domingo, 14 de novembro de 2021

Repente é registrado pelo Iphan como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil

Uma das referências da identidade nordestina, o Repente foi reconhecido, nesta quinta-feira (11), como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil durante a 98ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Durante a reunião, os 22 conselheiros aprovaram por unanimidade o registro da manifestação cultural. Também conhecida como Cantoria, a manifestação reúne verso, rima e oração, consideradas como os fundamentos do Repente. Os cantadores e cantadoras distribuem-se nas capitais e no interior dos Estados do Nordeste e, também, nas regiões para onde houve migrações da população nordestina. Com o reconhecimento do Conselho Consultivo do Iphan, o Repente foi inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão, e se soma a outros 12 bens imateriais de Pernambuco registrados: Baianas de Acarajé, Feira de Caruaru, Frevo, Roda de Capoeira, Mestres de Capoeira, Maracatu Nação, Maracatu de Baque Solto, Cavalo Marinho, Teatro de Bonecos Popular do Nordeste – Mamulengos, Caboclinho, Literatura de Cordel e Ciranda do Nordeste. “Em Pernambuco, temos como uma das representantes do Repente nossa Patrimônio Vivo Mocinha de Passira. Vale destacar também que, em dezembro deste ano, o Conselho Consultivo do Iphan avaliará o pedido de registro das Matrizes do Forró, o que significa que Pernambuco pode encerrar o ano com 14 bens registrados, mostrando a força da cultura do nosso Estado”, ressaltou Marcelo Canuto, presidente da Fundarpe. “A poesia, o canto, a musicalidade, a profissão dos cantadores compõem o Repente, agora salvaguardados pelo Iphan, que terá o apoio da Secult-PE e Fundarpe na preservação deste bem cultural”, destacou Gilberto Freyre Neto, secretário Estadual de Cultura. REGISTRO - O pedido de registro do Repente foi formalizado no ano de 2013 pela Associação dos Cantadores Repentistas e Escritores Populares do DF e Entorno. Desde então, o Iphan, autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo, iniciou o processo de registro, que culminou no dossiê de registro, produzido em parceria com o Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UNB). “Repente é poesia. Cantada e improvisada. Em linhas gerais, é um diálogo poético em que dois repentistas se alternam cantando estrofes criadas naquele instante ao passo em que se acompanham com toques de violas”, destaca o dossiê de registro do bem, que listou mais de 200 contatos entre repentistas, associações e apologistas, público com grande familiaridade junto ao Repente. O dossiê elaborado também documenta mais de 50 modalidades de repente, dentre as quais estão os versos heptassílabos, cuja acentuação tônica obrigatória está na sétima sílaba, e decassílabos, em que o acento obrigatório está na terceira, sexta e décima sílabas de cada verso.
“É motivo de grande alegria ter as rimas e os versos do Repente adentrando o rol do Patrimônio Cultural do Brasil, tanto por sua importância histórica quanto pela beleza da poesia e da música da manifestação”, comemorou a presidente do Iphan, Larissa Peixoto, que também preside o Conselho Consultivo. HISTÓRIA - Há registros da prática do Repente desde meados do século XIX nos Estados de Pernambuco e Paraíba, conforme fontes históricas. As ocorrências mais antigas têm origem na Serra do Teixeira, na Paraíba. No início do século passado, a manifestação teve importante papel na difusão do rádio na região. Até então, a maior parte dos repentistas tinha origem rural, vivendo no interior e cantando para plateias camponesas. Uma realidade que se transformou na década de 1950, com os cantadores se fixando nas cidades à procura de ferramentas que auxiliassem a atuação do repentista, especialmente o rádio e o correio. Aos programas radiofônicos, no decorrer das décadas de 1980 e 1990, se somaram a gravação de discos e a realização de festivais – mantendo a origem rural dos poetas. Mais recentemente, a internet se tornou mais uma ferramenta para a divulgação de cantorias e festivais. por portaculturape

sábado, 13 de novembro de 2021

Você Não Poderia Surgir Agora

DUDU FALCÃO

Carlos Eduardo Carneiro de Albuquerque Falcão (Dudu Falcão) nasceu em 14 de junho de 1961 no Recife, Pernanbuco. É cantor e compositor da Música Popular Brasileira. O primeiro registro como compositor foi em 1988, quando Nana Caymmi lançou “Deixa eu cantar” e “Era tudo verdade”, ambas de sua exclusiva autoria, no LP “Nana”.
Com mais de 200 canções gravadas por diversos artistas, muitas das quais incluídas em trilhas sonoras de novelas e minisséries da Rede Globo, em 2009, lançou o CD “Dudu Falcão”, primeiro registro fonográfico como intérprete de sua obra. No repertório, “Paciência”, “Crença” e “O silêncio das estrelas”, todas com Lenine, “Questão de hora” e “O bem e o mal”, ambas com Danilo Caymmi, “Canções de Rei” (c/ Max Viana), “Melhor lugar” (c/ Jorge Vercillo), “Quando eu falo de você”, “Diz”, “Coisas que eu sei”, “Samba pequeno”, “A musa que me quer assim”, “Sobre nós dois” e “Você não poderia surgir agora”.
Produzido por Max Viana, o disco contou com a participação de Jorge Vercillo (voz em “Melhor lugar”) e da cantora italiana Chiara Civello (em "Diz”), e ainda de Mú Carvalho (piano em “Sobre nós dois”), Daniel Jobim (piano em “Samba pequeno”), Alessandro Kramer (acordeom em “Quando eu falo de você” e “Melhor lugar”), Lenine (violão em “O silêncio das estrelas”), Josué Lopes (saxofone em “O silêncio das estrelas”), Max Viana (arranjo em “Canções de Rei”) e Roger Henri (arranjo em “A musa que me quer assim”, flautas e cordas em “Canções de Rei”).
Constam da relação de intérpretes de suas canções Maria Bethânia (“Nem a lua, nem o sol, nem eu”), Ana Carolina (“Quem de nós dois”, entre outras), Ivete Sangalo (a versão “Somente eu e você”), Milton Nascimento (“Paciência”), Gal Costa (“Caminhos do mar”), Maria Rita (“Feliz”), Jorge Vercillo (“Ciclo” e “Melhor lugar”, entre outras), Elba Ramalho (“Entre o céu e o mar”, entre outras), Simone (“Paciência”), Danni Carlos (“Coisas que eu sei”, indicada ao Grammy Latino em 2008), Luisa Possi (seis músicas no CD “Bons ventos sempre chegam”), Emílio Santiago (“O bem e o mal”), entre vários outros. Sua música "Problemas" feita em conjunto com Ana Carolina e Chiara Civello está na trilha sonora da novela "Fina Estampa".

