segunda-feira, 25 de novembro de 2013


Fotógrafo Gilvan Barreto retrata a dualidade sertaneja no “O Livro do Sol”

Publicação é resultado de reflexão a partir da poesia de João Cabral de Melo Neto. Projeto teve incentivo do Funcultura.

O Sertão nordestino é retratado há anos em livros, filmes, na TV, matérias jornalísticas e fotografias como lugar de seca e miséria. O fotógrafo pernambucano Gilvan Barreto viajou ao sertão sem roteiro certo, justamente no auge da maior seca dos últimos 60 anos, mas buscava algo além da escassez. Sua inspiração inicial foi a poesia de João Cabral de Melo Neto. A partir da produção de imagens e da reflexão sobre a região inspirada na literatura, Gilvan Barreto construiu “O Livro do Sol”, obra com lançamento nesta quinta-feira (21/11), às 19h, no Capibaribe Centro da Imagem. A publicação foi organizada pela editora Tempo d’Imagens, com edição de Geórgia Quintas e do próprio Gilvan, projeto gráfico de Ricardo Gouveia de Melo e texto da jornalista Adriana Victor. O projeto teve o incentivo do Funcultura, do Governo de Pernambuco.

O livro traz os retratos sertanejos e as contradições da região: as relações entre água e seca, abundância e escassez, fotografia e literatura. O embate entre o homem a natureza, o concreto e o imaginário também estão presentes nas imagens. “Fiz um road book, ou melhor, um livro de “rodagem” como diriam os sertanejos. Peguei a estrada sem cartas nas mangas, sem objetivos predefinidos. Viajava apenas com duas ideias fixas: a água e a poesia de João Cabral”.

A ideia do livro surgiu a partir da celebração dos 70 anos de lançamento de “Pedra do Sono”, livro de estreia do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto. Apesar da centelha despertada por Cabral, a obra de Gilvan assumiu vida própria: “Não me interessava fazer um diário fotográfico. Não queria um livro de estrada, com anotações no caderninho, diário de bordo repleto de casualidades”.
“O Livro do Sol” é a segunda publicação criada pelo fotógrafo Gilvan Barreto. O primeiro livro foi “Moscouzinho”, lançado no ano passado, também com incentivo do Funcultura. Gilvan ainda explica o porquê do título. “Apesar do que o título pode sugerir, aqui não é o sol nascente que interessa. Mas o sol que evitamos, o sol que seca e destrói as coisas por lá: ‘O Monstro do Sertão’ (título de xilogravura de J. Borges). Uma fotografia que opera nas sombras pesadas desse sol. Este é um livro dos contrastes”.

Além das fotografias de Gilvan, o livro traz um texto de João Cabral de Melo Neto, cedido pela família do poeta. A ilustração da capa é um sol criado pelo escritor Ariano Suassuna, que também participou de conversas sobre o sertão com a equipe do livro.

Capibaribe Centro da ImagemInaugurado recentemente, o espaço funciona como galeria de artes visuais com foco em fotografia e como laboratório de revelação analógica e de impressão fine art com equipamentos de alta tecnologia. A iniciativa é do fotógrafo Chico Barros, referência no mercado profissional da região, com seu estúdio Sala de Foto.

Gilvan Barreto Fotógrafo pernambucano, que reside no Rio de Janeiro há oito anos. Participou de exposições coletivas no Brasil e no exterior, como em “Amrik – Um Retrato da Presença Árabe na América Latina”, mostra apresentada em mais de 20 países. É autor de “Moscouzinho” (Tempo D’Imagem, 2012). A publicação traz uma narrativa poética sobre a reinvenção de sua cidade natal, uma Rússia tropical e nordestina. O livro recebeu Menção Honrosa no POY Latam 2013. Foi finalista no prêmio Conrado Wessel de Arte deste ano. 

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