Dudu Siqueira/ Fundarpe
O Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura PE) se dedica a incentivar não só a produção cultural do estado como estimula a difusão e o intercâmbio das nossas expressões artísticas com outros estados brasileiros e países. Um dos projetos aprovados em edital do Funcultura é responsável por levar João do Pife e a Banda Dois Irmãos para o festival “Le Sous Fifres”, evento que está na 24ª edição e preserva a tradição do pífano (fifres em francês) na região de Bourdeaux. São três dias de música ao a livre, com apresentações e oficinas, realizadas em St. Pierre D’ Aurillac, pequena cidade rural, às margens do rio Garonne. O festival teve início nesta sexta-feira (27) e segue até domingo (29).
“Com o apoio do Governo, estamos levando a história e a cultura de Pernambuco. Estou bem contente e satisfeito”, declarou João do Pife, que já deu aulas nos Estados Unidos, Alemanha e Portugal. Natural de Caruaru, o mestre pifeiro preserva a tradição de tocar e confeccionar o instrumento tradicional parecido com uma flauta transversal, de som agudo e timbre intenso. “Eu fabrico os pifes e os tambores. Aquilo que eu sei eu passo para outras gerações. Comecei com 15 e hoje estou com 71 anos”, conta João, que mantém a Banda Dois Irmãos, uma herança cultural deixada pelo seu pai, o mestre Alfredo Marques dos Santos.
A banda, fundada em 1928, atualmente é formada pelos irmãos, João e Severino, responsáveis pelo 1º e 2º pífano. A parte percussiva é responsabilidade dos quatro filhos de João: Alexandre (prato), Leandro (caixa), Cícero (zabumba) e Paulo (contra surdo). Para o compromisso na França, Paulo não pode ir por motivos de saúde e está sendo substituído por Bruno Silva.
Na França, a Banda Dois Irmãos apresenta repertório de baião, arrasta-pé, xote, xaxado, frevo samba, ciranda e músicas típicas de novenas. João do Pife ministra oficina de produção de pífanos. O projeto foi idealizado e produzido pela produtora Página 21, que desde 2009 realiza o encontro Tocando Pífanos. O intercâmbio entre a empresa pernambucana e o “Le Sous Fifres” teve início em 2012, quando o coordenador do festival francês, Pierre Scheidt, foi um dos palestrantes da 3ª edição do Tocando Pífanos, em Olinda. No mesmo ano, o encontro brasileiro contou com apresentação do Trio Serendou, formado por músicos do Níger e da França.
Página 21/Divulgação
Página 21/Divulgação
Rafael Coelho, Claudia Moraes e Amaro Filho são responsáveis pela produtora Página 21
Agora, a Página 21 leva ao festival francês a tradição dos pífanos do Nordeste do Brasil. A produtora monta estande, faz palestra e lança o livro “Pífanos do Agreste”, resultado de pesquisa de mapeamento. “A participação efetiva de Pernambuco no maior e mais importante festival de pífanos do mundo nos encoraja muito mais para a preservação e salvaguarda das bandas de pífanos enquanto patrimônio cultural brasileiro. Os gestores culturais, produtores e sociedade artística têm que prestar mais atenção para essa expressão que necessita diretamente de apoio institucionais para sua manutenção”, afirmou o produtor Amaro Filho, integrante da Página 21 junto com Claudia Moraes e Rafael Coelho.
Avaliando a oportunidade de participar do festival francês, onde o pífano é exaltado, João do Pife se mostra consciente da sua importância e trajetória. “É mais um degrau que estou subindo, eu já lutei tanto, agora estou colhendo a semente que plantei”, diz. Ao falar de forma simbólica da sua plantação e colheita na cultura, não podemos deixar de ressaltar da história como agricultor do mestre pifeiro. “Eu trabalhei na roça dos 10 aos 30 anos. Plantei feijão, mandioca, batata… No ano que não chovia, a gente sofria, mas não parava de tocar, tocávamos nas novenas”, relembra. Mas o passado triste fica cada vez mais distante e, antes de viajar, João do Pife diz entre gargalhadas: “É o povo dançando e eu tocando”.