quarta-feira, 4 de agosto de 2021

CURTA PERNAMBUCANO É SELECIONADO PARA PROGRAMAÇÃO ESPECIAL DO FESTIVAL DO RIO

No ano passado, uma série de festivais e mostras de cinema ficaram impossibilitados de acontecer devido a falta de investimentos e também devido às restrições para o enfrentamento à pandemia. Foi o caso do Festival do Rio, um dos maiores da América Latina, que teve sua edição de 2020 adiada e, só agora, em agosto, será realizada. Da mesma forma que o coronavírus afetou os festivais, os curtas-metragens que estrearam no final de 2019, como é o caso de “Rosário”, ficaram impossibilitados de circular e chegar ao público. Com estreia em novembro 2019, no Panorama Internacional Coisa de Cinema, em Salvador, e com passagens no Janela Internacional de Cinema do Recife, Mostra de Cinema de Tiradentes e festivais internacionais como o Cine Por Los Derechos (Colômbia) e Porto Femme (Portugal), Rosário, curta metragem pernambucano dos diretores Igor Travassos e Juliana Soares, foi selecionado para integrar a programação especial da Premiere Brasil – principal mostra do Festival do Rio – que acontecerá de 5 a 11 de agosto somente no Estação Net Botafogo. Devido aos protocolos sanitários vigentes, o número de ingressos disponíveis será limitado e entregues na bilheteria, sempre no mesmo dia da sessão. As sessões online dos longa-metragens entram em cartaz no InnSaei.tv no dia seguinte à sessão presencial e ficam disponíveis por, no máximo, 48h, dentro do limite de exibições de cada filme. As sessões online dos curtas estreiam no mesmo dia da sessão presencial no Estação Net Botafogo, e também ficarão disponíveis por 48h. O filme, que foi gravado na feira de Casa Amarela e no Morro da Conceição, conta a história de uma feirante que tem o hábito de ouvir os programas policiais e rezar pelas vítimas e suspeitos envolvidos nos crimes da madrugada. No elenco, o curta traz nomes como Laís Vieira, Okado do Canal, Clebia Sousa e Mohana Uchôa. Com elenco e equipe majoritariamente composta por pessoas negras, a produção teve como objetivo democratizar as oportunidades no set, contrariando os modelos tradicionais de equipe empregados no cinema pernambucano. O filme também conta com recursos de acessibilidade comunicacional (audiodescrição, libras e legenda para surdos e ensurdecidos), permitindo que pessoas com deficiência possam acessar o conteúdo. Serviço “Rosário” (2019), dir. Igor Travassos e Juliana Soares Festival do Rio De 5 a 11 de agosto, no Espaço NET Botafogo e na plataforma on-line do Festival.

SEMANA DA CULTURA NORDESTINA

terça-feira, 3 de agosto de 2021

CINECLUBE LAMPIÃO RETORNA ATIVIDADES EM SERRA TALHADA

Laísa Magalhães/DivulgaçãoLaísa Magalhães/Divulgação A retomada está sendo feita a partir dos protocolos estabelecidos pelas autoridades sanitárias Depois de passar mais de um ano com as portas fechadas devido às restrições impostas pela pandemia da Covid-19, a Fundação Cabras de Lampião retorna às atividades e reinicia a programação do projeto Cineclube Lampião, na próxima quarta-feira (4), seguindo os protocolos recomendados. Os fãs da sétima arte vão poder conferir, com entrada gratuita, a exibição dos filmes “Papo Amarelo – O Primeiro Tiro”, com direção de Anildomá Willans de Souza, e “Demo”, com direção de Mannoel Lima, no Museu do Cangaço. Em agosto, as sessões vão ocorrer entre os dias 4 e 27 de agosto, sempre a partir das 15h. A inciativa conta com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura. O Cineclube Lampião visa propagar a prática cineclubista, favorecendo não apenas a difusão do cinema e das produções regionais, como também promover a cultura como instrumento de cidadania e de inclusão social. Além disso, procura valorizar mestres e ícones históricos, a exemplo de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião. Para a presidente da Fundação Cabras de Lampião, Cleonice Maria, o Cineclube Lampião é mais um instrumento de resgate, preservação e promoção da memória do povo sertanejo. “O Cineclube Lampião vem para fortalecer a identidade cultural e enraizar ainda mais a história de luta e resistência desse povo”, explicou ela. O Cineclube Lampião exibe produções pernambucanas, destacando o protagonismo que o cinema do estado tem exercido com as suas produções no cenário internacional, e aproximando ainda mais as produções populares aos cidadãos. A programação conta com obras pernambucanas de curta, média e longa metragem, nos gêneros documentários, ficção e animação. A programação completa e as atualizações podem ser acompanhadas através do site: www.cabrasdelampiao.com.br. SESSÕES ITINERANTES - Além da programação realizada no Museu do Cangaço, nesta fase de retomada de suas atividades, o Cineclube Lampião realizará ainda sessões itinerantes a partir do mês de setembro, percorrendo distritos e comunidades da zona rural do município de Serra Talhada. Na programação, destaque para os filmes Arquiteturas da Memória, de Fernando Kerhle; A Flor da Pele, de Mannoel Lima e Lampião e o Fogo da Serra Grande, de Anildomá Willans de Souza. Este último, vencedor do Troféu Fernando Spencer na categoria Melhor Produção, na 19ª edição do Festival de Curtas de Pernambuco – FestCine 2017. Confira a programação: :: CINECLUBE LAMPIÃO :: 4/8 – 15h PAPO AMARELO – O PRIMEIRO TIRO Ano: 2015 Origem: Pernambuco Direção: Anildomá Willans de Souza Elenco: Karl Marx, Gildo Alves, Ricky Lacerda, Carlos Silva DEMO Ano: 2021 Origem: Pernambuco Direção: Mannoel Lima Elenco: Maneco 6/8 – 15h ARQUITETURAS DA MEMÓRIA Ano: 2021 Origem: Pernambuco Direção: Fernando Kehrle 11/8 – 15h LAMPIÃO E O FOGO DA SERRA GRANDE Ano: 2017 Origem: Pernambuco Direção: Anildomá Willans de Souza Elenco: Karl Marx, Modesto Lopes de Barros, Luiz Carlos Araújo, Sebastião Costa 13/8 – 15h P.S. Ano: 2021 Origem: Pernambuco Direção: Hícaro Nogueira Elenco: Hícaro Nogueira, Carlos Silva, Weslley Lima, Dorothéa Nogueira 18/8 – 15h LAMPIÃO E A CADEIA DE VILA BELA Ano: 2021 Origem: Pernambuco Direção: Anildomá Willans de Souza Elenco: Karl Marx, Edilson Leite, Diego Adones, Ricky Lacerda 20/8 – 15h À FLOR DA PELE Ano: 2021 Origem: Pernambuco Direção: Mannoel Lima Elenco: Leandra Nunes, Cleyson Xavier, George Andrade, Tiago Gomes 25/8 – 15h O MASSACRE DE ANGICO – A MORTE DE LAMPIÃO Ano: 2021 Origem: Pernambuco Direção: Izaltino Caetano Elenco: Karl Marx, Roberta Aureliano, Gildo Alves, Sandino Lamarca 27/8 – 15h MEMÓRIAS DO SERTÃO Ano: 2021 Origem: Pernambuco Direção: Anildomá Willans de Souza Elenco: Karl Marx, Laísa Magalhães

MESTRE RICARDO PESSOA INAUGURA NOVA EXPOSIÇÃO NO ADUPÊ CAFÉ E ARTE, EM OLINDA

O mestre Ricardo Pessoa inaugurou, neste domingo, 1º de agosto, a sua mais nova exposição “Ori Dudu”, no Adupé Café e Arte (Rua São Bento, 233, Varadouro – Olinda/PE). O acesso é gratuito e a mostra ficará em cartaz durante todo o mês de agosto. Natural da cidade de Pombos (PE), o artista reside em Caruaru, onde desenvolve seu trabalho de xilogravurista e arte-educador. Suas obras são marcadas pelo registro e valorização da cultura popular regional e da simbologia dos orixás nas expressões religiosas de matriz africana.

