O litoral é bem pior que o sertão
Sobre a crítica do Conversa de Balcão sobre a exposição da Bienal na Casa dos Carneiros. Um comentário pessoal meu.
Acabo de ler a matéria crítica sobre a exposição que está passando na Casa dos Carneiros e fiquei realmente surpreso. Ao acompanhar alguns dos estudantes de diferentes escolas, percebi a curiosidade dos alunos e o quanto mentes que não estão carregadas e condicionadas podem adentrar mais facilmente no universo de uma arte conceitual que de muitas pessoas que já vão esperando algum tipo de glamour das artes ou aquilo que por muito tempo lhes foi imposto como arte.
A principal regra é que ninguém é obrigado a gostar, pois o apreciador tem que ser livre nesse sentido. Assim haverá inúmeras opiniões, já que a imprensa também não tem a obrigação de dizer o que é bom ou ruim, senão de divulgar e quando possível, com pareceres de colunistas que possam opinar sobre os diversos assuntos, marcando o perfil dos cadernos, etc.
Eu, particularmente, gostei muito da exposição e tenho apreciado muito a postura nova que assumiu a Bienal aqui na Bahia. Enxerguei relações consistentes com a época e com o sertão a partir dos questionamentos levantados pela Bienal e das obras.
Eu, particularmente, gostei muito da exposição e tenho apreciado muito a postura nova que assumiu a Bienal aqui na Bahia. Enxerguei relações consistentes com a época e com o sertão a partir dos questionamentos levantados pela Bienal e das obras.
Duchamp, quando assinou numa privada em 1917, pondo a mesma em exposição como obra de arte, estava realizando uma das mais importantes performances que viria a balizar o mundo das artes. Ia contra os conceitos calcificados de uma arte superior, o mundo dos marchands que transformavam a arte num ambiente de negócios e numa reprodução exaustiva de obras que serviam mais para leilões como uma espécie de apropriação do comércio sobre o universo livre das artes. E não somente isso, mas vários outros pontos de vista que permeavam esse mundo. Até mesmo a arte contemporânea caiu nessa mesma armadilha e hoje existem muitas bienais pelo mundo que celebram esse comércio, mas que não é o caso de todas, senão de uma inevitável prática que acaba por elitizar um campo que deveria permanecer liberto desses desejos de consumo.
A arte contemporânea, ao menos a linha desta que acerta mais com esse conceito atual de arte, se propõe essencialmente a um sentimento e não apenas à sacralização de objetos, mas à permissão de uma relação. Esta bienal se propõe a uma forma inovadora de bienal, na qual inclui inúmeros artistas que nunca foram convidados a participar de uma bienal, retoma artistas importantíssimos para as artes na Bahia que desbravaram e confrontaram os pensamentos conservadores, vem promovendo encontros e participações da sociedade como um todo, trabalha com ações educativas, etc., etc. Para além disso, especificamente na Casa dos Carneiros, será que não há relação com o local a instalação sobre Canudos, nem o audiovisual de Juraci Dórea, o ex-voto de Lina Bo Bardi, a pintura de Edinízio Primo, que fez inúmeras capas de disco dos artistas da Tropicália, a Cabrita de Dicinho, dentre outras mais? Eu não vejo possibilidade de que isso não aconteça, em minha opinião sincera.
Mas talvez haja quem não a faça, já que podemos esperar muitos tipos de pensamentos.
Mas talvez haja quem não a faça, já que podemos esperar muitos tipos de pensamentos.
Por fim, sobre o "maldito giz", que achei sincero da parte do colunista, e respeito muitíssimo a opinião diversa, acredito que o lado provocador da arte contemporânea causou um efeito preciso, assim como muitos jovens só fazem coisas do contra por não suportarem as condições e os sistemas que a vida lhes impõem. Deu mais que certo. E não vou me lembrar de Giotto, quando era jovem ainda e o Papa tinha mandado uma pletora acompanhando emissários para saber sobre um jovem talentoso, criador da carneiros, um pastor chiqueirando ovelhas no campo, pra saber se ele era realmente um artista de verdade e digno às telas-paredes e teto das Catedrais. Nessa ocasião Giotto pegou uma folha de desenho e com um carvão desenhou à mão livre um círculo apenas e entregou aos emissários. Quando entregaram ao Papa, mediram e conferiram que era uma circunferência perfeita passando o compasso. Não é preciso lembrar-mos disso, logicamente, nem da Bauhaus, nem de inúmeras referências nas artes, na arquitetura e na existência.
Eu ia transcrever aqui um poema de Drumond, ou de Suassuna, mas temi que pudessem dizer da transcrição "maldito teclado".
Abraços em todos e estejam convidados a ver a exposição...
Joao Omar
Joao Omar
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