RIO SÃO FRANCISCO 510 ANOS
Outro episódio que gravou a história do São Francisco foi a Confederação do Equador. À época, o Estado de Pernambuco se estendia até o rio Carinhanha. Sufocada a rebelião, o império castigou Pernambuco, tomando-lhe as terras desde Sobradinho até o rio Carinhanha, e entregando a Minas para administrar, quando corria o ano de 1817, que em 1827, por dificuldades administrativas, foi entregue à Bahia. Apos a Proclamação da República, quando da nova divisão territorial do País, a área foi definitivamente incorporada à Bahia.Pernambuco nunca se conformou com essa perda e até há bem pouco tempo, o Capítulo das Disposições Transitórias da Constituição do Estado, rezava que Pernambuco considerava suas as terras da antiga província do São Francisco. Após não conseguir reaver as terras, Pernambuco apelou para a criação da Província do São Francisco. Em 1830, o Deputado pernambucano Luiz Cavalcanti, tentou aprovar o Projeto de Criação da Província. Em 1850 a bancada baiana também tentou a criação da Província e contava, para isso, com apoio das bancadas de Pernambuco e Piauí. A Bahia, novamente em 1866, levantou o Projeto, mas segundo os historiadores registram, a Guerra do Paraguai, como tema mais importante, terminou por suplantar aquela iniciativa que se esvaziou.A Fala do Trono, de Maio de 1873, recomendava a criação da Província, por inspiração do Barão de Cotegipe, João Mauricio Wanderlei, e teve num ribeirinho, o Senador Fernandes da Cunha, um dos seus opositores, ajudando a derrotar a idéia do Senador.Segundo Lacerda, "o pasto invadiu tudo, e o São Francisco foi desde então o "rio dos currais". Depois do índio que ateava fogo às florestas para fazer sua pequena fogueira, veio o colonizador e ampliou os processos de destruição da mata. O regime pastoril favoreceu extraordinariamente essa destruição sistemática''. A exploração mineira "atacou fundo a terra, escarificando-a nas explorações a céu aberto; esterilizou-a com o lastro das cupiaras; feriu-a a pontaços de alvião; degradou-a, corroendo-a com as águas selvagens das torrentes; deixou, aqui e ali, em toda parte, para sempre estéreis ... as grandes catas vazias e tristonhas". Eis como se refere Euclides da Cunha ao processo de mineração. E assim se fez o São Francisco, numa ocupação desordenada, aventureiros e pobretões à busca do enriquecimento; fugitivos da justiça que ali se escondiam; escravos fugitivos em busca de liberdade, tudo isso administrado pelos senhores do rio, descendentes de fidalgos portugueses ou seus protegidos. Como já vimos, passou quase um século sem qualquer contato e, no Segundo Império, passou a ser alvo das atenções da administração central. O Imperador Pedro II encomendou ao Engenheiro Henrique Halfeld um estudo do trecho do São Francisco, da cidade de Pirapora até o Oceano Atlântico. Halfeld efetuou esse trabalho em três anos -1850 a 1852, e deixou o primeiro documento técnico sobre o São Francisco, intitulado Atlas Concernente à Exploração do Rio São Francisco desde a Cachoeira da Pirapora até o Oceano Atlântico - 1850, 1851, 1852. Desejava com esse estudo, o Imperador, possibilitar o transporte, pelo rio, intercalando com o mar, uma vez que pequenos navios poderiam, de Penedo, prosseguirem até a foz e, costeando o litoral brasileiro, abastecer as cidades litorâneas com os produtos do São Francisco, e em retorno abastecer as cidades do São Francisco e do interior nordestino com os produtos do sul, e das cidades litorâneas, principalmente manufaturados. Para transpor a Cachoeira de Paulo Afonso, mandou o Imperador construir uma Estrada de Ferro, ligando a cidade de Piranhas, em Alagoas, a Petrolândia, em Pernambuco.Posteriormente, em 1880, o Conselheiro Cansanção de Sinimbu encomendou ao engenheiro americano Robert Milnors, um estudo do São Francisco, também sobre navegação. Nessa viagem, participou o Engenheiro Teodoro Sampaio, que no retorno se desligou da comitiva, e no porto de Malhada contratou uma tropa, com guias, e percorreu todo o interior do Médio São Francisco em direção leste, transpondo a Chapada Diamantina, alcançando a cidade de Cachoeira, no recôncavo da Bahia, onde embarcou no navio que faz esse percurso, chegando a Salvador.Teodoro Sampaio nos legou, dessa viagem, um relatório onde se esmera no detalhe descrevendo a região.Além dessas ações, somente estudiosos e naturalistas marcam o interesse pelo São Francisco. Do período republicano, notadamente o primeiro período, a chamada Primeira República, que vai de 1889 a 1930, a única coisa relevante foi a instalação da navegação a vapor.Essa iniciativa colocou as cidades do Vale em uma dinâmica diferente da usual, pelo ativo comércio, feito por 42 navios a vapor, que pertenciam a três companhias, sendo duas estaduais e uma privada.A Segunda República volta-se para o São Francisco somente no final da Ditadura de Vargas, quando da Segunda Guerra Mundial, assim que descobriu a importância do São Francisco como o caminho mais seguro para o transporte de tropas. Nesse período, algumas somas foram destinadas a trabalho de desimpedimento do rio, para fluir mais facilmente a navegação. Também no final da Ditadura Vargas foi criada a CHESF, para explorar o potencial energético do rio.Após a queda de Vargas, com a redemocratização do país, a nova Constituição, promulgada em 1946, no seu capítulo das Disposições Transitórias, Art. 29, destinou 1% da receita da União para ser aplicado no São Francisco, com vistas ao seu aproveitamento integrado. Coube ao Governo Dutra sancionar a Lei, Nº 541, de 15 de Dezembro de 1948, que regulamentando o Art. 29 das Disposições Transitórias da Constituição, criava a Comissão do Vale do São Francisco, instituição que teria vida pré-determinada de 20 anos.
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