Maurino Araújo é um caso único da arte brasileira. Considerado por muitos como um expressionista barroco, é um artista emocionalmente contemporâneo dos mestres escultores mineiros do século XVIII.
Maunino nasceu na cidade mineira de Rio Casca no dia 28 de maio de 1943, como membro de uma família que, segundo ele, fazia de tudo: “Nós plantávamos, fazíamos nossas casas, nossos utensílios e tudo o mais necessário”, diz. Autodidata, foi operário, servente de pedreiro, ajudante de balcão e contador em obras. Sob a influência de seus avós, que eram ceramistas, Maurino começou a trabalhar com o barro. Ainda criança, mudou-se para o Paraná. Distante do barro começou a desenhar; na escola que freqüentou no Paraná a professora mandava-o desenhar no quadro-negro, fascinada com o talento precoce do aluno.
Nos anos 60 o artista descobriu a madeira e logo foi influenciado pelo estilo barroco; no barro não encontrava a firmeza que buscava. Maurino estudou durante seis anos em um seminário franciscano em São João del-Rei-MG e foi ali que conheceu as obras do Aleijadinho. Encantado pela obra do mestre passou a estudá-las minuciosamente. Das expressões ao corte da madeira, nada escapou da sua visão. A impressão foi tanta que ficou gravada em sua mente durante todos esses anos, deixando em suas obras leves resquícios dessa poderosa influência. Em 1965 Maurino se transfere para a capital Belo Horizonte.
Maurino em Belo Horizonte. Reproduçao fotográfica Portal Uai.
Somente em 1970 Maurino passou a se dedicar exclusivamente à sua arte. Como muitos outros artistas brasileiros, começou mostrando suas obras em uma feira de artesanato na belíssima Praça da Liberdade em Belo Horizonte. Gradativamente foi ganhando notoriedade entre os críticos e apreciadores de arte popular. Sem preocupações com estilos ou classificações acadêmicas seu trabalho começa a “ganhar” o Brasil e o mundo. No final da década de 70 sua obra dá uma reviravolta ao conhecer a África. “... ali parece que algo dentro de mim acorda, se rompe e começo a me entender melhor...”, diz o artista. Hoje é fácil saber o que esse “acordar” fez com a obra de Maurino, basta ver seus trabalhos, neles, a África se expressa em cada corte da madeira.
Maurino Araújo, Cabeça de Rei, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Galeria Errol Flynn, Belo Horizonte-MG.
Maurino Araújo, Cabeça de Rei, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Galeria Errol Flynn, Belo Horizonte-MG.
Maurino Araújo, Cabeça de guerreiro, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Galeria Errol Flynn, Belo Horizonte-MG.
Sob a influência do tempo em que passou no seminário, a obra de Maurino é formada em sua maioria por esculturas sacras. Com o desencanto que se apoderou dele, Maurino deixou o seminário e passou a se dedicar somente à sua arte. O tema sacro, segundo ele, não foi escolha, mas imposição do próprio espírito. De enormes blocos de madeira Maurino fazia surgir Santanas, Franciscanos, Cristos e Madonas, esculpidos e encarnados com um processo criado pelo próprio artista: cêra, cola branca, tinta xadrez e até querosene para acentuar o envelhecimento das peças. As cores são escuras e sombrias. Maurino até hoje trabalha preferencialmente com o cedro, utilizando-se do formão e da grosa para retirar da madeira pesados blocos esculturais. Começando como distração, a escultura tornou-se gradativamente a expressão do seu íntimo e uma necessidade do seu espírito. É possível notar em sua obra uma intensa expressão de sofrimento. O corte rápido e preciso confere um tom dramático, aos agrupamentos de figuras. "Não nego que o sofrimento estampado na face dos meus santos seja o sofrimento da própria humanidade. Nas classes humildes, as pessoas são mais próximas, sentem e sofrem juntas uma dor que se torna comum", diz o artista.
Maurino Araújo, Agonia de Sao Francisco, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Casa das Artes Galeria, Sao Paulo-SP.
Maurino Araújo, N.S. da Coenceiçao, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Sorai Carls/ Evandro Carneiro Leiloes.
