Michelle Assumpção
Jan Ribeiro

Patrimônio Vivo de Pernambuco, Claudionor Germano celebra setenta anos de carreira.
Claudionor Germano da Hora nasceu no Recife, no dia 10 de agosto de 1932. Nunca soube o porquê, mas seu aniversário sempre foi comemorado no dia 19 de abril. Não é uma informação que lhe interesse muito hoje, aos 84 anos, reconhecido Patrimônio Vivo de Pernambuco. São mais as memórias de quase setenta anos de atividade musical que ocupam sua narrativa, e seguem lhe dando o suporte para sempre mais um Carnaval. Mesmo tendo anunciado, há alguns anos que, “esse ano é o último”, Claudionor sente-se tão vivo e animado, que basta chegar mais uma época de folia de Momo que os convites já começam a aparecer e ele, pensando em dar conta. Atualmente também acalenta outras vontades, uma delas, que vai sendo estimulada pelas filhas, é gravar um disco com serestas e músicas românticas. “Quando comecei minha carreira na Rádio Jornal do Commercio era assim, então está nos planos gravar as serestas e ainda pretendo fazer”, conta Claudionor.
Irmão de Abelardo da Hora e do temido professor Bianor da Hora, Claudionor dividia a fama dentro de casa. Nas ruas, era o afamado cantor, mas não raro era abordado por desconhecidos: “Não é você o irmão do professor Bianor?”. Mas no Carnaval não tinha pra nenhum irmão. Eram seu nome e sua voz que ecoavam nas rádios e nos bailes da cidade. “O jornalista José Teles me disse que eu fui o único artista a comparecer às cinquenta e duas edições do Baile Municipal do Recife”, diz Claudionor, que até ano passado esteve na programação do tradicional festa de carnaval do estado. Este ano, o Baile comemora sua 57ª edição.

Claudionor Germano contabiliza 52 Bailes Municipais e 553 músicas gravadas.
Sua trajetória começa na Rádio Clube de Pernambuco, em 1947, depois segue para a Rádio Tamandaré e, por último, Rádio Jornal do Commercio. Dirigido pelo lendário maestro Guerra Peixe, tornou-se cantor da orquestra de Nelson Ferreira e, a partir de 1954, passou a integrar o elenco da Fábrica de discos Rozemblit. Sob o selo Mocambo, desta gravadora, passou a gravar, a partir de 1959, os frevos de Capiba. Foi Capiba quem o procurou dizendo que queria que ele gravasse seus frevos. Segundo o intérprete, Nelson Ferreira, “que era ciumento”, veio logo em seguida, pegando-o pelo braço e cobrando que ele gravasse seus frevos também.
Foi assim que foi gravado, em 1959 para o carnaval de 1960, o disco Capiba, 25 anos de Frevo; e o de Nelson Ferreira, O que eu Fiz e você gostou, com clássicos de frevos canções e marchas que até hoje estão na boca do povo. No ano seguinte, Nelson compôs e Claudionor gravou mais um álbum: O que faltou e você pediu. De Capiba, gravou Carnaval com C de Capiba. E não deixou de brincar com o famoso e conceituado compositor: Carnaval é com C, de Capiba e Claudionor.
Sua fama já era grande e o reconhecimento não faltou. Por seis anos, na década de 60, recebeu o prêmio de Melhor Cantor das rádios de Pernambuco. “Só reconheço os dois hexas, o meu de melhor cantor e do Clube Náutico do Recife”, brinca Claudionor, que apesar da torcida pelo time do timbu, gravou hino pros outros dois maiores times de Pernambuco: Santa Cruz e Sport. Sem falar nas músicas que também eternizou para o Asa de Arapiraca, o CRB de Alagoas, e o ABC de Natal.
Foi Capiba quem forneceu o maior número de composições que Claudionor já gravou. Foram 132 músicas somente deste compositor, num total de 553. O levantamento foi feito pelo amigo e pesquisador Antônio Batista, que mergulhou na trajetória fonográfica de Claudionor. “Ele me deu a relação com os títulos e assinou embaixo. Ele achou que eu não estava acreditando muito e desafiou, ‘pode ir lá na minha casa que eu te mostro’. Foi assim que o frevo me abraçou”, conta Claudionor, que com a popularidade de ser um rei do frevo, já foi representar o ritmo no Japão, Estados Unidos, Cuba e Argentina.
Jan Ribeiro

Ativo e atento ao cenário cultural, Claudionor tem novos projetos em mente
Sobre a amplitude da fama de Claudionor, o crítico musical e historiador José Ramos Tinhorão reconheceu e publicou:
“Embora tenha começado pelas canções de Vicente Celestino, embora não podendo deixar de sofrer, já rapaz, a influência fulminante do seresteiro carioca Orlando Silva… embora pagando o preço da moda, ao iniciar a carreira profissional na Rádio Club de Pernambuco em 1949 como crooner do conjunto Ases do Ritmo, foi como cantor de música tipicamente pernambucana que o estilo de Claudionor Germano se firmou. A ponto de, já em 1967, poder surgir diante dos milhares de brasileiros de todas as regiões que se acotovelavam no Estádio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, durante o II Festival Internacional da Canção, como a úmprestar o indispensável toque à vigorosa canção de Capiba, ‘São os do Norte que vêm’. Atualmente tão identificado com a música de sua região que pode ser considerado o cantor oficial do Recife… Claudionor Germano consegue, no entanto, um privilégio de que poucos artistas podem se orgulhar: sem sair de sua terra pode ser ouvido como uma autêntica voz nacional.”