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

QUINTAL DA DANÇA LEVA RITMOS POPULARES AO MUSEU DO CANGAÇO

Quintal da Dança leva ritmos populares ao Museu do Cangaço Toda terça-feira do mês de agosto vai ser de dança no palco externo do Museu do Cangaço em Serra Talhada (PE). Projeto Quintal da Dança realiza programação com entrada gratuita Postado em: Artes Cênicas | Cultura popular e artesanato | Funcultura 30/07/2021 O mês de agosto vai ser de corpo, ritmo e movimento. Danças populares, danças afro e danças tradicionais do Sertão do Pajeú estão na programação do projeto Quintal da Dança da Fundação Cultural Cabras de Lampião. As apresentações vão ser realizadas todas as terças-feiras do mês, sempre a partir das 19h, no palco externo do Museu do Cangaço em Serra Talhada (PE), com entrada gratuita. Vai ter xaxado, toré e capoeira na programação que também será transmitida ao vivo, pelo Youtube, no Canal Cabras de Lampião. A iniciativa conta com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura. A proposta é valorizar e divulgar os espetáculos de dança produzidos nas cidades do interior de Pernambuco. Nos dias 3, 10, 17, 24 e 31 de agosto, serão exibidos 10 espetáculos, oriundos das cidades de Iguaraci, Afogados da Ingazeira, Tabira e Serra Talhada. MUSEU - O Museu do Cangaço de Serra Talhada, tanto pelo seu acervo museal, quanto pelos eventos realizados no seu palco externo, tem proporcionado nova vitalidade à cena cultural da região, fortalecendo as atividades que tem como foco à construção da memória social do povo sertanejo e as práticas museais, tendo como ponto de partida a história de Lampião e do Cangaço. Após um longo período com suas atividades paralisadas em virtude da pandemia do novo coronavírus, o espaço cultural vem retomando gradualmente suas atividades e programações. PROGRAMAÇÃO DIA 3/8/2021, 19h Grupo de Xaxado Gilvan Santos Direção: Gorete Lima Cidade: Serra Talhada/PE Cia de Danças Filhos do Sol Direção: Rodrigo Faustino Cidade: Iguaraci/PE DIA 10/8/2021, 19h Grupo de Xaxado Zabelê Direção: Branca Sousa Cidade: Serra Talhada/PE Balé Cultural de Afogados Direção: Kessio Berardinelly Cidade: Afogados da Ingazeira/PE DIA 17/8/2021, 19h Grupo Resistência das Ruas Direção: Tiago Gomes Cidade: Serra Talhada/PE Grupo Cultural Andarilhos Direção: Mateus Lopes e Everton José de Sousa Cidade: Tabira/PE DIA 24/8/2021, 19h Grupo de Danças Mulher Rendeira Direção: Diego Adones Cidade: Serra Talhada/PE Grupo de Xaxado Cabras de Lampião Direção: Cleonice Maria Cidade: Serra Talhada/PE DIA 31/8/2021, 19h Dança Toré da Jurema Encantada Comunidade Quilombola do Catolé Cidade: Serra Talhada/PE Grupo de Capoeira Muzenza Coordenação: Mestre Suco Cidade: Serra Talhada/PE

domingo, 1 de agosto de 2021

RAÍZES CABOCLA

Uma Aldeia Amazônica Comungando um Planeta Por Ivan Matos, em 14 de março de 2021. Eram os anos 1980. O Brasil emergia de um estado obscuro e os movimentos artísticos careciam resistirem-se de renovação. Dessa leva, da margem esquerda do Rio Solimões, na cidade de Benjamin Constant, no sudoeste amazonense, surge o Grupo Raízes Caboclas, parido pelo professor Celdo Braga e completado em gestação por mais três jovens, seus estudantes à época, em sua formação inicial: Júlio Lira, Osmar Oliveira e Kafuringa (Raimundo Angulo), que perdurou em estado de gravidez absoluta por quase 30 anos.
Sua gestação aconteceu em um momento brasileiro de profunda transformação social e política, onde o sêmen ovava dos temas ambientais e ganhava o volume de gravidez no final da década de 1980, partindo do princípio (de Leon Tolstói) de que “se quiseres ser universal, deves, pois, começar por cantar a própria Aldeia”. É exatamente como canta o cântico amazônico e universal de Celdo Braga em
COMUNHÃO DA TERRA É tempo ainda de amar sem fronteiras,do amor ser a bandeira de união do mundo inteiro. Ainda creio que essas flores separadas serão flores perfumadas em um só canteiro.É tempo ainda de ver que a esperança não é só uma dança de fumaça pelo ar. Ainda sonho que o sol da nova era, coroando a grande espera, seja a luz de um novo olhar. Eu canto forte essa canção que encerra a comunhão da terra pela soma dos quintais, mas pergunto ao Criador que fez a gente, por que assim tão diferentes para sermos iguais? (in Raizes Caboclas – Missa Amazônica, faixa 12). O mundo despontava para momentos Ecos, a 92 aconteceria no Rio de Janeiro, e muitos artistas amazônicos fizeram ecoar os sons da floresta, chamando atenção para a nobreza de conservá-la, alertados de uma preocupação simbólica com o desmatamento, o tráfico, a exploração indiscriminada da fauna e da flora e a preservação do caboclo, do índio, dos ribeirinhos e de suas formas extrativistas (e sustentáveis) de viver e conservar.
O tema permanece e continua atual! A importância do canto, do ato e da arte amazônicos significava um despertar para as belezas do lugar e para o simbolismo de despontar no momento ecológico que aflorava no mundo, notificando a dimensão de um lugar e de seu alcance planetário. E foi cantando essa (e nessa) aldeia, e foi rimando águas, florestas e gentes por dimensões à-f(l)ora, com seu jeito enraizado e com seu remo banzeirando os Rios Solimões e Javari, ao mesmo tempo fincados no chão da floresta, que o Grupo Raízes Caboclas, carregando no seu bojo influências ameríndias dos Alpes e dos Andes colombianos, peruanos, bolivianos, mas sem desprezar suas raízes indígenas, caboclas e ribeirinhas brasileiras, percorreu sua estrada sudoeste-amazônica, ou melhor, navegou por rios que beiravam sua aldeia de clima tropical chuvoso e úmido, perfazendo trechos, veredas e igarapés por quase 1700 Km, até chegar em outras plagas e alcançar longínquos rincões, com seu canto e com seu jeito peculiar, para fazer-se compreender sua linguagem e sua performance e para comungar a Terra e o clima quente de outros lugares, com outros seres planetários e universais, carregado dos seus labores e de suas forma de expressão.
Eis o Raízes Caboclas, com o som dos seus 12 álbuns autorais encantantes dessa região tão rica, tão singular e tão universal, historicamente.

