quarta-feira, 2 de agosto de 2017


  •   CARIRI CEARENSE É BERÇO DE CULTURA E RELIGIOSIDADE
  • O Cariri é o caldeirão cultural do Ceará. A festa de Santo Antônio, padroeiro de Barbalha, é um exemplo dessa mistura de raças, ritos e danças que expressam a fé, a alegria e sincretismo religioso do povo sertanejo. A cidade se transforma num imenso palco a céu aberto onde, cerca de 50 grupos folclóricos fazem suas apresentações. Essa efervescência cultural está na miscigenação de raças que construíram a grande nação Cariri.

  • Arrastados pela fé no Padre Cícero, os romeiros fizeram do Cariri o sacrário de seus costumes e tradições. Os adventícios que aqui chegaram na caravana das crenças religiosas encontraram uma região fértil em tradições populares, herdadas dos índios Cariris e fortalecidas pelos colonizadores europeus. Estas manifestações estão, portanto, enraizados no dia-a-dia destes homens sofridos que encontram na fé o sentido de vida e nas festas populares o regozijo das dificuldades cotidianas.


  • A festa popular rural constitui uma das poucas ocasiões em que o povo pode fazer a experiência de pertencer a uma história semelhante e de ter um destino comum que é garantido pela intercessão dos santos padroeiros, com a proteção dos quais, o pobre espera atravessar mais tranqüilamente as dificuldades. Na fé todos se nivelam. Não existe distinção de classe e cor. É como um grito de gol que explode do peito de todos os torcedores identificados pela mesma emoção. A festa popular adia a ansiedade pelo trabalho para a sobrevivência, suspende o interesse imediato nas relações humanas, interrompe o domínio do valor de troca, proporcionando a experiência do valor de uso, do prazer ao trabalhar e ao ter responsabilidade.


  • Neste sentido, a festa contribui para que se mantenha vivo na consciência popular, o desejo de uma diversidade, de um outro estilo de vida. Quando a igreja se fecha em torno de sua liturgia, ou quando a sociedade começa a elitizar as festas, o sertanejo abre o seu próprio espaço, buscando em suas raízes culturais uma forma de promover suas alegrias individuais. Cultura popular e religião caminham juntas neste vale de lágrimas, alegrias e crenças. O reisado e lapinha estão incorporados às comemorações do nascimento de Jesus, enquanto a festa dos caretas e malhação do Judas, realizadas na Semana Santa, na liturgia popular, fazem parte de sua morte.


  • A festa de Santo Antônio abre a programação junina que tem prosseguimento com as festas de São João e São Pedro, sempre acompanhas de folguedos, crendices e superstições. No Cariri, estes costumes de origem ibérica se espalharam nos sítios e fazendas e nas periferias das cidades. “É a festa do povo simples, que não tem acesso aos clubes sociais e que atualmente está desarticulado pela nova sistemática de bandas sofisticadas”, analisa o sociólogo Plácido Cidade Nuvens, professor da Universidade Regional do Cariri (Urca).


  • Comemoradas no Brasil desde o Século XVI e trazidas pelos portugueses, as festas juninas sofreram adaptações, com costumes novos agregados aos antigos. Mesclando ritos pagãos e cristãos, têm um importante papel no calendário folclórico, apresentando características diversas, de acordo com cada região do País. Atualmente, em quase todo o Brasil, as festividades juninas tomaram caracter festivo – social, desligada do seu sentido de religiosidade e passaram a ser um acontecimento em que o ridículo e a fantasia representam o ponto alto das modas ou novidades citadinas. No Cariri, a tradição é mantida graças a folcloristas como Elói Teles de Morais, J. de Figueiredo Filho e Pedro Teles, dentre outros que, em vida, romperam com os preconceitos e resgataram valores que estavam sendo enterrados pelo progresso.

  • Antônio Vicelmo/ Crato-CE.

Nenhum comentário:

Postar um comentário