segunda-feira, 18 de agosto de 2014




Em entrevista a jornalistas, o pernambucano Alceu contou que a ideia de fazer o filme começou há 15 anos, quando voltou à terra natal, em São Bento do Una, no sertão nordestino

Com mais de 20 álbuns lançados e aos 68 anos de idade, o cantor e compositor Alceu Valença estreou na direção de um filme recontando a história de Lampião e Maria Bonita, um clássico da história do nordeste brasileiro. “A Luneta do Tempo”, que foi exibido na noite da última quarta-feira (13) no Festival de Cinema de Gramado, abrange 30 anos do clássico e traz muito da literatura de cordel, com todos diálogos rimados.
Em entrevista a jornalistas, o pernambucano Alceu contou que a ideia de fazer o filme começou há 15 anos, quando voltou à terra natal, em São Bento do Una, no sertão nordestino, por causa da morte do pai. Ao pisar na cidade novamente, as lembranças da infância vieram à tona, como os artistas de rua, o circo e a literatura de cordel. De mente inquieta, Alceu abordou assuntos diferentes em poucos minutos. Da infância no Nordeste, ele emenda com o início da construção do roteiro e segue até o encontro com o cineasta Walter Carvalho, que foi quem teve a ideia de transformar aqueles escritos em filme. Na sequência, ele parte para as dificuldades de captação de verba por ser um diretor estreante e, por fim, a escolha de Irandhir Santos para ser Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e de Hermila Guedes para viver Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita. “Sou um pouco doidinho, mas todo artista é”, disse, às gargalhadas. 
Frequentemente elogiado em festivais de cinema e, mais recentemente, na televisão por dar vida a Zelão na novela global “Meu Pedacinho de Chão”, Irandhir encanta mais uma vez na tela. Declamando poesias sobre o tempo e colhendo flores para Maria Bonita, o ator dá vida a um Lampião romântico que gosta de cantar. Com mais de 50 músicas, Valença diz que no fundo o filme é um musical, mas descarta comparação com enlatados norte-americanos. “O meu [filme] é original. Não gosto de cópia”, diz. 

Valença disse que demorou para entregar o primeiro filme porque foi autodidata na arte da cinematografia. Teve, segundo ele, apenas dez aulas de cinema com uma amiga para, então, “aprender o resto sozinho” ao se debruçar sobre muitos livros. Antes de começar a filmar, ele criou um storyboard com diálogos e trilha ritmados até mesmo os tiros e o assobio dos pássaros estão no compasso. “Irandhir entendeu a ideia na hora. Hermila foi um pouco reticente, mas logo embarcou também”, disse. O áudio do filme foi feito antes de os atores pisarem no set de gravação, e boa parte do que se ouve saiu da boca de Valença. “Fiz som de boi, de pássaro, de tudo”. 


O bom humor do diretor também está presente nas telas que, somado à cultura pernambucana, remete às obras de Ariano Suassuna. “Ariano vem de uma região similar à minha. Sou um grande admirador de sua obra, mas não tem nada dele de pontual no meu trabalho. Acho que poderia haver mais Arianos no Brasil”, disse ele, imitando Cauby Peixoto, cuja música aparece na segunda parte do filme. “Cauby fez parte da minha vida e do meu contato com o rádio”.

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