sábado, 31 de julho de 2021

MOSTRA CURTA VIDEO COM VERBA CURTA NO CINETEARO DAS ÁGUAS, EM PETROLINA

O Cineteatro CEU das Águas, no bairro Rio Corrente, em Petrolina, sedia neste sábado (31), a partir das 18h30, a Mostra Curta Vídeo com Verba Curta que exibirá filmes experimentais de curta duração. Os filmes são fruto de um edital lançado pela Confraria 27 que, com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura, selecionou propostas de artistas locais, entre amadores e profissionais. A entrada para sessão é gratuita. Promovendo um intercâmbio entre o audiovisual e outras linguagens artísticas como dança e a música, o projeto conta com seis novos filmes com formatos diversos. “A proposta da curadoria foi oportunizar os diversos segmentos da produção audiovisual, contando com videodanças, clipes, videoartes, entre outros”, explica Rafael Sisant, um dos curadores. A programação conta com as obras ‘Procura-se Madame Voodoox’, com direção de Flávius Barbosa e Madame Voodoox; ‘O Samba que toca em mim e em você’, dirigido por Chico Egídio; ‘Sem Pé Nem Cabeça’, do Coletivo Trippé; ‘Juventudes da Periferia’, com direção de Camila Rodrigues; o clipe ‘Travessia’, dirigido por Jackson Vicente para a cantora Killaeua; e ‘Bixcha Omen Cabra Macho’, de Pedro Lacerda. As sinopses estão disponíveis em: abre.ai/curtavideo. A curadoria traz relações com as temáticas de raça, etnia, sexualidade e acessibilidade. “Os artistas locais são extremamente produtivos e potentes, foi uma alegria poder contribuir para que esses trabalhos saíssem do papel, oportunizando a realização do trabalho de profissionais iniciantes, que afirmaram essa ser a primeira oportunidade de financiamento do seu projeto”, comenta o curador. A mostra tem classificação livre e é aberta para todos os públicos. A ação seguirá protocolos de segurança à saúde nessa retomada das atividades artísticas presenciais, sendo obrigatório o uso de máscaras pelo público, o distanciamento social com plateia reduzida e a higienização do espaço com álcool 70, bem como distribuição para o público utilizá-lo. Acompanhe mais detalhes nas redes sociais da Confraria 27, no perfil do Instagram @confraria_27 e no Facebook www.facebook.com/confrariadanca27.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

A CABEÇA DE LAMPIÃO

Crônica Feira de Cabeças De Aurélio Buarque de Holanda (*) A Carlos Domingos
Aurélio Buarque de Holanda IN: http://majellablog.blogspot.com.br/2010/05/mestre-aurelio-na-sua-biblioteca.html De latas de querosene mãos negras de um soldado retiram cabeças humanas. O espetáculo é de arrepiar. Mas a multidão, inquieta, sôfrega, num delírio paredes-meias com a inconsciência, procura apenas alimento à curiosidade. O indivíduo se anula. Um desejo único, um único pensamento, impulsa o bando autômato. Não há lugar para a reflexão. Naquele meio deve de haver almas sensíveis, espíritos profundamente religiosos, que a ânsia de contemplar a cena macabra leva, entretanto, a esquecer que essas cabeças de gente repousam, deformadas e fétidas, nos degraus da calçada de uma igreja. Cinco e meia da tarde. Baixa um crepúsculo temporão sobre Santana do Ipanema, e a lua crescente, acompanhada da primeira estrela, surge, como espectador das torrinhas, para testemunhar o episódio: a ruidosa agitação de massas que se comprimem, se espremem, quase se trituram, ofegando, suando, praguejando, para obter localidade cômica, próximo do palco. Desenrola-se o drama. O trágico de confunde com o grotesco. Quase nos espanta que não haja palmas. Em todo caso, a satisfação da assistência traduz-se por alguns risos mal abafados e comentários algo picantes, em face do grotesco. O trágico, porém não arranca lágrimas. Os lenços são levados ao nariz: nenhum aos olhos. A multidão agita-se, freme, sofre, goza, delira. E as cabeças vão saindo, fétidas, deformadas, das latas de querosene - as urnas funerárias -, onde o álcool e o sal as conservam, e conservam mal. Saem suspensas pelos cabelos, que, de enormes, nem sempre permitem, ao primeiro relance, distinguir bem os sexos. Lampião, Maria Bonita, Enedina, Luiz Pedro, Quinta-Feira, Cajarana, Diferente, Caixa-de-Fósforo, Elétrico, Mergulhão...
Observem à esquerda, a cabeça de Lampião ainda em cima do caminhão. Fonte: Livro " Iconografia do cangaço " Ricardo Albuquerque. Adendo Kydelmir Dantas O escritor Alcino Alves Costa no seu livro: "Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistério de Angico" cita os mortos na chacina de Angico, sendo: Lampião, Quinta-feira, Maria Bonita, Luiz Pedro, Mergulhão, Alecrim, Enedina, Moeda, Elétrico, Colchete e Macela. Segundo vários escritores afirmam que a lista dos mortos na madrugada de 28 de Julho de 1938, na Grota de Angico, no Estado de Sergipe, a mais correta é a do escritor Alcino Alves Costa.
A multidão se acotovela pra ver de perto o espetáculo bizarro Fonte: Livro "Iconografia do cangaço" Ricardo Albuquerque. - As cabeças! - Quero ver as cabeças! Há uma desnorteante espontaneidade nessas manifestações. - As cabeças. Não falam de outra coisa. Nada mais interessa. As cabeças. - Quem é Lampião? Virgulino ocupa um degrau, ao lado de Maria Bonita. Sempre juntos, os dois. - Aquela é que é Maria Bonita? Não vejo beleza... O soldado exibe as cabeças, todas, apresenta-as ao público insaciável, por vezes uma em cada mão. Incrível expressão de indiferença nessa fisionomia parada. Os heróis de tantas sinistras façanhas agora desempenham, sem protesto, o papel de S. João Batista... Sujeitos mais afastados reclamam: - Suspende mais! Não estou vendo, não! - Tire esse chapéu, meu senhor! - grita irritada uma mulher. O homem atende. - Agora, sim. A pálpebra direita de Lampião é levantada, e o olho cego aparece, como elemento de prova. Velhos conhecidos do cangaceiro fitam-lhe na cabeça olhos arregalados, num esforço de comprovação de quem quer ver para crer. - É ele mesmo. Só acredito porque estou vendo. Houve-se de vez em quando: - Mataram Lampião... Parece mentira! Virgulino Ferreira, o rei do cangaço, o "interventor do sertão", o chefe supremo dos fora-da-lei, o cabra invencível, de corpo fechado, conhecedor de orações fortes, vitorioso em tantos reencontros, -Virgulino Ferreira, o Capitão Lampião, não pode morrer. E irrompe de várias bocas: - Parece Mentira! No entanto é Lampião que se acha ali, ao lado de Maria Bonita, junto de companheiros seus, unidos todos, numa solidariedade que ultrapassou as fronteiras da vida. É Lampião, microcéfalo, barba rala, e semblante quase doce, que parece haver se transformado para uma reconciliação póstuma com as populações que vivo flagelara. Fragmentos de ramos, caídos pelas estradas, durante a viagem, a caminhão, entre Piranhas e Santana do Ipanema, enfeitam melancolicamente os cabelos de alguns desses atores mudos. Modestas coroas mortuárias oferecidas pela natureza àqueles cuja existência decorreu quase toda em contato com os vegetais - escondendo-se nas moitas, varando caatingas, repousando à sombra dos juazeiros, matando a sede nos frutos rubros dos mandacarus. Fotógrafos - profissionais e amadores - batem chapas, apressados, do povo, e dos pedaços humanos expostos na feira horrenda. Feira que , por sinal, começou ao terminar a outra, onde havia a carne-de-sol, o requeijão de três mil-réis o quilo, com o leite revendo, a boa manteiga de quatro mil reis, as pinhas doces, abrindo-se de maduras, a dois mil-réis o cento, e as alpercatas sertanejas, de vários tipos e vários preços. Ao olho frio das codaques interessa menos a multidão viva do que os restos mortais em exposição. E, entre estes, os do casal Lampião e Maria Bonita são os mais insistentemente forçados. Sobretudo o primeiro. O espetáculo é inédito: cumpre eternizá-lo, em flagrantes expressivos. Um dos repórteres posa espetacularmente para o retratista, segurando pelas melenas desgrenhadas os restos de Lampião. Original. Um furo para "A Noite Ilustrada".
Cabeças dos cangaceiros expostas em Santana do Ipanema/AL Fonte: Livro " Lampião e as Cabeças Cortadas, pg. 204, Antonio Amaury e Luiz Ruben. Lembro-me então do comentário que ouço desde as primeiras horas deste sábado festivo: - "Agora todo o mundo quer ver Lampião, quer tirar retrato dele, quer pegar na cabeça...Agora..." Há, com efeito, indivíduos que desejam tocar, que quase cheiram a cabeça, como ansiosos de confirmação, por outros sentidos, da realidade oferecida pela vista. Desce a noite, imperceptível. A afluência é cada vez maior. Pessoas do interior do município e de vários municípios próximos, de Alagoas e Pernambuco, esperavam desde sexta-feira esses momentos de vibração. Os dois hotéis da cidade, literalmente entupidos Cheias as residências particulares - do juiz de direito, do prefeito, do promotor, de amigos dessas autoridades. Para muitos, o meio da rua. Entre a massa rumorosa e densa não consigo descobrir uma só fisionomia que se contraia de horror, boca donde saía uma expressão, ainda que vaga, de espanto. Nada. Mocinhas franzinas, romanescas, acostumadas talvez a ensopar lenços com as desgraças dos romances cor-de-rosas, assistem à cena com uma calma de cirurgião calejado no ofício. Crianças erguidas nos braços maternos espicham o pescoço buscando romper a onda de cabeças vivas e deliciar os olhos castos na contemplação das cabeças mortas. E as mães apontam: - É ali, meu filho. Está vendo? Alguns trocam impressões; - Eu pensava que ficasse nervoso. Mas é tolice. Não tem que ver uma porção de máscaras. - É isso mesmo. Os últimos foguetes estrugem nos ares. Há discursos. Falam militares, inclusive o chefe da tropa vitoriosa em Angico. Evoca-se a dura vida das caatingas, em rápidas e rudes pinceladas. O deserto. As noites ermas, escuras, que os soldados às vezes iluminam e povoam com as histórias de amor por eles sonhadas - apenas sonhadas... Os passos cautelosos, mal seguros sobre os garranchos, para evitar denunciadores estalidos, quando há perigo iminente. Marchas batidas sob o sol de estio, em meio da caatinga enfezada e resseca, e da outra vegetação, mais escassa, que não raro brota da pedra e forma ilhotas verdes no pardo reinante: o mandacaru, a coroa-de-frade, a macambira, a palma, o rabo-de-bugio, facheiro, com o seu estranho feitio de candelabro. A contínua expectativa de ataque tirando o sono, aguçando os sentidos. O sino toca a ave-maria. Dilui-se-lhe a voz no sussurro espesso da multidão curiosa, nos acentos fortes do orador, que, terminando, refere a vitória contra Lampião, irrecusavelmente comprovada pelas cabeças ali expostas. Os braços da cruz da igrejinha recortam-se, negros, na claridade tíbia do luar; e na aragem que difunde as últimas vibrações morrediças do sino vem um cheiro mais ativo da decomposição dos restos humanos. Todos vivem agora, como desde o começo do dia, para o prazer do espetáculo. As cabeças! A noite fecha-se. Em horas assim, seriam menos ferozes os pensamentos de Lampião. O seu olhar se voltaria enternecido para Maria Bonita. Que será feito dos corpos dissociados dessas cabeças? O rosto de Maria Bonita, esbranquiçado a trechos por lhe haver caído a epiderme, está sinistro. Onde andará o corpo da amada de Lampião? A cara arrepiadora, que mal entrevejo à luz pobre do crescente, não me responde nada. E Lampião? Sereno, grave, trágico. O olho cego, velado pela pálpebra, fita-me. (1938). (*) Autor do mais importante dicionário da língua portuguesa publicado no Brasil neste século. Texto do livro esgotado "O chapéu de meu pai, editora Brasília, 1974. Fonte: Diário Oficial Estado de Pernambuco Ano IX - Julho de 1995 Material cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço: Kydelmir Dantas Pescado no http://blogdomendesemendes.blogspot.com

