domingo, 28 de outubro de 2012






        ZABÉ DA LOCA, A DIVA DO PÍFANO


Com seu inseparável pífano, Isabel Marques da Silva, passou os dias da sua infância e juventude trabalhando no campo. Nasceu em 1924,na cidade pernambucana de Buíque, no vale do rio Ipanema, ainda menina, mudou-se para o município de  Monteiro no sertão da Paraíba.Sem chance de frequentar escola, aos 7 anos , aprendeu a tocar pífano com o irmão Aristides, do qual, já adulta, não soube mais do paradeiro. Dos 15 irmãos, Zabé viu morrer 8,de fome,sede e doenças. Pequena com 1 metro e meio de altura,olhos azuis,teve que conviver com o assédio dos donos das fazendas que trabalhou quando jovem.Por conta desta situação, engravidou e deu a luz uma menina.Mais tarde encontrou seu companheiro, Delmíro, de quem teve três filhos e ficou viúva em 1966. Logo em seguida perdeu a casa e foi morar com a família numa gruta(loca)
na serra do tungão (PB),onde passou longos 25 anos da sua vida. Precisando trabalhar na roça , e não tendo com quem deixar as crianças,cavava um buraco no chão,sob a sombra de uma árvores, cobrindo-os com trapos ,para que ficassem ali protegidas até o fim da jornada de trabalho. Dali surgiram o apelido que carrega até hoje e também a inspiração para sua música. A artista ,também conhecida como a "Rainha do Pífe". Atualmente mora no assentamento Santa Catarina, no município de Monteiro, porém, sua casa fica a 10 minutos da loca que ainda hoje costuma frequentar, o local continua intocável e deve se transformar num ponto de visitação turística e de preservação cultural.
Na roça,Zabé,tocava nas festas sem nada receber.Até ser descoberta pelo programa Biblioteca rural Arca das letras,do Ministério do Desenvolvimento Agrário(MDA) que no processo de implantar bibliotecas e incentivar a leitura no campo,também identifica as potencialidades culturais das comunidades rurais. O reconhecimento do seu talento,lhe rendeu um CD. Patrocinado pelo MDA, por meio do projeto Dom Helder Câmara que atua no sertão nordestino. O CD é parte da série Cantos do semi-árido,do MDA e contou com a produção do Quinteto Violado. O disco foi gravado no assentamento,em estúdio móvel. O disco foi lançado em dezembro de 2003 ,numa grande festa em Afogados da Ingazeira,no sertão do Pajeu,durante o lançamento nacional do programa Arca das Letras e da série cantos do semi-árido,com a presença do então ministro Gilberto Gil. Dona Zabé é apreciadora de uma boa "dosa",cachaça, não consegue fazer uma refeição se não tiver feijão na mistura e não fica sem o seu cigarrinho. Fala bem pouco,mas não perde a oportunidade de dar " umas cantadas" nos "moços" que dividem palco com ela. Que o diga o multi-instrumentista carioca Carlos Malta que produziu o último disco dela. Segundo a própria Zabé, "é buníto todo". Além de produzir, Malta faz participação no álbum, assim como Maciel Salu,filho do saudoso Mestre Salustiano,Cacau Arcoverde, junto com os músicos do grupo River Douglas ( zabumba), Pito ( prato) setenta(caixa) e Júnior (caixa). Durante as gravações faleceu o pífeiro e compositor Beiçola,filho adotívo dela. É justamente com Beiçola que também era conhecido como o "músico de mãos tortas" que Zabé tocava uma das melhores faixas do álbum ," Queima." E assim, pequena,frágil, carregando no rosto os longos anos de exposição ao sol e na mão uma enxada, Zabé da loca é o retrato da nossa cultura popular e das tradições que parte
 do país teima em querer esquecer. E hoje Zabé anda pífando por outras bandas. Foi uma das atrações em 2003 do festival de Brincantes no Recife ,no ano seguinte fez parte do projeto " Da idade do mundo ", neste mesmo ano tocou com Carlos Malta no (CCBB) centro cultural Banco do Brasil,em Brasilia, e em junho com Hermeto Pascoal no forum mundial de Cultura, em São Paulo onde foi efusivamente aclamada,merecendo atenção especial dos participantes estrangeiros,no mesmo período,apresentou-se no espaço Cultural Sérgio Pontes, na cidade do Rio de Janeiro, em 2008 tocou no Sesc-Pompéia em Sampa e no planetário da Gávea na cidade maravilhosa, em 2009 aos 85 anos, Zabé ,ganhou o prêmio da música Brasileira,categoria revelação pelo CD " Todo Bom" no canecão no RJ, emocionando a platéia,que a aplaudiu efusivamente de pé. A artista já é sucesso nas pistas de dança do Rio de Janeiro; através das produções do DJ Mam, tem uma página no myspace e vários videos no you tube,comprovando que não existem barreiras de geração, e geografia na sua arte. A vida de Zabé da loca sem a música, seria um erro.


William Veras de Queiroz-Santo Antonio do Salgueiro-PE.

MATÉRIA PUBLICADA NESTE BLOG NO DIA 9 DE NOVEMBRO DE 2009


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