quinta-feira, 21 de janeiro de 2010











OS TEATROS DE MAMULENGOS EM RECIFE E OLINDA- PERNAMBUCO

A irreverência e a mão molenga do teatro de bonecos. Tem nos seus personagens uma gente surgida da madeira (de área reflorestada com certificado é óbvio), da cabaça, do papel machê, papel jornal ou da espuma de nylon, garrafas pet, etc. Então vemos que é fácil e simples criar bonecos de mamulengos, até mesmo porque há também uma consciência ecológica, pois se usarmos material reciclado estamos contribuindo com o ambiente. E, é neste mundo de bonecos onde tudo se resolve na pancadaria de forma irreverente é claro, seria o cúmulo da violência de um povo, se não fosse esse povo os bonecos do mamulengo, que cantam, dançam, conversam com a platéia e distribuem pauladas por todos os lados. "Haja pau", como diria o mestre José de Morais Pinho, no título de uma de suas peças de teatro para bonecos. O mestre Ginu, um dos mais respeitados mamulengueiros do Nordeste, sabia, com precisão, transfigurar os costumes populares da nossa região, no fantástico mundo da tenda, por onde passam os bonecos com doses de irreverência, de burlagem, moralismo e matreirice, ao mesmo tempo ingenuidade e paixão. Personagem famosa como a do Professor Tiridá, que normalmente chama a todos (personagens e espectadores) de meu compadre e minha comadre, provoca delírios nas platéias com suas umbigadas, suas pauladas e a irresistível fama de conquistador, desde os tempos do Cheiroso, do mestre Ginu e hoje internacionalmente conhecido através do Mamulengo Só-Riso de Olinda, onde abre os espetáculos como mestre de cerimônia. As mãos moles, molengas, como diz o matuto, originam a denominação de mamulengo ao teatro de bonecos, comumente apresentado em forma de luvas. Os bonecos de vara, os de fios (marionetes) e os de manipulação direta, são outras técnicas utilizadas para essa expressão de um povo em forma de bonecos. Um povo bravo, irreverente e safadoso. Nas décadas de 50 e 60, praticamente todo o Nordeste brasileiro se divertia diante dos bonecos que surgiam por trás do pano esticado, nas feiras, nos pátios de colégios, nas tradicionais festas de rua, nos terreiros das casas grandes de engenho, assim como nas residências de pessoas humildes, que juntavam os vizinhos em suas salas para assistirem aos bonecos. A freqüência dessas apresentações residenciais, sempre foi maior na zona rural, ficando nas cidades a preferência pelas feiras e praças, sendo essa última muito utilizada na festa do padroeiro, no seu lado profano. Hoje, na cidade do Recife, as apresentações do teatro de bonecos ficam praticamente restritas a colégios, aniversários de crianças em clubes fechados e campanhas publicitárias dos órgãos oficiais de saúde e educação. Também se apresentam em eventos como feiras nacionais e internacionais de livros e artesanatos. Grupos como Lobatinho, Gestus e Bonecarte, são os mais atuantes da área metropolitana do Recife. E o Mamulengo Só-Riso, um dos mais famosos do Brasil, possui em Olinda o seu monumental teatro onde realiza cursos, apresentações e encontros de teatro de bonecos do Brasil e do exterior. Como se ver este é um mamulengo com mais recursos pois já fez história em nosso Estado,porém outros existem e resistem sem grandes recursos. No interior do estado, as apresentações de mamulengueiros são esporádicas, tornando-se ainda mais raras, depois da expansão da luz elétrica no campo e nos vilarejos, onde as atenções estão voltadas para a televisão e o computador, tornando o "brinquedo" do boneco coisa do passado. O saudoso Mestre Solon reunia adultos e crianças diante do seu “Invenção Brasileira”, a gargalhar de tiradas como essa do espetáculo "Passagem do Padre": Simão - Me diga uma coisa, seu padre. Você batiza homem casado por quanto?Padre - Eu batizo por 10 cruzeiros.Simão - Mulé casada?Padre - Por cinco.Simão - E rapaz sortero?Padre - Por 30.Simão - Moça sortera?Padre - Moça sortera? é de graça.Simão - Isso é um padre safado.Padre - Oi filho, não me chame nome não.Simão - Eu tô chamando nome a você, cachorro da mulesta (bate no padre e a platéia ri). São espetáculos com essa linhagem, feitos por gente simples, sem recursos monetários, nas condições técnicas das mais precárias, porém, com uma criatividade inigualável e uma comunicabilidade imbatível, que identificam a essência de um teatro verdadeiramente popular, norteando artistas de mais instrução e melhores condições materiais dos dias de hoje, na construção dos seus próprios caminhos, trilhando os exemplos que seus mestres deixaram. E preocupados com a história desses mestres, o Museu Espaço Tiridá e o Teatro Mamulengo Só-Riso, em Olinda-PE contribuem para a manutenção dessa arte e a preservação dessa cultura cênica, autenticamente teatral e popular. Os bonecos que com as mãos emprestadas dos mamulengueiros ganham alma e dão vida a personagens das lendas e fantasias do riquíssimo folclore nordestino, fazendo arrancar facilmente SORRISOS de crianças e adultos. Esperamos que surjam mais novas “MÃOS MOLENGAS” para surgirem tantos mais mamulegos. Endereço do Teatro Mamulengo Só-Riso: Rua 13 de Maio, 117, Varadouro - Olinda-PE-fone: (81) 3429.2934

Rosemary Borges Xavier-2.010-D.C-Cajueiro-Recife-Pernambuco

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