quinta-feira, 15 de julho de 2021

CARTÕES POSTAIS DO SÉCULO XIX resgatam história dos patrimônios pernambucanos

Ganha as ruas um importante registro de postais da segunda metade do século 19 e início do século 20, que integram o acervo do Museu Histórico do Brejo da Madre de Deus. Realizado pelas curadoras Ana Maria Silva e Dora Dimenstein, o projeto “Cartões Postais do Século XIX”, que conta com os recursos da Lei Aldir Blanc em Pernambuco, registra a beleza e histórias únicas registradas nos postais, que vão além de portais de turismo e trazem reproduções impressas por grandes editoras da época como a recifense Casa Ramiro, francesas e italianas. “Coletamos registos incríveis de muita beleza e que trazem uma nova perspectiva da comunicação na forma de postais, em um catálogo virtual que integra o nosso projeto, realizado através do apoio da Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco”, destaca a pesquisadora e produtora cultural Dora Dimenstein. O material pode ser conferido no site Mirada da Janela: www.miradajanela.com. O projeto resgata moda europeia dos postais artísticos que alcançou o Brasil nesse período, preservaram acontecimentos do cotidiano como casamentos, batizados, entre outros em reproduções de fotos (tradicionais ou aquareladas artisticamente) com pinturas à mão, e outros com papel reciclado, que se transformaram em verdadeiras obras de arte da história e vida pernambucana. “O levantamento traz muitos momentos que atestam a vida cotidiana daquela sociedade, que foi compilado neste belo catálogo que desenvolvemos e publicamos em um portal para conhecimento de todo público na parceria com o portal de editoria cultural Mirada”, completa Dora. Confeccionado com imagens captadas pelo fotógrafo Genilson Araújo Almeida, em parceria com a Prefeitura do Brejo da Madre de Deus, o catálogo conta com diagramação do design Raul Kawamura, que em 2012 realizou o trabalho de exposição “RECIFE EM RETRATOS” no Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA). “O processo de trabalho foi meticuloso e o mais importante é que envolveu o apoio fundamental do Museu e da Prefeitura do Brejo da Madre de Deus para registrar pontos de vista que as novas gerações não conhecem. E o resultado é este catálogo virtual, que envolveu profissionais que abraçaram a visão desse projeto proporcionando um novo olhar para o passado para construir um novo futuro”, reforçam as idealizadoras da iniciativa. Ganha as ruas um importante registro de postais da segunda metade do século 19 e início do século 20, que integram o acervo do Museu Histórico do Brejo da Madre de Deus. Realizado pelas curadoras Ana Maria Silva e Dora Dimenstein, o projeto “Cartões Postais do Século XIX”, que conta com os recursos da Lei Aldir Blanc em Pernambuco, registra a beleza e histórias únicas registradas nos postais, que vão além de portais de turismo e trazem reproduções impressas por grandes editoras da época como a recifense Casa Ramiro, francesas e italianas. “Coletamos registos incríveis de muita beleza e que trazem uma nova perspectiva da comunicação na forma de postais, em um catálogo virtual que integra o nosso projeto, realizado através do apoio da Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco”, destaca a pesquisadora e produtora cultural Dora Dimenstein. O material pode ser conferido no site Mirada da Janela: www.miradajanela.com. O projeto resgata moda europeia dos postais artísticos que alcançou o Brasil nesse período, preservaram acontecimentos do cotidiano como casamentos, batizados, entre outros em reproduções de fotos (tradicionais ou aquareladas artisticamente) com pinturas à mão, e outros com papel reciclado, que se transformaram em verdadeiras obras de arte da história e vida pernambucana. “O levantamento traz muitos momentos que atestam a vida cotidiana daquela sociedade, que foi compilado neste belo catálogo que desenvolvemos e publicamos em um portal para conhecimento de todo público na parceria com o portal de editoria cultural Mirada”, completa Dora. Confeccionado com imagens captadas pelo fotógrafo Genilson Araújo Almeida, em parceria com a Prefeitura do Brejo da Madre de Deus, o catálogo conta com diagramação do design Raul Kawamura, que em 2012 realizou o trabalho de exposição “RECIFE EM RETRATOS” no Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA). “O processo de trabalho foi meticuloso e o mais importante é que envolveu o apoio fundamental do Museu e da Prefeitura do Brejo da Madre de Deus para registrar pontos de vista que as novas gerações não conhecem. E o resultado é este catálogo virtual, que envolveu profissionais que abraçaram a visão desse projeto proporcionando um novo olhar para o passado para construir um novo futuro”, reforçam as idealizadoras da iniciativa.

