quinta-feira, 8 de janeiro de 2015




                                  MALIETE

Marliete Rodrigues da Silva nasceu em 1957 na cidade de Caruaru, Pernambuco. Ela é filha caçula de um dos nomes mais importantes da arte figurativa popular do Brasil, o mestre Zé Caboclo. O contato de Marliete com a arte do barro começou, claro, muito cedo; era praticamente o dia-a-dia de sua casa. Ela iniciou fazendo brinquedinhos para vender, para comprar outros brinquedos e, juntamente com suas irmãs Helena, Socorro e Carmélia (que atualmente também se dedicam à arte do barro) ajudavam seu pai na pintura das peças, para logo vendê-las na feira da cidade.
Ela diz que começou a trabalhar com o barro no ano em que o mestre Vitalino morreu, 1963, e que desde muito cedo descobriu que tinha um amor muito grande pelo trabalho.
Quando perderam o pai em 1973, a primeira preocupação dos filhos foi garantir o lugar na feira da cidade; a venda das peças produzidas por eles era praticamente a única fonte de renda que dispunham. De início, a família se dedicou a reproduzir a arte do patriarca; com o passar do tempo, cada um foi desenvolvendo sua criatividade e encontrando seu estilo próprio. Passei por várias fases e cada dia procurava a experiência através do meu pai, de minha mãe e de meus avós, que também foram artesãos.
Fui ganhando muita experiência durante aquele ano, porque, quando meu pai morreu, eu era adolescente e, junto com meus irmãos, tivemos que nos cuidar para dar continuidade a todo o trabalho do papai. Fui então à luta: comecei a participar de feiras, reuniões e a participar também da Associação dos Artesãos e Moradores do Alto Moura, fundada em 1982. Batalhamos para que se desse continuidade ao trabalho e foi aí que eu comecei a valorizá-lo e a participar dessas reuniões e de feiras, conta Marliete.



Nessa busca por um estilo próprio, sua irmã Socorro se dedicou à produção de miniaturas; detalhista, passou a ser considerada “a perfeccionista da família”. Marliete, que assim como os demais irmãos copiava as peças de seu pai, do seu tio Manuel Eudócio e as do próprio Vitalino, descreve hoje o fascínio que tem pelas miniaturas, um processo que teve início em 1988 com a construção do Museu do Barro de Caruaru. Nesta época ela assinou um contrato com a Fundação de Cultura de Caruaru para fazer umas peças para o museu. Fizemos um contratozinho, tudo direitinho (...), foi uma surpresa, uma oportunidade tão boa de começar e fazer um trabalho livre sem ninguém me pedir que eu fizesse tal cena, conta Marliete.
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A artista conta que a partir desta época começou a trabalhar mais livre, sem a preocupação com o volume de produção. Mais “solta”, começou a criar mais e melhor. (...) fiquei até, assim, pensando: o que eu vou fazer? Veio a idéia de fazer a quadrilha junina, a idéia de fazer um forró – forró mesmo aqui no estilo da região (...), a vovozinha fazendo crochê (...) mamãe dando milho às galinhas porque ela gostava e ainda gosta de criar galinha (...) a noite junina, as pessoas soltando balão, acendendo fogueira (...) brincadeirinha do anel. Fiz algumas coisas que já fazia, como o jogo de xadrez, mas a maioria foi coisa que eu criei. (...) Aí eu comecei a perceber que tinha muita coisa ainda para fazer. Eu estava começando, e como era maravilhoso a gente criar, conta. Apesar de na época já ter alcançado notoriedade entre os artistas do Alto do Moura, Marliete conta que seu trabalho para o Museu do Barro foi algo muito promissor; com esse trabalho ela ajudou a consolidar sua reputação e a da família como reduto de mestres. Ela também foi convidada para restaurar algumas peças atribuídas a Vitalino. (...) uma emoção pegar o trabalho dele (...). Não é fácil. É muito difícil você mexer, diz Marliete.

 

Ao longo dos anos Marliete imprimiu um estilo novo aos temas consagrados por outros mestres do Alto do Moura, como as cenas de retirantes, a volta da roça e a rotina na lavoura. Ela produz peças em tamanho grande, mas as que mais se destacam são as miniaturas. Com talento, delicadeza e esmero a artista transforma cenas do cotidiano em pequenas peças carregadas de realismo, cores vibrantes e uma riqueza de detalhes que impressiona. A introdução na sua obra destes detalhes de inclinação realista se tornou sua marca registrada; nos bonecos estão inscritas marcas simbólicas de gênero, posição social, técnicas corporais, que a inspiraram a novas buscas no sentido de converter para o barro alguns retratos, como em Mamãe dando milho às galinhas. Nas linhas do rosto, a preocupação em fazer os contornos e o volume dos lábios e dos cabelos, os olhos amendoados, também muito definidos. O amor e a dedicação ao trabalho é tanto, que Marliete diz que às vezes fica sem coragem de vendê-lo. Uma vez até chorei ao vender, a moça veio buscar e eu não queria entregar. Fico me despedindo das peças antes de vender, revela.

OTO: arquivo pessoal.

Fotografia de família (detalhe), cerâmica policromada. FOTO: arquivo pessoal.

  
As peças de Marliete são muito apreciadas e procuradas, embora seja difícil de encontrá-las em lojas e galerias do ramo; ela prefere trabalhar sob encomenda. De antemão é preciso ter paciência, dependendo da peça a espera pode durar meses. Suas obras compõem importantes coleções de arte pelo Brasil. Marliete já expôs suas obras em varias cidades brasileiras e em países como França e Portugal. Em 2008 ela e sua família foram homenageadas pelo Centro de Folclore e Cultura Popular do Rio de Janeiro com uma exposição intitulada “família Zé Caboclo”. Marliete continua morando no Alto do Moura em Caruaru, lugar onde sempre viveu e trabalhou ao lado da família.

Contato com Marliete:
Rua Mestre Vitalino, 286, Alto do Moura
55040-010, Caruaru-PE
Tel: (81) 37222379

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