sábado, 15 de junho de 2013

                             



                                                                                 MOVIMENTO ARMORIAL





Qual é a cultura verdadeiramente brasileira?
Negra, portuguesa, indígena?
    No dia 18 de Outubro de 1970, na Igreja São Pedro dos Clérigos em Recife, iniciou-se oficialmente o movimento, no qual se busca trazer a resposta a essa pergunta. O idealizador foi e é o dramaturgo e romancista pernambucano Ariano Suassuna, que naquela data lançou o concerto-pedagógico, com a Orquestra Armorial, entitulado ”Três Séculos de Música Nordestina: do Barroco ao Armorial”, no qual a pintura, escultura e xilogravura se uniam à música para lançar as ideias do escritor.
   Em meio à forte entrada dos valores culturais americanos no nosso país nos anos 70, o movimento, diferente do Tropicalismo, se focou integralmente na busca das origens da cultura nacional, a fim de se criar uma arte sólida e verdadeiramente brasileira, com ênfase no Nordeste.
     A Arte Armorial se baseia na ideia de que a cultura brasileira genuína é resultado dos intensivos processos imigratórios que ocorreram no país desde a chegada dos portugueses, e da cultura indígena anteriomente já presente. Com isso, o movimento assume uma arte de formação técnica européia (erudita) e com base na tradição nacional, além de englobar diversas expressões artísticas como a música, o teatro, a poesia, a dança, a pintura, xilogravura, escultura e até o cinema.
   A Orquestra Armorial, com a qual lançou-se o movimento, foi logo convertida em um grupo menor para melhor se adequar à estética pretendida, e formou-se então o Quinteto Armorial, que foi um dos maiores expoentes do movimento, formada pelos (na época) jovens músicos: Antônio Madureira, Antônio Nóbrega, Egildo Vieira, [Jarbas Maciel], Edison Eulálio Cabral e Fernando Torres Barbosa. O grupo obteve um excelente alcance da estética pretendida, é fácil entender do que se trata o movimento ouvindo seus quatro álbuns gravados: Do Romance ao Galope Nordestino (1974);  Aralume (1976); Quinteto Armorial (1978); Sete Flechas (1980);
    Também inspirado nos ferros marcadores de gado, A. Suassuna desenvolveu um trabalho tipográfico ligado à sua heráldica sertaneja: o Alfabeto Armorial.
                                                                                  Quinteto Armorial

  Também inspirado nos ferros marcadores de gado, A. Suassuna desenvolveu um trabalho tipográfic.TIPOGRAFIA ARMORIAL
    Quanto ao nome ”Armorial”, que é um substantivo que dá nome ao livro que contém os antigos brasões e bandeiras das famílias, foi usado como adjetivo por A. Suassuna, por idealizar um sertão quase que medieval à maneira brasileira, comparando os cangaceiros aos cavaleiros, os donos de fazenda aos rei e condes e suas filhas a princesas; sendo assim, os símbolos dos armorias trariam a principal inspiração para a estética e aspiração ao mundo sertanejo que A. Suassuna sonhara.
    Este mundo pode ser vivenciado em seus autos e peças de teatro, porém a sua maior obra em termos armorias é o seu primeiro romance escrito em 1971, e que se tornou imprescindível a quem quer conhecer o movimento; chama-se ”O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, sendo o primeiro da trilogia ainda inacabada “A Maravilhosa Desventura de Quaderna, o Decifrador, e a Demanda Novelosa do Reino do Sertao”, da qual A. Suassuna escreveu a primeira parte do Segundo livro ”A História d’o Rei Degolado nas Caatingas do Sertão; Parte I – Ao Sol da Onça Caetana”. Baseada no primeiro livro, de grande sucesso, foi feita uma minissérie pela rede Globo em junho de 2007, que tem excelente produção e expressa muito bem a estética do movimento.
     a pedra do reino
    Em 2000 foi lançado o filme baseado no livro ”Auto da Compadecida”, o qual fez enorme sucesso e ganhou muitos prêmios, sendo o principal expoente da estética armorial ligada ao Cinema.
   Atualmente A. Suassuna executa seus concerto-pedagógicos junto a um grupo de dançarinos e músicos entitulado ”Circo da Onça-Malhada”, apresentando-se em diversas cidades do país, divulgando as ideias e estética do movimento.
    O Movimento Armorial, em sua escência, não é ligado a dogmas e não supõe regras: Foi, e ainda é, uma tentativa de mostrar ao nosso país a sua própria cara. Nasceu na fase do ínico da crítica supressão da nossa cultura tradicional e popular, e é um alerta de que nossa cultura está sendo substituída por padrões exteriores, tão pouco ligados às nossas verdadeiras tradições. Ariano Suassuna é, porque não, um profeta: o seu mundo fantástico é um portal para o que há de mais real na nossa cultura.
     É, para quem não sabe por onde começar, uma ótima introdução à cultura tradicional e popular brasileira!
                                                                                   Gilvan Samico

    Nas Artes Plásticas, os principais percurssores da estética armorial foram os pernambucanos Gilvan Samico (xilogravura) e Francisco Brennand (escultura). Tomando por base a arte tradicional e de traços tortos da xilogravura e dos ferros marcadores de gado do Nordeste, puderam dessa forma, dar cores e formas ao universo mítico do Sertão que Ariano Suassuna idealizara.
                                                           Atelier de Francisco Brennand -Recife-


Castelo-Armorial-do-Reino-Encantado-1.jpg
Castelo Armorial -Sao Jose do Belmonte-PE

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