domingo, 11 de julho de 2021

XAXADO, DANÇA DE GUERRA DOS CANGACEIROS

Livro “Xaxado, a dança de guerra dos cangaceiros” será lançado nesta terça (13) Publicação é de autoria de Anildomá Willans de Souza, do Museu do Cangaço, em Serra Talhada. Postado em: Funcultura | Literatura 09/07/2021 Reprodução/Capa do livroReprodução/Capa do livro Com incentivo do Governo de Pernambuco, por meio do Funcultura, será lançado, nesta terça-feira (13), o livro “Xaxado, a dança de guerra dos cangaceiros”, de Anildomá Willans de Souza. O lançamento será realizado a partir das 20h, no Museu do Cangaço, em Serra Talhada. A ideia deste trabalho é contribuir com nossa cidade e região no que se refere ao cangaço, Lampião e o Xaxado, nada pra provocar discórdias, mas para entendermos o quanto nossa história é importante na construção cultural e da identidade do povo brasileiro.
O tema é o XAXADO, a dança de guerra dos cangaceiros de Lampião. Entenda-se, dessa maneira, que queremos mostrar sua influência no cinema e na música, na poesia e na gastronomia, na dramaturgia e literatura, melhor dizendo, em todas as linguagens artísticas. Por meio dos diferentes produtos culturais é que as pessoas lembram a identidade e riqueza de sua cultura. A publicação será distribuída para as escolas da rede pública de ensino. Além disso, o Museu do Cangaço de Triunfo e de Piranhas (AL), e os Pontos de Cultura do Sertão e a Fundação Joaquim Nabuco, também serão contemplados com vários exemplares. Anildomá Willans de Souza é militante da cultura, atua em vários terrenos, ou melhor, em diversas linguagens artísticas. O que mais marca sua atuação é a dedicação ao estudo e à pesquisa do cangaço. Justamente por isso já apresentou Lampião no teatro, com o “Massacre de Angico — A Morte de Lampião”; no audiovisual, com os curtas-metragens “Papo Amarelo — O Primeiro Tiro”, “Lampião e o Fogo da Serra Grande”, “Lampião e a Cadeia de Vila Bela” e o documentário longa “Xaxado, a Dança de Cabra Macho”. Na música, foi um dos produtores do I e II Festival de Músicas do Cangaço; na dança, é um dos criadores do Grupo de Xaxado Cabras de Lampião; na memória, é um dos fundadores do Museu do Cangaço; na literatura, publicou cinco livros: “Lampião, o Comandante das Caatingas”, “Nas Pegadas de Lampião”, “Lampião. Nem Herói nem Bandido. A História” e “Lampião e o Sertão do Pajeú”. Anildomá é membro da Sociedade Brasileira de Estudiosos do Cangaço (SBEC), da Academia Serra-talhadense de Letras (ASL) e da Associação dos Realizadores de Teatro de Pernambuco (ARTEPE). Serviço: Lançamento do livro – Xaxado, a dança de guerra dos cangaceiros”, de Anildomá Willans de Souza Terça (13) | 20h Museu do Cangaço (Serra Talhada)

sexta-feira, 9 de julho de 2021

O Cine São José é um patrimônio do município inaugurado em 1942 e perrtence a Diocese de Afogados da Ingazeira, a quem a Fundação Cultural Senhor Bom Jesus dos Remédios é ligada O Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), vai iniciar nesta quarta-feira (7) a instalação de equipamentos de projeção de cinema digital Full HD, associado à reprodução sonora digital 5.1, no Cine São José, em Afogados da Ingazeira, no Sertão pernambucano. A iniciativa, que irá permitir a volta da programação permanente do equipamento cultural, agora completamente digital, integra o Programa Cine de Rua, promovido pela Secult-PE, e é realizada numa parceria com a Prefeitura de Afogados da Ingazeira e a Fundação Cultural Senhor do Bom Jesus dos Remédios, responsável pelo cinema. Além da instalação dos equipamentos comprados pela Secretaria Estadual de Cultura, houve também uma parceria entre a Fundação Cultural Senhor Bom Jesus dos Remédios, a Prefeitura de Afogados da Ingazeira e a Secretaria Estadual de Turismo e Lazer (Setur-PE) para a aquisição de um projetor 2k. Segundo Gilberto Freyre Neto, secretário Estadual de Cultura de Pernambuco, a aquisição desses equipamentos se deu após articulação do deputado estadual Waldemar Borges, que mobilizou, junto ao Governo de Pernambuco, a necessidade desse investimento para a região. “Com o Cine São José novamente equipado, Afogados da Ingazeira volta a contar com um cinema ativo e digital”, explica o secretário. Para Marcelo Canuto, presidente da Fundarpe, o novo sistema de projeção será um importante estímulo na ampliação do acesso à cultura para a população da região. “A iniciativa reforça a importância de fomentar o cinema na região, por meio de um de seus equipamentos culturais mais importantes”. A compra dos equipamentos do Cine São José foi embasada em um diagnóstico feito a partir de visitas técnicas de especialistas como Osvaldo Emery, servidor da Secretaria Especial de Cultura (MTur) e arquiteto especialista em salas de cinema, e Tomi Terahata, consultor técnico que já montou mais de 100 salas de cinema no Brasil – e que fará a instalação e o alinhamento do sistema de áudio e vídeo dos equipamentos no Cine São José. De acordo com Nill Júnior, diretor administrativo da Fundação Cultural Senhor Bom Jesus dos Remédios, a ideia é de que o cinema passe a exibir filmes já no segundo semestre. “Queremos que a Mostra Cinematográfica de Curtas Bora Pajeúzar, prevista para acontecer entre setembro e dezembro deste ano, seja o evento de reabertura do Cine São José”, revela Nill Júnior. O Cine São José é um patrimônio do município inaugurado em 1942, fechado em 1994 e reinaugurado no final de 2003. Pertence a Diocese de Afogados da Ingazeira, a quem a Fundação Cultural Senhor Bom Jesus dos Remédios é ligada, que possui um comodato com a Associação São José e conta com a parceria da prefeitura local. Augusto Martins, secretário de Cultura e Esportes de Afogados da Ingazeira, destaca que, em 2019, o cinema voltou a parar de funcionar porque os projetores de 35mm não tinham como operar, em virtude da falta dos filmes de película no mercado. “Agora estamos na fase final dos trabalhos de adequação da cabine e também de instalação dos novos equipamentos para que possamos, assim, promover uma nova reinauguração desse histórico Cine São José, patrimônio dos afogadenses”.
Com os novos equipamentos, o Cine São José poderá ofertar diariamente, à população, uma grade que refletirá a nova produção dos cinemas pernambucano, nacional e estrangeiro A existência dessa sala de cinema, uma das mais antigas no interior de Pernambuco, reflete a importância da cena audiovisual na região, com vários profissionais envolvidos na produção de obras e realização de mostras e festivais independentes, como a Mostra do Pajeú, já na sua 4ª edição. Em 2018 e 2019, a Secult-PE e a Fundarpe promoveram uma mostra do Festival Varilux de Cinema Francês. Inicialmente a instalação estava prevista para março do ano passado, mas, por conta das restrições impostas pela pandemia do Covid-19, precisou ser adiada. CINE DE RUA – Com os novos equipamentos, o Cine São José poderá ofertar diariamente, à população, uma grade que refletirá a nova produção dos cinemas pernambucano, nacional e estrangeiro. Entrará no grupo de salas de cinema que fazem parte hoje do Programa Cine de Rua, uma política estratégica de difusão do audiovisual pernambucano, coordenado pela Secult-PE. “Por meio do Cine de Rua pretende-se criar as condições para a recuperação dos cinemas de rua remanescentes do estado, adaptando-os às novas tecnologias de projeção e promovendo a difusão e a circulação de obras audiovisuais contemporâneas, em sua programação”, detalha Silvana Meireles, secretária Executiva de Cultura de Pernambuco e coordenadora do Programa Cine de Rua. O programa prevê uma ação estruturada entre agentes culturais públicos coordenados com a sociedade civil. Uma intervenção que se dá em quatro frentes: a criação de uma rede de salas independentes, a formação de profissionais, o desenvolvimento de uma programação diversificada e a requalificação técnica dos cinemas.

