os marinheiros respondem: — Marinheiro? — Senhor! — Já comeram? — Não senhor! — Já beberam? — Não senhor! — E qual a razão? — Porque nos falta a ração! — Que faz Mestre-Patrão, dentro desta embarcação? — Não sei!
Entrada dos Mouros no barco E o Ração, querendo remediar o sucedido: Tomem marinheiros Essa fatia de pão Amanhã, se Deus quiser O dinheiro e a ração. Então o Patrão intervém na história, e pergunta aos marinheiros se eles já haviam comido e bebido, e eles respondem que sim. Então o Patrão quer saber por que eles tinham dito que não ao Piloto, e os marinheiros respondem: — É a nossa obrigação. Volta o Piloto e repete as mesmas perguntas aos marinheiros, e estes respondem que não tinham recebido a ração. O Patrão toma a atitude do Piloto como um insulto, e depois de rápida discussão, puxam das espadas e simulam uma luta, o Patrão leva a espada até a barriga do Piloto e esse se joga sobre uma cadeira e com voz rouca canta, acompanhado pelo coro, outra quadra muito conhecida da Chegança: Oh, que punhalada Que me deu Mestre-Patrão Com aquele punhal de prata Trespassou meu coração.
A luta entre Mouros e Cristãos Em seguida pede para mandar chamar um doutor, pois acha que o ferimento é mortal. Chega o doutor e receita: Vem cá Laurindo Vá depressa na butica Vá ver a medicina Daquela que mais se aplica. O doutor resolve, e o Piloto dizendo que vai morrer, pede a presença do padre-capelão, pois deseja se confessar. E o almirante manda prender o Mestre-Patrão, mas o gajeiro intercede em defesa do Mestre-Patrão e o almirante manda soltá-lo, terminando assim a parte do Piloto. O último episódio da Chegança vem então. É o episódio dos Mouros. O grupo canta uma marcha, onde se pergunta que navio é aquele que aparece ao longe. O gajeiro sobe pelo mastro e ele informa ao Almirante que o navio tem três bandeiras de guerra. Neste momento aparecem, embaixo, no meio da assistência, os mouros, vestidos com calções vermelhos ligados nos joelhos a meias de mulheres, uma blusa também vermelha, um papelão com incrustações douradas cobrindo o peito, e na cabeça segura por uma coroa também de papelão com incrustações de estrelas douradas, duas longas tranças louras, descendo até os joelhos. Os mouros chegam até bem perto do navio, e pedem licença ao almirante par subir, pois têm uma embaixada mandada por “um senhor de muita valia, Senhor dos Mouros, Rei da Turquia”. O Almirante manda que eles subam. Há um diálogo violento entre os mouros e o Patrão, e é declarada a guerra. Há cruzamentos de espadas entre os mouros e tripulantes da barca e cantam-se várias marchas, enquanto se luta. Até que os mouros são vencidos, e obrigados a abraçar a religião cristã. Aparece o Capelão, que batiza os mouros: Eu te batizo mouro Mouro, infiel pagão A o depois de batizado Mouro, sois filho cristão.
Mouros vencidos, aceitam a religião cristã Terminado o episódio dos mouros — e último — canta-se a marcha da retirada, e o Patrão geme o Minha gente adeus, adeus, Mina Gerá vai imbora Cumpri com o dever no mar Que já está chegada a hora. _____ O Fandango do Mestre Berto Cotó foi um dos mais bem ensaiados que vimos nestes últimos tempos, possuindo um rico material poético e musical (letras e músicas dos episódios e partes). A coreografia do Fandango é a mesma da Chegança, a distribuição dos personagens quase idêntica tendo como exceção frisante os mouros, que não existem no Fandango, e o número de tripulantes, que em geral é maior na Chegança, e mesmo em episódios, como no da Tormenta, o desenvolvimento dramático é igual, apesar das letras apresentarem certas diferenças. Na tormenta da Chegança de Ponta Grossa, não encontramos os belos e clássicos versos que fomos ouvir no Fandango de Mestre Berto: O, lá da proa (bis) Meu Mestre Piloto E continua o gajeiro: Venha que eu canto ao mar Que o vento é tanto que me faz chorar, Que o vento é tanto que me faz cair ao mar.
Gajeiros da Chegança da Ponta Grossa E o desespero do Contra-Mestre e do Piloto: Caiu-me um gajeiro ao mar Valha-me Nossa Senhora. E ainda no Fandango deparamos com uma quadra clássica, que ouvimos na Chegança da Ponta Grossa: A 25 de março Saímos nós de Lisboa Feito uns corsários da Índia Para chegarmos a Goa. Na Nau Catarineta da Praça 13 de Maio, o Fandango de Mestre Berto fez sucesso, com seus episódios e quadros soltos, sem sequência, nos quadros e episódios da Tormenta, da Clara Estrela do Norte, na Barca Nova, etc. ___ E antes de finalizarmos estas simples notas, queremos ressaltar um dos mais pitorescos personagens das Cheganças e dos Fandangos, justamente personagens sobre os quais não nos detemos em considerações nas linhas anteriores da reportagem: os padres, os capelães das Cheganças e dos Fandangos.
Fandango do Mestre Berto Personagens que representa o único detalhe cômico dos folguedos, é, por isso mesmo, o mais querido não só pela gurizada, que não o larga nunca e se movimenta para onde vai o padre, como em geral por toda a assistência masculina; as mulheres nordestinas, muito católicas, não podem admitir aquela imoralidade, aquela profanação dos sagrados dogmas da Igreja por um sujeito fantasiado de vestes talares e em geral com a cabeça cheia de álcool que anda distribuindo chistes pesados e às vezes até obscenidades. Mas esse sacrilégio é mais fruto da ignorância do que de maldade, como tão bem frisou Antônio Osmar Gomes, no seu volume As Cheganças. Os padres da Chegança de Mestre João Marinho e do Fandango de Mestre Berto possuíam de fato alguma graça. Frei Remela, o capelão do Fandango de Mestre Berto, pareceu-nos muito mais vivo e oportuno do que Frei Jaçanan, o comprido frade da Chegança de Ponta Grossa. E a melhor piada de Frei Remela era o seu livro “sacro”: uma velha Geografia e História do Brasil elementaríssima e dessas que até parecem que não se usam mais.