SAMBA DE VÉIO, DA ILHA DO MASSANGANO
" Nessa água que não pára ,de longas beiras" como diria Guimarães Rosa. O rio segue seu curso lento e caudaloso,abraça a ilha e sua terceira margem, lava a copa das folhagens das ingazeiras em seu eterno mergulho,na ponta da proa a carranca emerge sorridente sob a guia do exausto barqueiro que volta para o descanso dos justos com o cair da tarde. Quando a lua no céu dá volta e meia, o batuque vai aonde o ouvir se espande, e a dança vai pela madrugada a dentro, celebrando a tradição de um povo que constrói sua história em cada batida de pé.E assim a história se repete na ilha do Massangano,banhada pelas águas do Rio São Francisco, a 15 kms da cidade de Petrolina.os relatos do folguedo está nos corações e mentes dos ilhéus como um patrimônio,herdado pelos ancestrais, e brotam em constante depoimentos. " Quando eu era criança, papai tomava conta do samba de véio .Meia-noite o pessoal saía de porta em porta,acordavam os moradores de surpresa e de manhã cedo comiam um bode assado.Quando o samba terminava,todo mundo ia raspar mandioca." Eis a primeira lembrança que a memória de Conceição consegue acolher, em seus 45 anos de vida. Uma vida pacata e tranquila,que contrasta com o ritmo frenético da dança.todo ritual inicia com a formação de uma roda,ao som dos cantos(com voz solo e em coro),palmas,pandeiros ,triangulos e,como principal instrumento de percursão e um dos elementos de identidade,tamboretes feitos de couro de bode,que durante o dia têm a função primordial de servir de assento.Quem vai para o meio da roda sempre improvisa o sapateado,contagiando as pessoas ao redor. o bamboleio sereno do corpo,marcado por um pequeno movimento dos pés,da cabeça e dos braços,acompanha o ritmo da música. No centro da roda quando o movimento vai extenuando,entre dez e vinte segundo o brincante é substituido com uma curiosa umbigada. Na roda do samba não existe platéia e a próxima vitima da umbigada pode ser você. A única saída é cair no samba. Aqui, quando vai nascendo vai logo aprendendo a dançar.Eu entrei com dez anos porque,naquele tempo,nossos pai não nos levava a lugar nenhum.Eles saiam e nos deixavam presos em casa. com dez anos, eu só saia porque era samba de véio. se fosse um baile os pais não deixavam.Mais os meninos de hoje... Todos são sambistas". Afirma dona das Dores,que nasceu a 72 anos no porto da cruz,onde se brincava o Samba de véio. E assim os depoimentos se mutiplicam na retórica de um povo que através da dança e tradição descobriu onde móra a felicidade.
William Veras de Queiroz 2010 D.C Santo Antonio do Salgueiro -PE.
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