domingo, 2 de maio de 2021

CALDEIRÃO DE SANTACRUZ DO DESERTO

A Santa Cruz do Deserto: Revisitando o Caldeirão – Beato José Lourenço é o último “Conselheiro” Por Tarcísio Marcos Alves (1940 – 2016) – Professor – Autor do livro A Santa Cruz do Deserto: a comunidade igualitária do Caldeirão: 1920-1937. Fonte – Suplemento Cultural. Estado de Pernambuco. Ano XII. Outubro/Novembro 1997, págs 24 e 25. Imagens – Tok de História Em 1897, quando as tropas federais destruíram Canudos, o beato José Lourenço Gomes da Silva iniciava, no Sítio Baixa D’Anta, no Juazeiro do Norte — Ceará, a organização de uma comunidade camponesa igualitária que, após, alguns anos, realizara no Sítio Caldeirão, no Crato — Ceará. A experiência realizada pelo beato José Lourenço representou a última tentativa de um beato e seus seguidores de organizar uma comunidade camponesa de cunho religioso nos sertões nordestinos.
O Estado Novo encerrou assim, para sempre, um ciclo de revoltas populares características do século XIX, que desde então estarão historicamente ultrapassadas. José Lourenço chegou ao Juazeiro do Norte na época dos “milagres” (1889), quando a aldeia fervilhava de romeiros que afluíam de todas as regiões sertanejas para a terra do Padre Cícero Romão Batista. Duas coisas importantes os atraíam: as terras férteis do Vale do Cariri e a certeza de alcançarem a salvação na cidade do santo milagreiro. O próprio Padre Cícero constatou o fato, ao afirmar que “Juazeiro tem sido um refúgio dos náufragos da vida”. É que para lá iam multidões de miseráveis, refugiados das regiões castigadas pelas secas…
Outra imagem do Beato José Lourenço. O beato José Lourenço logo se integrou na aldeia e tornou-se penitente. Morou alguns anos no Juazeiro e depois foi com a família viver no sítio Baixa D’Anta. Lá começaram a desenvolver uma experiência de trabalho coletivo com base no mutirão, o que levou a um esboço de organização de uma comunidade camponesa de cunho cooperativista. Mas o que mais marcou a sua vida no sítio e o tornou conhecido na região foi o episódio do boi “Mansinho”. Tratava-se de um garrote que o Padre Cícero ganhara de presente e dera ao beato para criar. Como era um animal pertencente ao Padre Cícero, toda a comunidade dedicava um tratamento especial ao boi. Em pouco tempo surgiram boatos de que o boi “Mansinho” estava fazendo milagres…
Região do Caldeirão – Foto – Rostand Medeiros. Por essa época (cerca de 1920), além das perseguições religiosas contra o Padre Cícero, a imprensa fazia uma feroz campanha contra Floro Bartolomeu. Este passou a ser acusado pelo Deputado Federal Morais e Barros como o “Deputado de bandidos e fanáticos”. Sob pressão, Floro Bartolomeu foi obrigado a agir: mandou prender o beato José Lourenço e matar o boi “santo”.
Padre Cícero em sua mesa de trabalho. Solto e humilhado, com fama de “fanático” José Lourenço voltou para o sítio Baixa D’Anta, onde viveu mais alguns anos, quando o proprietário da terra vendeu a propriedade e expulsou-o de lá. O beato passou algum tempo em Juazeiro, onde, pelas suas práticas religiosas, adquiriu fama de “homem santo” e passou a ser tratado como “beato”. Em 1926 retirou-se com algumas famílias para o sítio Caldeirão dos Jesuítas, terra pertencente ao Padre Cícero. O Padre entregou as terras ao beato quando o seu testamento já estava pronto, no qual doara todas as suas propriedades aos Salesianos, inclusive o sítio Caldeirão. Encerrava-se a história do boi “Mansinho” e começava a do beato José Lourenço, que em breve tornar-se-á o beato mais célebre da região do Cariri e liderança indiscutível de uma comunidade camponesa contando com alguns milhares de trabalhadores pobres.
Igreja do Sítio Caldeirão – Foto – Rostand Medeiros Na comunidade, a experiência vivida expressou-se em uma experimentação concreta da fé, a materialização de uma nova forma de vida: o trabalho tornou-se um meio para a salvação da alma. A principal testemunha dos acontecimentos do Caldeirão, o senhor Henrique Ferreira, recentemente falecido, assim descreve o trabalho como penitência na comunidade do Caldeirão: “É os penitentes, é os pobres penitentes, que todo pobre é penitente. O trabalhador é um pobre penitente! Tá na penitência do trabalho!” Nestas condições, a pobreza da vida tornou-se suportável e até prazerosa. Foi a partir desta perspectiva religiosa – o trabalho como penitência —, que a comunidade camponesa do Caldeirão se organizou.
Formação rochosa que acumulava água na época de seca, conhecida como “Caldeirão”, que batiza a localidade histórica. Esse tipo de local foi essencial para o sucesso inicial da comunidade do Beato José Lourenço – Foto – Rostand Medeiros. O sítio era uma pequena propriedade abandonada, com cerca de 900 hectares, do outro lado da Serra do Araripe, distante vinte quilômetros do Crato. Encravado entre serras e morros, de acesso extremamente difícil, era lugar ideal para o isolamento. Lá instalados, o beato e seus seguidores deram início aos trabalhos de limpeza dos matos e construções e reparos de cercas. Construíram a casa do beato e as primeiras e pequenas casas de taipa e, como a terra era seca, iniciaram também a construção de pequenas barragens nos grotões e socavões dos morros, garantindo assim razoável abastecimento de água para as épocas de secas. Nas terras altas deu-se início a plantação de algodão, milho e feijão. Nas terras baixas, irrigadas por processos primitivos, plantou-se cana-de-açúcar e arroz. Pequena engenhoca levantada nas imediações do pequeno povoado passou a produzir rapadura, batidas e melaço suficientes para o sustento da comunidade. Construíram ainda a casa de farinha e produziam sabão, a partir de uma planta nativa da região, conhecida por “pingui”. Em pouco tempo, o que era uma terra deserta e abandonada transformou-se em um pequeno arraial.
Área do antigo Sítio Caldeirão na atualidade – Foto – Rostand Medeiros. Nessa fase inicial, a comunidade trabalhava basicamente na agricultura e na construção de casas em mutirão para os novos moradores. Cada nova família que lá chegava era bem recebida, e os que já viviam no sítio construíam logo a nova moradia; alastraram-se as casinhas a partir do sopé dos morros, formando, gradativamente, um cinturão em redor da pequena planície onde floresciam as primeiras plantações. A divisão do trabalho era simples: os homens trabalhavam na limpeza dos terrenos, na construção de casas, de caminhos, cercas e na agricultura, enquanto as mulheres, além dos trabalhos caseiros, carregavam água para molhar as plantas, ajudadas pelas crianças maiores. O problema da água será resolvido definitivamente através da construção de dois açudes.
