terça-feira, 30 de outubro de 2012





MEU PADIM CIÇO
                                                                       





Cicero Romão Batista,nasceu na cidade do Crato ,no vale do Cariri,no norte do estado do Ceará,foi sacerdote católico brasileiro. Na devoção popular é conhecido como Padim Ciço ou Padre Cicero. Carismático,obteve grande prestigio e influência sobre a vida social,politica e religiosa do Ceará bem como do Nordeste. Em março de 2001,foi escolhido " O Cearense do Século" em votação promovida pela TV Verdes Mares em parceria com a Rede Globo de Televisão.
Em julho de 2012,foi eleito um dos "100 maiores brasileiros de todos os tempos" em concurso realizado pelo SBT com a BBC. Proprietário de terras,de gado e de diversos imóveis,Cicero fazia parte da sociedade e politica conservadora do sertão do Cariri. Sempre teve o médico Floro Bartolomeu como o seu braço doreito,e integrava o sistema político cearense que ficou sob o controle da família Accioli durante mais de 2 décadas.
 Nascido no interior do Ceará,era filho de Joaquim Romão Batista e  Joaquina Vicencia Romana,conhecida como Dona Quinô.Ainda aos 6 anos,começou a estudar com o professor Rufino de Alcântara Montezuma. Um fato importante marcou a sua infância: o voto de castidade feito aos 12 anos,influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales.Em 1860,foi matriculado no colégio do renomado padre Inácio de Souza Rolim,em Cajazeiras na Paraíba.Aí pouco demorou,pois a inesperada morte do seu pai,vítima de cólera em 1862,o obrigou a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das irmãs solteiras. A morte do pai,que era pequeno comerciante no Crato,trouxe sérias dificuldades para  à família de tal sorte que,mais tarde,em 1864,quando Cicero Romão Batista precisou ingressar no Seminário da Prainha,em Fortaleza,só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma,o coronel Antonio Luiz Alves Pequeno.
 Durante o período em que esteve no seminário,Cicero era considerado um aluno mediano e ,apesar de anos depois arrebatar multidões com seus sermões,apresentou notas baixas nas disciplinas relacionadas à oratória e eloquência. Cicero foi ordenado padre no dia 30 de novembro de 1870. Após sua ordenação retornou ao Crato e, enquanto o bispo não lhe dava paróquia para administrar,ficou a ensinar no Colégio  Padre Ibiapina,findado e dirigido pelo professor José Joaquim Teles Marrocos,seu primo e grande amigo.
       No Natal de 1871,convidado pelo professor Simeão Correia de Macedo,o padre visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro(numa fazenda localizada na povoação de Juazeiro,então pertencente à cidade do Crato), e ali celebrou a tradicional missa do galo. O padre visitante,então aos 28 anos ,estatura baixa,pele branca,cabelos louros,penetrante olhos azuis e voz modulada,impressionou os habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira.Por isso,decorridos alguns meses,exatamente no dia 11 de abril de 1872,lá estava de volta,com bagagem e família,para fixar residência definitiva no Juazeiro. Muitos livros afirmam que Padre Cicero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho(ou visão)que teve,segundo o qual,certa vez,ao anoitecer de um dia exaustivo,após ter passado horas a fio a confessar as pessoas do arraial,ele procurou descansar no quarto contiguo à sala  de aulas da escolinha,onde improvisaram seu alojamento,quando caiu o sono e a visão que mudaria seu destino se revelou.Ele viu,conforme relatou aos amigos íntimos,Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa,numa disposição que lembra a Última Ceia,de Leonardo da Vinci. De repente,adentra ao local uma multidão de pessoas carregando seus parcos pertences em pequenas trouxas,a exemplo dos retirantes nordestinos.Cristo,virando-se para os famintos,falou da sua decepção com a humanidade,mas disse estar disposto ainda a fazer o último sacrifício para salvar o mundo.Porém,se o homem não se arrependessem  depressa. Ele acabaria com tudo de uma vez.Naquele momento,ele apontou para os pobres e,voltando-se inesperadamente ordenou: - E você,Padre Cicero,tome conta deles!  
Uma vez instalado,formado por um pequeno aglomerado de casas de taipa e uma capelinha erigida pelo primeiro capelão-padre Pedro Ribeiro de Carvalho,em honra a Nossa Senhora das Dores,padroeira do lugar,ele tratou inicialmente de melhorar o aspecto da capelinha,adquirindo várias imagens com as esmolas dadas pelos fiés. Depois ,tocado pelo ardente desejo de conquistar o povo que lhe fora confiado por Deus,desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação,conselhos e visitas domiciliares,como nunca se tinha visto na região. Dessa maneira,rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes,passando a exercer grande liderança na comunidade
