quarta-feira, 28 de dezembro de 2016


                                                                                                       

                      Claudeonor Santeiro

 Iniciada no século passado pelo Mestre Deoclécio Phídias, a Escola de Santeiros de Penedo,Alagoas, cuja a origem se deve provavelmente a iniciativa de frades franciscanos, residentes no Convento Nossa Senhora dos Anjos, tem se perpetuado através de quatro gerações que lhe seguiram, chegando até os nossos dias representada pelo jovem escultor Claudeonor Teixeira Higino.
Herdeiro do estilo e da técnica dos mestres que lhe precederam, Claudeonor nasceu em Neópolis, cidade sergipana situada à margem do Velho Chico, no dia 28 de agosto de 1961.
Ainda criança, com apenas um ano de idade foi transferido para Penedo, juntamente com sua mãe e irmãos, passando a residir no Bairro Vermelho. Em Penedo, na Rua Guanabara, viveu sua infância, da qual o escultor guarda as lembranças dos banhos nas águas do São Francisco, das brincadeiras infantis, e também das dificuldades enfrentadas por sua família. Aqui também iniciou seus estudos primários, no Grupo Escolar Jácome Calheiros, e mais tarde no Colégio Estadual Comendador José da Silva Peixoto, onde concluiu o 1º e 2º grau.
Sua genitora, mulher forte, que apesar das dificuldades, sempre se preocupou com a educação dos seus filhos, matriculou o jovem Claudeonor na Escola Lar de Nazaré, onde ele fez o curso profissionalizante de tipógrafo, vindo mais tarde a exercer essa profissão numa gráfica do comércio local.
Mas, desde criança Claudeonor demonstrara uma tendência natural para as artes, fabricando brinquedos de madeira e executando desenhos a mão livre, com os  quais ilustrava seus trabalhos escolares.
Foi com o objetivo de dar vazão a esse seu dom inato para a arte que ele, por iniciativa própria, procurou a escola de desenho e pintura do conhecido Mestre Antônio Pedro dos Santos, onde ingressou como aluno aos quinze anos de idade.
Sob a orientação do velho mestre, Claudeonor rapidamente dominaria a técnica do desenho, destacando-se entre os demais alunos. Mais tarde, o jovem demonstraria interesse pela escultura em madeira, arte executada com maestria pelo seu mestre. Este, observando o interesse do jovem aluno, passou a orientá-lo também na arte de esculpir. Em pouco tempo, Claudeonor se transformaria no mais fiel discípulo de Antônio Pedro, procurando assimilar toda sua técnica e estilo, permanecendo junto ao mestre durante três anos.
Em 1980, com a finalidade de aprimorar ainda mais seus conhecimentos artísticos, Claudionor viaja para Santos, cidade paulista, onde estudou desenho e pintura na renomada escola santista, Artelândia, ali permanecendo durante um ano. Retorna então a Penedo depois de visitar o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, voltando a aprender e trabalhar com o mestre Antônio Pedro.
Com a morte deste, ocorrida em 1990, Claudeonor assume a condição de representante da quinta geração da Escola Penedense de Santeiros, uma vez que o longo convício com Antônio Pedro propiciaria ao jovem discípulo, não só o domínio de todas as técnicas por ele utilizadas, mas também, o conhecimento profundo do estilo dos mestres que o antecederam, seus traços característicos, suas histórias e suas principais obras, constituindo-se desta forma no verdadeiro herdeiro das tradições da Escola Penedense.
Ao longo de sua atividade de escultor Claudeonor tem procurado manter viva essa  tradição. Com esse propósito, participou, em 1990, do Encontro de Artesões e instituições ligadas ao artesanato em Alagoas, promovido pela LBA com o apoio do Governo do estado e da OEA (Organização dos Estados Americanos) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento do Brasil, destacando-se nos debates realizados, resultando deste encontro um documento entregue as autoridades contendo sugestões para a promoção e o desenvolvimento do artesanato em Alagoas.
Amante da poesia e da literatura, formado em Letras pela Faculdade de Formação de Professores de Penedo, foi um dos idealizadores da primeira coletânea do poema penedense, tendo contribuído ativamente para a sua concretização.
Recentemente sua obra serviu como objeto de estudo para o historiador Ernani Méro, que dedicou um capítulo do seu livro “Os Caminhos da Escultura Sacra” a análise da produção do jovem escultor, que segundo ele: “É, inegavelmente, o mais autêntico discípulo do Mestre de quem aprendeu os segredos de esculpir”.
Claudeonor Teixeira Higino, sem dúvida, já se constituí na mais recente página da história da arte e da cultura penedense, merecendo, portanto, o registro por parte de seus contemporâneos e o reconhecimento de todos os filhos de Penedo, esse velho e incessante berço da cultura alagoana.
Francisco Araújo Filho (extraído do arquivo do Círculo Operário de Penedo)
No ano de 2014, em solenidade no Teatro Deodoro em Maceió, realizada na abertura do show dos "Mestres da Cultura Popular",  o santeiro Claudeonor Higino recebeu através da Secretaria de Estado da Cultura o título de Patrimônio Vivo, em reconhecimento aos seus méritos e contribuição à Cultura Popular e Artística de Alagoas. 

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