A educação na sua comunidade era uma grande preocupação do Beato José Lourenço. O beato estava sempre à frente de todos os trabalhos e tudo era feito sob a sua orientação. Trabalhava-se das seis da manhã às seis da noite, sob o ritmo dos benditos, puxados pelo beato… A incrível capacidade de trabalho e liderança do beato é atestada por todos, inclusive por aqueles que não nutriam simpatia por ele, como é o caso do tenente Góis de Barros – que comandou a invasão e destruição do sítio em 1936 —, que afirmou espantado em seu Relatório: “Aliás, faça-se justiça, o espetáculo de organização e rendimento do trabalho, com que nos deparamos ali, era verdadeiramente edificante”. Toda a produção e consumo eram controlados por Isaías, espécie de “ministro do planejamento e da economia” da comunidade. Os produtos eram armazenados em celeiros e redistribuídos de acordo com as necessidades de cada família.
A igreja local na década de 1930. Não circulava dinheiro na comunidade e a organização social era rígida, dentro de padrões de uma religiosidade quase ascética. Outras pessoas ajudavam o beato José Lourenço na administração da vida da comunidade, destacando-se o papel exercido por Severino Tavares, que, apesar não viver no sítio, exercia o papel de “aliciador” de romeiros para visitar a comunidade. Seu trabalho como divulgador da vida no Caldeirão muito contribuiu para o aumento da população do sítio, pois muitas pessoas que iam apenas conhecer o beato lá permaneciam…
Foto – Rostand Medeiros. Com o crescimento populacional do sítio diversificaram-se as atividades produtivas. No meio de tantos trabalhadores que chegavam ao Caldeirão, encontravam-se profissionais das mais diversas especialidades. Organizaram-se então as primeiras oficinas, passando-se a fabricar os mais diversos instrumentos de trabalho e utensílios domésticos. Em pouco tempo a comunidade produzia praticamente tudo o que necessitava para a sua sobrevivência. Apenas o sal e o querosene, assim como remédios, eram comprados pelo beato, com o dinheiro que arrecadava com a venda de rapadura e algodão. Paralelamente desenvolveu-se a criação de animais, bovinos, caprinos e suínos, além das mais diversas espécies de galináceos. Através deste quadro sintético da organização econômica e social da comunidade do sítio Caldeirão, fácil é perceber que ela formava um vivo contraste em relação à situação dos trabalhadores dos latifúndios do Sertão. Ali reinava a fartura, fruto do trabalho intenso de milhares de pessoas em mutirão – a população do sítio alcançou na fase mais populosa, cerca de duas mil pessoas —, o que duplicava a produtividade do trabalho, fazendo com que os celeiros estivessem sempre cheios. Foi esta fantástica organização do trabalho visando a plena satisfação das necessidades fundamentais da comunidade — que se tornou praticamente autossuficientes —, que caracterizou a experiência realizada no sítio Caldeirão pelo beato José Lourenço, e que o transformou em uma ilha de fartura em meio à miséria reinante no Sertão da época. Era uma comunidade pobre, evidentemente, mas bem alimentada material e espiritualmente. A religiosidade popular, que perpassava todos os atos cotidianos da comunidade, tornava suportável a penitência do trabalho e fácil a vida…
Uma das casas remanescentes do antigo Sítio Caldeirão, sendo preservada na atualidade – Foto – Rostand Medeiros. As reservas de víveres permitiram que a comunidade sobrevivesse à grande seca de 1932, apesar de o número de habitantes do sítio ter sido acrescido de cerca de 500 pessoas no período. É que o beato abriu as portas do sítio para receber todos os flagelados da seca que lá quisessem entrar e permanecer! Após a morte do Padre Cícero, em 1934 — época em que os habitantes do Caldeirão passaram a se vestir todos de preto, em luto perpétuo pelo “santo” do Juazeiro —, grande parte dos romeiros que iam a Juazeiro visitar o túmulo do Patriarca fazia questão de ir ao Caldeirão pedir a bênção ao beato José Lourenço. Isto se devia ao fato de José Lourenço representar o único sobrevivente dos “santos” do Juazeiro.
Os romeiros ao visitarem a comunidade contribuíam com o desenvolvimento econômico do sítio, pois levavam valiosos presentes, que iam desde cargas de alimentos, animais a até objetos preciosos. Entretanto, a morte de Padre Cícero – amigo e protetor do beato -, anunciava também as tempestades que se avizinhavam. O crescimento constante da popularidade do beato, aliado à prosperidade crescente do sítio, despertou a atenção das elites políticas e religiosas do Crato. Os jornais iniciaram a campanha contra o beato e sua comunidade. O artigo intitulado “Os fanáticos do Caldeirão”, publicado no jornal “O Povo”, afirmava, entre outras coisas: “Dois malandros do Ceará, José Lourenço e Severino Tavares, andam explorando no Vale do Cariri a memória do Padre Cícero.”’ Para a hierarquia católica, o Caldeirão parecia representar uma ameaça: o beato poderia tornar-se um novo “santo” como o Padre Cícero… E, nesse caso, com o agravante de estar fora do controle da Igreja: seria um novo Antônio Conselheiro!…
Assim, alarmados, os proprietários vizinhos e as elites políticas e religiosas atacavam sistematicamente o beato e sua comunidade: “Setores conservadores ligados à política regional, insuflados pelos proprietários de terras e do clero, encarregam-se de espalhar boatos sobre o beato José Lourenço e os habitantes do Caldeirão. Diziam que o beato oficiava sacramentos reservados ao clero de forma bárbara e sacrílega, que vivia em concubinato com as beatas, possuindo harém de 16 mulheres, que explorava a ignorância e o fanatismo dos camponeses, usando a sua força de trabalho para enriquecer”. Era, enfim, a orquestração de uma formidável avalanche de inverdades — como a de que o beato, então com 65 anos, tivesse capacidade sexual de manter um harém com 16 concubinas! —, com o objetivo de destruir a experiência comunitária do Caldeirão, que, além de atrair trabalhadores de todas as partes, “as relações de produção e consumo tendiam abertamente para o comunismo”, na expressão do Tenente Góis de Barros…
Os padres salesianos, herdeiros das terras do Padre Cícero, decidem tomar o sítio sem indenizar o beato pelos benefícios lá realizados. Para isto, contratam o advogado Norões Milfont, deputado da Liga Eleitoral Católica — LEC (de cunho fascista), que passa a defender a causa dos mesmos. O advogado passa a divulgar que o Caldeirão era uma nova Canudos, que o beato José Lourenço possuía armas escondidas e que a comunidade representava uma séria ameaça ao Estado, por ser de franca tendência comunista…
O então tenente Alfredo Dias foi um dos oficiais da polícia cearense que combateu os membros do Caldeirão. Entrou na corporação como soldado e se aposentou como coronel, tendo chegado a combater cangaceiros do bando de Lampião. A hierarquia católica confirma: “Nos sermões, os padres falam do perigo do ajuntamento de fanáticos e da infiltração de agentes vermelhos a serviço do totalitarismo ateu. Os boatos chegam aos ouvidos das autoridades estaduais.”’ Era, enfim, a união da Igreja, do Estado e das elites políticas e latifundiárias contra a comunidade camponesa igualitária do sítio Caldeirão… O advogado dos salesianos, Norões Milfont, não se limitou a espalhar boatos denegrindo a comunidade; para provar suas denúncias e incriminar ainda mais o beato e seus seguidores, enviou um espião ao Caldeirão. A escolha feita, por si só, revela as intenções subjacentes ao ato: decidiu-se enviar “um dos maiores bandidos-autoridade de que se teve notícias no Ceará”, na expressão de Optato Gueiros.