Dudu Falcão (2009) Full Album

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

O ATAQUE DE LAMPIÃO E SEU BANDO DE CANGACEIROS A FAZENDA MORADA NOVA,PAU DOS FERROS,RN

No ano de 2010 soube do desenvolvimento do “Projeto Território Sertão do Apodi – Nas Pegadas de Lampião”, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte – SEBRAE/RN, do qual a gestora era a competente consultora Kátia Lopes. Fui ao seu encontro soube que Kátia planejava criar um grupo para percorrer o mesmo caminho palmilhado por Lampião e seus cangaceiros, como parte de um amplo reconhecimento histórico. Ali estava uma oportunidade imperdível de conhecer esse caminho e o que restava de sua memória. Foi realmente um momento muito especial e um trabalho maravilhoso. Depois de 2010 eu tive a oportunidade de percorrer esse caminho em mais outras quatro ocasiões. As duas primeiras oportunidades, em 2012 e 2014, foram com pessoas que me contrataram para conhecer trechos no Rio Grande do Norte, com foco nas áreas da Serra de Martins e de Mossoró. Já em 2015 estive percorrendo esse antigo caminho dos cangaceiros durante dezessete dias. Desta vez partindo da cidade cearense de Aurora, adentrando depois em território paraibano, percorrendo na sequência todo trecho potiguar e encerrando na cidade cearense de Limoeiro do Norte. O objetivo da jornada de 2015 foi à realização da película Chapéu Estrelado, um documentário de longa metragem da Locomotiva Produções Cinematográficas, do Rio de Janeiro, sendo dirigido pelo mineiro Silvio Coutinho, com roteiro de Iaperi Araújo e produção de Valério Andrade e o autor desse texto, esses últimos potiguares. Apesar de filmado com esmero em sistema 4K, com interessantes depoimentos, esse documentário nunca esteve no circuito de festivais e, afora algumas exibições em rede nacional através da TV Brasil, ele foi pouco visto pelo grande público. A razão principal foi o falecimento precoce do diretor Sílvio Coutinho, ocorrido no ano de 2018, em decorrência de um ataque cardíaco fulminante, ocorrido no Rio de Janeiro.
Trajeto dos cangaceiros em 1927, em um mapa do Exército Brasileiro, em escada de 1:100.00, com as propriedades invadidas marcadas. Existe um erro no mapa, pois um dos locais atacados foi denominado como “Carícia”, quando o certo é “Caricé”. A última oportunidade se deu em 2017, quando uma grande parte do trajeto com o artista plástico e fotógrafo Sérgio Azol. Potiguar de nascimento, mas radicado há muitos anos na capital paulista, Azol me chamou para percorremos esse caminho visando o desenvolvimento de uma exposição fotográfica a ser realizada em São Paulo. Ele clicou as paisagens, as vivendas e as pessoas de forma magistral. Aquela era a segunda oportunidade que percorria o sertão nordestino com Sérgio Azol, tendo tido oportunidade em 2016 de visitar importantes locais ligados a história do Cangaço na Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Em 2020 essa jornada foi transformada em livro – 1927 – O Caminho de Lampião no Rio Grande do Norte. – Ver – https://tokdehistoria.com.br/2020/08/26/autor-natalense-refaz-caminho-de-lampiao-pelo-rio-grande-do-norte/ Agora apresento um pouco do que vi! Os Caminhos a Seguir Essa memória se inicia em um sábado, dia 11 de junho de 1927, o segundo dia de Lampião e seus cangaceiros em solo potiguar.
Antiga casa do Sítio Cascavel, zona rural de Pilões – Foto – Rostand Medeiros Em meio a um grande lajedo ao norte da atual cidade potiguar de Marcelino Vieira, os cangaceiros vão acordando e se preparando para seguir a sua jornada em direção a Mossoró. Após acordarem parte em direção aos Sítios Cascavel e São Bento, cujas terras em dias atuais são parte do município potiguar de Pilões. Depois atacam os Sítios Poço Verde, Poço de Pedra e a Fazenda Caricé, do prestigiado pecuarista Marcelino Vieira da Costa. Sobre o assalto ao Caricé vejam esse texto que escrevi, onde trago alguns detalhes do episódio – https://tokdehistoria.com.br/2019/02/10/marcos-de-religiosidade-no-caminho-de-lampiao-no-rio-grande-do-norte/
Punhal de um cangaceiro deixado no Sítio Poço de Pedra, zona rural de Pilões-RN – Foto – Rostand Medeiros A partir da velha Fazenda Caricé, mesmo a distância, já é possível visualizar o grande maciço rochoso que formam as Serras de Martins e de Portalegre, onde se encontram alguns dos pontos de maior altitude do Rio Grande do Norte, com locais que ultrapassam os 800 metros. Essas duas grandes elevações se interpunham diante daqueles viajantes que seguiam em direção a Mossoró vindos do extremo oeste da Paraíba. Para os cangaceiros continuarem em busca do seu alvo principal, vários caminhos se colocavam a disposição. O matreiro Lampião, certamente secundado por Massilon, o mais experiente de todos aqueles bandoleiros em relação aos caminhos potiguares, perceberam que teriam de optar por um desses caminhos. O primeiro trajeto poderia ser: subir a Serra de Martins, passar pela cidade homônima e descer do outro lado da elevação. Bastava seguir pelo antigo caminho que ligava essa cidade até a Vila de Alexandria. Segundo as pessoas da região, partes do antigo trecho dessa estrada ainda existem, fazendo parte da atual rodovia estadual RN-075.
Aspecto dos caminhos dessa região – Foto – Rostand Medeiros. O segundo caminho, caso o grupo desejasse seguir em direção a Mossoró sem passar pela cidade de Martins, poderia ser feito do seguinte modo: cavalgar até a extremidade oeste do grande maciço rochoso. Nesse caso, os cangaceiros fatalmente chegariam próximo de Pau dos Ferros. Então, depois de passar ao lado da serra, eles percorreriam a antiga estrada que seguia pela cidade de Apodi e, depois de vários quilômetros, chegariam a Mossoró. Teoricamente, esses dois caminhos não trariam maiores problemas para um viajante comum. Entretanto, aquele estranho grupo de homens armados poderia ser classificado de tudo, menos de “viajantes comuns”. Desde a saída do bando no Ceará, os celerados deixaram de lado a discrição, passando para a prática aberta de toda sorte de delitos, chamando a atenção das autoridades potiguares. Inclusive, essas autoridades já tinham entrado em contato e combatido o grupo na Caiçara. Mesmo com a derrota da polícia estadual naquele entrevero, Lampião sabia que a qualquer momento as forças do governo potiguar poderiam dar o devido revide. Se decidissem subir a serra, poderiam facilmente esbarrar em um piquete de homens armados, já previamente alertados. Como o bando tinha poucos recursos humanos e bélicos para realizar combates contínuos, esse possível confronto poderia infringir sérios problemas aos cangaceiros na tentativa de galgar a grande serra.
Rostand Medeiros diante da capela da Fazenda Caricé, zona rural de Marcelino Vieira – RN em 2015 – Foto – Silvio Coutinho. Se o bando seguisse próximo da cidade de Pau dos Ferros, a maior e a mais policiada da região, para depois trotarem em direção a Apodi (uma cidade invadida por Massilon apenas um mês antes), fatalmente homens armados poderiam estar aguardando o grupo em um desses locais, ou nos dois. Aí os resultados desses novos tiroteios poderiam ser extremamente negativos. Deve-se levar em consideração que, além da polícia potiguar, Lampião se preocupava igualmente com a polícia de outros estados no seu encalço, principalmente a paraibana. Lampião na Fazenda Morada Nova Havia outra alternativa: era possível contornar o grande maciço através da extremidade mais a leste dessas elevações, passando por um caminho que os levariam para a Vila de Boa Esperança, atual município de Antônio Martins. O grupo de bandoleiros então se afastaria de áreas onde presumivelmente haveria mais atividade policial, poderiam então alcançar zonas teoricamente mais desprotegidas e possivelmente ainda não alertadas da presença deles na região. Esse caminho se mostrava mais promissor!
