segunda-feira, 4 de abril de 2011

                                              


 PAÊBIRÚ,LULA CÔRTES E ZÉ RAMALHO DA PARAÍBA

Fala Zé Ramalho da Paraíba:

 Escrevo sobre este trabalho depois de dois anos que ele foi realizado. Na realidade é a primeira vez que me proponho à fazê-lo, devido ao ciclo de fatos e sentimentos que tornariam e entornaram o caldo. Ele seria forte demais para a humilde estrutura que o aguardava. Escrevo sem Lula Côrtes, sem parábolas e sem mistérios. É a soma de tudo, e do que restou na estrada que percorremos. Claro que isto tudo é muito verídico para se publicar para essa massa de gente que não sabe e nem se importa com a mutação de toda uma era. Nossa era. No início, havia um "mantra", uma hipnose magnética e mágica. Uma espécie de retorno ao elo do OMM que por instantes conseguimos segurar sem contudo conseguir mantê-lo nas mãos. Paêbirú sempre foi uma ópera em todos os sentidos que se possam apresentar como argumento teórico ou não. Apenas nós não tivemos nossos nomes em anúncios luminosos nas fachadas do sistema. O rótulo era pobre demais para uma gravadora mais pobre ainda. Todos os sobreviventes da Água, do Fogo, do Ar e da Terra. Da Terra principalmente, dos nove, era o Planeta em que vivíamos. O sonho não conseguiu superar a realidade íntima de cada um de nós que trabalhamos no projeto. A Pedra do Ingá foi importante sem dúvida. Vendo-a me certifiquei de que há algo muito mais forte do que um simples homem em busca de poderes terrenos. Algo que derruba toda uma cultura acumulada e tornada inútil perante o enigma das paredes do Ingá. Contudo, não sou eu quem vai decifrar aqueles segredos místicos. Os meus próprios segredos me bastam e me invadem com bastante fúria já há algum tempo. Na realidade, tenho muitos segredos para contar.  técnica e sentimento, mas por detrás sempre houve um quê de quem pede complemento para o verbo. Antes de Paêbirú, eu já tinha um trabalho próprio e coeso. E todo esse trabalho foi posto de lado para que compusessemos as músicas do álbum, que foi feito como ponto de partida para uma consciência musical no Pernambuco e na Paraíba. Essa coincidência ainda existe porque a semente fecundou e deu frutos, amargos porém digestivos, mas deu. Como se o agrupamento de pessoas que o realizaram estivessem numa linha de partida, uma partida para o real poder de cada um. O estágio com Lula foi bom no sentido de que fomos um exemplo de fazer um trabalho. Contra a cultura estereotipada de entendidos em "marketing", contra a crença dos que achavam uma brincadeira a idéia, Paêbirú pertence já ao tempo que o criou. Raul Córdula nos deu a informação da Pedra mas ele também não sabe seu significado, contudo foi uma pessoa que exerceu grande influência no trabalho. Eu particularmente não vou meu deter só à contemplar os sinais do tempo. Algum dia talvez esse trabalho seja descoberto por seres que o conheçam como fonte de pesquisa e de abertura musical, talvez ele entre para os museus que documentam o sul-generis do som em empreitadas como a nossa. Mas o que restou somente no final de tudo foi o fôlego de saber que Sumé e a Montanha do Sol estão perto. Cada vez mais longe.

Zé Ramalho da Paraíba.Contudo,não sou eu quem vai desvendar os segredos do Ingá.

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