.Paralelamente,agindo com muita austeridade,cuidou de moralizar os costumes da população,acabando pessoalmente com excessos de bebedeira e com a prostituição. Restaurada a harmonia,o povoado experimentou,então,os passos do crescimento,atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo capelão. Para auxiliá-lo no trabalho pastoral,o padre Cicero resolveu,a exemplo do que fizera Padre Ibiapina,famoso missionário nordestino falecido em 1883,recrutou mulheres solteiras e viúvas para organização de uma irmandade leiga,formada por beatas,sob sua autoridade.Atuou sempre com zelo na recepção dos imigrantes,dentre eles pode-se destacar José Lourenço.jpgJosé Lourenço da Silva,líder do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto.
No ano de 1889,durante uma missa celebrada pelo Padre Cicero,a hóstia ministrada pelo sacerdote a religiosa Maria de Araújo se transformou em sangue na boca da religiosa.Segundo relatos,tal fenômeno se repetiu diversas vezes durante cerca de dois anos. Rapidamente espalhou-se a noticia de que acontecera um milagre em Juazeiro.A pedido de Padre Cicero a diocese formou uma comissão de padres e profissionais da área da saúde para investigar o suposto milagre. A comissão tinha como presidente o padre Clycério da Costa e como secretário o padre Francisco Ferreira Antero,contava,ainda,com a participação dos médicos Marcos Rodrigues Madeira e Ildefonso Correia Lima,além do farmacêutico Joaquim Secundo Chaves.Em 13 de outubro de 1891,a comissão encerrou as pesquisas e chegou à conclusão de que não havia explicação natural para os fatos ocorridos,sendo portanto um milagre. Insatisfeito com o parecer da comissão,o bispo Joaquim José Vieira nomeou uma nova comissão para investigar o caso,tendo como presidente o padre Alexandrino de Alencar como e como secretário o padre Manoel Cândido.A segunda comissão concluiu que não houve milagre,mas sim um embuste. Dom Joaquim se posicionou favorável ao segundo parecer e, com base nele,suspendeu as ordens sacerdotais de padre Cicero e determinou que Maria de Araújo,que viria a morrer em 1917,fosse censurada. Em 1898,padre Cicero foi a Roma,onde se reuniu com o Papa Leão XIII e com membros da congregação do santo ofício, conseguindo sua absorvição.No entanto,ao retornar a Juazeiro,a decisão do Vaticano foi revista e padre Cicero teria sido excomungado,porém,estudos realizados décadas depois pelo Bispo Dom Fernando Panido sugere que a excomunhão não chegou a ser aplicada de fato. Atualmente,Dom Fernando conduz o processo de reabilitação do padre Cicero junto ao Vaticano.
Em 1977,foi canonizado pela Igreja Católica Apóstolica Brasileira(diferente da Igreja Católica Apóstolica Romana).
 Era filiado ao extinto Partido Republicano Conservador(PRC). Foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte,em 1911,quando o povoado foi elevado a cidade.Em 1926 foi eleito deputado federal,porém não chegou a assumir o cargo. Em 4 de outubro de 1911,o padre Cicero e outros 16 lideres da região se reuniram em Juazeiro e firmaram um acorde de cooperação mútua bem como o compromisso de apoiar o governador  Antonio Pinto Nogueira Accioli. O encontro recebeu a alcunha de Pacto dos Coronéis,sendo apontado como uma importante passagem na história de coronelismo brasileiro.
Em 1913,foi destituído do cargo pelo governador Marcos Franco Rabelo,voltando ao poder em 1914,quando Franco Rabelo foi deposto  no evento que ficou conhecido como Sedição do Juazeiro. Foi eleito,ainda,vice-governador do Ceará.
Ao fim dos anos 20,o padre Cicero começou a perder a sua força política,que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestigio como santo milagreiro,porém,aumentaria cada vez mais.
Virgulino Ferreira da Silva, Lampião,era devoto do padre Cicero e respeitava as suas crenças e conselhos. Os dois se encontraram uma única vez,em Juazeiro do Norte,em 1926. Naquele ano,a Coluna Prestes,liderado por Luiz Carlos Prestes,percorria o interior do Brasil desafiando o governo Federal. Para combatê-la foram criados os Batalhões Patrióticos,comandados por lideres regionais que muitas vezes arregimentavam cangaceiros. Existem versões para o encontro. Na primeira,difundida por Billy Jaynes, o sacerdote teria convocado Lampião para se juntar ao Batalhão Patriótico de Juazeiro,recebendo em troca,anistia de seus crimes e a patente de Capitão. Na outra versão,defendida por Lira Neto e Anildomá Williams, o convite teria sido feito por Floro Bartolomeu sem que padre Cicero soubesse. O certo que ao chegarem em Juazeiro, Lampião e os 49 cangaceiros  que o acompanhava,ouviram padre Cicero aconselhá-los a abandonar  o cangaço.Como Lampião exigia receber a patente que lhe fora prometida, Pedro de Albuquerque Uchôa, único funcionário público federal no município, escreveu em uma folha de papel que Lampião seria, a partir daquele momento, Capitão e receberia anistia por seus crimes. O bando deixou Juazeiro sem enfrentar a Coluna Prestes. O padre Cicero faleceu em Juazeiro do Norte em 20 de julho de 1934,aos 90 anos.Encontra-se sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro na mesma cidade do Ceará.













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