Casa da Fazenda Morada Nova, zona rural de Pau dos Ferros – RN – Foto – Rostand Medeiros. Contudo, aparentemente, essa decisão não deve ter ocorrido antes ou durante a passagem pela Fazenda Caricé, pois, logo depois da saída da propriedade do fazendeiro Marcelino Vieira, os cangaceiros seguiram primeiramente na direção sudoeste, apontando para a cidade de Pau dos Ferros. Após rápida cavalgada, surgiu o próximo alvo daquela jornada insana – A Fazenda Morada Nova. Quando visitei essa propriedade pela primeira vez em 2010, ali encontrei a senhora Firmina Aquino de Oliveira, então com 95 anos de idade, e sua nora Maria Ivaneide de Aquino. Ivaneide era neta de Antônio Januário de Aquino, antigo dono do lugar, que teve a difícil missão de receber Lampião em 11 de junho de 1927.
Lampião Elas me informaram que não tinham conhecimento se o parente já falecido possuía laços de amizade, ou de inimizade, com o cangaceiro Massilon. Igualmente não souberam comentar se a chegada do bando se deu a uma indicação desse celerado, ou se a casa dos seus antepassados foi atacada simplesmente por ter sido um alvo que surgiu à frente do grupo. Entretanto, essas senhoras relataram que antes do bando chegar à casa de Aquino, que não mais existia em 2010, eles arrombaram uma residência onde vivia um trabalhador da propriedade, que juntamente com sua família fugiu para o mato. Logo os bandidos pararam diante da casa grande da Fazenda Morada Nova. Além do proprietário, na casa estavam sua mulher Raimunda Nonato de Aquino, seu filho Cosme e suas três belas e jovens filhas, Raimunda, Arcanja e Maria. Segundo Sérgio Augusto de Souza Dantas (Lampião no Rio Grande do Norte – A História da Grande Jornada, 1ª edição, págs. 119 e 120), foi exigido alimentos e dinheiro ao dono da Fazenda. Antônio Aquino era um produtor próspero, sendo apontado inclusive como dono de um engenho de açúcar e aguardente. Diante da beleza das moças, alguns cangaceiros logo se mostraram interessados nas meninas. Sérgio Dantas relatou que Aquino pediu proteção a Lampião, que prontamente refreou os ânimos da cabroeira e o próprio chefe chegou a pedir desculpas ao pai das jovens pela falta cometida pelos seus homens. Após varejarem toda a casa e retirarem o que os interessava, a malta de bandidos seguiu viagem.
A Foto As senhoras Firmina e Maria Ivaneide comentaram que a passagem do bando causou extrema comoção entre os membros da família Aquino. Todavia, Antônio Januário se sentiu até mesmo com “sorte”, pois, apesar de ter havido perda material com o saque praticado, o fato das suas filhas não haverem sofrido qualquer tipo de violência, principalmente sexual, foi considerado um resultado extremamente fortuito diante da extrema gravidade do problema. No dia 11 de novembro de 1928, um domingo, quase um ano e meio depois da passagem dos cangaceiros, Antônio Januário reuniu sua família em um estúdio fotográfico de Pau dos Ferros para a realização de um interessante instantâneo. Essa fotografia, que trago com exclusividade e conseguida a partir do material original, possui no verso a seguinte frase “Uma pequena lembrança que ficará para sempre”.
Bando de Lampião, após o ataque a cidade de Mossoró em 1927. Nela é possível ver Antônio e sua esposa Raimunda sentados em um pequeno sofá de madeira e vime, em uma posse de tranquilo comando de suas vidas e de sua prole familiar, que se encontravam todos presentes. De pé, logo atrás do móvel é possível ver Cosme, tendo a sua direita suas irmãs Maria e Arcanja e ao seu lado esquerdo Raimunda. Essa última e Arcanja trazem dois objetos que escaparam das mãos dos cangaceiros – são dois belos crucifixos com corrente e pedras. Depois de observar milhares de fotos antigas, ao longo de vários anos de pesquisas, posso comentar que, a exceção de Dona Firmina, todos os outros participantes do instantâneo se vestem com roupas modernas para os padrões sertanejos do interior potiguar da década de 1920. Inclusive suas filhas, onde é possível ver Maria e Arcanja utilizando saias acima do joelho, apesar de estarem com meias. Antônio e Cosme igualmente seguem um padrão de vestimenta masculina bem moderna para a época. Ao olhar detidamente essa foto, vejo o registro de uma família que aparentemente superou o susto causado pelo bando de Lampião. Violeiros Cantam a História do Assalto A senhora Ivaneide me comentou em 2010 que nessa propriedade era comum a apresentação de cantadores de viola afamados da região e até de outros estados. Mesmo com o crescimento das bandas de forró eletrônicas, da televisão e outros meios de entretenimento, na época essas cantorias de viola possuíam público cativo na comunidade. Casa da Fazenda Morada Nova em 2010. Reparem os bancos feitos de troncos de carnaúba, utilizados para a comunidade assistir duelo de cantadores de viola. Ao fundo o maçiço da Serra de Martins – Foto – Rostand Medeiros. Ela narrou que era praxe as pessoas do lugar transmitirem para os violeiros visitantes os acontecimentos testemunhados pela família Aquino em 1927 e o que eles sabiam do ataque do grupo de cangaceiros a Mossoró. Com isso, solicitava-se que esses artistas transformassem as histórias ouvidas em uma cantoria tipicamente nordestina. Já as estradas existentes entre as propriedades Caricé e a Fazenda Morada Nova foram sem nenhuma dúvida o pior trecho percorrido para a realização deste trabalho. As maiores dificuldades se encontravam na já rotineira falta de sinalização, mas principalmente no péssimo estado de conservação desses caminhos. A Fazenda Morada Nova está localizada em um ponto extremamente afastado de áreas urbanas. A cidade de Pau dos Ferros fica a cerca de 24 quilômetros de distância, já a zona urbana de Pilões se encontra a 16 quilômetros e a cidade de Antônio Martins a 19. Entretanto, o melhor acesso utilizado é a partir de Antônio Martins, onde o motorista percorre oito quilômetros de asfalto da rodovia federal BR-226 e depois segue por mais 11 quilômetros de estradas vicinais. Contudo, nesse caso, existe a imprescindível necessidade de contar com a ajuda de uma pessoa da região que conheça o trajeto. Nesse caso eu contei com o apoio do amigo Chagas Cristóvão, da cidade de Antônio Martins. Junto a Chagas Cristóvão, da cidade de Antônio Martins, na Fazenda Morada Nova. Atualmente, Pau dos Ferros é a principal cidade da Região do Alto Oeste Potiguar, com uma população acima de 30.000 habitantes, estando a 389 quilômetros de distância de Natal, ocupando uma área de aproximadamente 260 km² e possuindo uma história bem antiga. Acredita-se que a toponímia Pau dos Ferros foi criada a partir de uma determinada árvore. Essa árvore certamente devia ser um excelente local para repouso e com ótima sombra, onde vaqueiros viajantes, utilizando ferro em brasa, deixavam marcado no seu tronco as marcas do gado sob sua responsabilidade. Em uma época onde as fazendas não tinham arames farpados e o gado era criado solto, essa prática serviu para esses trabalhadores conhecerem as marcas de outras propriedades. Isso tornava mais fácil a identificação dos animais perdidos nos pastos e a realização de troca das reses encontradas. Não é difícil imaginar como essa árvore ficou bem conhecida na região. Logo ao seu redor se fixaram pessoas e isso deu início a uma pequena comunidade. Já sobre a questão da posse da terra, consta que no ano de 1733, por ocasião da morte do Coronel Antônio da Rocha Pita, foi doada a sesmaria de Pau dos Ferros a seus filhos e herdeiros. Um deles, Francisco Marçal, foi a pessoa que mobilizou os que ali viviam para erguer uma capela em 1738. Somente através da Resolução Provincial nº 344, de 4 de setembro de 1856, Pau dos Ferros tornou-se um município, sendo desmembrada da cidade serrana de Portalegre. Foto – Rostand Medeiros. Na trajetória do bando em direção a Mossoró, ao se aproximar dos contrafortes da Serra de Martins, o caminho percorrido por Lampião passou onde atualmente estão localizadas as áreas territoriais das cidades de Serrinha dos Pintos, Antônio Martins, Frutuoso Gomes, Lucrécia e Umarizal. Por Rostand Pescado no Tok de História

