terça-feira, 4 de outubro de 2011

foto do rio São francisco
                                                    

SALVE OS 510 ANOS DO RIO SÃO FRANCISCO
                          (PARTE 1)

No dia 04 de Outubro de 1501, uma expedição de reconhecimento descia acompanhando a costa brasileira, comandada por André Gonçalves e Américo Vespúcio; vindo desde o cabo de São Roque, chegou à foz do São Francisco. Habitada a região pelos índios, que a chamavam de Opara, os portugueses deram o nome de São Francisco àquele rio, em homenagem ao santo que é comemorado naquele dia.
Outra expedição, em 1503, chegou à foz do São Francisco - a frota de Gonçalo Coelho, também acompanhado de Américo Vespúcio. O São Francisco foi bastante visitado, próximo à foz, pois a mata, a caatinga pouco conhecida e tribos ferozes, eram impedimentos para que os brancos ousassem ir muito distante. A cobiça, entretanto, aliada a vontade de encontrar ouro e pedras preciosas, acabou fazendo com que dentro de algum tempo se aventurassem sertão a dentro. Corria, de boca em boca, no litoral, informações fantásticas de tribos que se ornamentavam com ouro puro e pedras verdes, além de cristalinos diamantes. Foi assim que, por ordem do rei D. João III, o Governador Geral Tomé de Souza determinou a exploração do rio, em 1553, a Bruza Espinosa, que formou a primeira companhia de penetração, o qual solicitou a presença de um sacerdote no empreendimento, tendo sido escolhido o Padre Aspilcueta Navarro. O roteiro dessa viagem e uma carta do Padre Navarro são os primeiros documentos descritivos do São Francisco.Em 1561, o São Francisco é visitado pela expedição de Vasco Rodrigues de Souza e, em 1575, a penetração que foi denominada de "Mata-Negro". Marco de Azevedo viaja ao interior com um grupo, em 1577. Sabe-se, também, que em 1583 João Coelho de Souza também penetra o sertão e chega ao São Francisco. Em 1587, o governador Luis de Brito determina a exploração do rio São Francisco e entrega essa responsabilidade a Sebastião Álvares, porém foi fracassada essa iniciativa. Gaspar Dias de Ataíde e Francisco Caldas têm sua expedição dizimada em 1588.Em 1595 o descendente de Caramuru, Melchior Dias Moreira, de acordo com carta escrita ao Conde Sabugosa, ultrapassou o São Francisco.A ocupação realmente ocorreu, entretanto, através das sesmarias, tendo sido o São Francisco ocupado parte pela Casa da Torre de Garcia D'Ávila e parte pela Casa da Ponte, de Antonio Guedes de Brito. O primeiro, Garcia D'Ávila, apossa-se das terras em 1573, sendo mais de 70 léguas entre o rio São Francisco e o Parnaíba no Piauí. Alguns ditam que, residindo na Praia do Forte, próximo a Salvador, e possuindo uma Carta de Sesmaria, pois era fidalgo, o Senhor Garcia D'Ávila avançou em direção ao São Francisco, construindo a determinadas distâncias um curral e uma choupana, e aí deixava 20 novilhas e um reprodutor e, para cuidar do rebanho, um casal de escravos. Dessa forma, tornou-se o primeiro latifundiário do São Francisco. Apossou-se das terras de forma irregular, já que o capítulo 26 do Regimento trazido por Roque da Costa Barreto, determinava que, nas sesmarias não se desse a pessoa alguma tanta quantidade de terra, que a não pudesse cultivar e tirando-as a quem assim não o cumprisse. Ora, a forma como Garcia D'Ávila ocupou o sertão foi portanto abusiva.A Casa da Ponte, entretanto, recebeu como indenização pelos serviços prestados e gêneros fornecidos para as guerras, novecentos e sessenta quilômetros de rio, começando no Morro do Chapéu, no município de Jacaraci, na Bahia, estendendo-se até as nascentes do rio das Velhas, em Minas Gerais. Tornou-se notável o Senhor Manoel Nunes Viana, que se tornou a maior fortuna do São Francisco, através de uma procuração que lhe passou a viúva do senhor da Casa da Ponte, Antonio Guedes de Brito, para administrar as terras de herança e cobrar o fôro sobre aquela sesmaria. E um pobretão, o Manoel Nunes, se tornou um potentado em gado e terras, durante o ciclo do couro, no vale.Outro fator importante de ocupação foi as missões, que se tem registro e iniciaram nesta região a partir de 1641. Foram os capuchinhos bretões que instalaram os primeiros aldeamentos. O frade Martim de Nantes deixou um relatório onde se pode perceber o comportamento atrabiliário da família de Garcia D'Ávila, em constantes desentendimentos com os frades franciscanos.Sabe-se, através desses escritos, que os frades reclamavam da constante interrupção das missões, normalmente ocupando as ilhas, por serem áreas mais férteis; os vaqueiros da Casa da Torre, no período da seca, empurravam os rebanhos para comer a lavoura dos índios, obrigando-os a buscar a caça, dispersando-se na caatinga e interrompendo, assim, o trabalho catequético. Os atritos entre os missionários e os herdeiros de Garcia D'Ávila estão registrados em várias correspondências dos sacerdotes para os seus superiores.Esses atritos culminaram com a reprovação à ação dos barbadinhos bretões, por parte das viúvas da Casa da Torre.Por último, ocorreu a proibição oficial da comunicação da região com a do sul do Pais. É o que rezava a carta régia de 1701: "quaisquer comunicações daquela parte dos sertões baianos com as minas dos paulistas nos sertões mineiros", segundo Lacerda, culminando severas penas aos infratores que continuarem a inflingir a ordenação da carta régia, acentuando o comércio de gentes e de produtos ao longo do São Francisco, naquela limiar do próprio século XVIII (Vicente Licínio Cardoso).Esse isolamento, se por um lado foi prejudicial, estagnando a região, por falta de contato com comunidades mais cultas, "Atravessa a região o século XIX em melancólico torpor, apenas sacudida pela curiosidade de alguns naturalistas botânicos e geógrafos que a visitaram, e pelo estrelejar das brigas de bandos adversos, facções medievais, como guelfos e gibelinos de gibão encourado, perpetuando rixas familiares, generalizando, com encontros intermitentes, as questões domésticas dos senhores do rio (Lacerda); por outro lado, serviu para gerar uma sociedade própria do São Francisco, com suas lendas, seus mitos, seus folguedos, seus medos, suas crenças e, até, seu próprio vocabulário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário