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Ariano Suassuna
Ariano Vilar Suassuna nasceu no dia 16 de junho em 1927 na cidade da Paraíba, hoje João Pessoa, na época em que seu pai, João Suassuna, era presidente do Estado da Paraíba. Quando seu pai deixou o cargo, a família se mudou para o sertão do Estado; ali Ariano passou grande parte da sua infância, entre os municípios de Sousa e de Taperoá. Em 1943, Ariano e sua família mudaram-se para o Recife, cidade em que viveu até sua morte em 2014. Ariano foi casado com D. Zélia de Andrade Lima, com quem teve seis filhos. Apesar de ser mais conhecido como romancista, dramaturgo e poeta, Ariano Suassuna também foi um grande artista plástico, e é sobre esta faceta do grande mestre que dedicaremos esta publicação.
Ariano Suassuna. FOTO: Leonardo Aversa.
Ariano Suassuna foi sempre um grande defensor e difusor da cultura popular brasileira. Juntamente com um grupo de artistas e escritores, fundou em 1970 em Recife o Movimento Armorial, que tinha como objetivos a construção e a valorização de uma arte erudita essencialmente brasileira, a partir de elementos da cultura popular nordestina. [...] A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos "folhetos" do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus "cantares", e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados [...], escreveu Ariano em 1975. Segundo o mestre, o termo armorial se referia “a um conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras de um povo, a heráldica é uma arte muito mais popular do que qualquer coisa”. Assim sendo, o Movimento Armorial significava o desejo de ligação com essas heráldicas raízes culturais brasileiras. O Movimento valorizava a pintura, a música, a literatura, a cerâmica, a dança, a escultura, o teatro, a gravura, o cinema, dentre outros. Neste contexto, o Mestre Ariano contribuiu, não somente como um idealizador do movimento e incentivador destas manifestações artísticas, mais também como um destes artistas, sobretudo na literatura, na gravura, na pintura e no teatro.
Ariano e sua esposa D. Zélia. Reprodução fotográfica autoria desconhecida.
A arte plástica de Ariano foi iniciada juntamente com a sua literatura. O mestre costumava ilustrar as páginas de seus manuscritos com motivos florais, figuras fantásticas, dentre outros, que cobriam as margens do papel numa espécie de moldura para o texto. Nos romances A pedra do reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-volta, decidiu ilustrar ele mesmo os livros. Ao contrário das gravuras tradicionais, as dos seus romances têm papel estrutural na história e normalmente são assinadas por um dos personagens. Mais trade, com o Movimento Armorial, Ariano combinou a iluminura (Técnica praticada na Idade Média, que consistia em uma pintura decorativa aplicada às letras capitulares dos códices de pergaminho medievais) com a gravura, criando assim a iluminogravura, uma espécie de “poesia visual”. Imagens de cavaleiros, animais, brasões, armas, bandeiras, cruzes se misturava à poesia do Mestre e de outros grandes poetas brasileiros, a exemplo de Augusto dos Anjos.
Ariano Suassuna, ilustração do romance A pedra do reino.
Ariano Suassuna, ilustração do romance A pedra do reino.
Na confecção das iluminogravuras, Ariano primeiro produzia uma matriz com suas ilustrações combinadas com poemas manuscritos, feitos em nanquim sobre papel. A partir daí fazia cópias em uma gráfica, através do processo offset e, manualmente coloria os desenhos com tinta guache, óleo e/ou aquarela. O texto era escrito com letras que lembravam as marcas de gado feitas com ferro quente. Baseado nestas marcas, Ariano desenvolveu um trabalho tipográfico ligado à sua heráldica sertaneja: o Alfabeto Armorial.
Tipografia armorial
Ariano Suassuna, A Acauham. A Malhada da Onça, guache sobre impressão offset.
Ariano Suassuna, O mundo do sertão, guache sobre offset.
Ariano Suassuna, A estrada, guache sobre impressão offset.
As iluminogravuras de Ariano eram criações inspiradas na arte popular e rupestre do Brasil. As figuras, humanas ou não, lembram a xilogravura de Gilvan Samico e J. Borges. O sertão sempre presente, é retratado com um lugar sagrado e místico, com seus cavaleiros, profetas, bandeiras e brasões, destacando sua beleza, mas sem negar as suas mazelas. Sobre essa sua faceta de artista plástico, Ariano era muito modesto. Dizia que era um escritor que ilustrava livros. Apesar das ilustrações e iluminogravuras serem mais conhecidas dentro da obra do artista plástico Ariano Suassuna, ele também pintou alguns quadros em tela.
Capa de uma série de iluminogravuras de Ariano Suassuna.
Ariano Suassuna, Lápide, guache sobre impressão offset.
Ariano Suassuna, O reino da Acauhan, guache sobre impressão offset.
Ariano era formado em Direito, pela Faculdade de Direito do Recife, hoje Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Na UFPE foi professor durante 31 anos, atuando nos Departamentos de História e de Teoria da Arte e Expressão Artística, onde ministrava disciplinas como Estética, Literatura brasileira e Teoria do Teatro. Ocupou ainda o cargo de secretário de cultura do estado de Pernambuco durante os governos de Miguel Arraes e de Eduardo Campos. Era membro da Academia Brasileira de Letras.
[...] Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa. (Ariano Suassuna, 1927-2014).
Ariano Suassuna, título desconhecido.
Ariano Suassuna, O sono e o mito, guache sobre impressão offset.
Ariano Suassuna, Infância, guache sobre impressão offset.
Ariano Suassuna, O sol de Deus, guache sobre impressão offset.
Ariano Suassuna, O campo, guache sobre impressão offset.
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