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Serra Talhada promove quarta edição da Festa Literária

Serra Talhada promove quarta edição da Festa Literária Com incentivo do Funcultura, o evento será realizada de 23 a 26 de novembro na Estação do Forró. As atividades serão gratuitas Postado em: Funcultura | Música 08/11/2021 DivulgaçãoDivulgação As atividades vão acontecer dentro da Estação do Forró de Serra Talhada As mais diversas linguagens artísticas estarão presentes na Festa Literária de Serra Talhada (FLIST), que acontecerá de 23 a 26 de novembro, na Estação do Forró da cidade. A quarta edição do evento reunirá literatura, música, dança, cinema e teatro em apresentações que vão transbordar os elementos culturais do sertão do estado, encantando moradores do local e turistas. A literatura estará na base da produção e vai transpassar toda a programação da FLIST, que já tem nomes como Ivanildo Vila Nova e Rogério Menezes confirmados. A iniciativa conta com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura. De acordo com Cleonice Maria, uma das coordenadoras do evento, a FLIST vai ser realizada de forma presencial e virtual, por meio dos sites da Fundação Cabras de Lampião e da Prefeitura de Serra Talhada. “O evento vai ser realizado nos horários da manhã, tarde e noite, e haverá higienização completa do ambiente nos intervalos entre uma sessão e outra”, diz ela. Cleonice ressalta ainda que, com a pandemia da Covid-19, a FLIST seguirá as recomendações dos órgãos sanitários competentes. O encontro contará com diversas palestras, mesas de diálogos, conferências, contações de histórias, lançamentos de livros, além de apresentações com artistas de reconhecimento local e nacional. Jorge Filó, Marcos Godoy, Vera Ferreira, Anildomá Willans de Souza, Ferreira Júnior e Adriano Marcena, Clênio Sandes, Sebastião Dias, e Zé Carlos do Pajeú são alguns dos grandes nomes com participações já confirmadas no evento. A FLIST ainda abre espaço para os shows de Assisão, As Severinas, Jéssica Caitano e Coco Trupé de Arcoverde. Grupos de dança e teatro também estarão na programação como Filhos do Sol, Grupo de Xaxado Cabras de Lampião, Cia. Artística Pajeú de Danças, Trupe Teatral Espantalho com “A peleja de Severo para nnganar a morte”, “As Beatas do Pau Oco”, “O Casamento”, “A Chegada de Lampião no Inferno”, “Decripolou Totepou”. Além disso, performances serão apresentadas durante todos os dias da festa. A Mesa de Glosa não pode faltar numa programação sertaneja que se preze e chega com uma trupe de grandes poetas. Já no Cine Clube Lampião, serão exibidos filmes produzidos na região, com artistas e técnicos do sertão. “A proposta é comunicar a percepção de que a criação, em suas diversas linguagens e interpretações, surge a partir da necessidade de soltar as amarras da realidade. Por meio do fazer artístico, a realidade é transformada e recriada. E, com isso, a natureza humana passa a ser vista em suas singularidades”, concluiu Cleonice Maria. Além de ser um ambiente para vivenciar a arte, a FLIST será um espaço de construção de políticas do livro, da leitura, da literatura e de bibliotecas, onde haverá momentos de escuta da sociedade e das entidades envolvidas com a área. A ideia dessa miscelânea artística é valorizar a cultura local, onde há tantos poetas que lidam com a literatura por meio da oralidade. A Secretaria Municipal de Educação irá disponibilizar um bônus para os professores adquirirem livros, como forma de incentivar os escritores e também de contribuir com a leitura e os estudos dos docentes. Durante o evento, a organização vai espalhar obras literárias pela cidade, com o mesmo objetivo, ou seja, de incentivar a leitura. Ao final, os livros deverão ser entregues na Biblioteca Pública Municipal Cecílio Tiburtino. A FLIST é uma produção da Fundação Cultural Cabras de Lampião, em parceria com a Prefeitura Municipal de Serra Talhada, com a Secretaria Municipal de Educação e com a Fundação Cultural de Serra Talhada. A programação completa da FLIST já está disponível nos sites: www.cabrasdelampiao.com.br e www.serratalhada.pe.gov.br.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Fred Jordão inaugura a exposição fotográfica “Sertão”, no Mercado Eufrásio Barbosa

