quinta-feira, 5 de dezembro de 2013



           Lamentação das Almas

Nos municípios Baianos da Chapada Diamantina, sobretudo Lençóis, Andaraí e Mucugê. Existe a tradicional  Lamentação das Almas,durante o periodo pascal.A manifestação consiste num grupo de homens e mulheres que saem às ruas, envoltos em lençóis brancos, tendo à frente um que toca a matraca. Entoam benditos e fazem “paradas” em frente às igrejas, capelas, cruzeiros e cemitérios.
As apresentações se intensificam durante a Semana Santa .
Voltemos às margens do São Francisco, por ocasião da Quaresma de 1961 para ouvir os "benditos" cantados na cerimônia noturna da "alimentação das almas", para acompanhar uma "lamentação".

O toque seco da matraca quando a noite vai larga, é ouvido a longa distância. De uma casa do povoado sai um caboclo de meia-idade carregando enorme cruz de dois metros, mais ou menos, de altura, em cujos braços, está pendurada uma toalha branca. Dirigiu-se para a porta do cemitério. Segue-lhe os passos o tocador de matraca. Os devotos alertados pelo sinal convencional desta voz de madeira (quando os sinos se emudecem!) vão se aglomerando no local tradicional de encontro. Já na porta do "sagrado" onde tem início a reza, há um número considerável deles. O "dono" da cruz dá começo a reza. Vários "benditos" são cantados porque, desse local eles saem para percorrer "sete estações", guardarem a cruz na casa do "mestre". Finda-se assim a "lamentação" na qual homens e mulheres tomam parte. Assemelha-se muito à "recomenda das almas" praticada no sul do país.

Realizam com tais "lamentações" um trabalho sagrado – alimentam as almas que ainda estão penando nos ares ou no purgatório, expiando com esta prática os seus penares. Alimentação das almas dos outros e ao mesmo tempo protegem-se "fechando o corpo" contra perigos e males e adquirem a salvação futura, caso não interrompam as sete vezes que deram assim proceder.

A prática de sete anos seguidos é o mínimo exigido porque não há proibição para que se reencete novo período; o que não devem fazer é iniciar e depois não continuar. Neste caso, há sanções que o sobrenatural aplicará: doenças, desditas, etc.

Os praticantes desse ritual estão firmemente imbuídos da presença das almas dos que morreram enquanto fazem aquele percurso dos "sete passos". Mais uma vez se confirma o que assinalamos atrás, que, enquanto na Europa o encontro dos mortos com os vivos se dá no Carnaval, no Brasil é na Quaresma.

Alta madrugada, antes de ser guardada a cruz, há a cerimônia do "beijamento" com o qual encerram naquela noite a "alimentação das santas almas benditas".

As rezas entoadas têm muito do canto sacro – a suavidade. As vozes atenoradas dos meninotes, as graves, dos homens e as mulheres, formam um conjunto mavioso. Aquelas melodias repassadas de fervor religioso ficam cantando nos ouvidos de quem presencia as "lamentações", os muitos "benditos".

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