Edvaldo Santana
Um veterano trovador dos palcos brasileiros. Surgiu na década de 70, com sua peculiar mistura de blues com música urbana. De lá pra cá, comeu muito pó da estrada. Filho de nordestinos, saiu da Zona Leste de São Paulo e se mudou para o interior. Não largou o blues, como demonstram as primeira faixas do seu novo CD, Jataí, mas incorpora influências violeiras inusitadas, que se juntam às sonoridades nortistas e latinas, decantadas pela voz inconfundível.Edvaldo soa mais sereno, mais musical, mais brasileiro nesse novo trabalho, mas não oferece apenas o mel da abelha que dá nome ao CD. O cara continua colocando doses certeiras de veneno em suas letras. Produzido pelo guitarrista Luiz Waack, o CD conta com participações muito especiais de gente como Fabiana Cozza, Daniel Szafran e o argentino Mintcho Garramone.
Em Jataí o bardo paulistano expõe seus sentimentos de periferido, com a sapiência dos caboclos e a alma dos negros, fazendo suas alquimias com a música dos renegados, contribuindo no envolvimento estético entre o blues o samba o country o mambo o bolero o baião o rock o reggae a guarania o xote a toada, incorporando nas suas idéias as referencias artísticas de Adoniran Barbosa, Robert Johnson, Luiz Gonzaga, Tom Waits, Jackson do Pandeiro, Woody Guthrie, Cartola, Bob Marley, Jorge Benjor, Buena Vista, Dorival Caymmi, Tibaji, Miltinho e Gilberto Gil.
Jataí tem momentos de banjo, gaita, violão e voz grave, como tem levadas inventivas de congas, bateria, baixo, guitarra e sanfona, é variado, mas se mantém íntegro, inteiro em seu conceito musical.
Nas letras os temas também são diversos, vão desde “A Poda da Rosa”, escrita para um jardineiro que evitou o ferimento de crianças na saída da aula escolar, como em “Quando Deus quer até o diabo ajuda”, onde Edvaldo reforça sua condição otimista diante da vida que leva. Na linguagem das palavras há invenções singulares onde as tonalidades e rimas do universo cordelesco se encontram fragmentadas na gíria da periferia urbana, que em contato com elementos da cultura negra e indígena, proporcionam a liberdade dos movimentos fonéticos.
Os músicos Reinaldo Chulapa-Baixo, Ricardo Garcia-percussão e Luiz Waack-guitarra, juntamente com o violão de Edvaldo formaram a base musical do álbum e foram incumbidos de produzir espaços para a letra e servir de cama harmônica e rítmica para os músicos convidados, criando arranjos com atmosferas sonoras determinantes no conceito semi-acústico do cd.
Vários convidados dão brilho especial a Jataí- de Buenos Aires baixou Mintcho Garramone músico argentino que gravou a sua participação na terra de Astor Piazzola. Também tem os paulistanos da vanguarda Paulo Lepetit no baixo e Marco da Costa na bateria que tocaram em “Nada no mundo é igual” e em “Sem Cobiça”, Kuki Stolarski doou sua batida preciosa . Edvaldo Santana homenageia Waldir Aguiar amigo e produtor em “Aí Joe”, canção onde brilha o piano acústico de Daniel Szafran. Canta seus ancestrais em “Eva Maria dos Anjos” um samba- morna-ijexá com as participações especiais de Fabiana Cozza na voz e Simone Julian na flauta. A sanfona jazzística de Antonio Bombarda está presente em “Jataí”, xote-reggae que dá título ao álbum e em “Há muitas luas” a gaita do curitibano Bené Chiréia aproxima o baião do rock e do blues. Ainda no campo das participações vale destacar o piano elétrico suingado de Adriano Magôo em “Amor é de Graça”.
A capa é uma criação de Elifas Andreato sobre a Jataí espécie de abelha sem ferrão, que possui no mel que produz, além do sabor especial, varias propriedades medicinais de cura.
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