O fotógrafo pernambucano Fred Jordão abre, nesta quinta-feira (4), às 19h, no Centro Cultural Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda, a sua mais nova exposição. “SERTÃO”, que conta com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura, apresenta uma visão diferente do estereótipo de terra seca e rachada com carcaças de bichos mortos e pobreza gritante. Imagens de uma região verdejante, ancorada nas chuvas, e apontando para as transformações por que passa este território tão presente no imaginário coletivo. Para o artista, o Sertão do século XXI reúne não só a idealização de um espaço consagrado pela literatura regionalista como o território das ausências e reconhecido repositório de tradições e guardião de saberes, mas também um Sertão Contemporâneo e conectado com o mundo globalizado. “Vejo o Sertão como um território repleto de inquietações e ebulições. As transformações que vêm acontecendo nas últimas décadas criaram camadas distintas – o velho e o novo, o moderno e o arcaico convivem numa simbiose original. O Sertão permanece tradicional e ao mesmo tempo desperta moderno”, resume Jordão. Fruto de um trabalho que vem sendo construído desde a década de 90, a exposição inclui fotografias do livro “Sertão Verde – Paisagens” (2012), do documentário “Sertão Século 21″ (em produção), além de sucessivas viagens e pesquisas desenvolvidas pelo autor durante os últimos 25 anos. Sertão é composta por 110 fotografias, em formatos variados e impressas em canvas. Arqueologia Contemporânea, Cartografia, Sertão Verde e Retratos são os Espaços/Ensaios que fazem parte da expografia desta que é a oitava mostra do fotógrafo. Ele publicou vários livros, entre eles, o “RECIFE”, finalista do Prêmio Jabuti 2020. A exposição no mais novo espaço cultural de Olinda conta com audiodescrição (Com Acessibilidade Comunicacional) e respeitará todos os protocolos de segurança sanitária estabelecidos pelas autoridades governamentais para eventos culturais. O design de exposição e peças gráficas são de autoria de Carla Gama e as ampliações fotográficas foram feitas no Atelier de Impressão. A produção executiva do projeto é de Maria Rosa Maia. “Sertão” segue em cartaz até o dia 4 de fevereiro de 2022. A mostra conta com o apoio da Cepe Editora e do Centro Cultural Mercado Eufrásio Barbosa, por meio da Agência de Desenvolvimento de Pernambuco (Adepe), ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco. O horário de visitação vai de terça-feira a domingo, das 9h às 17h. O AUTOR - Com formação em jornalismo, Fred Jordão conheceu o Sertão no final da década de 80 quando atuou em alguns dos principais veículos de comunicação do País. As pautas, via de regra, eram todas relacionadas à seca, à fome, e à miséria. “O interesse da mídia, era sempre pelos estereótipos que representavam a seca no sertão”. Foi nos anos 1990, durante as filmagens do Longa Metragem Baile Perfumado e em trabalhos de documentação técnica para Codevasf e Articulação do Semi-Árido (ASA), que começou a despertar para os ciclos de chuva no Sertão, descobrindo uma região repletas de vida e riquezas. Por vários anos percorreu a região do semi-árido nordestino, do Piauí a Bahia, sempre durante os períodos de chuva. Foi também durante estas longas viagens que compreendeu as mudanças que a chegada da eletrificação rural proporcionava nos lugares mais remotos. Durante as viagens, Jordão resolveu reler os clássicos do regionalismo, Graciliano, Raquel de Queiroz, José Lins do Rego, Euclides e Ariano. Repassando a história do Sertão pelas letras, pelo cinema do cangaço, os retirantes de Portinari, e as músicas de Luiz Gonzaga. “Que sertão era aquele de gente saudável e feliz, que não fazia parte daquele enredo consagrado do sertão de pedra, pau e poeira?”, questionava-se. Em 2012, Jordão editou o livro “Sertão Verde – Paisagens”, com texto de Xico Sá, amigo pessoal de quem recebeu o livro “A Invenção do Nordeste”, do professor Durval Muniz de Albuquerque Jr. “Foi uma grande descoberta. Estava tudo sintetizado ali, de uma forma extraordinária. A cristalização de um estereótipo que já não corresponde à realidade atual. O sertão é outro e poucas pessoas sabem disso”, diz Jordão. “Sertão Verde” mostra, de forma sutil, essas contradições. A partir de então, continuou a fotografar o sertão com os olhos atentos a este momento de transformações. Atualmente, além da exposição em cartaz, desenvolve mais uma parte deste projeto com o documentário Sertão Século 21, com depoimentos de sertanejos sobre que sertão é este que desabrocha no novo século. Serviço Exposição fotográfica “Sertão”, por Fred Jordão Abertura: 4 de Novembro de 2021 (quinta-feira), às 19h Local: Centro Cultural Mercado Eufrásio Barbosa, Largo do Varadouro, Olinda-PE. Horário de visitação: terça-feira a domingo, das 9h às 17h. Instagram do autor: @fredvjordao Site: www.fredjordao.com.br