Era o Capitão José Gonçalves Bezerra, conhecido na região como um implacável caçador de cangaceiros, sendo, na verdade, um deles, só que escondido por trás da farda policial. Escolhido o espião, as autoridades iniciaram as investigações. O tenente José Góis de Campos Barros encarregou-se de comandar a destruição, que descreveu depois no seu “Relatório”. Nele afirma que o número de habitantes do Caldeirão havia tomado tamanho vulto que as autoridades locais alertaram o Capitão Cordeiro Neto, Chefe de Polícia, de “certos fatos singulares, que ali estavam passando”. Para esclarecer os “fatos”, foi ao sítio o Capitão José Bezerra, disfarçado em industrial interessado nas possibilidades econômicas da região, em relação à indústria de oiticica. Admitido na residência do beato, o Capitão Bezerra tudo observou, especialmente as riquezas acumuladas no sítio, fruto do trabalho sistemático da comunidade, o que logo lhe despertou o interesse…
Os mortos do Caldeirão foram identificados pela imprensa como “São Anastácio”, “São Pedro” e “São Cosmo”. No seu relatório, refere-se à existência de “uma nova Canudos, coito de fanáticos e do terrível perigo comunista,”’ e conclui solicitando urgente intervenção. Depois das investigações realizadas pelo Capitão José Bezerra, o interventor e Governador do Estado, Menezes Pimentel, reuniu o advogado dos salesianos Norões Milfont, O Bispo do Crato, Dom Francisco de Assis Pires, Andrade Furtado, Martins Rodrigues, O Capitão Cordeiro Neto, Chefe de Polícia e o Delegado do DEOPS, o tenente José Góis de Campos Barros. Com exceção dos dois militares, todos os outros pertenciam à LEC. Decidiu-se pela intervenção. O Tenente José Góis de Campos Barros comandou a expedição, no mês de setembro de 1936.
O beato José Lourenço conseguiu fugir, escondendo-se na Serra do Araripe, acompanhado de algumas famílias. Em meio a todo tipo de violência, inclusive estupros, os militares atearam fogo em todas as casas, expulsaram os moradores, destruíram e saquearam o sítio…
Segundo um levantamento realizado pelo então delegado de Ordem Política e Social do Ceará, o tenente do Exército José de Goes de Campos Barros (que chegou ao generalato), cerca de 75% dos participantes do Caldeirão eram oriundos do Rio Grande do Norte, 20% divididos entre Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Maranhão e Piauí e apenas 5% do próprio Ceará. O Tenente José Góis, em seu relato, diz que após juntar todos os habitantes, explicou a eles para que viera: acabar com a comunidade, porque “o Estado não podia permitir aquele ajuntamento perigoso”. As ordens eram que cada família juntasse seus pertences e voltasse para os seus locais de origem. Ofereceu passagens de trem e de navio, que foram unanimemente rejeitadas: “E, fato singular, ninguém tinha bens a conduzir. Tudo o que ali estava, diziam, era de todos, mas não tinha dono”. O beato José Lourenço continuou por algum tempo refugiado na Serra do Araripe. Severino Tavares e seu filho Eleutério foram presos em Fortaleza. A imprensa da época calculou que, após a destruição do sítio, pelo menos mil pessoas foram juntar-se ao beato José Lourenço, na Serra. Entrementes, Severino Tavares e seu filho foram soltos da prisão e dirigiram-se para Serra do Araripe. Enquanto o beato José Lourenço ganhava tempo para iniciar negociações visando voltar para o sítio, Severino Tavares planejava vinganças… (Afirma-se que uma das moças estupradas pelo Capitão Bezerra era sua filha…)
Sobreviventes do ataque ao Caldeirão. Os jornais começam a publicar notícias alarmantes, informando que os beatos ameaçavam invadir fazendas e a feira do Crato. Segue uma patrulha comandada pelo Capitão José Bezerra para debelar os “fanáticos”. Severino Tavares montou uma emboscada com alguns seguidores e, em luta corpo a corpo com a patrulha, morreram o Capitão, um filho seu e o próprio Severino Tavares, além de outros soldados e camponeses.
O TOK DE HISTÓRIA apresenta o texto do professor Tarcísio Marcos Alves (1940 - 2016), com a história de uma comunidade religiosa que viveu no seco sertão nordestino, liderada pelo beato José Lourenço, que não perturbavam ninguém, dividia entre seus moradores a produção local e seus lucros. Mas em meio a uma época de grandes conflitos políticos no Brasil, foram acusados de comunistas e massacrados pelas forças militares cearenses. Seguiu-se o bombardeio na Serra, quando três aviões, comandados pelo Capitão José Macedo, autorizado pelo Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, conduzindo bombas, metralhadoras e grande quantidade de munições, metralharam e bombardearam os agrupamentos de camponeses oriundos do Caldeirão…
Por terra, atacavam as forças policiais. O Capitão Cordeiro Neto avaliou a chacina em cerca de duzentos mortos, enquanto outras fontes orais afirmam que o número de mortes teria atingido uma cifra bem maior: entre setecentas a mil pessoas… O beato José Lourenço escapou do bombardeio na Serra. Após muitas negociações, conseguiu voltar ao sítio Caldeirão, em 1938. Lá passou mais dois anos, trabalhando e reconstruindo o sítio, junto com poucas famílias de camponeses — o acordo não permitia mais “ajuntamentos”.
Em 1938, quando já reorganizara a produção no sítio, foi novamente expulso pelos salesianos. Na ocasião, o Sr. Júlio Macedo conseguiu junto ao Juiz de Direito do Crato a devolução do dinheiro que fora entregue ao Juizado por ocasião do leilão do que restara dos bens do sítio após a destruição e saque do mesmo. De posse de pequena quantia, o beato ainda conseguiu adquirir uma pequena propriedade no município de Exu, em Pernambuco. Lá, no sítio que denominou de União, o beato, acompanhado de umas poucas famílias, viveu em paz durante oito anos. Morreu no dia 12 de fevereiro de 1946, vitimado pela peste bubônica… Seu corpo foi transportado através da Chapada do Araripe pelos seus fiéis seguidores, até o Juazeiro…
O que o beato não sabia era a recepção que o seu corpo teria da Igreja: levado para uma capela onde seria realizada a missa de corpo presente, o padre, na última condenação da Igreja ao beato, negou-se a cumprir o ritual…
Foto – Rostand Medeiros. NOTAS 1 — CAVA, Ralph Della. Milagre em Juazeiro. Rio de Janeiro-RJ, Paz e Terra, 1976, pág. 122 2 — Henrique Ferreira, entrevista ao autor, 12/07/1983 3 — CARIRY, Rosemberg. O Beato José Lourenço e o Caldeirão de Santa Cruz. In Revista Itaytera, Crato – CE, n°26, pp. 189-199-1982 4 — BARROS, Ten. José Góis de Campos, A Ordem dos Penitentes. Imprensa Oficial, Fortaleza – CE, 1937, pág. 31. 5 – Jomal “O Povo” – Fortaleza – CE, 02/03/1935 6 — Jornal “O Povo” — Fortaleza — CE, 02/03/1935 7 — CARIRY, Rosemberg, in op. cit., pág. 195 8 — GUEIROS, Optato. Lampeão: Memória de um oficial ex-comandante de forças volantes. Recife – PE, 1952, pág. 252. 9 – ANSELMO, Otacílio. “Tragédia de Guaribas”. In. Revista Itaytera., n° 25,1972, pág. 13. 10 – BARROS, Ten. José Góis de Campos. In op. cit., pág. 30.