terça-feira, 19 de janeiro de 2010


ALESSANDRA LEÃO- COM SEUS DOIS CORDÕES

Alessandra Leão é percussionista, compositora e cantora. Participou da fundação do grupo Comadre Fulozinha, sendo esse seu primeiro trabalho profissional. Nesses 12 anos atuando no mercado musical, teve privilégio de trabalhar ao lado de músicos como Antônio Carlos Nóbrega, Siba e a Fuloresta, Silvério Pessoa, Zé Neguinho do Coco, entre outros...Desde 2004, idealizou e coordena o projeto coletivo Folia de Santo, que se propõe a compor músicas baseadas nas tradições ligadas ao “catolicismo popular. “Considero Pernambuco o maior foco de resistência da cultura popular brasileira. E fundamento a minha opinião não apenas pela quantidade de livros e discos lançados, mas pelo número de eventos que freqüento cada vez que me desloco até o vizinho Estado, no interior de Pernambuco festa é brincadeira; música e dança são brinquedos. Coco é um brinquedo; Maracatu também, Cavalo-marinho, Ciranda... tudo é brinquedo e tudo é samba". Nos fala que iniciou sua vida artística através do teatro e da dança em meados de 1995 e somente dois anos depois é que partiu para a música. “O canto acabou vindo como conseqüência, quase uma necessidade de cantar e interpretar as canções que aprendi, principalmente com músicos tradicionais de Pernambuco, e tempos depois, de interpretar as minhas próprias composições”. Alessandra Leão é um nome emergido desse lago fértil. Desde os tempos em que integrava o grupo Comadre Fulorzinha, formado apenas por mulheres, sua contribuição para os temas musicais regionais do Nordeste já a credenciava a galgar andaimes mais altos nesta rica cena cultural. Em 2006, Alessandra deu início ao seu trabalho autoral, com o elogiado Brinquedo de Tambor, este CD entrou para a lista dos 10 melhores discos do Prêmio Urirapuru, da revista gaúcha “O Dilúvio”. E em janeiro de 2008 teve duas músicas recomendadas no playlist do músico americano David Byrne. Em 2007, foi uma das selecionadas no Programa Rumos Itaú Cultural, na cartilha Mapeamento. CD homônimo foi lançado em dezembro de 2008, durante as gravações do DVD homônimo. Produzido e arranjado em parceria com o violeiro, compositor e arranjador Caçapa. “Dois Cordões”, o segundo CD solo (2009), foi produzido com patrocínio da Petrobras através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a partir da seleção no Programa Petrobrás Cultura. Nele Alessandra mantém a parceria com Caçapa (que assina os arranjos e produção musical) e passam a assinar algumas composições juntos. O CD conta com a participação de Jorge Du Peixe, Kiko Dinucci (SP), Florencia Bernales (AR) e Victoria Sur (COL) e foi gravado pela banda que acompanha a artista desde o Brinquedo de Tambor. Participa do Admiral Recife , fundado a convite do projeto Era Iluminada – Mangue Beat (Sesc Pompéia -SP), ao lado de nomes como Jorge Du Peixe, Siba, Dengue, Canibal, Júnior Barreto, Lia de Itamaracá, entre outros. Em 2009, foi convidada para participar do Festival Carnaval de Las Artes, em Barranquilla, Colômbia. “Neste novo CD - Dois Cordões, a coisa amadureceu como se décadas, e não anos, houvessem passado”. Nele, a idéia de arranjo e sonoridade (obra do produtor/arranjador/instrumentista Caçapa) é inseparável do resultado final: uma combinação 100% inédita dos timbres de três guitarras elétricas (de 6, 7 e 12 cordas), em camas quase nunca harmônicas, mas sim complexamente polifônicas. Tecidos sonoros que devem tributo tanto aos estudos eruditos europeus de contraponto e fuga quanto a escuta atenta dos mestres da música africana, igualmente polifônica e não-harmônica. E essa meticulosa rede de vozes instrumentais é alicerçada à terra não por acaso por um místico trio de ilús: tambores de pele utilizados nos terreiros de Xangô (como é conhecido o candomblé em Pernambuco). E a moldura do disco é essa. Pouco mais, pra dar molho: um pandeiro aqui, caxixis ali, talking drums, güiro, ganzá, eventuais coros. Só que nada disso seria mais do que curioso ineditismo se, sobre essa tessitura, não flutuasse como ave rara a voz de Alessandra. Uma voz por vezes doce e jovial, crestada numa alegria ancestral que ecoa essa gente simples dos interiores de Norte e Nordeste, gente que canta porque não sabe não cantar. Essa gente humilde e feliz, feliz de uma felicidade muitas vezes incompreensível para urbanos e/ou sulistas. Mas do que fala essa voz? Sobre o que escreve essa compositora única, que abre as asas sobre o chão de terra e paira sobre o mundo, sobre sentimentos universais, sobre dramas de qualquer cidadão do planeta? Fala de (ser) par, de dualidade, de chegadas e de partidas. Fala de Ogum e de Iemanjá. De amor e violência, fogo e mar, tradição e contemporaneidade. África e América, elétrico e acústico. Tensão e festa. Fala de gente. E é essa, acima de tudo a força desses Dois Cordões. É um disco de gente.


Rosemary Borges Xavier-2.010-D.C-Cajueiro-Recife-PE

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