Festival “Cena Nova” será gravado no Teatro Arraial Ariano Suassuna

Em novembro de 2021, o projeto “Cena Nova” chega ao Teatro Arraial Ariano Suassuna, no Recife, para gravação com 12 shows e a produção de uma websérie que relaciona a programação com uma pesquisa sobre a atualidade do circuito musical pernambucano. Capitaneada pela Theia Produtores Associados e com curadoria de Guilherme Patriota, toda a ação é realizada com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura. Por conta da pandemia da Covid-19 que ainda está em curso, as apresentações não serão abertas ao público, apenas poucos convidados acompanharão as gravações in loco. O público, posteriormente, acompanhará os 12 episódios da websérie “Cena Nova” com registros das apresentações de artistas/bandas do Sertão, Agreste, Zona da Mata e Região Metropolitana ao lado das falas de agentes profissionais e conhecedores(as) dos nossos cenários musicais, seus conceitos e práticas. Assim, a programação será exibida a partir de dezembro de 2021 no canal da Theia Produtores Associados, no YouTube, trazendo a diversidade de processos criativos nos trabalhos de Marília Parente (Recife), Olegário Lucena (Taquaritinga do Norte), Adalberto (Garanhuns), Us Cafuçu (Garanhuns), Tio Zé Bá (Petrolina), Radiola Serra Alta (Triunfo), Dani Carmesim (Recife), Bruno Lins (Recife), Bule (Recife), 70 mg (Caruaru), Adiel Luna (Carpina) e Larissa Lisboa (Recife). A websérie poderá ser acompanhada gratuitamente, incluindo versões com tradução/interpretação em LIBRAS. “O Cena Nova engloba pesquisa, curadoria, apresentações e produtos audiovisuais em um festival que tem a música como centro, como foco principal. Nossa ideia não é apresentar especificamente uma cena nova, mas sim um recorte dessa cena musical atual em Pernambuco, aliada a discursos múltiplos de artistas, técnicos, jornalistas, produtores e outros profissionais envolvidos no mercado da música, com o sentido de valorizar seus trabalhos, suas falas e seus conceitos individuais em prol de um cenário coletivo que por muitas vezes é visto como disforme ou desunido”, diz o curador Guilherme Patriota. Em toda a dinâmica programada, a curadoria, os shows, as entrevistas e o audiovisual se complementam e atendem aos objetivos de uma pesquisa que coloca em foco distintas compreensões sobre como nossa cena musical é formada. Será que interessa apenas descobrir “novos(as)” artistas? O que artistas, técnicos(as), produtores(as) e especialistas têm a dizer sobre nosso mercado e suas formas de inserção e exclusão? A partir desses e outros questionamentos, foi possível a parceria de Guilherme Patriota, como curador, com a socióloga Laura Sousa para idealização do projeto ainda em 2019, procurando abordar narrativas e percepções que desvelam diferentes formas de pensar o que a música pernambucana ativa como novidade, como estamos enfrentando a pandemia de Covid-19, a quem interessa a supervalorização do “novo”, de que maneira as relações entre música e sociedade fazem a cena e quais as expectativas para a produção musical em Pernambuco. Para os organizadores, a oportunidade de trazer falas e opiniões dos que fazem nossa cena é fundamental para contribuir no amadurecimento da produção independente no Estado. “Tecer questionamentos sobre o conceito de cena ou mercado musical que vivenciamos nos leva à escuta de artistas e profissionais que assumem diferentes funções e experiências em muitos processos coletivos. Dessa maneira, a curadoria e o festival em si se colocam em contínua pesquisa que também é exposta ao público. Evitando uma percepção fechada sobre o tema, toda a proposta busca alimentar-se de diálogos e diversidade de contextos, projetando caminhos para desdobramentos e novas versões da ação”, diz Laura Sousa. A curadoria é resultado, sobretudo, de uma profunda vivência do mercado da música independente e autoral em nosso Estado, envolvendo diferentes contextos culturais, segmentos musicais e perspectivas profissionais. A grade abarca distintas gerações, destaca a forte potência das ações de mulheres em várias frentes do circuito local e afirma a complexidade estética de nossas cenas. Da oralidade tradicional de Adiel Luna, do setentismo do 70 Mg, da força poética de Adalberto, do folk rock sertanejo de Bruno Lins, dos synths da Bule, do blues baião de Olegário Lucena, da visceralidade de Dani Carmesim, da contemporaneidade do Radiola Serra Alta, da potencia vocal de Marília Parente, do feeling de Larissa Lisboa, do swing de Us Cafuçu ao reggae roots da Tio Zé Bá, tudo conflui em uma cena nova, inventada ou não, como um recorte composto na sua forma de gerar e incitar criações e influências.
Além das potências musicais que o festival reúne, a programação ocupa o Teatro Arraial Ariano Suassuna reconhecendo a importância desse aparelho cultural como espaço que proporciona um contato intimista com a arte e que trará uma atmosfera especial aos registros das apresentações e entrevistas. As gravações ocorrerão nos dois primeiros finais de semana de novembro e todos os detalhes e informações sobre a websérie e seu lançamento poderão ser conferidos nas redes sociais da Theia Produtores Associados (@theiaprodutores). Serviço “Cena Nova” – Festival de Música e websérie ocupa o Teatro Arraial Ariano Suassuna Quando: Novembro de 2021 Local: Teatro Arraial Ariano Suassuna (Rua da Aurora, nº457, Boa Vista, Recife – PE) Lançamento da Websérie “Cena Nova” Quando: Dezembro de 2021 e janeiro de 2022 Plataforma: Canal da Theia Produtores Associados no YouTube. TAGS:FESTIVAL CENA NOVA