Maurino Araújo, N.S. da Coenceiçao, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Sorai Carls/ Evandro Carneiro Leiloes.
Maurino Araújo, Santana, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Galeria Errol Flynn, Belo Horizonte-MG.
Maurino Araújo, Santa, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Fundaçao Cultural Palmares, Brasília-DF.
Ao longo destes anos, Maurino expôs seus trabalhos em inúmeras exposições individuais e coletivas pelo mundo e recebeu vários prêmios como: Prêmio Legião Brasileira de Assistência; Destaque nas Artes, promoção Diário Associados (1976); Melhor do Ano, no setor de artes, promoção Diário Associados (1981). Participou da XV BISP (1979); V SAP de BH (1982); I Salão de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, Palácio das Artes, BH (1984).
Maurino Araújo, Nossa Senhora Auxiliadora, madeira policromada. Reprodução fotográfica Palacio dos Leilões, Belo Horizonte, MG.
Maurino tem suas obras em vários museus e coleções particulares pelo mundo. Suas peças são muito valorizadas no mercado da arte, as quais podem ser adquiridas em diversas galerias brasileiras ou diretamente com o artista.
Contato com Maurino:
Rua Joana Angélica, 931, Bairro 1º de Maio
31810-390, Belo Horizonte-MG
Tel: (31) 3437-7627
Referências Bibliográficas:
- Bahia JA & Arantes MC. Maurino Araújo: expressionista barroco.
- Lima, Beth & Lima, Valfrido. Em Nome do Autor. Proposta Editorial, São Paulo-SP, 2008.
Maurino Araújo, A Carola, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Rugendas Galeria de Artes, Belo Horizonte-MG.
Maurino Araújo, O mercador, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Rugendas Galeria de Artes, Belo Horizonte-MG.
Maurino Araújo, Cabeça, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Palácio dos Leiloes, Belo Horizonte-MG.
Maurino Araújo, título desconhecido, madeira policromada. Acervo Museu AfroBrasil. Reproduçao fotográfica Flickr ARTEXPLORER.
Maurino Araújo, Família, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Aguinaldo Art Gallery, Belo Horizonte-MG.
Maurino Araújo, título desconhecido, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Lordello e Giobbi Leiloes.
Maurino Araújo, Cristo e seus traidores, madeira policromada. Reprodução fotográfica Palacio dos Leilões, Belo Horizonte, MG.
Maurino Araújo, título desconhecido, madeira policromada. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.
Maurino Araújo, Figura, madeira policromada. Reprodução fotográfica Palacio dos Leilões, Belo Horizonte, MG.
Maurino Araújo, Santana, madeira policromada. Reprodução fotográfica Bolsa de Arte Leilões.
Maurino Araújo, título desconhecido, madeira policromada. Reprodução fotográfica Palacio dos Leilões, Belo Horizonte, MG.
Maurino Araújo, título desconhecido, madeira policromada. Reproduçao fotográfica Lordello e Giobbi Leiloes.
Maurino Araújo, Cristo e seus traidores, madeira policromada. Reprodução fotográfica Palacio dos Leilões, Belo Horizonte, MG.
Maurino Araújo, título desconhecido, madeira policromada. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.
Maurino Araújo, Figura, madeira policromada. Reprodução fotográfica Palacio dos Leilões, Belo Horizonte, MG.
Maurino Araújo, Santana, madeira policromada. Reprodução fotográfica Bolsa de Arte Leilões.
Maurino Araújo, título desconhecido, madeira policromada. Reprodução fotográfica Palacio dos Leilões, Belo Horizonte, MG.
Maurino Araújo, Cristo crucificado, madeira policromada. Reprodução fotográfica Palacio dos Leilões, Belo Horizonte, MG.
Maurino Araújo, O escriba, madeira policromada. FOTO: autoria desconhecida.
Maurino Araújo, título desconhecido, madeira policromada.
Maurino Araújo, título desconhecido, madeira policromada.
Maurino Araújo, O escriba, madeira policromada. FOTO: autoria desconhecida.
Maurino Araújo, título desconhecido, madeira policromada.
Maurino Araújo, título desconhecido, madeira policromada.
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