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

ZAMBIAPUNGA

O termo tem origem,provavelmente,no nome do Deus supremo dos Candomblés,ou seja,Zamiapombo.É caracterizada pelo uso de búzios gigantes,enxadas e outras ferramentas agricolas,que são tocadas como instrumentos de percussão pelos componentes Zambiapunga caracteriza-se,também,como um divertimento das pessoas envolvidas,que saem,de madrugada,com o intuito de acordar a população com sons dos instrumentos.Por quase quatro séculos a economia do Brasil colô,e posteriormente imperial,foi sustentada pela exploração da mão-de-obra escrava africana.
Estes africanos foram trazidos à força para o novo mundo e, por não serem culturalmente homogêneos,trouxeram sua diversidade de linguistica,religiosa,social e politica para o Brasil, o que contribuiu decisivamente para nossa riqueza cultural.O Zambiapunga de Nilo Peçanha,é uma manifestação atual da cultura popular baiana cuja origem liga-se profundamente a aspectos culturais importados do continente negro. Zambiapunga é um grupo de homens mascarados que saem às ruas de Nilo Peçanha tradicionalmente na madrugada do 1º de novembro,dia de todos os santos,véspera de finados,vestindo roupas coloridas feitas com panos e papeis de seda e percutindo instrumentos peculiares como enxadas enxadas,cuícas rústicas,búzios e tambores.
É provável que o Zambiapunga do baixo-sul baiano era ou integrava um ritual religioso de uma parcela dos africanos escravizados.Para entendermos esse aspecto é necessário fazermos uma análise etimológica do termo "zambiapunga" e enumerarmos alguns aspectos da religiosidade dos povos cujo termo citado se liga:os Bantos. Zambi ou Nzambi-a-Mpungu é o deus supremo do povo bantos do Baixo Congo.A relação entre a palavra "zambiapunga" e o Deus supremo de africanos é a primeira evidência da origem religiosa do folguedo atual. Para compreendermos a segunda evidência da origem religiosa do Zambiapunga é necessário falarmos um pouco sobre os bantos e sua religiosidade. Os bantos,cujas línguas possuem uma origem e,por isso,o termo "Banto" delimita um grupo linguístico africano e não uma etnia,vivem em todo o território abaixo do equador. A data tradicional do Zambiapunga ir às ruas de Nilo Peçanha é a madrugada de 1º de novembro,dia de todos-os-santos e véspera de dia de finados.Nestes dois dias a população local volta sua atenção para a lembrança de seus mortos que são homenageados com flores ,velas e missas.Não existia momento mais propício do calendário católico para um cortejo que refletia uma religiosidade baseada na ancestralidade ir às ruas. Outra evidência do caráter religioso inicial do grupo é o significado do termo "Mpungu" de Nzambi-a-Mpungu. Segundo vocabulário por Aires Machado Filho e reproduzido por Nei Lopes,a palavra "Mpungu" é provavelmente sinônima de "defunto". Yeda Pessoa traduz,por sua vez,"nzambi" ampungu" como o grande espirito e "saami ampunga" como os grandes ancestrais. "Mpungu","ampungu" ou "anpumga" são palavras bantos que se refere aos mortos,aos antepassados,o que evidencia a relação da origem do Zambia APUNGA atual com a religiosidade Banto. Com o tempo o caráter religioso se perdeu e permaneceu uma bela manifestação da cultura popular. O Zambiapunga ficou inativo em Nilo Peçanha cerca de 20 anos(entre as décadas de 1960 e 1980) sendo revitalizado em 1982 pela professora Lili Camardelli e seus alunos do Ginásio de 1º Grau Adelaide Souza. Após essa revitalização o Zambiapunga nilopeçanhense tornou-se uma das maiores manifestações folclóricas do Estado da Bahia.Sua importância é refletida na participação do grupo em eventos internacionais(ECO 92 e PERCPAN); por ter sido capa de periódicos internacionais(New York Times) e por ter sido tema de diversos documentários e programas de TV("Brasil Legal " ,produzido pela Rede Globo e exibido em 01/07/1997; "Caretas e Zambiapunga", produzido pelo IRDEB; "Nilo Peçanha e o Zambiapunga," produzido pela TV Salvador e exibido em maio de 2001; " Na Carona ", produzido pela Rede Bahia e exibido em 2001,entre outros.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Mamulengueiros retomam noitadas na Zona da Mata homenageando seus mestres

Mestres do mamulengo fecham o mês retomando atividades presenciais, com uso de máscara e distanciamento obrigatórios, em quatro dias de apresentações na Zona da Mata pernambucana. De quinta-feira (28) a sábado (30), o projeto Cada Mamulengo Tem Sua Cantoria levanta a brincadeira em Glória do Goitá homenageia os mestres mamulengueiros Zé de Vina, Zé Lopes e Vitorino. As apresentações serão gratuitas, voltadas para pessoas de todas as idades, com transmissão ao vivo pelo instagram @armorial_ic e intérprete de libras nos dias 28 e 30. A mestra Cida Lopes e o mestre Gilberto Lopes (também conhecido como Bel) serão os grandes responsáveis por conduzir as brincadeiras do Mamulengo Teatro Riso e Mamulengo Riso do Povo respectivamente. Filhos do mestre Zé Lopes, e discípulo direto do mestre Zé de Vina no caso de Bel, a dupla é prova viva de que o mamulengo se atualiza a cada geração sem perder sua essência. “É pelo empenho de mestres como os homenageados da programação, com uma vida inteira dedicada a transmitir os saberes do mamulengo, que esta arte secular vem sendo salvaguardada, seguindo adiante mesmo em um cenário tão atribulado e agravado pela pandemia”, diz o artista, produtor cultural e pesquisador, Alex Apolonio, idealizador do projeto. Cada Mamulengo Tem Sua Cantoria tem investigado o vasto repertório de personagens, loas e cantorias dos mestres mamulengueiros Zé Lopes, Zé de Vina e Vitorino. “Por meio da promoção de apresentações artísticas, gravação de brincadeiras e depoimentos, bem como digitalização de acervo dos mestres, fazemos o trabalho de fomentar, escoar e registrar esta importante manifestação cultural que vem sendo repassada há tanto tempo através da cultura oral. A ideia aqui é gerar não apenas capital intelectual, mas sobretudo rentabilidade financeira para a comunidade mamulengueira. Todas as movimentações desta pesquisa vão culminar em uma publicação para fortalecer a memória da arte dos mamulengueiros no Estado”, comenta Alex. A pesquisa cultural, que é incentivada pelo Governo de Pernambuco, por meio do Funcultura, e conta com a realização da produtora Armorial Interações Culturais, que já vem destacando a produção dos mamulengueiros desde 2018 e colocou uma lupa na experiência desses artistas durante a pandemia. “Infelizmente nesse meio tempo, além de atravessarmos um período extremamente difícil para o setor cultural, ainda perdemos os mestres Zé Lopes e Zé de Vina. Contudo, essa fatalidade e desejo de honrar a memória dos nossos mestres nos deu ainda mais forças para seguir adiante com o projeto, e cá estamos, com uma programação voltada para enaltecer o mamulengo pernambucano e três de seus mais expressivos mestres”. Para saber mais da pesquisa, clique em @armorial_ic. Serviço: Cada Mamulengo Tem Sua Cantoria De quinta (28) a sábado (30), em Gloria do Goitá Transmissão ao vivo pelo @armorial_ic 28/10 às 20h: Mamulengo Riso do Povo – Rua Canavieira, bairro Nova Glória 29/10 às 17h: Mamulengo Riso do Povo – Sítio Mufumbo 30/10 às 7h: Mamulengo Riso do Povo – Feira Livre 30/10 às 20h: Mamulengo Teatro Riso – Sítio Palmeira fonte: portalculturape

terça-feira, 2 de novembro de 2021

ROMEIROS DO PADRE CICERO

Bendito da Mãe das Candeias

ROMEIROS DO PADRE CICERO

A Romaria de Padre Cícero acontece anualmente no mês de março e no dia 2 de novembro, na cidade de Juazeiro do Norte, Estado de Ceará (CE). Cícero Romão Batista nasceu em 24 de março de 1844 no município de Crato (CE), e faleceu em 20 de julho de 1.934 em Juazeiro do Norte (na época conhecido como Tabuleiro Grande). Foi ordenado sacerdote em 30 de novembro de 1870 e no ano seguinte, celebrou a primeira missa em Juazeiro. Foi neste local que Padre Cícero, ou Padim Ciço como era chamado, realizou com amor e dedicação seu trabalho religioso. Padre Cícero descobriu que tinha uma missão a cumprir naquela região, a partir de um sonho que teve. No seu sonho, aparecia Jesus com os apóstolos, e em volta deles, o povo da região que sofria com a seca pedindo-lhes ajuda. Jesus olhou para ele e disse: “E tu Cícero, toma conta deste povo”. Depois de quase 20 anos atuando como sacerdócio na comunidade, o Padre presenciou um milagre na capela onde realizava uma celebração eucarística. Depois de horas de oração e jejum por ocasião da Quaresma (período que antecede a Páscoa cristã), ao dar a hóstia consagrada à Beata Maria de Araújo, percebeu junto com as demais pessoas presentes, que ela havia se transformado em sangue na boca da devota. O ocorrido que logo se espalhou pelas redondezas, tornou-se a acontecer diversas vezes com a mesma Beata. Pessoas de lugares próximos e distantes começavam a chegar para realizar peregrinações, conhecer a comunidade e até residir para ficar perto de Padre Cícero. Com o aumento da população e o desenvolvimento político-econômico de Tabuleiro Grande, em 22 de julho de 1911, o local foi emancipado e tornou-se a cidade de Juazeiro de Norte.
Estátua gigante de Padre Cícero em Juazeiro do Norte, com 27 metros de altura. Foto: Luciano Queiroz / Shutterstock.com Padim Ciço realizou muitas tarefas em benefício do povo: doou terrenos para a construção do primeiro campo de futebol e do aeroporto; construiu as Capelas do Socorro, de São Vicente e a Igreja de Nossa Senhora das Dores (atual Basílica Menor); incentivou a fundação do primeiro jornal local (O Rebate); fundou a Associação dos Empregados do Comércio; fundou o Apostolado da Oração; realizou a primeira exposição de arte juazeirense no Rio de Janeiro; incentivou o artesanato artístico e utilitário como fonte de renda; incentivou a instalação do ramo de ourivesaria (arte de trabalho com materiais preciosos); estimulou a expansão da agricultura; contribuiu para instalação de muitas Escolas, inclusive a Escola Normal Rural, o Colégio Salesiano e o Orfanato Jesus Maria José; socorreu a população durantes as secas e as epidemias; entre outros feitos. O Padre contribui de forma significativa para o crescimento e desenvolvimento da cidade. Atualmente, milhares de devotos chegam à Juazeiro em diversas épocas do ano, principalmente, no dia de Finados para visitar seu túmulo na Capela do Socorro, e no mês de março para a grandiosa festa e romaria realizada em sua homenagem. A Romaria de Padre Cícero é um evento que acontece na semana de seu aniversário (24 de março), e inclui músicas, danças, queima de fogos, bolo de quase 200 metros, shows, apresentações teatrais, exposições, procissão de flores, concurso de bolo e muito mais. De acordo com estudiosos, Padre Cícero é uma das personalidades mais biografadas do mundo. Sobre ele já foram editados mais de trezentos livros, além das constantes publicações realizadas pela imprensa. Sua vida ainda vem sendo estudada por cientistas sociais do Brasil e do Exterior. Ainda não foi canonizado pela Igreja Católica, no entanto, é considerado como santo por milhares de fiéis do Brasil. Por Karoline Figueiredo.

IV Chama Violeta leva artes integradas a moradores rurais do Sertão do Pajeú

O Sertão do Pajeú recebeu o IV Chama Violeta, festival de artes integradas que aconteceu nas comunidades rurais da região entre os dias 30 e 31 de outubro e 1º de novembro. O evento integra as ações do projeto permanente No Meu Terreiro Tem Arte, iniciativa independente da artista e produtora Odília Nunes, realizado desde outubro de 2015. Em sua quarta edição, o Chama Violeta promoveu oficina de balé clássico para crianças e uma extensa programação artística com espetáculos de teatro de animação, teatro e circo, música, poesia e cultura popular, que ocuparão os terreiros de três comunidades rurais: Picos, no município de Iguaracy, e Minadouro e Sítio Manoel Pereira, ambos no município de Ingazeira. Este ano, participam as artistas da Ingazeira, Triunfo, Garanhuns, Arcoverde, Olinda, Minas Gerais, Venezuela e São Paulo. São elas: Bruna FLorie, Jessica Mendes, Jessica Caitano, Raquel Franco, Ariadne Antico, Alê, Laura Torres, Maria Fernanda, Karol Almeida, Stefany Metódio e Mariana Acioli. Por conta da pandemia do COVID 19, toda a programação é exclusiva para as comunidades e todas as medidas de segurança sanitária serão tomadas. Para conseguir fazer o festival, a produção conta mais uma vez com o apoio de artistas e técnicos parceiros que trabalham voluntariamente e da sua família. Para arcar com a logística de passagens, alimentação e produção, Odília Nunes investiu o prêmio que recebeu este ano do Instituto Neoenergia, que premia iniciativas lideradas por mulheres, por conta do projeto No Meu Terreiro Tem Arte. Além disso, ela tem o apoio da Tronxo Filmes, Fazenda Quilariá da Barra, do Pajeú, que fornece os alimentos orgânicos para a equipe e apoio de som e luz do Sesc Triunfo. “O Chama Violeta é um festival cultural feito nos moldes de outros festivais realizados nos grandes centros urbanos, mas com uma programação que se propõe a dialogar com o público do campo, obras que conversem e valorizem a realidade das pessoas que aqui vivem”, afirma Odília. “Sua realização serve de inspiração para projetos semelhantes que pensem descentralização, diversidade, intercâmbio e sustentabilidade. Acredito no poder social e educativo da arte. Com ela nos comunicamos, interpretamos o mundo, nos unimos, nos conhecemos e podemos ser mais solidários, criativos e equilibrados. A arte não é um fim, mas um caminho cheio de possibilidades e processos que geram liberdade além de nutrir o respeito ao próximo”, pontua a produtora cultural. Odília Nunes é palhaça, brincante popular, atriz de teatro e cinema, diretora teatral, dramaturga, cordelista e produtora cultural do sertão do Pajeú Pernambucano. Desde 2015 produz o projeto No Meu Terreiro Tem Arte, no qual compartilha espetáculos e oficinas artísticas na comunidade rural onde vive. O projeto realiza o festival Chama Violeta e o Palhaçada é Coisa Séria, festival de palhaçaria. Integra também o grupo gestor da Rede Interiorana de Produtores, Técnicos e Artistas de Pernambuco (Ripa). Em 2021, Odília venceu o Prêmio Inspirar do instituto Neoenergia e o Prêmio Ayrton de Almeida, oferecido pelo Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).